quarta-feira, 9 de junho de 2021

Renan ataca jornalista e pai de senadora com ofensa de natureza sexual

Por Edson Sardinha
Em 04 fev, 2019 - 

Renan Calheiros/Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) reagiu mal à derrota na disputa à presidência do Senado. Em comentário publicado na noite desse domingo (3), Renan fez ataque, de natureza sexual, contra a jornalista Dora Kramer, colunista da revista Veja, e o pai da senadora Simone Tebet (MDB-MS), uma das articuladoras da vitória de Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Chamado por Dora de arrogante no artigo em que a colunista analisava o resultado da eleição no Senado, Renan escreveu em sua conta no Twitter que já foi assediado sexualmente pela jornalista. "A Dora Kramer (Veja) acha que sou arrogante. Não sou. Sou casado e por isso sempre fugi do seu assédio. Ora, seu marido era meu assessor, e preferi encorajar Geddel e Ramez, que chegou a colocar um membro mecânico para namorá-la. Não foi presunção. Foi fidelidade."

Resposta nas redes

O senador se refere ao ex-deputado preso Geddel Vieira Lima (MDB-BA) e ao ex-presidente do Senado Ramez Tebet (MDB-MS), falecido em 2006. Filha de Ramez, Simone se aliou a Alcolumbre após ter sido preterida por Renan, em votação da bancada do MDB, na disputa à presidência da Casa. Após o comentário repercutir negativamente nas redes sociais, o senador alagoano apagou a mensagem. Mesmo assim, a #RenanCassado está entre os assuntos mais comentados do Twitter. Até o momento, porém, nenhum senador manifestou intenção de entrar com representação contra o senador.

Reprodução do tuíte que foi apagado depois por Renan

A jornalista recebeu centenas de manifestações de solidariedade nas redes. Dora agradeceu o apoio e disse que o senador mostrava, com seu comentário, quem de fato é. "Amigos, agradeço demais as manifestações, mas quero dizer que me abalo zero com essa coisa do Twitter. Não vou responder porque o que ele diz fala por ele", escreveu a colunista no Facebook.

Jornalistas também saíram em defesa de Dora Kramer. "Seu post, senador, dá a real dimensão do seu caráter. Ou da falta dele", respondeu Ricardo Noblat, também de Veja. A colunista Cora Ronai, do Globo, foi outra que condenou o ataque: "Renan, o Canalha, revela-se no ressentimento: acaba de postar o tuíte mais machista, asqueroso e repulsivo da política brasileira em todos os tempos, o que não é dizer pouco".

Pensão paga por lobista

Apesar das juras de fidelidade no casamento, Renan foi apeado da presidência do Senado em 2007 depois de ter sido acusado de direcionar emenda parlamentar em favor da empreiteira Mendes Junior. Em troca, segundo a denúncia, o lobista da empresa pagava a pensão alimentícia devida pelo senador a uma filha que teve em relação extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso.

Na época, o emedebista teve a cassação recomendada pelo Conselho de Ética, mas foi absolvido em plenário em votação secreta. Embora tenha preservado o mandato, ele teve de abrir mão da presidência da Casa, cargo que voltou a ocupar posteriormente por outros dois biênios.

Derrota histórica

No último sábado (2), Renan sofreu sua maior derrota eleitoral. A derrota começou a se desenhar na sexta, depois que o plenário, em sessão tumultuada, resolveu abrir a votação para presidente do Senado. A decisão foi revertida a pedido de Renan e aliados do MDB na madrugada pelo ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que o voto fosse secreto.

De maneira estratégica, os senadores que se opunham ao emedebista decidiram, então, abrir as cédulas para mostrar em quem estavam votando. Ao perceber que seria derrotado, Renan retirou sua candidatura, alegando que havia irregularidades e atropelos no processo eleitoral.

