sábado, 26 de julho de 2014

Propina nos Transportes, sob comando do PR, dobrou

No início do governo Dilma, partido cobrava 4% de comissão dos fornecedores do Ministério dos Transportes. Às vésperas da eleição, extorsão subiu para 8%

Rodrigo Rangel
César Borges, ex-ministro dos Transportes e agora ministro da Secretaria de Portos, fez o mesmo relato a amigos e a aliados políticos: "O dono da Pavotec me procurou no ministério para dizer que o deputado João Bacelar está cobrando dele uma participação nos contratos com a Valec."
César Borges, ex-ministro dos Transportes e agora ministro da Secretaria de Portos, fez o mesmo relato a amigos e a aliados políticos: "O dono da Pavotec me procurou no ministério para dizer que o deputado João Bacelar está cobrando dele uma participação nos contratos com a Valec." (Jorge William/Agência o Globo)
Em junho de 2011, a presidente Dilma Rousseff reuniu alguns dos principais integrantes da cúpula do Ministério dos Transportes no Palácio do Planalto para passar-lhes uma descompostura daquelas de fazer tremer o chão. Re­cém-acomodada no gabinete mais importante da República, Dilma reclamou dos seguidos aumentos nos custos das obras de rodovias e ferrovias tocadas pelo ministério e, fazendo jus à fama de durona, soltou o verbo contra os responsáveis por gerenciar os contratos — todos eles ligados ao PR, o Partido da República, que ocupava a pasta na ocasião. “Vocês são inadministráveis e estão inviabilizando o meu governo”, sentenciou. Era o primeiro ato da chamada “faxina ética”, durante a qual a presidente demitiu seis ministros acusados de corrupção. O então titular dos Transportes, Alfredo Nascimento, inaugurou a lista após VEJA mostrar que a elevação dos custos das obras do ministério era, na verdade, uma maneira de bancar um esquema clandestino de arrecadação de propina controlado pelo PR: para conseguirem os contratos, os empreiteiros superfaturavam as obras e repassavam 4% do que ganhavam ao partido.
Três anos depois da faxina, o mesmo PR, presidido pelo mesmo Alfredo Nascimento enxotado lá atrás, segue firme e forte no comando do mesmo Ministério dos Transportes e envolvido nas mesmas tramoias. Diferente mesmo só a taxa de propina, que dobrou. Pouco antes de deixar o comando dos Transportes, no mês passado, o ministro César Borges recebeu em seu gabinete a visita do empreiteiro Djalma Diniz, dono da Pavotec Pavimentação e Terraplenagem. A empresa, com sede em Minas Gerais, tem contratos no Ministério dos Transportes que, somados, chegam perto de 2 bilhões de reais. O empreiteiro foi ao ministro reclamar que estava sofrendo pressão para repassar a deputados do PR uma parte de seus ganhos — mais especificamente, dos pagamentos relativos a dois contratos, um de 514 milhões e outro de 719 milhões, firmados no começo deste ano com a Valec, estatal encarregada de construir estradas de ferro. Djalma Diniz relatou em detalhes ao ministro o que classificava de achaque escancarado. Parlamentares exigiam dele parte dos lucros sob pena de rescisão dos contratos. Nas duas últimas semanas, com base em conversas gravadas, VEJA reconstituiu o episódio e seus desdobramentos.
O autor da pressão, segundo o empreiteiro, era o deputado federal baiano João Carlos Bacelar Filho, um dos mais conhecidos expoentes da bancada do PR na Câmara dos Deputados. Foi o próprio ministro César Borges quem relatou a queixa do empreiteiro. Primeiro, a assessores e a políticos de sua confiança. “O dono da Pavotec me procurou no ministério para dizer que o deputado João Bacelar está cobrando dele uma participação nos contratos com a Valec”, disse a um amigo. A cobrança, segundo o empreiteiro relatara ao ministro, era explícita: em troca dos contratos firmados, o deputado exigia uma participação nos pagamentos. Em outras palavras, propina. O parlamentar dizia falar em nome do PR — e ainda explicava o motivo da cobrança. Segundo ele, o partido ajudara a Pavotec a fechar os contratos no governo e, por isso, o dono da empreiteira tinha de repassar uma parte do valor. Era assim que funcionaria a partir daquele instante. O empreiteiro procurou o ministro para saber se Bacelar falava mesmo em nome do partido. Foi informado de que não, e se recusou a fazer o pagamento. Caso aparentemente encerrado — mas não para o deputado e seu grupo no PR.
by Veja

Cem anos após a 1ª, quais as chances de uma 3ª guerra mundial?

