19/08/2014
às 16:02
Tenho escrito aqui alguns comentários críticos à forma como se conduz, no PSB, a assunção de Marina Silva ao posto de candidata do partido à Presidência da República, embora saibamos todos que ela pertence a um partido chamado Rede, ainda sem existência formal, abrigado no PSB. Prestem atenção ao substantivo que escolhi: assunção! Eu poderia ter optado por “ascensão”, do verbo “ascender”, que é mover-se fisicamente para cima, subir. Mas optei por “assunção” porque a palavra tem uma carga religiosa. Pode ser sinônimo de “ascensão”, mas o seu primeiro significado diz respeito à subida de Maria ao Céu, acontecimento celebrado, vejam vocês, no dia 15 de agosto.
Sim, Marina, ex-católica e ex-candidata a freira, é hoje evangélica. Não estou fazendo especulações nesse terreno. Dou relevo, ao falar em sua “assunção”, à aura mística, verdadeiramente religiosa, que muitos pretendem emprestar ao evento. O simples questionamento sobre o pensamento de Marina a respeito disso ou daquilo causa uma espécie de indignação em certas áreas da militância política. Parecem dizer: “Como ousam ficar fazendo essas perguntas terrenas à nossa candidata, que não é deste mundo?”.
Ocorre que Marina é deste mundo, como qualquer um de nós, como qualquer político. E, obviamente, não é a única a rejeitar a corrupção na vida pública. Tampouco é a monopolista da ética, da moral, dos bons costumes e do bem. Logo, não pode usar essa aura para se proteger das próprias contradições. Tem de responder por suas escolhas, mais do que qualquer um de nós. A razão é simples: se eu, Reinaldo, decido fazer isso ou aquilo, a minha decisão tem pouca importância; mexe com a vida de pouca gente. Se a líder da Rede, ora do PSB, for eleita presidente, o que quer que faça dirá respeito a milhões de pessoas. Então ela tem de prestar contas, sim, por suas escolhas.
Muito bem. Não sou uma pessoa de opiniões ambíguas sobre isso e aquilo. Isso me rende prazeres e dissabores também. Um deles é despertar a fúria de certos setores organizados, muitos deles financiados com dinheiro público. Eis que percebo que gente que, até anteontem, execrava o meu pensamento e o que escrevo, passou a reproduzir, em sinal de aprovação, textos e comentários críticos a Marina Silva. Ou seja: quando eu desaprovo, por exemplo, uma fala da presidente Dilma, então sou um pulha; quando desaprovo a líder da Rede, então sou um cara bacana.
Como reagir diante disso? Simplesmente não dando bola. Não escrevo o que escrevo nem falo o que falo para ser amado ou para ser odiado. O meu compromisso com você, que está do outro lado, e com quem me contrata é um só: deixar claro o que penso. E meu pensamento é sempre o mesmo: aqui no meu blog, na Jovem Pan ou na Folha. Não tenho um conjunto de valores adaptado a cada veículo.
Se os blogs alugados pelo PT e pelo governo federal estão reproduzindo as críticas que faço a Marina, o que posso fazer além de nada? Eles sabem o quanto os repudio. Eu nunca aceitei os petistas como meus juízes, nem quando me atacam nem quando me elogiam. Tenho, como todas as pessoas, meus candidatos. Mas mantenho, antes de mais nada, um compromisso com o ouvinte e com os leitores.
A imparcialidade de um jornalista não está em ser neutro diante de qualquer acontecimento, como quem não sabe distinguir o bem do mal. Alguém pode ser, por exemplo, indiferente ao horror que acontece no Iraque? A imparcialidade de um jornalista de opinião, que é o que sou, está em dizer o que pensa sem se preocupar se seu pensamento vai desagradar ou agradar a A, B ou C. Antes de emitir um juízo sobre determinado assunto, nunca me preocupei em saber quem concorda comigo ou quem discorda de mim. No dia em que eu fizer isso, estarei rompendo o principal compromisso que tenho, que é com você, leitor.
Então, como diria Jair Rodrigues, deixe que digam, que pensem, que falem. Nós seguiremos a nossa trilha.
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