Carlos Siqueira, secretário do partido, deixou coordenação da campanha.
Para Marina, saída do ex-coordenador é fruto de um 'equívoco'.
Marcela Mattos, de Brasília, e Talita Fernandes
TENSÃO - Por trás do sorriso, dia conturbado marcou oficialização de Marina (Sergio Lima/Folhapress)
(Atualizada às 16h00)
O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, que ocupava a coordenação de campanha do partido à Presidência da República, irritou-se com a candidata Marina Silva e deixou a campanha. "Eu não estou deixando porque eu não estava (na campanha da Marina). Eu estava na campanha do Eduardo Campos. Nela eu sempre estive. Agora é uma nova fase e tem que ter uma nova coordenação. Eu disse claramente isso a ela na quarta-feira, que eu não ficaria na sua coordenação", disse Siqueira, ao chegar à sede do partido nesta quinta-feira. Ele afirmou que não vai recuar da decisão "de forma alguma". "Eu estava na coordenação de uma pessoa que era do meu partido, que eu tinha estrita confiança. Agora, terminou essa fase e vai começar uma campanha com uma nova candidata. E essa nova candidata deve escolher seu novo coordenador."
Ao longo de toda a quarta, tensões marcaram as reuniões que antecederam a confirmação da candidatura de Marina. Ela pediu que funções como a coordenação da campanha e finanças fossem assumidas por nomes mais próximos a ela. A coordenação-geral ficou com o deputado licenciado Walter Feldman, porta-voz da Rede Sustentabilidade, e braço direito de Marina. O cargo era ocupado por Carlos Siqueira. O PSB ficou apenas com a coordenação adjunta. Ao anunciar as mudanças aos membros do partido e da Rede, a ex-senadora afirmou que aguardaria a indicação dos socialistas para o nome que comporia a coordenação com Feldman. Siqueira sentiu-se desprestigiado, uma vez que Marina não citou seu nome. "Essa mulher me maltratou", afirmou aos presentes à reunião.
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Irritado com Marina, Siqueira abandonou a reunião. E só voltou mais tarde, quando membros do PSB conseguiram acalmá-lo. Ao site de VEJA, Feldman afirmou que Siqueira pode ter interpretado mal a afirmação de Marina. Segundo ele, a ex-senadora é "muito rigorosa nas decisões democráticas" e não se sentiu à vontade para anunciar um nome pelo PSB. "Ele esperava ser indicado pela Marina. Nós queríamos que ele fosse indicado pelo partido. Isso é o correto. Nós demos todos os indicativos de que queríamos que fosse ele", afirmou. Feldman diz esperar que Siqueira recue da decisão. "Ele é uma pessoa capaz e que estava muito envolvida no projeto. O Siqueira desenvolveu com a gente uma relação muito positiva", afirmou Bazileu Margarido. Segundo ele, Marina tentou conversar com Siqueira na noite de quarta, mas não houve conciliação.
/Futura Press
Carlos Siqueira: irritação com Marina
Siqueira recusou-se a relatar a reunião da noite de quarta-feira, em que o partido anunciou o nome de Marina na corrida ao Planalto. Como secretário-geral do PSB, cabe a ele relatar as reuniões da sigla. A função ficou, então, com Joilson Cardoso, secretário Nacional Sindical do PSB. Fontes no partido afirmam que a decisão de Siqueira reflete um esgotamento há muito percebido entre os membros da sigla. Embora sua relação com Marina não fosse claramente de enfrentamento, tampouco era de calmaria.
De acordo com membros do partido, é bastante difícil negociar com membros da Rede. E a pressão exercida pelo setores do PSB contrários à ex-senadora recaia toda sobre o secretário-geral. Além disso, Siqueira estaria bastante estressado desde a morte de Campos, e já havia sinalizado a intenção de ficar em Brasília, com o presidente do PSB, Roberto Amaral, dedicado a eleger deputados e senadores pela sigla.
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Marina — Membros do partido presentes à reunião negam que Marina tenha sido grosseira, e creditam a decisão de Siqueira à pressão emocional. O racha interno um dia após a oficialização da nova chapa presidencial mostra a caminhada conjunta do PSB e da Rede não se dará da maneira pacífica que se tentou demonstrar na noite de quarta – houve, inclusive, uma carta-compromisso para consolidar a união. No documento, o presidente socialista, Roberto Amaral, afirma que os dois partidos serão “generosos, unidos e solidários” e superarão “eventuais divergências” e repudiarão “interesses menores”. Na prática, não é o que se percebe. “Tem gente aqui que tem um ego muito grande. Não dá pra ser desse jeito”, diz um articulador da Rede, evidenciando o clima de tensão entre as legendas.
“Isso não é divergência com a campanha. É um problema pessoal de um companheiro que quer mudar de função, e vai mudar”, disse o presidente do PSB. Para ele, a saída de Siqueira não traz prejuízos. “Eu acho a participação dele mais importante junto a mim. Ele vai trabalhar ao lado do presidente do partido. Eu preciso reforçar a minha estrutura”, disse Amaral. O substituto de Siqueira, segundo Amaral, deve assumir a coordenação-geral, e não adjunta, como pretendia a Rede. O novo nome pode ser anunciado ainda nesta quinta-feira.
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