John Simpson

2014 
  
Cemitério da Primeira Guerra Mundial em Ieper, na Bélgica (AP)
Cemitérios com soldados mortos durante a Primeira Guerra Mundial estão espalhados pela Europa, como este, perto de uma ferrovia na Bélgica
Parece improvável que, cem anos depois do início da Primeira Guerra Mundial, outra guerra nesta escala possa ser desencadeada.
Mas era exatamente isto que as pessoas acreditavam antes do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e de sua esposa dele por um extremista sérvio em junho de 1914.
Atualmente, existem no mundo alguns focos de conflito: a Europa e a Rússia vivem um momento de tensão devido à situação na Ucrânia, e a China e o Japão também discutem a posse de algumas ilhas no Mar do Leste da China.
Em tempos como estes, há dois riscos específicos. O primeiro é que países menores possam arrastar os maiores para conflitos.
Em 1914, após o assassinato do arquiduque, Rússia, França e Grã-Bretanha se envolveram com o lado sérvio, enquanto a Alemanha apoiou a Áustria.
O segundo risco é que os governos fiquem tentados a acreditar que podem iniciar guerras limitadas e bem-sucedidas que vão acabar rapidamente. Geralmente eles estão errados.

Literatura

Nos dias de hoje presumimos que nosso mundo globalizado está conectado demais para que uma guerra mais ampla aconteça. Talvez, mas em 1910, um homem chamado Norman Angell também pensava assim.
Angell escreveu o livro A Grande Ilusão para provar que a guerra seria uma loucura, devido aos laços comerciais existentes entre as grandes potências na época.
O livro foi um grande sucesso mas, apesar de Angell estar certo em sua percepção de que um conflito seria insano e de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz 22 anos depois, a guerra aconteceu de qualquer jeito.
No entanto as coisas mudaram muito em cem anos. Não importa o que possa parecer, nosso mundo é menos perigoso, e a tendência à guerra é menor do que era.
A ameaça de um conflito nuclear generalizado também não existe mais.
No momento, existem mais de 30 guerras em andamento no mundo. Mas elas tiram menos vidas humanas do que antes.
Entre 1950, quando a Guerra da Coreia começou, e 2007, quando o número de mortes na Guerra do Iraque finalmente começou a cair, ocorriam algo perto de 148 mil mortes por ano devido a guerras.
De 2008 a 2012 este número caiu de forma dramática, para 28 mil por ano. E poderá ser ainda menor em 2014.
Ao analisar os números de uma forma um pouco diferente, vemos que nos 14 anos do século 21, até o momento, o número médio de mortes em guerras foi de 55 mil - apesar de sempre haver uma polêmica cercando estes números, principalmente no que diz respeito ao número preciso de pessoas que morreram no Iraque depois da ofensiva americana e britânica no país.
Mas este número é a metade do que foi registrado na década de 1990 e um terço do número de mortes que ocorreram durante a Guerra Fria.
Teremos uma guerra mundial em um futuro próximo?
Não podemos saber mais do que Norman Angell sabia em 1910 quando lançou seu livro. Mas, desta vez, com certeza, é mais seguro esperar que não teremos.




