terça-feira, 23 de setembro de 2025

Cientistas criam hidrogel que imita a pele humana e se autorrepara em 24 horas

 




by Deise Brandão

Um avanço promissor da ciência de materiais pode transformar áreas como medicina, robótica e biotecnologia. Pesquisadores da Universidade Aalto (Finlândia) e da Universidade de Bayreuth (Alemanha) desenvolveram um novo tipo de hidrogel capaz de reproduzir características semelhantes à pele humana — incluindo elasticidade, flexibilidade e, sobretudo, a capacidade de autorregeneração.

Nos testes de laboratório, o material impressionou: após sofrer cortes, conseguiu se recuperar entre 80% e 90% em apenas 4 horas, atingindo reparação completa em 24 horas.

Como funciona o material

O hidrogel é formado por uma rede de polímeros entrelaçados reforçados com nanosheets de argila ultrafinos. Cada amostra de 1 milímetro de espessura contém cerca de 10 mil camadas dessas nanosheets, o que confere ao material uma resistência comparável à da pele humana, mas sem perder a flexibilidade.

O processo de fabricação envolve a mistura de monômeros em água contendo os nanosheets e posterior cura com radiação UV.

Potenciais aplicações

Embora ainda em fase experimental, os cientistas destacam que o hidrogel pode ter múltiplas aplicações, como:

  • Curativos inteligentes para acelerar a cicatrização de feridas;
  • Pele artificial para uso médico ou em pesquisas;
  • Robótica suave (soft robotics), onde materiais flexíveis e autorreparáveis são essenciais;
  • Liberação controlada de medicamentos, aproveitando a estrutura do gel para armazenar e liberar substâncias de forma gradual.

Limites atuais

Por enquanto, os resultados foram observados apenas em condições de laboratório. Antes de chegar a hospitais ou aplicações práticas, será necessário realizar testes em humanos para avaliar a eficácia clínica, a segurança e a resposta do material em situações reais.

O estudo completo foi publicado na revista Nature Materials, com apoio da Aalto University e da University of Bayreuth.

domingo, 21 de setembro de 2025

Seção 301: A arma comercial dos EUA que pode ganhar nova força com os dados da Lei Magnitsky

 


by Deise Brandão

Desde 1974, a Seção 301 do Trade Act, legislação comercial dos Estados Unidos, confere ao governo norte-americano um dos instrumentos mais poderosos de pressão econômica do mundo. Ela autoriza o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) e o presidente a investigar práticas comerciais estrangeiras consideradas injustas e retaliar unilateralmente países com tarifas, cotas e restrições. É, na prática, o fundamento jurídico que sustenta as chamadas “retaliações comerciais” — e um dos pilares do que críticos chamam de “xerife econômico” dos Estados Unidos.

De escudo comercial a ferramenta de pressão global

Originalmente concebida para proteger setores estratégicos americanos nos anos 1970, a Seção 301 foi usada com intensidade nos anos 1980 contra Japão, União Europeia e países emergentes. Após anos de menor protagonismo, voltou ao centro do palco no governo Donald Trump, que a utilizou para justificar a guerra tarifária contra a China.
Essa base legal permite aos EUA impor medidas unilaterais mesmo fora da Organização Mundial do Comércio (OMC), em um gesto que alguns chamam de “extraterritorialidade comercial”.

A novidade: dados e nomes vindos de outra frente

Nos últimos anos, porém, um elemento mudou o jogo. Com a aprovação da Lei Magnitsky (2012, ampliada em 2016), o governo americano ganhou um mecanismo inédito para mapear indivíduos e empresas envolvidas em violações de direitos humanos e corrupção ao redor do mundo. Embora a Magnitsky não faça parte formal da Seção 301, ela gera informações financeiras e comerciais valiosas que podem, em tese, embasar ações mais amplas contra países.

Especialistas em sanções afirmam que, quando uma lista Magnitsky identifica pessoas, empresas de fachada e offshores, os bancos globais são obrigados a reportar e encerrar relações. Isso cria um mapa detalhado de fluxos financeiros. Se dessas descobertas emergirem evidências de envolvimento estatal ou práticas comerciais desleais, o governo americano pode usar a Seção 301 para aplicar retaliações setoriais ou nacionais, alegando distorções sistêmicas.