Atualmente Renan responde a uma dezena de investigações no Supremo. Ele é um dos principais alvos da Operação Lava Jato em liberdade. Por esse histórico, vários senadores já haviam confidenciado ao emedebista que teriam dificuldade de votar nele caso a votação fosse aberta. Ao abandonar o plenário no sábado, o emedebista admitiu que esperava ter quatro votos do PSDB, por exemplo, se o partido não tivesse orientado seus representantes a mostrarem o papel de votação.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Comissão da Câmara aprova projeto de lei que legaliza cultivo de Cannabis para fins medicinais no Brasil


JUNHO 8, 2021

Nesta terça-feira (8), a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto de lei 399/15, que permite a legalização do cultivo de cannabis no Brasil para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais.

A proposta favorável se refere à Cannabis sativa, planta herbácea com uma enorme variedade de fins medicinais, porém mais conhecida por ser utilizada na produção de maconha.

O texto-base foi aprovado por 18 votos contra 17 – o desempate coube ao relator, o deputado Luciano Ducci (PSB-PR)
.Foto: Cleia Viana / Câmara dos Deputados

Sobre o PL/399/15

O projeto de lei discutido atualmente na Câmara permite a comercialização de medicamentos à base de cannabis que contenham extratos, substratos ou partes da planta Cannabis sativa, ou substâncias canabinoides (derivados da planta) em sua formulação.aso haja “comprovada eficácia terapêutica” da medicação, a venda será permitida ao usuário final mediante laudo médico que faça indicação de seu uso.

A nova lei foi apresentada pelo deputado federal Fábio Mitidieri (PSD-SE) e está em análise no parlamento há anos.


Segundo Fábio, apesar da Cannabis sativa ser classificada como droga para efeitos penais, as suas propriedades medicinais continuam a existir e deveriam ser melhor utilizadas.

“Algumas moléstias podem ser tratadas com sucesso, de modo mais eficaz e seguro, em relação a outras drogas que não apresentam respostas satisfatórias perante determinados casos clínicos”, disse o parlamentar.

Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Para mostrar que há precedente em outros países, Fábio mencionou que o FDA (Food and Drug Administration – ‘Administração de Drogas e Alimentos’, em tradução livre), a autoridade sanitária dos Estados Unidos, já aprovou a utilização de canabinoides na formulação de medicamentos.

O dronabinol, por exemplo, trata efeitos colaterais de pacientes com câncer que fazem quimioterapia.
Benefícios do uso medicinal

De acordo com o portal ‘Medicina Saúde’, os componentes da cannabis sativa podem ser efetivos para diversos problemas de saúde, como:

Alívio da dor crônica causada pela artrite, fibromialgia ou enxaqueca;
Diminuição da inflamação em doenças como síndrome do intestino irritável, doença de Chron ou artrite reumatóide;
Alívio das náuseas e vômitos causados por quimioterapia;
Estimulante do apetite em pacientes com AIDS ou câncer;
Tratamento das convulsões em pessoas com epilepsia;
Tratamento da rigidez muscular e dor neuropática em pessoas com esclerose múltipla;
Analgésico em doentes terminais com câncer;
Tratamento da obesidade;
Tratamento da ansiedade e depressão;
Diminuição da pressão intraocular, útil nos casos de glaucoma;
Atividade antitumoral.

Fonte: Tua Saúde / Reprodução

Lei antidrogas

O PL/399/15 altera a chamada ‘Lei Antidrogas’, que proíbe em todo o Brasil qualquer plantio, cultura, colheita ou exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas (à exceção de plantas de uso ritualístico-religioso).

Assim, a nova legislação aprovada hoje facilita a autorização do plantio, cultura e colheita desses vegetais e substratos com fins medicinais ou científicos.


O que falta pra virar lei?

Agora que foi aprovada na comissão especial, o PL/399/15 segue ao plenário da Câmara dos Deputados, onde será analisado por todos 513 deputados.
Filho registra emocionante progresso do pai com Alzheimer após uso da Cannabis medicinal

Há cerca de dois anos, contamos aqui no Razões a história do seu Ivo, um senhor de 58 anos que foi diagnosticado com Alzheimer.

Sua família, que vive em Goiás, sofria diariamente com as suas mudanças de humor e comportamento por conta do avanço da doença: ele tinha se tornado uma pessoa agressiva e infeliz. Não sabia nem mais o que era mastigar uma refeição, muito menos quem eram as pessoas ao seu redor.