Maurício Santoro

Assessor de direitos humanos da Anistia Internacional

29/06/2014

Cem anos atrás, no dia 28 de junho de 1914, um militante nacionalista da Sérvia assassinou com um tiro o herdeiro do trono do império da Áustria-Hungria em represália à ocupação de territórios disputados por ambos os Estados. Esse foi o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial. De agosto daquele ano até novembro de 1918, mais de 15 milhões de pessoas morreram no conflito. As monarquias da Alemanha, Áustria-Hungria, Rússia e Turquia foram derrubadas por revoluções. O mapa da Europa e do Oriente Médio foi redesenhado com o (re)aparecimento de países como Iugoslávia, Líbano, Palestina, Polônia, Síria e Tchecoslováquia.
As causas da Primeira Guerra Mundial ainda são um tema controverso, sobretudo pelos debates sobre a responsabilidade germânica na deflagração do conflito. No início do século XX a Europa era dividida em duas grandes alianças militares, uma formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, outra pelo Reino Unido, França e Rússia. O ataque a um desses países provocaria o enfrentamento também com seus aliados.
Diversos fatores levaram à formação desses blocos rígidos: o medo do poderio crescente do império alemão, que havia anexado duas províncias francesas (Alsácia e Lorena) e iniciado a construção de uma marinha de guerra que desafiaria a supremacia naval britânica, os conflitos para colher os frutos do declínio do império otomano (turco) nos Bálcãs e no norte da África e a competição cada vez mais acirrada por territórios e mercados globais pelas potências europeias.
A guerra começou na Europa e logo se espalhou para o resto do planeta, pelas redes coloniais e imperiais ou pelos laços de comércio e investimento. Estados Unidos, Japão e Turquia e Brasil, entre outras nações, também participaram do conflito, unindo-se a uma das alianças. A Itália mudou de lado, seduzida por promessas de expansão territorial. Foi, de fato, uma guerra mundial, ainda que seu epicentro tenha sido as crises europeias.
A maior parte dos líderes políticos e militares que iniciaram a guerra acreditavam que ela seria de curta duração, de no máximo poucos meses, como haviam sido os conflitos entre Rússia e Japão (1905), França e Prússia (1870) e os combates pela unificação da Alemanha e da Itália (décadas de 1840-70). Essa era uma expectativa fora da realidade. O desenvolvimento de novas armas, como metralhadoras e fuzis mais eficientes e a mobilização melhor organizada do poder industrial de cada Estado criaram máquinas bélicas devastadoras, com todo o poderio de modernos Estados industriais.
Batalhas como Somme, Verdun e Ypres resultaram em centenas de milhares de mortes. Na Turquia, o governo lançou uma campanha de extermínio contra a minoria armênia, cristãos que auxiliaram a Rússia. Por toda a parte, os custos econômicos e sociais da guerra significaram inflação galopante, problemas de escassez de alimentos e a devastação emocional de tantas mortes, mutilações e ausências prolongadas dos homens de suas famílias.
Para os padrões atuais, os governos que lutaram a guerra não eram democracias plenas. Mesmo nos mais progressistas entre eles, as mulheres não podiam votar ou ser eleitas para cargos públicos. Rússia e Turquia eram regimes autoritários. O conflito foi popular nos meses iniciais e mesmo os partidos de oposição - como as siglas operárias, socialistas e sociais-democratas - apoiaram seus governos aprovando créditos extras para as Forças Armadas.
Com o decorrer das batalhas, a insatisfação aumentou, culminando com o motim do Exército francês em 1917 - uma espécie de "greve armada" contra as más condições a que estavam submetidos os militares, que levou a várias reformas. No mesmo, estouraram duas revoluções na Rússia. A primeira, em fevereiro, derrubou a monarquia e instituiu uma fragilíssima república. A de outubro estabeleceu o regime comunista, retirou o país da guerra e publicou documentos secretos que mostravam as manipulações oficiais, como acordos para trocas de território - o antecessor do Wikileaks.
Nos países derrotados (Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia) o fim da guerra foi seguido de rebeliões, instabilidade e mudança de regime político. Os turcos ainda tiveram que lutar mais outro conflito, contra a Grécia, que cobiçava boa parte de seu território, e que resultou no massacre ou expulsão da maioria da população de origem grega que vivia no antigo império otomano.
A guerra na Europa acabou por exaustão dos alemães e austro-húngaros, e não por batalhas decisivas. Desde a entrada dos Estados Unidos no conflito, em 1917, a aliança contra as potências centrais ganhou um fortíssimo afluxo de tropas e recursos econômicos. O presidente americano Woodrow Wilson propôs seus célebres 14 pontoscomo base de uma paz que não puniria ninguém, mas não foi isso o que aconteceu. Os vitoriosos exigiam recompensas para mostrar às suas populações que o sacrifício não fora em vão e impuseram pesadas indenizações financeiras e perdas territoriais à Alemanha. O país nunca pagou integralmente as reparações, mas elas contribuíram para o clima de ressentimento e ódio no qual o nazismo nasceu e cresceu.
No Oriente Médio, Reino Unido e França derrotaram militarmente o império otomano e dividiram entre si suas províncias árabes - Iraque, Palestina e Jordânia para os ingleses, Síria e Líbano para os franceses. A Arábia tornou-se independente sob a casa real dos Hashemitas, que haviam lançado uma guerrilha contra os turcos, organizada pelo coronel britânico Thomas Edward Lawrence. O ímpeto colonial na região enfureceu os nacionalistas árabes, ainda mais por que os britânicos se comprometeram por meio da Declaração Balfour a criar um lar para os judeus na Palestina, sem consultar os habitantes da Terra Santa.
A Primeira Guerra Mundial não resolveu os problemas da Europa e criou uma situação ainda mais instável no continente, que explodiria novamente em 1939, no segundo conflito de âmbito planetário. O Oriente Médio ainda vive os efeitos catastróficos dos resultados dos combates de um século atrás. Mas a rejeição aos massacres teve como consequência também a criação da Liga das Nações e os esforços importantes, mesmo que falhos e incompletos, de buscar soluções pacíficas para as controvérsias globais.