Do micro ao macro: o efeito cascata

Na prática, o caminho funcionaria assim:

  1. Sanção individual via Magnitsky: congela bens e bloqueia transações de pessoas e empresas específicas.

  2. Reação do sistema financeiro: bancos e parceiros internacionais rompem relações para não sofrer penalidades.

  3. Mapeamento de redes: dados coletados revelam quem financia quem e como.

  4. Ação macro via Seção 301: com base nesse diagnóstico, Washington pode abrir uma investigação comercial e impor medidas contra o país inteiro ou setores inteiros.

É esse “efeito cascata” — do micro (indivíduos) para o macro (países) — que explica por que políticos e empresários ao redor do mundo veem com apreensão a combinação entre Magnitsky e Seção 301.

O que realmente assusta elites estrangeiras

O temor não está apenas na perda de visto ou no congelamento pontual de ativos. O risco maior é a exposição da rede financeira: quem financia, quem se beneficia, quem movimenta dinheiro por trás das cortinas.
Uma vez revelados os nomes e as contas, essas informações podem servir de combustível para investigações comerciais e criminais em outros países ou para sanções econômicas de maior escala.

Bipartidarismo e continuidade

A Seção 301 é fruto do Congresso de 1974, época em que democratas e republicanos buscavam proteger a indústria americana. Já a Lei Magnitsky nasceu no governo Obama, com apoio bipartidário, e ganhou aplicação intensiva no governo Trump. Essa combinação — lei criada por um democrata, aplicada com vigor por um republicano — reforça o caráter de política de Estado dessas ferramentas.

O novo tabuleiro geopolítico

À medida que mais países aprovam legislações “Magnitsky” próprias (Reino Unido, Canadá, União Europeia), o modelo de sanções direcionadas se espalha. Mas os EUA continuam liderando porque controlam o sistema financeiro global. A Seção 301, por sua vez, mantém-se como o instrumento mais contundente para atingir economias inteiras, caso as descobertas individuais revelem conluios estatais.

Em resumo, a Seção 301 é, oficialmente, uma lei de comércio internacional. A Lei Magnitsky, oficialmente, é uma lei de sanções individuais. Mas juntas, elas formam um arsenal de pressão econômica e política capaz de partir do rastreamento de uma pessoa e chegar às tarifas contra um país. 

É essa engrenagem — mais do que vistos negados — que explica o nervosismo de elites políticas e empresariais diante do “modelo Magnitsky + 301”: uma trilha que começa com nomes e termina com mercados inteiros sob pressão. 

Saiba Mais:

Lei Magnitsky: Da Rússia ao Mundo, a Lei Americana que Virou Ferramenta Global de Pressão por Direitos Humanos

 

by Deise Brandão

Criada inicialmente para punir autoridades russas envolvidas na morte do advogado Sergei Magnitsky, a chamada Lei Magnitsky tornou-se um dos instrumentos mais poderosos de política externa dos Estados Unidos e inspirou legislações similares em diversos países. O caso que deu origem à lei começou em 2008, quando Magnitsky denunciou um esquema de corrupção bilionário envolvendo autoridades fiscais e policiais russas. Preso sob acusações controversas, ele morreu em 2009, em prisão preventiva, após denúncias de tortura e negligência médica. O episódio se transformou em símbolo mundial de abuso estatal contra denunciantes.

De iniciativa democrata a política de Estado

O Congresso americano aprovou em 2012 o Sergei Magnitsky Rule of Law Accountability Act, sancionado pelo então presidente Barack Obama. Embora motivada pela situação russa, a lei nasceu com apoio bipartidário e consolidou um novo tipo de sanção: congelamento de ativos nos EUA e restrição de vistos para indivíduos acusados de graves violações de direitos humanos ou corrupção. A primeira versão era direcionada apenas a autoridades da Rússia.

Quatro anos depois, ainda sob Obama, o Congresso aprovou o Global Magnitsky Human Rights Accountability Act, que estendeu o alcance das medidas para qualquer pessoa ou entidade em qualquer país. A partir daí, as sanções deixaram de ser um assunto exclusivo do leste europeu para se tornarem um instrumento global de pressão.