Foto: Razões Para Acreditar

Situação muito triste que fez a família buscar tratamentos alternativos, encontrando no uso do óleo de cannabis a melhor solução. No caso do seu Ivo, ele usa o óleo de de uma extração full spectrum da planta, ou seja, a planta inteira.

Em menos de três meses de uso, seu Ivo já era outra pessoa! Sorria, conversava com a esposa e com o filho e até dançava! Confira a história completa dele clicando aqui.

Filho registra emocionante progresso do pai com Alzheimer após uso da Cannabis medicinal

POR JÉSSICA SOUZA
JULHO 31, 2019


O seu Ivo tem 58 anos e foi diagnosticado com Alzheimer há seis anos. Há pouco tempo, a família, que vive em Goiás (GO), sofria diariamente com as suas mudanças de humor e comportamento por conta do avanço da doença: ele tinha se tornado uma pessoa agressiva e infeliz. Não sabia nem mais o que era mastigar uma refeição, muito menos quem eram as pessoas ao seu redor.

“O Alzheimer destruiu a vida do meu marido, com 58 anos ele é uma pessoa totalmente dependente, fica agressivo, não aceita, ele era uma pessoa doce, hoje tem momentos que ele está feliz e do nada ele se transforma, fica violento, ele perdeu totalmente a identidade dele, o corpo está aqui, mas a mente foi embora”, relatou a esposa do seu Ivo, Solange Barsan Suzin, 56 anos.

[Aos 23 anos, o Julio, que tem autismo severo, precisa ser amarrado em momentos de crise. Também por falta de tratamento ele parou de falar há muitos anos e precisa de um acompanhamento em clínicas e psicoterapeutas. Queremos custear um tratamento pra ele e comprar moveis para a família em Fortaleza (CE) viver um pouco melhor. Contribua aqui.]

Situação muito triste que fez a família buscar tratamentos alternativos, encontrando no uso do óleo de cannabis a melhor solução. No caso do seu Ivo, ele usa o óleo de de uma extração full spectrum da planta, ou seja, a planta inteira.

“Tinha chegado num nível que a gente teria que interná-lo, estava muito agressivo”, disse o filho Filipe Barsan Suzin, 28 anos, que também faz tratamento com o óleo para uma leucemia mieloide crônica.

Em menos de três meses de uso, seu Ivo já era outra pessoa! Sorria, conversava com a esposa e com o filho e até dançava! Conversamos com a família e com a ONG Ágape Medicinal, que fornece o óleo para as famílias da região, para mais informações sobre os benefícios e pesquisas do uso da cannabis para tratamentos dos sintomas de diversas doenças como Alzheimer, autismo, esclerose múltipla, entre outras.

No vídeo abaixo, a família registrou todo o progresso do seu Ivo. É emocionante!


Tabu em casa

Filipe relatou que desde 2013 já estudava sobre o uso da cannabis medicinal. Mas, foi através da Associação Goiânia de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal, a Agape Medicinal, que Filipe conseguiu convencer a família. Ele conheceu a associação através de uma viagem.

“Faz sete meses que o meu pai faz uso do óleo, em uma semana já teve uma mudança inexplicável! Sendo que ele ficou mais de seis anos sendo dopado, tomando remédios fortes. Meu pai teve melhoras sensacionais!”, afirmou.

O humor do seu Ivo melhorou drasticamente!


Ele também “reaprendeu” a comer sozinho

Seu Ivo e a esposa ❤
Cannabis medicinal no Brasil

A Agape nasceu da experiência de seus membros fundadores diante da negligência vivida por pacientes que necessitam da medicina canábica, que, em muitos casos, é a única esperança para quem sofre com alguma patologia. Hoje, a associação atende 100 pacientes, grande parte idosos com Alzheimer e também crianças e adultos autistas, entre outras patologias.

“No Brasil, nós não temos uma regulamentação que seja o suficiente, a pouca regulamentação envolve a importação do cannabidiol (CBD), e ele é um composto da planta cannabis, então, a única coisa que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) viabiliza é uma via extremamente onerosa e burocrática no âmbito administrativo para você ter um remédio incompleto. É um óleo, só de CBD, e vem de fora do país. É uma política pública ineficaz, porque a gente não pode cultivar aqui no país? É uma via extremamente burocrática para conseguir um remédio incompleto, não tem ele da planta inteira, e o que resta é acolhermos as famílias”, afirmou o fundador e presidente da Ágape, e graduado em Cannabusiness e Cultivo Indoor e Outdoor pela Universidade de Oaksterdam, Califórnia, Yuri Ben-Hur da Rocha Tejota.