Cão desmaia ao rever a dona, após dois anos


Assexuais vivem bem sem sexo, mas podem ter um relacionamento

Yannik D´Elboux
Do UOL, no Rio de Janeiro
  • Orlando/UOL
    Assexuais não sentem desejo sexual, mas podem manter um relacionamento amoroso
    Assexuais não sentem desejo sexual, mas podem manter um relacionamento amoroso
Para uma pequena parcela da população, o sexo é uma prática completamente sem sentido. As pessoas chamadas assexuais, apesar de não terem nenhuma anormalidade, não sentem interesse em fazer sexo.

Como o conceito de assexualidade ainda é recente, muitos nunca ouviram falar desse termo e com frequência julgam a indiferença ao sexo como problema. "Sou normal, não tenho traumas nem doenças que me impeçam de fazer sexo, simplesmente não sinto vontade", explica Claudia Mayumi Kawabata, 33 anos, que trabalha como orçamentista em uma gráfica em São Paulo (SP).

Assim como outras pessoas na mesma situação, Claudia percebia que não era igual a maioria, porém não sabia a razão. "Sempre me achei diferente, pois, além de não sentir atração sexual, também não sinto atração estética", conta.

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Ela só foi descobrir o que significava assexualidade em 2011, o que lhe deu liberdade para se aceitar. Desde 2013, Claudia é uma das moderadoras da comunidade A2 na internet, grupo que reúne mais de 700 usuários e busca divulgar a existência da assexualidade, além de promover a troca de experiências sobre o assunto.

Ainda não se tem ideia da quantidade existente de pessoas assexuais. "Por ser uma sexualidade praticamente desconhecida, não temos números confiáveis, nem no Brasil nem no mundo", afirma a pedagoga e pesquisadora Elisabete Regina Baptista de Oliveira, que está desenvolvendo uma tese de doutorado sobre assexualidade pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo). "A única pista que temos é de que 1% da população não tem interesse por sexo", acrescenta.

Segundo Elisabete, esse número provém de dois estudos realizados nas décadas de 1940/1950 e 1990 nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, porém não representa um bom retrato da realidade, já que muitas pessoas que poderiam se identificar como assexuais não conhecem esse conceito.