Uso intensificado no governo Trump

Se a criação ocorreu no governo democrata, a aplicação ganhou força no governo republicano. Durante o mandato de Donald Trump (2017–2021), o Departamento do Tesouro e o Departamento de Estado usaram a Lei Magnitsky para sancionar agentes chineses, venezuelanos, sauditas e de outros países, ampliando seu impacto diplomático. Críticos acusaram Washington de usar o instrumento como arma política, enquanto defensores destacaram o efeito dissuasório contra abusos e corrupção.

Como funciona

A legislação autoriza os EUA a aplicar três tipos principais de sanções contra estrangeiros envolvidos em violações graves de direitos humanos ou corrupção:

  • Congelamento de bens sob jurisdição americana.

  • Bloqueio de transações com bancos ou empresas norte-americanas.

  • Proibição de entrada no território dos Estados Unidos.

Embora seja uma lei interna americana, seu alcance internacional se deve ao peso do sistema financeiro dos EUA. Ter ativos bloqueados ou ser impedido de usar bancos correspondentes pode significar isolamento econômico para autoridades estrangeiras.

Modelo replicado em outros países

O sucesso do modelo americano levou outros países a aprovarem legislações semelhantes:

  • Canadá (2017),

  • Reino Unido (2018),

  • União Europeia (2020),
    entre outros. Assim, a chamada “Lei Magnitsky” passou a designar um padrão internacional de sanções direcionadas.

Debate político e críticas

Apesar da origem democrata, a lei virou bandeira bipartidária e hoje é considerada política de Estado. No entanto, setores da esquerda internacional e de países alvo das sanções criticam o caráter extraterritorial da medida, alegando que os EUA impõem sua jurisdição e agenda moral sobre outros países. Por outro lado, ativistas de direitos humanos e dissidentes em regimes autoritários veem na lei uma ferramenta rara de responsabilização, especialmente em contextos onde a justiça local falha ou é cooptada.

O impacto sobre a ideia de justiça internacional

Para vítimas e organizações em países onde impera a impunidade, as sanções Magnitsky funcionam como pressão indireta para expor abusos, cortar fluxos financeiros e sinalizar que atos de corrupção e violações graves não passam despercebidos. Porém, a legislação não substitui tribunais nacionais nem julga crimes fora dos EUA: é um instrumento de pressão econômica e política, não uma corte internacional.

Por fim, a  Lei Magnitsky nasceu de um caso concreto de abuso estatal na Rússia, mas se transformou em um símbolo global de accountability. Criada no governo Obama com apoio democrata, ganhou aplicação intensa no governo Trump e hoje inspira leis semelhantes em todo o mundo. Entre elogios e críticas, continua sendo um dos mecanismos mais contundentes de sanções direcionadas, testando os limites entre soberania nacional, justiça internacional e poder econômico norte-americano.

Saiba Mais:

Seção 301: A arma comercial dos EUA que pode ganhar nova força com os dados da Lei Magnitsky

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Execução de Ruy Ferraz Fontes: por que a pressa em carimbar PCC?

 

by Deise Brandão

Praia Grande (SP), 16set.2025 — O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, 63, foi executado na noite de segunda (15) em Praia Grande, quando deixava a sede da prefeitura, onde exercia o cargo civil de secretário de Administração desde 2023. A emboscada usou ao menos um fuzil e somou mais de 20 disparos — dinâmica típica de execução planejada. O carro da vítima foi alvejado e acabou batendo em um ônibus; os criminosos abandonaram e incendiaram veículo na sequência. 

Fato: Ruy chefiou a Polícia Civil entre 2019 e 2022 e ganhou notoriedade por investigar e prender lideranças do PCC desde os anos 2000 (ataques de 2006). Hoje, porém, era gestor municipal e estava aposentado da ativa policial

O rótulo “PCC” — e as lacunas

Nas primeiras 24 horas, a hipótese de mando do PCC circulou forte — muito por causa do histórico de confronto e do padrão de ataque pesado. Mas não há, até aqui, prova pública de autoria: o que existe é linha de investigação. O GAECO foi acionado para apoiar o inquérito, sinal de caso complexo, mas sem conclusão. 

Perguntas que precisam de resposta antes de cravar facção:

  1. Vínculo orgânico: onde estão as mensagens, pagamentos, logística e nomes que conectem executores a uma Sintonia do PCC?

