segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

15/10/2013 

Zaniboni, diretor entre 99 e 2003, chegou a ter 836 mil dólares no exterior.
Defesa nega propina e diz que ex-funcionário recebeu por consultorias.

Do G1 São Paulo

Documentos do Ministério Público suíço aos quais o Jornal Nacional teve acesso mostram que um ex-diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), durante governos do PSDB, recebeu 800 mil dólares em uma conta na Suíça. Segundo as investigações, parte do dinheiro se refere ao pagamento de propina feito em nome da empresa francesa Alstom. Assista à reportagem no vídeo ao lado.

A informação sobre o suposto pagamento de propina a um funcionário da CPTM foi publicada nesta terça-feira (15) pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade , aos documentos do Ministério Público que apontam como o suspeito João Roberto Zaniboni, que foi diretor da companhia estatal entre 99 e 2003. Neste periodo, o estado foi governado por Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.A defesa de Zaniboni alega que ele não recebeu propina e que os depósitos recebidos no exterior vieram do pagamento de consultorias prestadas. 


Em imagem de agosto de 2013, João RobertoZaniboni, ex-diretor da CPTM, chega para depor
no Ministério Público, em São Paulo (SP).(Foto: Arquivo/Eduardo Knapp/Folhapress)

O nome do ex-funcionário da CPTM aparece em um pedido de cooperação internacional feito pelo Ministério Público da Suíça ao procurador da República Rodrigo de Grandis, em 21 de fevereiro de 2011.

Até aquele momento, segundo os promotores suíços, havia uma suspeita de que empresas do grupo francês Alstom, com a cumplicidade de cidadãos brasileiros, tivessem pagado propina a funcionários públicos para obter contratos da companhia de trens.

Segundo os investigadores suíços, a Alstom fez pagamentos a titulo de comissão a duas empresas com sede no Uruguai, GHT e Gantown. As investigadores apontaram que os donos das empresas eram Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, que já tiveram seus nomes mencionados em outra investigação: a da formação de um suposto cartel para obras do metrô e compras de trens.

ENTENDA O CASO ALSTOM

INVESTIGAÇÃO NO EXTERIOR
Em 2007, o Ministério Público de Paris abriu investigação contra a Alstom para apurar suspeita de pagamento de subornos para conseguir contratos no exterior, principalmente na América do Sul e na Ásia.Em maio de 2008, a justiça da Suíça confirmou a abertura de investigação sobre os supostos subornos.

INQUÉRITO NO BRASIL
Investigação da PF apurou suspeitas de pagamento de propina para funcionários do governo paulista, sobretudo a partir de 1998.

SUSPEITAS
PF diz ter localizado indícios de que houve suborno para obter contratos com a estatal de energia, CPTM e Metrô.

INDICIAMENTO
Agosto de 2012 - Onze pessoas foram indiciadas. Denúncia à Justiça não foi feita pelo MPF, que apontou precisar de mais dados. Foram apontados os crimes de formação de quadrilha, evasão de divisas, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

QUEBRA DE SIGILO

27 de agosto de 2013 - Justiça Federal pediu quebra de sigilo fiscal e bancário de todos os indiciados. Além disso, pediu ajuda da embaixada francesa para localizar dois suspeitos de comandar o esquema.

Os promotores suíços, então, rastrearam as movimentações de contas de Arthur e Sérgio Teixeira, na Suíça. E descobriram transferências feitas por eles para João Roberto Zaniboni.

Arthur Teixeira depositou 103,5 mil dólares em maio de 2000. Sérgio Teixeira fez outro depósito de 113.373 dólares, em dezembro do mesmo ano.

No período de setembro de 99 a dezembro de 2002, passaram pela conta de João Roberto Zaniboni, na Suíça, 836 mil dolares. Além das transferências feitas por Sérgio e Arthur, os promotores identificaram depositos suspeitos de duas empresas: Goldrate Corporation e Lespan. O MP suíço não identificou nem a razão dos depósitos nem quem são os donos dessas empresas.

Sobre os depósitos feitos por Arthur e Sérgio teixeira, a promotoria é taxativa: trata-se de pagamento de propina para que a Alstom conseguisse contratos de fornecimento de vagões. Em 2007, João Roberto Zaniboni transferiu a maior parte dos 800 mil dólares para uma conta da filha, em Nova York.