Sem desejo

A ginecologista e sexóloga Sylvia Maria Oliveira Cunha Cavalcanti, presidente da comissão de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), afirma que a assexualidade costuma ser bastante rara. "Não é uma coisa muito comum porque o ser humano é o mais sensualizado de todos os animais. O sexo para nós não se restringe à reprodução, é uma forma de comunicação, de expressar os sentimentos".

Para a médica, o desinteresse sexual pode surgir por diversos motivos, desde aspectos biológicos, como alterações hormonais, até psicossociais, como uma educação repressora, decepção com o parceiro, experiências negativas, entre outros. Porém, para alguns não há uma causa. "Existem pessoas que realmente não se interessam, o sexo é algo absolutamente sem nenhum valor para elas", diz Sylvia.
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Veja lições que você aprendeu sobre sexo, mas deveria esquecer11 fotos

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Por mais que o comportamento humano mude e evolua, alguns mitos são perpetuados através das gerações. Quando o assunto é sexo, então, não é nada difícil que um conceito da época da sua avó volta e meia seja citado por alguém como verdade incontestável. Falta de informação, preconceito e dificuldade para abordar o tema são alguns dos fatores que ainda mantêm vivas algumas crenças equivocadas. Veja, a seguir, alguns exemplos. Por Heloísa Noronha, do UOL, em São Paulo (com colaboração de Thais Carvalho Diniz) Didi Cunha/UOL
A ausência de desejo pode significar um problema, sobretudo naqueles que antes possuíam ímpeto sexual. Nos assexuais, segundo Elisabete Oliveira, o desinteresse é uma característica permanente ao longo da vida desde a puberdade. "Trata-se de perspectiva: a falta de desejo pode ser vista como um transtorno ou como mais uma cor no arco-íris da diversidade sexual", analisa a pesquisadora.
Para a ginecologista e sexóloga, o desinteresse nos assexuais não precisa de tratamento se não estiver causando nenhum incômodo ou estresse. "Se não é um problema para a pessoa, se ela estiver satisfeita assim, não há o que fazer, não tem o que ser tratado. Não ter vontade também é um direito da pessoa", diz Sylvia Maria.

Românticos e arromânticos

Apesar de não sentirem atração sexual, os assexuais podem ou não ter interesse no relacionamento amoroso. Aqueles que desejam parceria amorosa costumam ser chamados de românticos e os que não se interessam por esse envolvimento de arromânticos.
"Não foi a falta de interesse por sexo a minha principal fonte de questionamentos na adolescência, mas, sim, a minha falta de interesse amoroso", conta Saulo Albert, 20 anos, estudante de Direito, de Vitória da Conquista (BA), que se identifica como assexual arromântico.

Saulo, também um dos moderadores da comunidade A2, diz que nunca teve vontade de namorar ou se relacionar sexualmente. Esse comportamento geralmente não é bem visto em um mundo no qual o amor e o sexo estão por toda parte, das músicas às novelas. "Passamos a aceitar que a vida com um parceiro amoroso é a grande fórmula da felicidade", critica Saulo.

O estudante baiano acredita que, assim como as pessoas, os caminhos para a felicidade também são diferentes. "Eu me sinto amado e acolhido pelas pessoas ao meu redor, por isso o amor [romântico] não é um sentimento que me faz falta. Isso, para mim, é mais do que suficiente", declara.

Mesmo sem vontade, alguns assexuais acabam tendo relações sexuais quando namoram para poder satisfazer o parceiro. Foi o caso de Claudia Mayumi, assexual romântica, que já morou com um namorado por dois anos e tem uma filha de 13 anos. "Antes de saber que era 'assex', tentei ter uma vida sexual ativa, mas isso me deixava mal. Depois de cada relação sexual entrava em conflito comigo mesma, pois tinha de fingir para agradar a outra pessoa", revela.

Para Claudia, a vida flui melhor quando ela está só. "Sou feliz sem sexo. Quando estou sozinha, me sinto completa; quando estou em algum relacionamento, eu me sinto frustrada e vazia", constata.

