EDMAR AUGUSTO VIEIRA |
A violência vem assumindo proporções alarmantes no Brasil, sobretudo a partir dos anos 90. As autoridades têm respondido com promessas e realizações de reforço do aparato repressor, normalmente mediante ampliação do efetivo, das viaturas e dos vencimentos da força policial. O setor privado também tem ampliado de forma expressiva os investimentos em segurança. Apesar disso, os índices de violência seguem impondo perdas humanas cada vez maiores, desafiando a sociedade quanto às formas convencionais de responder ao problema.
É certo que a violência apresenta inúmeras faces, tem causas complexas e produz conseqüências diversas. Entretanto, há algo a se destacar nessa complexidade: os dados mostram que o agravamento da violência fatal está relacionado, exclusivamente, com o aumento dos homicídios contra a juventude do sexo masculino, sendo que as armas de fogo têm participação elevada e crescente nesses homicídios.
Entre 1990 e 2006 a taxa de homicídio contra a população não-jovem brasileira permaneceu estável (21 por 100 mil habitantes). Mas, na população masculina jovem (15 a 24 anos), essa taxa aumentou em 36%, de 73 mortes para 99,2 mortes (por 100 mil habitantes). Em Mato Grosso, a violência homicida contra homens e mulheres não jovens cresceu entre 1990 e 2000, voltando a declinar desde então; mas, aumentou em quase 200% na população jovem do sexo masculino, embora parte desse aumento possa ser atribuído à técnica de imputação da causa do óbito.
Este é o padrão básico da violência homicida em período recente: as vítimas são, em grande proporção, jovens do sexo masculino, em qualquer região. Consideremos o caso de Mato Grosso: Em 2006 (último ano para o qual o SUS disponibilizou dados), os homicídios causaram 45,4 mortes (por 100 mil habitantes) na população não jovem do sexo masculino e 4,4 mortes (por 100 mil) na população não jovem do sexo feminino. Entre os jovens, a taxa foi de 102 mortes (por 100 mil) para os homens e 7,1 (por 100 mil) para as mulheres. Ainda em 2006, as mulheres representaram 7,8% e os homens 92,2% de todas as vítimas de homicídio em Mato Grosso. Os homicídios causam uma perda anual de 50 mil homens no Brasil e 895 homens em Mato Grosso, sendo um dos fatores de desequilíbrio na composição sexual da população adulta.
As estatísticas dão razão ao esforço de desarmamento do País. Entre 1998 e 2002, a participação das armas de fogo nos homicídios contra a juventude evoluiu de 66,1% para 74,2% (Brasil). É evidente que a presença da arma nas diversas circunstâncias conflituosas, por mais banais que sejam (como numa simples discussão de trânsito), aumenta significativamente a probabilidade de ser ter a morte como desfecho final. No ano de 2000, Cuiabá foi a capital com maior participação proporcional das armas de fogo no total de mortes (incluindo as mortes acidentais ou sem intencionalidade) (dados do livro “Mapa da violência no Brasil”/ Unesco).
Há, no Brasil, em especial nas periferias das regiões metropolitanas e dos centros urbanos, uma verdadeira guerra armada de jovens contra jovens, em sua maioria pobres, negros e do sexo masculino (o que reforça certo viés de preconceito racial no tratamento da questão no âmbito das abordagens policiais). Com efeito, é possível que os jovens estejam nos dois lados do problema, como vítimas ou como algozes (não temos, aqui, estatísticas sobre perfis de autoria). Assim, devemos reconhecer que é bastante tênue a linha que separa a vítima do autor da violência, pois ambos partilham as mesmas circunstâncias de socialização e experiência de vida. Todos são, no fundo, vítimas do mesmo processo sócio-histórico e cultural gerador de violência, no qual se pode identificar o tráfico de drogas para alimentar o consumo das classes média e alta, o acesso fácil às armas, a desagregação familiar, a pressão consumista em meio às grandes desigualdades sociais, o fracasso escolar, a dificuldade do emprego e a ausência de alternativas (como esporte, cultura e lazer) que proporcionem aos jovens referenciais identitários suficientemente fortes.
