Jornalismo na mesa no bar-blog (meia dúzia de Polar e uma dúzia de copos que a conversa é comprida)
A tragédia e a comédia. Um legado que vem, ao longo do tempo, das épocas mais remotas da humanidade, tal qual a prostituição. O sórdido. O belo. O poético. O patético. O vício e a perdição. Tudo desastradamente colocado em caracteres nas páginas amareladas do passado contado em laudas, ou em templates transparentes com links acionados pela força dos pensamentos, no futuro. Tudo universalizado, o bom e ruim, o rico e o pobre, no palco e na plateia.
Acho que estou ficando velha. Pelo menos na profissão, ou velha não, mas madura o suficiente para perceber que aprendi muito, coisas que gostaria de saber quando o veludo vermelho da cortina se abriu na minha frente e os atores do palco do passado sentenciaram meu futuro determinando:
- Serás jornalista.
Foi em 1987, dois dias depois de divulgado no NH que o Grupo Editorial Sinos tinha uma vaga no DP. Eu tinha 17 anos e era mais tímida que guri de campanha quando visita a capital. Mesmo assim resolvi ir atrás daquela que seria “minha grande oportunidade”. E consegui. A vaga era para ser minha. Não havia dúvidas.
Conheci naquele ano encanto e o romantismo da redação. Tinha um cheiro diferente. Pairava nas suas entranhas os ideais da informação. Estava terminando a transição do período da ditadura para a era da liberdade de expressão (Salve os blogs!). O barulho das máquinas de escrever era uma sinfonia para os meus ouvidos. Lá estavam @dsoster, a doida da Deise Mariani, o Dario, que carinhosamente até hoje chamo de Panz (na revisão) e uma penca de outros doidos dos quais tenho uma carinhosa lembrança.
Naquela época tive a doce oportunidade de diagramar com tabelas (noooooossa), réguas e espelhos, escrever em laudas, e ser chefiada pelo Alceu Feijó, dentro do departamento de Recursos Humanos, onde eu tinha a maravilhosa tarefa de ser a repórter e diagramadora do “Nossa Empresa”, o jornal interno do Grupo Editorial Sinos. Lembra @GlauciaNielsen?
Naquele tempo também eu já era viciada nos jornais alternativos, que acabaram por ser a pauta do meu trabalho de conclusão na faculdade. As pautas de mesa de bar ainda não aconteciam por aqui, mas era uma aspiração para aquela jovem que queria apenas ser jornalista. Era romântico a boemia do jornalismo, que eu via numa imagem que incluía máquina de escrever, café e cigarros. Eu não sabia que nem tudo é o que parece ser. Eu não sabia que jornalismo é uma cachaça.
De todas aquelas sensações tive lembranças tri boas, recentemente, quando descobri o blog http://desilusoesperdidas.blogspot.com do jornalista @duda_rangel. No seu jeito de escrever no blog, cujo assunto é exatamente o jornalismo, me vieram até mesmo os cheiros e barulhos daquela redação. Ele ainda traz uma doce dose de humor em tudo que escreve, transformando a desgraça e graça. Até o desgosto ganha uma espécie de gosto no seu texto. Enfim eu encontrava uma pessoa que, desempregado como eu, nutria a mesma sensação de ‘estar perdido’, num mar de desilusões, fora de uma redação.
Preciso confessar, estou com saudades.
E nesta nostalgia de sensações, preciso confessar também que não vejo aspirações claras nos pupilos de hoje. Talvez a cegueira da idade esteja se intensificando em mim. Parece que aquela dose forte de ideais se perdeu. Morreu junto com os ícones da geração coca-cola, como se, como eles, vieram ao mundo, pintaram um futuro em letras e notas musicais carregadas de fervor, depois morreram e ficaram na memória da história.
Pelo menos optei por não ficar “sentada no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”. Resolvi juntar tudo que me veio com o tempo: as lições de como se faz, de como não se faz, a importância da polivalência neste mercado onde quem sabe mais, ganha mais frilas; e todo o resto. O que aprendi rindo e o que aprendi chorando.
Aderi às redes sociais, hoje diagramo em programas modernos. Tenho minha própria câmera digital. Meu livro foi escrito por mim, ilustrado por mim, diagramado por mim e revisado por mim. Isso me dá uma certa vantagem. Mas estou com mais de 40 e mesmo que eu argumente nas vagas às quais concorro que não posso mais ter filhos (o que me dá uma certa vantagem também), não há como competir com a mocidade dos jovens cujo sangue pulsa mais livre nas veias.
Aderi às redes sociais, hoje diagramo em programas modernos. Tenho minha própria câmera digital. Meu livro foi escrito por mim, ilustrado por mim, diagramado por mim e revisado por mim. Isso me dá uma certa vantagem. Mas estou com mais de 40 e mesmo que eu argumente nas vagas às quais concorro que não posso mais ter filhos (o que me dá uma certa vantagem também), não há como competir com a mocidade dos jovens cujo sangue pulsa mais livre nas veias.
Hoje disse pra @GlauciaNielsen que tenho uma colega jornalista que diz que os jornalistas são “empregadas domésticas dos poderosos”. É Claudete Rihl, pode até ser, mas mesmo com as perspectivas nada positivas deste mercado louco aí de fora, ainda podemos pedir demissão. Eu prefiro aceitar que somos operários da comunicação. Na verdade, para viver, acabamos mesmo é sucumbindo a uma certa prostituição dentro da comunicação. Mas, como diria Jesus Cristo, que atire a primeira pedra, quem nunca sucumbiu.
Pois bem. Este post ficaria grande demais se eu colocasse pra fora, de uma só vez, todas as minhas impressões sobre o jornalismo. Vou com calma. Logo escrevo sobre o assunto de novo. Se quiserem contribuir, fiquem à vontade. Se quiserem mandar por e-mail (verafernandes.rs@gmail.com) suas impressões, janeiro servirá para isto. Vamos fazer deste blog uma mesa de bar. A pauta é o jornalismo. Como nos velhos tempos. E, com a graça de Deus e de jornalistas como @GlauciaNielsen, nos tempos atuais também.
Por hoje é só!
Por hoje é só!
06.01.2011
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