Além de fundador e presidente da Ágape, Yuri é graduado em Cannabusiness e Cultivo Indoor e Outdoor pela Universidade de Oaksterdam, CalifórniaResultado de uma parceria entre grupos de pesquisa de Israel (liderado por Elisaldo Carlini) e no Brasil (liderado por Elisaldo Carlini), entre os anos 1975 e 1982, a medicina canábica foi apresentada para o mundo através de cinco artigos que revelaram as poderosas propriedades antiepilépticas do CBD.

“É preciso deixar claro que autismo e Alzheimer são patologias que a gente trata os sintomas, não têm formas eficazes de tratar a raiz do problema. A cannabis ativa o cérebro do indivíduo, ela age literalmente no cérebro, diferente do CBD, então, no caso do seu Ivo, foi usado o óleo da planta inteira, em baixas quantidades, é uma fitoterapia, você não tem letalidade e nem toxicidade”, explicou.

Ele ainda relatou que o desconhecimento das pessoas sobre o assunto é o principal motivo de conclusões erradas sobre a cannabis medicinal.

“Tem uma política proibicionista em cima da cannabis, que faz as pessoas a enxergarem como uma droga, mas tem vários estudos que comprovam que ela não é porta de entrada para nada, não aumenta a violência. É uma planta, e que se bem feito o uso dela, de forma rastreável e com acompanhamento de profissionais da área, é algo seguro”, conclui.

by https://razoesparaacreditar.com/

Discussão de PL que autoriza cultivo da cannabis é marcada por confusão

  


by VEJA

Em sessão na comissão especial, o deputado Diego Garcia (Podemos-PR) partiu para cima do presidente da comissão, Paulo Teixeira (PT-SP)

A discussão do Projeto de Lei 399/15, que pode avançar em direção à liberação do cultivo controlado no Brasil da cannabis sativa para fins medicinais e científicos, vem inflando os ânimos dos parlamentares, especialmente da base governista. Nesta terça-feira, 18, durante a comissão especial que analisa o PL, o deputado Diego Garcia (Podemos-PR) partiu em direção ao presidente da comissão, puxando o computador do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e o empurrando. O parlamentar precisou ser acalmado pelos pares para que a reunião pudesse ser retomada.

A confusão aconteceu quando um requerimento de Garcia, para adiar a discussão, foi negado. O presidente fez uma votação geral, ou seja, quem concordasse precisava se manifestar. Como não houve manifestações, ele negou o requerimento. Alguns deputados pediram então um votação nominal, em que cada congressista precisa incluir seu voto no sistema da Casa. Houve bate boca entre deputados governistas e da oposição. Garcia então levantou de seu lugar e foi até o presidente da sessão, empurrando o computador e indo para cima do parlamentar.

A comissão deve votar o parecer do relator, deputado Luciano Ducci (PSB-PR). Caso aprovado, o projeto que tramita em caráter conclusivo pela Câmara passa ao Senado Federal. 

Além de Garcia, deputados bolsonaristas como Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Osmar Terra (MDB-RS), vêm inflando suas bases nas redes sociais para travar a discussão pública sob o argumento de que o projeto pode liberar ou facilitar a acesso à maconha no Brasil. O PL 399/15 não menciona em nenhum momento a legalização do uso adulto (também chamado de recreativo) da cannabis. O substitutivo proposto pelo deputado Luciano Ducci (PSB), que deve ser apreciado nesta terça-feira, legaliza o cultivo da planta mas impõe restrições. O plantio poderá ser feito apenas por pessoas jurídicas, como empresas, associações de pacientes e organizações não governamentais. Não há previsão para o cultivo individual.