Defesa nega recebimento de propina
O advogado de Zaniboni disse que os depósitos feitos por Artur e Sergio Teixeira foram por serviços prestados de consultoria antes dele asumir o cargo na CPTM. Informou ainda que a conta foi abastecida ao longo dos anos pelo próprio Zaniboni com recursos de outras consultorias para outros clientes.

Sobre as contas no exterior, o advogado de Zanbioni informou que a conta na Suíça foi encerrada em 2007 e os recursos transferidos para Nova York, em nome da filha dele. Esta conta, por sua vez, foi encerrada este ano e o dinheiro transferido para o brasil, depois de declarado à Receita Federal.

Alston diz desconhecer transações
A Alston declarou que desconhece as transações mencionadas e que está colaborando com as autoridades nas investigações. A assessoria de imprensa da CPTM informou que ainda não foi notificada pelo Ministério Público sobre os fatos descritos pela reportagem. E que, se for o caso, tomará as ações pertinentes com relação a funcionários ou ex-funcionários.

Em nota, o PSDB afirmou que as providências necessárias para apuração do caso já estão sendo tomadas pelo governador Geraldo Alckmin e que o partido reitera sua confiança nas medidas adotadas.

Quebra de sigilo
A Justiça Federal de São Paulo determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de 11 pessoas investigadas em um suposto esquema de propinas da Alstom para funcionários públicos. A empresa francesa é suspeita de pagar para obter benefícios em contratos. O objetivo da quebra de sigilo é apontar se os suspeitos têm conta no exterior.

O Ministério Publico Federal (MPF) investiga negociações suspeitas ocorridas entre a empresa e o governo paulista, sobretudo a partir de 1998, quando o estado era governado por Mário Covas, do PSDB. O primeiro resultado das investigações foi o indiciamento de 11 pessoas investigadas, inclusive secretários de estado à época (veja reportagem do Jornal Nacional).

A quebra do sigilo autorizada pela Justiça abrange o período de 1997 a 2000. A informação foi divulgada na manhã desta segunda-feira (30) pelo site do jornal "O Estado de S. Paulo". A decisão da Justiça é de 27 de agosto e foi endereçada tanto à Receita Federal quanto ao Banco Central.

De acordo com a decisão judicial, foi determinada a quebra do sigilo também das empresas vinculadas aos investigados.

Em outro pedido, a Justiça Federal solicitou à Embaixada da França no Brasil informações sobre dois suspeitos de comandar o pagamento de propinas pelo grupo Alstom: Phillippe Jaffré e Pierre Chazot. Há suspeitas de que Jaffré tenha morrido e, neste caso, o magistrado pede que a morte seja informada.

Suspeita de pagamentos
Os pagamentos de propina teriam ocorrido para viabilizar contratos em diversas áreas, de acordo com investigação da Polícia Federal. Há suspeita de atuação em obras nas áreas de transportes, energia e abastecimento entre 1998 a 2001.

Um dos contratos suspeitos foi firmado com a então estatal de energia do estado, a EPTE. De acordo com o inquérito da Polícia Federal (PF), a irregularidade ocorreu porque a companhia obteve um crédito no banco francês Société Générale, de R$ 72,7 milhões, para adquirir equipamentos do grupo Alstom.

A PF ressalta que a contratação do crédito milionário foi feita sem licitação. E só foi possível porque a Alstom montou esquema de suborno para recompensar funcionários públicos pela aprovação do contrato.

De acordo com a PF, o esquema de pagamento usava pessoas com empresas no exterior que recebiam recursos do grupo Alstom "para depois repassá-los aos beneficiários finais, servidores públicos do governo do Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 1998".

Segundo investigações da Polícia Federal, a Alstom pagava empresas no Uruguai e no Brasil por serviços de consultoria. Essas empresas repassavam o dinheiro da propina, por meio de doleiros e contas bancárias na Suíça, Luxemburgo, Liechtenstein e Nova York.