  2. Motivação específica em 2025: qual fato novo justificaria matar agora um ex-delegado que saiu do comando da corporação em 2022 e virou secretário municipal em 2023?

  3. Cadeia logística: armas, carros, casas de apoio, olheiros, levantamentos de rotina — quem bancou e coordenou? (A polícia já identificou dois carros roubados usados no crime, um Jeep Renegade e uma Hilux, padrão comum em execuções para despistar autoria).

A tese de que “o PCC espera a vítima se aposentar” exige lastro: qual o precedente? Em qual investigação recente isso se comprovou? Sem tais respostas, o rótulo apressado mais contamina do que esclarece.

O que os fatos indicam (até agora)

  • Cenário e alvo: saída da Prefeitura de Praia Grande (bairro Nova Mirim). Alvo previsível, rotina pública. 

  • Execução com fuzil e mais de 20 tirosperseguição e carro incendiado após a ação — assinatura de grupo organizado, mas não exclusiva do PCC. 

  • Veículos roubados e abandonados — tática clássica de quadrilhas paulistas em homicídios sob encomenda. 

  • Repercussão institucional: velório na Alesp e entrada do GAECO no caso, reforçando prioridade política e pressão por resultado. 

Três hipóteses que a polícia precisa testar (sem hierarquia)

  1. Retaliação tardia de facção
    Possível pelo histórico — Ruy foi protagonista contra o PCC. Mas precisa demonstrar mando (comunicações, financiadores, armas com “histórico” em casos do PCC) e propósito (recado? disputa interna? dívida antiga?). Sem lastro, continua suposição. 

  2. Conflito administrativo local / interesses contrariados
    Ruy comandava a Secretaria de Administração (contratos, pessoal, rotinas sensíveis). Mudanças, fiscalizações, cortes e exonerações podem gerar inimigos com dinheiro e logística para contratar execução. Exige varredura: últimos atos oficiais, licitações, afastamentos, pressões políticas.

  3. Acerto de contas de quadrilhas não faccionadas (“consórcio”)
    SP e Baixada têm histórico de homicídios sob encomenda com tática e armamento similares, sem vínculo formal a facções. A balística e a inteligência (IBIS, LPR de placas, antenas) dirão se as armas/carros dialogam com outros casos

Checklist investigativo (o mínimo técnico)

  • Balística: cascas e projéteis no local → IBIS → hits com outros homicídios.

  • Veículos: trilhar a cadeia de posse dos carros roubados (quem roubou, onde foram “esquentados”, quem abasteceu e estacionou). 

  • Câmeras: rota completa (prefeitura → vias de fuga → ponto de incêndio) + OCR de placas na malha da Baixada. 

  • Dados financeiros/comunicações: quebras direcionadas (alvos por geofencing e vínculos com roubos dos veículos).

  • Âmbito municipal: mapa de decisões recentes da Administração (contratos, glosas, sindicâncias), com cruzamento de ameaças e desavenças. 

Linha do tempo essencial

  • Anos 2000 — Ruy desponta no enfrentamento ao PCC e a roubo a banco; ganha visibilidade nos ataques de 2006.

  • 2019–2022 — Delegado-geral de SP. 

  • Jan/2023 — Assume Secretaria de Administração de Praia Grande.

  • 15.set.2025 — Execução em emboscada na saída do trabalho. Investigação em curso; GAECO dá suporte. 

    Por que a hipótese PCC não basta — e o risco de repetir o caso VitóriaA pressa da Polícia Civil em apontar o PCC como mandante do assassinato de Ruy Ferraz Fontes ecoa um padrão conhecido: transformar uma hipótese em “verdade oficial” sem apresentar, de imediato, provas concretas. Até agora, nenhuma interceptação, prisão ou documento foi divulgado para sustentar a ligação direta da facção com a execução. A justificativa — histórico do delegado contra o crime organizado e modus operandi típico — não responde às perguntas centrais: por que matar agora, anos após sua saída da corporação, e por que expor tanto os executores num ataque à luz do dia em frente à prefeitura? Sem respostas sólidas, corre-se o risco de repetir o enredo do caso Vitória, em que a narrativa inicial não correspondeu ao desfecho e a autoria segue nebulosa. Para a sociedade, o perigo é duplo: uma investigação enviesada pode tanto absolver os verdadeiros mandantes quanto alimentar mitos convenientes.

