Ministro do STF nega que políticos influenciem Corte e critica sistema de financiamento eleitoral
Ministro do STF Roberto BarrosoNELSON JR / STF
São Paulo - 24 MAI 2016 - 17:43 BRT
Fonte: ElPaís
Nesta segunda-feira, quando mais um vazamento de conversa entre políticos de alto escalão
levantou suspeitas de tráfico de influência Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Corte
Luís Roberto Barroso afirmou que ninguém tem poder para obstruir a Operação Lava Jato
no tribunal. Desta vez, foi Romero Jucá quem disse ter conversado com ministros do STF e
sugeriu até incluir o Supremo em um suposto acordo para deter as investigações, de acordo com
áudios publicado pela Folha de S. Paulo.
"É impensável que qualquer pessoa, individualmente, tenha acesso ao Supremo. Para pedir
audiência, todos têm acesso. Recebo todos que me pedem. Mas, acesso para intervir?
afirmou o ministro Barroso, nesta manhã durante um seminário em São Paulo promovido pela revista
Veja. Barroso, contudo, não quis se posicionar diretamente sobre a conversa vazada de Jucá, que o
acabaria obrigando a deixar o cargo de ministro do Planejamento de Michel Temer .
No mesmo evento, o juiz federal Sergio Moro, responsável pelo caso Lava Jato na primeira instância,
defendeu que "assuntos pertinentes à Justiça não devem sofrer interferência do Governo". Para ele, a
Lava Jato não perdeu o ímpeto e as investigações mantém o curso normal de todo processo.
"A Operação Lava Jato não é um seriado. Claro que a parte mais visível está nos mandados de busca e
apreensão, mas existe todo um trabalho de investigação, de audiências. Esse trabalho persiste", afirmou.
O vazamento da conversa entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sergio Marchado não é o primeiro
caso ligado à Lava Jato que envolve o Supremo. Em novembro passado foi a vez do delator e senador
cassado Delcídio Amaral (PT-MS) protagonizar um escândalo envolvendo suposto tráfico de influência
política no Supremo Tribunal Federal. Em conversa vazada por Bernardo Cerveró, filho do ex-dirigente
da Petrobras, Nestor Ceveró, Delcídio teria prometido influenciar ministros do STF na soltura de Nestor
Ceveró da prisão. O caso mais recente foi a divulgação de conversas telefônicas entre o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e o então ministro da Casa Civil Jaques Wagner, em março deste ano.
O diálogo sugere que o Planalto teria tentado pressionar a ministra Rosa Weber para tirar as investigações
de Lula das mãos de Moro.
A diferença, desta vez, é que o protagonista do escândalo de tráfico de influência é um político do PMDB
, e não do PT.
Corrupção e "socialismo dos ricos"
causas está associada ao sistema eleitoral, aos mecanismos de financiamento de campanha",
declarou Barroso no evento. Segundo o ministro, a relação de interdependência entre o Estado e o setor
privado gera um ambiente de "troca de favores" danoso para a política e para a economia brasileira.
"Tudo depende do Estado, das suas bênçãos, do seu apoio e financiamento. Todos os subprodutos
negativos advêm como burocracia, troca de favores e corrupção pura e simples. Vivemos um modelo de
capitalismo que não gosta nem de risco nem de competição. Isso não é capitalismo, isso é socialismo
para os ricos", ironizou.
Outra medida importante no combate à corrupção, na visão do ministro, é a mudança na jurisprudência
do foro privilegiado. "A demora no julgamento dos casos leva à impunidade. Temos 369 inquéritos e 102
ações contra parlamentares no STF. O prazo para recebimento de um processo como esse pelo Supremo
é de quase dois anos", diz. Barroso defende a criação de uma vara especial em Brasília para tratar de
foro privilegiado. "Seria um único juiz, para dar celeridade às decisões e aos julgamentos", justifica.
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