Não sonhar com o casamento não significa viver de forma isolada ou preferir a solidão. "Os assexuais dão muita importância aos seus relacionamentos em família e com os amigos, diferentemente de pessoas não assexuais que priorizam seus relacionamentos amorosos acima de todas as coisas", diz a pesquisadora Elisabete Oliveira.

'Síndrome do celibato': por que os jovens do Japão não fazem mais sexo?


Do UOL, em São Paulo
  • Reprodução/The Guardian
    Japoneses hoje preferem investir na carreira a casar ou ter um relacionamento; pesquisa mostra que, no Japão, um terço das pessoas com menos de 30 anos nunca teve qualquer tipo de experiência amorosa. Taxa de natalidade em 2012 foi a menor de que se tem registro no país
    Japoneses hoje preferem investir na carreira a casar ou ter um relacionamento; pesquisa mostra que, no Japão, um terço das pessoas com menos de 30 anos nunca teve qualquer tipo de experiência amorosa. Taxa de natalidade em 2012 foi a menor de que se tem registro no país
Japoneses com menos de 40 anos de idade parecem estar perdendo o interesse nos relacionamentos convencionais. De acordo com reportagem publicada pelo jornal britânico "The Guardian", a mídia do Japão tem tratado o fenômeno como "síndrome do celibato".
Para o governo japonês, essa síndrome pode significar uma catástrofe iminente. O Japão já tem uma das menores taxas de natalidade do mundo, e a atual população de 126 milhões de pessoas --que vem diminuindo nos últimos dez anos-- pode ser reduzida em 30% até 2060, segundo projeções feitas no país.
Milhões de japoneses não estão sequer namorando, e o número de pessoas solteiras atingiu seu recorde. Uma pesquisa realizada em 2011 constatou que 61% dos homens e 49% das mulheres com idade entre 18 e 34 anos não mantinham qualquer tipo de relação romântica com outra pessoa. Outra pesquisa mostrou que um terço das pessoas com menos de 30 anos nunca havia tipo uma experiência amorosa --na vida.
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Veja famosos e anônimos que evitam ou já ficaram sem sexo27 fotos

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Baby do Brasil, que foi uma das musas da contracultura, revelou, recentemente, que está sem sexo 14 anos - desde que virou evangélica e fundou uma igreja, o Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo. "Minha vida está muito mais completa. Sempre tive homem na minha cama. Sei que é bom. Mas não preciso tomar o cálice até a última gota. Desejo tem, mas a carne não me vence", declarou a cantora ao site "Ego". Leia mais Murilo Meirelles
Dados oficiais mostram, ainda, que o número de bebês nascidos no Japão em 2012 é o menor de que se tem registro. Além disso, com o aumento da população de idosos, as vendas de fraldas geriátricas ultrapassaram as de fraldas para bebês pela primeira vez em 2012. Para Kunio Kitamura, da Associação de Planejamento Familiar, a crise demográfica é tão grave que o Japão "pode eventualmente acabar em extinção".
Nesse cenário, surgiu, então, o profissional que trabalha como conselheiro de sexo e relacionamento, a fim de tentar curar a chamada "síndrome do celibato". Ai Aoyama, 52 --que cerca de 15 anos atrás ganhou a vida como dominatrix profisisonal-- é uma dessas conselheiras.  Ela diz que, hoje, seu trabalho é muito mais desafiador.
  • A ex-dominatrix Ai Aoyama, 52, conselheira de sexo e relacionamento, e um de seus clientes
"Recebo mais homens, mas a presença das mulheres está aumentando", disse Aoyama, que trabalha em Tóquio. "Eu uso terapias como ioga e hipnose para relaxá-los e ajudá-los a entender o modo como o corpo do ser humano real funciona", disse ela, que às vezes --por uma taxa extra-- pode ficar nua para seus clientes do sexo masculino, a fim de guiá-los fisicamente em torno da forma feminina. "Mas sem absolutamente qualquer relação sexual", afirma. Como exemplo, ela cita um cliente de 30 anos, virgem, que só fica excitado quando vê robôs femininos em games, algo semelhante àqueles da série Power Rangers.
Aoyama afirma que, além do sexo casual, vê o crescimento da procura por pornografia online e "namoradas virtuais". Ou então, opina, estão substituindo o sexo por outras formas de relaxamento e diversão.
A pressão para se conformar ao modelo de família anacrônico do Japão --marido assalariado que trabalha 20 horas por dia e mulher dona de casa-- permanece forte, e talvez essa seja uma das explicações para o fenômeno do celibato. Ironicamente, o sistema que produziu papéis conjugais segregados também criou o ambiente ideal para aqueles que querem ficar só, sem qualquer incômodo, como costumam falar. "As pessoas não sabem para onde ir. Elas vêm até mim porque pensam que, por querer algo diferente, há algo de errado com elas", conta Aoyama.