O setor de remédios derivados da cannabis é considerado por especialistas como uma promissora fronteira a ser explorada, como mostra VEJA desta semana. De acordo com dados das consultorias The Green Hub e New Frontier Data, o mercado brasileiro de medicamentos à base de cannabis tem potencial de chegar a 4,7 bilhões de reais anuais apenas três anos depois da criação de regras mais flexíveis, que possibilitem a consolidação de uma cadeia produtiva local integrada, da geração de sementes ao desenvolvimento e fabricação dos produtos.

Até o momento, todos os pedidos de requerimento para adiar a votação na comissão especial da Câmara foram derrotados.


segunda-feira, 7 de junho de 2021

21 razões pelas quais já estamos em Estado de exceção





POR LENIO STRECK


Valho-me do livro que melhor analisa, para além de Agamben, o problema do que se pode chamar de Estado de exceção nestes tempos conturbados. Falo de Autoritarismo e golpes na América Latina — Breve ensaio sobre jurisdição e exceção, de Pedro Serrano, para quem o Brasil vive um momento perigoso de crescimento acelerado de medidas próprias de um Estado de exceção, que estão sendo praticadas cotidianamente e, o que é mais grave, naturalizadas. 
Nossa incipiente democracia vai assim se esfacelando e se transformando em uma maquiagem, que confere a aparência de um Estado Democrático, mas ao invés de ampliar e efetivar direitos, suprime-os paulatinamente, conclui Serrano.

O Estado de exceção ocorre quando determinadas leis ou dispositivos legais são suspensos (no sentido de não serem aplicados). Ou seja, alguém com poder põe o direito que acha adequado para aquele — e cada — caso. O soberano é aquele que decide sobre o Estado de exceção, diz Carl Schmitt. Para ser generoso, poderia aqui falar de um Estado de Exceção Regional(izado)”, isto é, ao menos em uma área sensível do Brasil já vivemos esse fenômeno denunciado por autores como Giorgio Agamben. Quando se suspende uma lei que trata de direitos e essa suspensão não tem correção porque quem tem de corrigir e não o faz ou convalida a suspensão, é porque o horizonte aponta para a exceção.

Vou elencar alguns tópicos que compõem uma espécie de check list para saber se estamos ou não perigosamente na tênue linha do Estado de exceção. Assim, pode-se dizer que estamos em Estado de exceção quando

1. a advocacia se torna um exercício de humilhação cotidiana;

2. indício e presunções viram prova, prova é transformada em uma mera crença e juiz condena réu a longa sentença (reformada) baseado em meros relatos de delatores;

3. faz-se condução coercitiva ATÉ de advogado, em flagrante violação do CPP e da CF;

4. advogado é processado por obstrução de justiça porque aconselha seu cliente a não fazer colaboração premiada;

5. ocorre divulgação (seletiva ou não) de gravações resultantes de intercepções não autorizadas; isto é, quando a GloboNews e o Jornal Nacional sabem antes do próprio réu;

6. arquiva-se, com argumentos de política e não de princípio, representação contra quem procedeu — confessadamente — a divulgação da prova ilícita;

7. ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça confessa que foi conivente com vazamento, sob o argumento de que a ilegalidade era para o bem;

8. o MP faz denúncia criminal considerada por Tribunal Regional Federal como coação ilegal (assim, literalmente) e isso não acarreta repercussão nos órgãos de fiscalização do MP;

9. membros do Ministério Publico e do Judiciário se manifestam em redes sociais (tomam lado) confessando parcialidade e incitando a população contra o Tribunal Superior Eleitoral, face a julgamento com o qual não concordam;

10. agentes políticos do Estado vendem, por intermédio de agenciamento comercial, palestras por altos valores, autopromovendo-se a partir de processos judiciais das quais são protagonistas;

11. ocorre a institucionalização da ausência de prazo para prisões preventivas (há casos de prisões que ultrapassam a dois anos, usadas para forçar delações premiadas e acusados (ou indiciados) “aconselhados” a trocarem de advogado, para contratarem causídicos “especialistas” em delação;

12. juiz constrói um Código de Processo Penal próprio, a ponto de, no bojo de uma sentença de um réu, dar incentivo condicionado à delação de um outro réu, tudo à revelia da lei e do CPP;

13. se institucionaliza a dispensa dos requisitos do artigo 312 do CPP para decretação de prisão preventiva; lei vale menos que o clamor popular;

