domingo, 8 de junho de 2025

O Efeito Dunning-Kruger: Por que quem menos sabe costuma achar que sabe mais?

    "O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano."

 A frase de Isaac Newton, dita há séculos, talvez nunca tenha feito tanto sentido quanto agora. Vivemos na era da informação – e da desinformação. E, mesmo com tanto conteúdo acessível, o conhecimento profundo continua sendo um desafio. Pior: quanto menos sabemos sobre um assunto, maior a chance de acharmos que sabemos demais. Essa percepção enganosa tem nome e sobrenome: efeito Dunning-Kruger.

by Deise Brandão



Afinal, o que é o efeito Dunning-Kruger?
Trata-se de um viés cognitivo identificado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger. Eles observaram que pessoas com pouca habilidade ou conhecimento em determinada área tendem a superestimar suas capacidades, enquanto especialistas reais frequentemente subestimam o próprio saber. Em outras palavras: quem mais sabe costuma duvidar de si, e quem menos sabe, confia demais no próprio julgamento.

O estudo original, publicado em 1999 no Journal of Personality and Social Psychology, consistiu em testes de lógica e gramática. Após responderem, os participantes avaliavam seu próprio desempenho. O resultado? Os piores colocados se achavam os melhores. Já os mais preparados tinham uma visão mais crítica (e realista) de si mesmos.
 
Onde esse fenômeno aparece?

Você com certeza já esbarrou com o Dunning-Kruger por aí – talvez até sem saber. Está nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, nos debates sobre política, saúde, futebol ou qualquer outro tema. São os “especialistas de internet”, que nunca estudaram medicina, mas questionam médicos; ou os que nunca pisaram numa universidade, mas se sentem aptos a ensinar professores.

    Exemplos do dia a dia não faltam:
  • A pessoa que viu algumas séries policiais e acha que entende de Direito Penal.
  • O fã de futebol que acredita saber mais do que técnicos profissionais.
  • A criança que estudou pouco e acha que tirou 10, enquanto a mais aplicada se julga insuficiente.
Tudo isso tem a ver com o chamado erro de calibração – tanto de quem sabe pouco quanto de quem sabe muito. É preciso ter uma visão abrangente de um tema para perceber o quanto ainda não se sabe sobre ele. E isso exige estudo, humildade e autocrítica.
 
 As consequências de achar que sabe tudo

Embora pareça inofensivo à primeira vista, o efeito Dunning-Kruger pode gerar consequências sérias:
  • Ignorância progressiva: a pessoa deixa de buscar conhecimento porque acredita já dominar o assunto.
  • Constrangimentos sociais: falações fora de contexto e com falsa autoridade.
  • Decepções e fracassos: quando a realidade confronta a falsa autoconfiança.
  • Sensação de injustiça: o sujeito acredita que merece reconhecimento que não condiz com seu preparo.
E o outro lado? A síndrome do impostor

Na outra ponta do espectro está quem sabe muito, mas duvida de si. É a chamada síndrome do impostor, comum sobretudo entre mulheres no ambiente corporativo. A pessoa acredita que não merece suas conquistas, teme ser "descoberta como fraude", evita promoções e oportunidades, e, muitas vezes, se sobrecarrega tentando compensar uma suposta falta de competência.

Esse sentimento pode levar à autossabotagem e até a quadros de Burnout – problema grave de saúde mental, cada vez mais comum no Brasil.

Curiosamente, essas pessoas muitas vezes se comparam àquelas acometidas pelo efeito Dunning-Kruger, aumentando ainda mais sua insegurança.
 
Como evitar cair na armadilha?
  • Embora ninguém esteja imune, há caminhos para evitar ou amenizar os efeitos:
  • Busque conhecimento constante: aprender exige tempo, dedicação e humildade. Ninguém se torna expert de um dia para o outro.
  • Aceite que não saber tudo é normal: reconhecer seus limites é sinal de inteligência, não de fraqueza.
  • Peça feedback sincero: ouça pessoas em quem confia e esteja aberto a críticas construtivas.
  • Desconfie da autoconfiança exagerada – principalmente quando ela surge sem base sólida. 
 A gota e o oceano

Saber que somos apenas uma gota num oceano de conhecimento não é desanimador – é libertador. A consciência da nossa ignorância é o primeiro passo rumo ao verdadeiro saber. Não se trata de se sentir pequeno, mas de manter a sede por aprender.

Evitar o efeito Dunning-Kruger e combater a síndrome do impostor são movimentos complementares. Ambos passam por autoconhecimento, estudo constante e, principalmente, empatia: entender que todos estamos aprendendo. Sempre.

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