  • Timing: se a motivação fosse exclusivamente “vingança histórica”, por que não ocorreu antes, quando ele era delegado-geral e simbolicamente mais “valioso”? (Resposta exige prova, não suposição).

  • Exposição desnecessária: ataque de alto ruído em frente à prefeitura aumenta risco de erro, flagrante e comoção — custo que nem sempre está na cartilha da facção, que costuma reduzir exposição dos executores. É preciso ver quem eram os atiradores, de onde vieram e quem os banca, antes de carimbar autoria.

No momento, há indícios de planejamento e poder de fogo, mas não há prova pública de mando do PCC. Pressa em etiquetar o crime pode servir interesses narrativos, não a verdade. O eixo racional é: mando comprovadomotivação clara em 2025 e cadeia logística rastreável. Até lá, a hipótese prefeitura/administrativa tem que ficar na mesma mesa da facção — e ser investigada com a mesma fome.

Matéria baseada em informações de CNN BrasilAgência BrasilInfoMoney/Estadão e Jovem Pan publicadas em 15–16.set.2025.

Tratamentos Reais para Lesão Medular: O Que Já Foi Conquistado


by Deise Brandão

Lesões na medula espinhal causam perda parcial ou total de função motora e/ou sensação abaixo do nível da lesão. Cientistas vêm estudando várias abordagens: células-tronco, estimulação elétrica, dispositivos de reabilitação combinados. Embora ainda não haja “cura universal”, há resultados animadores em humanos, com melhorias funcionais importantes.

Estudos mais recentes e estatísticas

1.  ARC-EX Therapy: estimulação elétrica

  • Um ensaio clínico multicêntrico recente com 60 participantes com lesão cervical crônica (braço/pulso) avaliou a terapia chamada ARC-EX. Nature

  • Resultados:

    • 72% dos participantes tiveram melhora acima do limiar mínimo considerado clinicamente significativo em ambas as áreas de força e desempenho funcional da mão e do braço. Nature

    • Também houve melhora significativa na força de “pinça” entre dedos, preensão e sensibilidade. Nature

    • Nenhum evento adverso grave relacionado ao dispositivo foi reportado. Nature+1

  • Importância: mostra que estimulação elétrica externa + reabilitação pode recuperar funções mesmo em lesões crônicas. Nature+1

2. Terapia com células-tronco

  • Meta-análise (BMC Medicine, 2022): revisou 62 estudos envolvendo 2.439 pacientes com lesão medular tratados com diferentes tipos de células-tronco. BioMed Central

    • Aproximadamente 48,9% dos pacientes apresentaram melhora de pelo menos um grau na escala ASIA (escala de gravidade da lesão medular) após tratamento com células-tronco. BioMed Central

    • Funções urinárias melhoraram em ~ 42,1% dos casos. BioMed Central

    • Funções gastrointestinais melhoraram em ~ 52,0% nos casos avaliados. BioMed Central

    • Efeitos adversos foram comuns, mas majoritariamente menores (espasmos musculares, dor neuropática, sintomas transitórios). Nenhum tumor relatado nos seguimentos curtos/médios. BioMed Central

  • Estudo da Mayo Clinic (fase 1) com células mesenquimais derivadas de tecido adiposo: 10 adultos com lesão traumática medular. Mayo Clinic News Network

    • 7 dos 10 participantes tiveram melhoria na escala ASIA: sensação (ponta de agulha, toque leve), força em músculos motores, recuperação de contração voluntária relevância para função intestinal ou anal. Mayo Clinic News Network

    • O estudo confirmou que o uso foi seguro, sem grandes eventos adversos. Mayo Clinic News Network

3.  Novos ensaios clínicos de fase inicial

  • Griffith University (Austrália) iniciou recentemente um ensaio fase 1 para lesões crônicas com uso de olfactory ensheathing cells (células de revestimento olfatório, vindas do nariz). News-Medical

    • Objetivo: avaliar segurança e efeitos funcionais (movimento dos dedos, função de bexiga/intestino, etc.). News-Medical

    •  O que ainda falta / limites

  • Muitas das melhorias observadas não correspondem a recuperação total, e variam muito entre pacientes.