À época, o estado era governado por Mário Covas. Uma das contas, segundo o inquérito, era de Jorge Fagali Neto, ex-diretor financeiro dos Correios e ex-presidente do Metrô. A PF diz que naquela época, "embora fosse diretor financeiro dos Correios, há evidências de que ele tinha livre trânsito por todas as secretarias de estado".

A Polícia Federal afirma ainda que Jorge Fagali Neto "integrou o esquema de distribuição de valores para agentes públicos paulistas que ele mantinha conta não declarada no exterior e que ocultou a origem de valores recebidos em virtude de pagamento de propinas, também no exterior". Por isso, ele foi um dos indiciados.

Outra empresa no exterior apontada pela polícia como usada na lavagem do dinheiro da propina foi a MCA Uruguay, que aparece no documento do Ministério Público Federal com quatro transações no valor de US$ 1 milhão e com demonstrativos de transferência. O dono da MCA, Romeu Pinto Junior, confessou à Polícia Federal ter servido de intermediário do pagamento de propinas a funcionários públicos paulistas a mando da Alstom e por meio da MCA".

Secretários
Em suas investigações apresentadas ao MPF, a Polícia Federal afirmou que Andrea Matarazzo, como secretário de energia e presidente do conselho administrativo da EPTE, tinha o pleno conhecimento de tudo. A investigação cita o depoimento do então presidente da EPTE, Henrique Fingermann. Ele declarou que o secretário Andrea Matarazzo tinha conhecimento de todos os procedimentos que levaram à assinatura do contrato de crédito com o banco Société Générale.

A Polícia Federal afirma que há indícios de que Matarazzo tenha se beneficiado juntamente com o partido político, o PSDB, das vantagens indevidas arquitetadas pelo grupo Alstom. E usa isso como argumento para indiciá-lo por corrupção passiva.

A Polícia Federal indiciou os dois ex-secretários e mais nove pessoas em agosto de 2012. O inquérito foi encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF), mas a denúncia ficou parada porque o MPF considerou que era necessário obter mais informações sobre o caso.

Após o indiciamento, o advogado que representa a estatal EPTE, Pedro Iokoi, afirma que não conseguiu ter acesso ao inquérito da PF e que o crime prescreveu. O Ministério Público Federal considera que o crime de lavagem de dinheiro ainda não prescreveu.

O que dizem os suspeitos
Na ocasião em que o caso foi revelado, Andrea Matarazzo qualificou como um "disparate" ter seu nome ligado a supostos favorecimentos e disse que, no período em que foi secretário, não teve conhecimento, não discutiu nem assinou qualquer aditivo ou contrato que esteja sendo investigado.

Ele afirmou ainda que as atas das reuniões podem comprovar o fato. O ex-secretário de energia acrescentou que é com muita indignação e repulsa que vê o seu nome envolvido nas denúncias.

Segundo o ex-diretor dos Correios Jorge Fagali Neto, o Ministério Público nunca atribuiu a ele qualquer ato de violação à lei penal e que não interferiu em nenhuma das empresas citadas, nem celebrou contratos com a Alstom ou Siemens.

A empresa MCA Uruguay e o então presidente da EPTE, Henrique Fingermann, não foram localizados.

À época, em nota, o PSDB declarou que repudia veementemente a tentativa de alguns setores de envolver, sem provas, o partido e seus quadros em casos de corrupção. O PSDB disse ainda que não compactua com a corrupção e espera que os casos sejam investigados e, se houver responsáveis, que eles sejam punidos.

Histórico no exterior
Em 7 de novembro de 2007, o Ministério Público de Paris abriu uma investigação contra a Alstom para apurar suspeita de pagamento de subornos para conseguir contratos no exterior, principalmente na América do Sul e na Ásia.

A justiça francesa foi alertada sobre o assunto em maio de 2007 pelas autoridades suíças, que descobriram em 2004 movimentações de fundos de "empresas fantasma" do grupo, através de um pequeno banco de Zurique.

Em maio de 2008, a justiça da Suíça confirmou a abertura de uma investigação sobre os supostos subornos da Alstom.

O pagamento a políticos brasileiros para viabilizar contratos teria sido feito através de uma empresa sediada no Uruguai. Comprovantes de transferência bancária mostram que a Alston transferiu US$ 550 mil para a empresa uruguaia Aranza.

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