* EDMAR AUGUSTO VIEIRA, Mestre em Economia e gestor governamental (Seplan/MT)
É certo que a violência apresenta inúmeras faces, tem causas complexas e produz conseqüências diversas. Entretanto, há algo a se destacar nessa complexidade: os dados mostram que o agravamento da violência fatal está relacionado, exclusivamente, com o aumento dos homicídios contra a juventude do sexo masculino, sendo que as armas de fogo têm participação elevada e crescente nesses homicídios.
Entre 1990 e 2006 a taxa de homicídio contra a população não-jovem brasileira permaneceu estável (21 por 100 mil habitantes). Mas, na população masculina jovem (15 a 24 anos), essa taxa aumentou em 36%, de 73 mortes para 99,2 mortes (por 100 mil habitantes). Em Mato Grosso, a violência homicida contra homens e mulheres não jovens cresceu entre 1990 e 2000, voltando a declinar desde então; mas, aumentou em quase 200% na população jovem do sexo masculino, embora parte desse aumento possa ser atribuído à técnica de imputação da causa do óbito.
Este é o padrão básico da violência homicida em período recente: as vítimas são, em grande proporção, jovens do sexo masculino, em qualquer região. Consideremos o caso de Mato Grosso: Em 2006 (último ano para o qual o SUS disponibilizou dados), os homicídios causaram 45,4 mortes (por 100 mil habitantes) na população não jovem do sexo masculino e 4,4 mortes (por 100 mil) na população não jovem do sexo feminino. Entre os jovens, a taxa foi de 102 mortes (por 100 mil) para os homens e 7,1 (por 100 mil) para as mulheres. Ainda em 2006, as mulheres representaram 7,8% e os homens 92,2% de todas as vítimas de homicídio em Mato Grosso. Os homicídios causam uma perda anual de 50 mil homens no Brasil e 895 homens em Mato Grosso, sendo um dos fatores de desequilíbrio na composição sexual da população adulta.
As estatísticas dão razão ao esforço de desarmamento do País. Entre 1998 e 2002, a participação das armas de fogo nos homicídios contra a juventude evoluiu de 66,1% para 74,2% (Brasil). É evidente que a presença da arma nas diversas circunstâncias conflituosas, por mais banais que sejam (como numa simples discussão de trânsito), aumenta significativamente a probabilidade de ser ter a morte como desfecho final. No ano de 2000, Cuiabá foi a capital com maior participação proporcional das armas de fogo no total de mortes (incluindo as mortes acidentais ou sem intencionalidade) (dados do livro “Mapa da violência no Brasil”/ Unesco).
Há, no Brasil, em especial nas periferias das regiões metropolitanas e dos centros urbanos, uma verdadeira guerra armada de jovens contra jovens, em sua maioria pobres, negros e do sexo masculino (o que reforça certo viés de preconceito racial no tratamento da questão no âmbito das abordagens policiais). Com efeito, é possível que os jovens estejam nos dois lados do problema, como vítimas ou como algozes (não temos, aqui, estatísticas sobre perfis de autoria). Assim, devemos reconhecer que é bastante tênue a linha que separa a vítima do autor da violência, pois ambos partilham as mesmas circunstâncias de socialização e experiência de vida. Todos são, no fundo, vítimas do mesmo processo sócio-histórico e cultural gerador de violência, no qual se pode identificar o tráfico de drogas para alimentar o consumo das classes média e alta, o acesso fácil às armas, a desagregação familiar, a pressão consumista em meio às grandes desigualdades sociais, o fracasso escolar, a dificuldade do emprego e a ausência de alternativas (como esporte, cultura e lazer) que proporcionem aos jovens referenciais identitários suficientemente fortes.
* EDMAR AUGUSTO VIEIRA, Mestre em Economia e gestor governamental (Seplan/MT)
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