  • O tempo entre a lesão e o tratamento influencia bastante: tratamentos iniciados logo após a lesão tendem a apresentar melhores resultados.

  • Número de participantes ainda é pequeno em muitos estudos; seguimento (tempo de observação) muitas vezes é curto.

  • Há variabilidade em tipos de células, método de administração, intensidade/tempo da reabilitação, que dificulta comparações.

  • Segurança: embora não haja eventos graves nos estudos recentes maiores, efeitos menores são comuns; precisamos de seguimento para ver efeitos a longo prazo (por décadas).

Para leitores interessados:

  • Já é real que células-tronco, estimulação elétrica externa (como ARC-EX) e novos protocolos de reabilitação combinados estão dando resultados mensuráveis.

  • Podemos dizer que ~ metade dos pacientes submetidos a terapia com células-tronco podem experimentar ao menos uma melhora modesta (pelo menos 1 grau na escala ASIA).

  • Importante sublinhar: melhorias sensoriais e motoras são mais frequentes do que recuperação completa da mobilidade.

  • Segurança geral parece aceitável nos estudos menores; porém é necessário cuidado e mais observação, especialmente para efeitos tardios.

Psicologia Junguiana e a ciência atual

     

by Deise Brandão

. O que é a abordagem junguiana

  • Psicologia Analítica: Jung criou uma abordagem própria da psique, chamada de Psicologia Analítica. Ela se diferencia da psicanálise freudiana porque amplia a noção de inconsciente para além do pessoal, introduzindo o inconsciente coletivo — um reservatório de símbolos universais (arquétipos) compartilhados pela humanidade.

  • Arquétipos: Formas ou padrões universais (o Herói, a Sombra, a Anima, o Velho Sábio, etc.) que influenciam sonhos, mitos, arte, comportamento e cultura.

  • Processo de individuação: O caminho de desenvolvimento psicológico no qual a pessoa integra aspectos inconscientes à consciência, tornando-se um “eu” mais completo.

  • Função simbólica: Sonhos, mitos e símbolos são entendidos como linguagem natural da psique, não apenas como produtos secundários.

2. Conexões com ciência atual

a) Psicologia profunda e neurociência

  • Inconsciente: Hoje, a neurociência reconhece que grande parte do processamento mental é inconsciente. Pesquisas sobre tomada de decisão, vieses cognitivos e memória implícita confirmam que há camadas automáticas e não conscientes do funcionamento cerebral — embora Jung usasse termos míticos, a ideia central (o inconsciente molda a consciência) é compatível com achados atuais.

  • Arquétipos e redes neurais: Estudos de psicologia evolutiva e neurociência social sugerem que certos padrões emocionais e narrativos (por exemplo, estruturas de histórias, papéis familiares, comportamentos altruístas) podem ser predisposições herdadas — o que lembra, de certo modo, a noção de arquétipos.

b) Psicoterapia e clínica

  • Imaginação ativa: Técnicas junguianas (como dialogar com figuras dos sonhos ou imagens internas) se aproximam hoje de abordagens de mindfulness, terapia de aceitação e compromisso (ACT) e EMDR, que também trabalham com imagens mentais para integrar experiências traumáticas.

  • Sonhos e criatividade: Pesquisas mostram que o sono REM e os sonhos têm papel importante na consolidação de memória, aprendizado e criatividade — validando a ideia de que os sonhos têm função adaptativa, não apenas “descargas” neuronais.

c) Mitologia, narrativa e cultura

  • Ciências cognitivas da religião: Pesquisam por que certas narrativas e símbolos se repetem em culturas distintas. Esse campo dialoga com a hipótese junguiana de arquétipos universais, só que com base em seleção natural, pressões cognitivas ou transmissão cultural.

  • Storytelling em neurociência: Experimentos com fMRI mostram que histórias ativam circuitos emocionais, de linguagem e empatia, reforçando o poder dos símbolos para moldar a mente — algo central para Jung.

d) Física e sincronicidade

  • Jung dialogou com Wolfgang Pauli (prêmio Nobel de Física) sobre sincronicidade — a ideia de coincidências significativas.