Família X Trabalho

Embora as mulheres japonesas sejam cada vez mais independentes e ambiciosas, no mundo corporativo japonês é quase impossível que a mulher consiga combinar carreira e família. Assim, as mulheres japonesas hoje encaram o casamento como o "túmulo" da carreiras conquistada --cerca de 70% das mulheres japonesas deixam seus empregos depois de seu primeiro filho, e o Fórum Econômico Mundial classifica o Japão como um dos piores países do mundo para a igualdade de gênero no trabalho.
Eri Tomita, 32, trabalha no departamento de recursos humanos de um banco francês --e adora. Fluente no idioma francês e com dois diplomas universitários, ela evita relacionamentos românticos para poder se concentrar no trabalho. "Um namorado me pediu em casamento há três anos, e eu recusei quando percebi que se preocupava mais com o meu trabalho. Depois disso, perdi o interesse em namoro." Tomita diz ainda que às vezes tem "uma noite só" com homens que conhece em bares, mas afirma que sexo não é uma prioridade para ela.
  • Eri Tomita, 32, que recusou um pedido de casamento. "Percebi que me preocupava mais com o trabalho. Perdi o interesse em namoro"
Mas esse modelo de sociedade também tem afetado os homens. Em meio à recessão e à crise dos salários, os homens têm sentido a pressão da responsabilidade de sustentar uma família. Satoru Kishino, 31, pertence a uma tribo de homens com menos de 40 anos que estão envolvidos em uma espécie de rebelião passiva contra masculinidade tradicional japonesa.Para eles, sustentar mulher e família como guerreiros é algo fora da realidade.
"É muito preocupante. Eu não ganho um salário enorme e não quero essa responsabilidade do casamento", diz Kishino, que se define como "um homem heterossexual para quem relacionamentos e sexo não são importantes".

Futuro

O Japão está oferecendo uma visão do futuro de todos nós? Muitas das mudanças constatadas lá vem ocorrendo em outros países avançados também: no outro lado urbano da Ásia, na Europa e na América as pessoas estão se casando mais tarde, taxas de natalidade têm caído e famílias de uma pessoa só estão em ascensão. No entanto, para o demógrafo Nicholas Eberstadt, é um conjunto de fatores que caba acelerando essa tendências no Japão: falta de autoridade religiosa que pregue o casamento e a família, o alto custo de vida e a precária geografia do país, localizado em zona com frequentes abalos sísmicos, o que gera sentimentos de inutilidade.
"Aos poucos, mas inexoravelmente, o Japão evolui para um tipo de sociedade cujos contornos só foram contemplados na ficção científica", escreveu Eberstadt no ano passado.
Voltando à ex-dominatrix Ai Aoyama, ela se diz determinada a educar seus clientes sobre o valor daquilo que chama de "pele a pele", "coração a coração". "Não é saudável que as pessoas sejam tão desconectados umas das outras fisicamente", diz. "Sexo com outra pessoa é uma necessidade humana que produz sensação de bem estar e ajuda as pessoas a encarar melhor a vida cotidiana."
by Isto É

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