“O presidente vai ser preso”: veja diálogos entre Mauro Cid e coronel
16/06/2023 14:01
Diálogos encontrados no celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, apontam para o detalhamento de planos golpistas. A análise foi feita pela Polícia Federal sobre aparelhos de pessoas ligadas diretamente ao ex-presidente e a militares do alto escalão.
Reportagem da Revista Veja revela um dos diálogos entre Cid e o então subchefe do Estado Maior do Exército, o coronel Jean Laward Junior. A conversa ocorreu dias antes do fim do mandato de Bolsonaro e mostra frases como: “O presidente vai ser preso”, “Ferrou, vai ter que ser no voto”, “Pelo amor de Deus, faz alguma coisa”, e “Convença o 01 a salvar esse país”.
Lawand e Mauro Cid mantiveram contato mesmo após a derrota de Bolsonaro nas urnas, no fim de 2022. Nas conversas que tiveram durante o período, o coronel cobrou, em diversos momentos, um plano para “salvar” o país, além de algo prático para contestar o resultado das eleições.
Procurado pela revista, o militar disse ter uma relação de amizade com Cid, com quem conversava sobre “amenidades”. Em nota, o Exército Brasileiro diz que “opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força”.
O ex-subchefe do Estado Maior do Exército, que foi destacado pelo governo Lula para assumir o cargo de representante militar nos EUA, afirmou não se lembrar de nenhum diálogo de teor golpista. O general Rosty também relatou que não se recordava de conversas do gênero.
Mauro Cid está preso desde o início de maio após uma operação da PF sobre fraudes em cartões de vacina, na qual seu telefone acabou apreendido.
Veja os diálogos
Diálogo entre o coronel Lawand Junior e Mauro Cid no dia 1º de dezembro:
– Cidão [Mauro Cid], pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele, cara. Se os caras não cumprirem, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprirem a ordem do… do comandante supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um general, que não recebeu, que não aceitou a ordem do comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara. Na Papuda, porque até isso aquele filho da puta quer tirar dos caras. O direito de ser preso é.. prisão especial com curso superior. Vai tirar, Cid. Temos que pensar, cara. Não podemos ser agora racional, não. E… emotivo. Tem que ser racional, cara, pelo amor de Deus – falou o subchefe do Estado Maior do Exército.
– Mas o PR [Bolsonaro] não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE”, disse o tenente-coronel Cid, se referindo ao Alto-Comando do Exército.
– Então, ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo – rebateu Lawand.
Mensagem enviada por Lawand a Cid no dia 2 de dezembro:
– Meu amigo, na saída do QG encontrei com o Rosty. Foi uma conversa longa, mas para resumir, se o EB receber a ordem, cumpre prontamente. De modo próprio o EB nada vai fazer porque será visto como golpe. Então está nas mãos do PR – falou o coronel, se referindo ao Exército Brasileiro como EB e ao presidente por PR.
Troca de mensagens no dia 12 dezembro:
– Cid, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB não está com ele, de divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus”, escreveu o militar.
– Muita coisa acontecendo. Passo a passo – respondeu Mauro Cid, ao que Lawand respondeu: – Excelente!
Mensagens trocadas no dia 21 de dezembro:
– Soube agora que não vai sair nada. Decepção, irmão. Entregamos o país aos bandidos – fala o subchefe do Estado Maior do Exército.
O tenente-coronel Mauro Cid responde: – Infelizmente.
Outras mensagens trocadas entre eles:
– Convença o 01 a salvar esse país! – enviou Lawand.
Cid responde:
– Estamos na luta!
Nomeação em risco
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, avalia anular a nomeação do coronel Jean Lawand Junior para a Representação Diplomática do Brasil nos Estados Unidos, em Washington.
A decisão seria uma reação após a Polícia Federal identificar uma série de mensagens nas quais o militar sugeria ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, que auxiliasse o então presidente a “dar uma ordem” para ação das Forças Armadas contra a eleição de Lula (PT).
Resposta do Exército
O Exército Brasileiro divulgou nota sobre a troca de mensagens entre Cid e o coronel. No documento, o órgão diz que “opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força”.
“Consciente de sua missão constitucional e do compromisso histórico com a sociedade brasileira, o Exército reafirma sua responsabilidade pela fiel observância dos preceitos legais e preservação dos princípios éticos e valores morais”, termina o comunicado.
Veja a nota completa:
“Atendendo à sua solicitação de informações sobre trocas de mensagens entre o Coronel Jean Lawand Junior e o ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, Tenente-Coronel Mauro Cid, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que:
Opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força. Como Instituição de Estado, apartidária, o Exército prima sempre pela legalidade e pelo respeito aos preceitos constitucionais. Os fatos recentes somente ratificam e comprovam a atitude legalista do Exército de Caxias.
Eventuais condutas individuais julgadas irregulares serão tratadas no âmbito judicial, observando o devido processo legal. Na esfera administrativa, as medidas cabíveis já estão sendo adotadas no âmbito da Força.
Em relação à função do Cel Lawand, citado na matéria da Revista Veja como Subchefe do Estado-Maior do Exército, este Centro esclarece que o referido militar serve no Escritório de Projetos Estratégicos do Estado-Maior do Exército.
Por fim, consciente de sua missão constitucional e do compromisso histórico com a sociedade brasileira, o Exército reafirma sua responsabilidade pela fiel observância dos preceitos legais e preservação dos princípios éticos e valores morais.”
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Docs abaixo, dosite da VEJA
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