  • Hoje, embora a física quântica não confirme “sincronicidade” como princípio científico, estudos sobre percepção, vieses de confirmação e redes complexas ajudam a explicar por que vemos padrões e coincidências e como o cérebro busca significado.

3. Aplicações práticas na ciência contemporânea

  • Psicologia positiva e bem-estar: Estuda propósito, sentido e valores, temas próximos à individuação junguiana.

  • Psiquiatria e psicoterapia integrativa: Reconhecem o papel da espiritualidade, imaginação e narrativas pessoais na saúde mental.

  • Neuroestética: Pesquisa como símbolos, formas e padrões artísticos evocam emoções universais — algo que Jung antecipava com os arquétipos.

  • Inteligência artificial e estudos de linguagem: Modelos computacionais começam a mapear padrões narrativos universais em textos, reforçando a ideia de estruturas simbólicas recorrentes.

4. Limites e críticas

  • Conceitos não testáveis: Muitos conceitos de Jung (arquétipos, inconsciente coletivo) são mais metafóricos que mensuráveis. A ciência atual busca operacionalizar essas ideias em termos de genética, neurobiologia e cognição.

  • Risco de essencialismo: Se interpretados rigidamente, arquétipos podem virar estereótipos. Hoje, a ciência enfatiza plasticidade e diversidade.

  • Sincronicidade: Continua sendo tema controverso — mais uma ideia filosófica do que um fenômeno comprovado.

    A psicologia junguiana continua inspirando pesquisas, ainda que seus conceitos sejam reinterpretados em termos científicos. O que era “arquétipo” hoje pode ser descrito como predisposição cognitiva, rede neural ou meme cultural. O que era “inconsciente coletivo” pode ser visto como legado evolutivo compartilhado ou viés cognitivo universal.

A grande contribuição de Jung para a ciência atual não é tanto comprovar literalmente suas teorias, mas abrir espaço para entender o ser humano de forma simbólica, integrando razão e mito, cérebro e imaginação, dados e sentido.

Quem são os Arcontes

                            

by Deise Brandão

Definição básica

  • A palavra arconte vem do grego archon, que significa “governante”, “líder”. Mitologia Viva

  • Na Grécia antiga, os arcontes eram magistrados que tinham funções políticas e judiciais na Atenas clássica. Mitologia Viva

  • Mas em correntes mais místicas ou esotéricas, especialmente no gnosticismo, o termo adquire outro sentido: seres espirituais ou entidades metafísicas que têm algum tipo de poder ou influência sobre o mundo material. Mitologia Viva

Papel no Gnosticismo

No contexto gnóstico:

  • Os Arcontes são geralmente descritos como guardiões ou regentes do mundo material, que impedem a centelha divina humana de se reconectar com sua fonte espiritual. Mitologia Viva

  • Eles mantêm, segundo muitos textos gnósticos, uma realidade de ignorância ou ilusão, para que os seres humanos não percebam sua verdadeira natureza. Mitologia Viva

  • Nem sempre estão retratados como mal absoluto: em algumas versões, cumpririam um papel (negativo ou limitador, mas funcional) no cosmos, parte da estrutura que separa o espiritual do material. Mitologia Viva

Aspectos simbólicos e filosóficos

Mais do que seres mitológicos literais, os Arcontes podem ser vistos como metáforas ou arquétipos:

  • Limitação interna: medos, crenças rígidas, dogmas, ignorância — tudo aquilo que “aprisiona” a consciência humana em padrões repetitivos. Mitologia Viva

  • Ilusão e controle: estruturas simbólicas ou reais (sociais, culturais, mentais) que mantêm as pessoas afastadas de uma liberdade espiritual ou de uma visão mais profunda da realidade. Mitologia Viva

  • Dualidade mundo material vs espiritual: os Arcontes servem como um símbolo do que nos separa da “verdade” espiritual ou do real, segundo a visão gnóstica. Mitologia Viva

Narrativas antigas e comparações

  • No Gnosticismo, os textos da Biblioteca de Nag Hammadi mencionam os Arcontes como agentes do demiurgo ou de entes criadores interpostos entre Deus (ou o princípio supremo) e o mundo sensível, exercendo domínios sobre elementos da criação. Mitologia Viva

  • Comparações são feitas com figuras de outras mitologias:

    • nos mitos gregos: Titãs, e em geral entidades que ocupam posições primitivas, pré-olímpicas. Mitologia Viva

    • no hinduísmo: Asuras — forças que se opõem aos Devas. Mitologia Viva

    • no budismo: Māra, que representa ilusão, tentação, distração dos caminhos espirituais. Mitologia Viva

Aplicações modernas e interpretações contemporâneas

  • Há quem veja os Arcontes não como “seres externos”, mas simbologias para as estruturas de poder instaladas socialmente — instituições, regimes, sistemas de mídia, crenças coletivas etc. que moldam nossa percepção da realidade. Mitologia Viva

  • Também usados como metáforas para desafios pessoais: os “Arcontes internos” seriam os traumas, os condicionamentos, os medos que precisamos reconhecer e superar. Mitologia Viva

  • A dualidade entre ver esses seres como inimigos maléficos ou como elementos necessários ao desenvolvimento espiritual é tema de debate: talvez “vencê-los” não seja eliminá-los, mas transcender a influência deles com consciência. Mitologia Viva

Críticas e pontos de atenção

  • Sobra de metáfora: muitos estudiosos alertam para o perigo de se tomar narrativas gnósticas de forma literal, sem considerar o contexto histórico, simbólico ou psicológico.

  • Fontes fragmentárias: grande parte do que se sabe do gnosticismo vem de textos antigos em condições de preservação imperfeitas, ou de comentários posteriores. Há variações grandes entre diferentes seitas gnósticas quanto ao que exatamente os Arcontes fazem ou representam.

  • Risco de dualismos simplistas: se tudo for visto como “bem vs mal”, “espiritual vs material”, pode-se cair numa visão maniqueísta que ignora as nuances — a ambiguidade, o papel construtivo-estruturante do mundo material, ou a interdependência entre espiritualidade e vida concreta.

Por fim, os  Arcontes, seja como mitos, símbolos, ou pressupostas entidades metafísicas, têm um papel muito interessante como espelho da condição humana: eles nos lembram da existência de forças invisíveis (internas ou externas) que limitam nossa liberdade — seja o medo, a ignorância, os sistemas sociais ou a percepção distorcida.

A jornada para conhecer ou “superar” os Arcontes é também uma jornada de autoconhecimento: identificar onde estamos presos, quais crenças nos limitam, o que precisamos ver para despertar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Simbiose: Células do bebê ajudam a reparar o coração da mãe, aponta pesquisa inovadora


by Deise Brandão

Um elo biológico surpreendente

Pesquisadores da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York, identificaram um fenômeno impressionante: células-tronco originadas do feto conseguem atravessar a placenta e migrar até áreas danificadas do coração materno, contribuindo para sua reparação. A descoberta lança luz sobre um potencial regenerativo natural que ocorre durante a gestação e que até agora era pouco compreendido.

Como funciona esse “socorro” celular

Segundo o estudo, essas células fetais chegam ao tecido cardíaco lesionado e se adaptam ao ambiente materno, transformando-se em componentes-chave, como células musculares lisas, células dos vasos sanguíneos e até cardiomiócitos — as unidades responsáveis pela contração do coração. Em testes realizados em laboratório, algumas dessas células começaram inclusive a bater de forma espontânea, sinalizando atividade cardíaca funcional.

Um recurso natural de alto potencial

O achado sugere que a gravidez aciona um mecanismo reparador próprio, no qual o organismo materno recebe ajuda direta das células do bebê para se recuperar de lesões. Essa integração ocorre sem rejeição imunológica significativa — um dos grandes desafios da medicina regenerativa — graças à origem compartilhada entre mãe e feto.

Implicações para terapias futuras

Como a placenta é descartada após o parto, as células-tronco derivadas dela se tornam uma alternativa viável e eticamente mais aceitável para uso clínico. A pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de tratamentos que imitem ou potencializem esse processo natural, beneficiando não só gestantes, mas pacientes cardíacos em geral.

Conclusão

A descoberta reforça a ideia de que a gestação não é apenas um período de formação do bebê, mas também um momento de troca ativa de recursos biológicos entre mãe e filho. Esse “presente” celular pode inaugurar uma nova fronteira na medicina regenerativa, transformando um mecanismo natural em terapias que salvam vidas.

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