14. um agente político do Estado troca de lado no combate ao crime: em linguagem ludopédica, é um craque — sai do ataque e vai para a defesa;

15. delações concluídas e homologadas à revelia da legislação, inclusive com cumprimento de penas que-não-são-penas porque não houve julgamento; ou seja, o prêmio da delação premiada é recebido antes do processo;

16. “normalização” do lema “se delinquir, delate” (conforme bem denuncia o jornalista Vinicius Mota): “está aberta a via para um ciclo de delações interminável e potencialmente infernal, porque composto de informações de difícil comprovação”; lambuzamo-nos com o melado recém-descoberto, diz Mota;

17. perigo de se institucionalizar uma espécie de “lavagem de prova ilícita”, isto é, a legitimação de delações sem denúncia e “constitucionalização” da possibilidade de uso de prova ilícita (por exemplo: o sujeito, via prova ilícita de raiz, chega ao MP e faz acordo; com esse acordo, recebe imunidade; depois essa prova estará “lavada” e o judiciário não mais poderá anulá-la);

18. naturalização de decisões que decretam prisões baseadas em argumentos morais e políticos;

19. naturalização de denúncias criminais baseadas em construções ficcionais; enfim, decisões (atenção: o ato de denunciar alguém[1] já é uma decisão) que deveriam ser baseadas no Direito não passam de escolhas baseadas em opiniões morais e políticas;

20. como se fosse candidato a senador ou presidente da república, candidato a PGR diz que precisamos de uma reforma política…, mostrando, assim, que alguma coisa está fora de ordem nas funções estatais;

21. por último, estamos em Estado de exceção Regional (EER) quando todos os itens acima não causam indignação na comunidade jurídica e parcela majoritária dela os justifica/naturaliza pelo argumento de que “os fins justificam os meios”.

A lista pode ser estendida. São sintomas. Cada leitor pode fazer a sua. O que aqui foi exposto é simbólico. Tudo começou com o ativismo e a judicialização da política… para chegar ao ápice: a politização da justiça.

Imparcialidade e impessoalidade: eis o que se espera de quem aplica o direito. E isso já se erodiu. Quando jornais como O Estado de S. Paulo começam a exigir o cumprimento de garantias e criticar as delações, é porque de há muito começou a chover na serra… a planície é que não se deu conta — aqui parafraseio Eráclio Zepeda.

Juristas viraram torcedores. E torce-se o Direito à vontade. Vontade de poder (Wille zur Macht). A mídia faz a pauta (des)institucional. O Direito desaparece(u). Lewis Caroll — em Alice Através do Espelho — inventou/denunciou, bem antes de Agamben e Schmitt, o sentido de Estado de exceção. O soberano, que decide no Estado de exceção, dá às palavras o sentido que quer, como o personagem Humpty Dumpty. Por isso, o prazo para a prisão é aquele que quem tem poder de dizê-lo, é. A fundamentação também é aquela que…! E pode fazer condução coercitiva… porque sim. Até de advogado. E pode…tudo. Desde que tenha o poder. Próximo passo: dispensa de advogado nos processos judiciais. Futuro: Privatização da ação penal — se o réu confessar logo, nem denúncia haverá. E delegado terá o poder de mandar recolher o indiciado diretamente à prisão.

O engraçado de tudo isso é que, face a este estado da arte, defender a estrita legalidade virou um ato revolucionário. Tenho dito isso em todas as minhas palestras não-remuneradas.

Post scriptum: Onde deve sentar o advogado? Resposta do Pe. Bartolomeu

A Câmara aprovou o Projeto de Lei 4.850, de 2016, com importantíssimas conquistas no plano da garantização das prerrogativas da profissão de advogado. Mas, nem tudo são flores no projeto. Por exemplo, não sei o que os deputados que aprovaram a emenda no artigo 7, XXII, do Estatuto da OAB, queriam ou querem. Só sei que foi à revelia da OAB. Com a alteração proposta no projeto, o advogado passa a sentar na mesma altura do Ministério Público (ao que entendi). Viva, dirão os advogados… Mas, se lermos todo o dispositivo, veremos que ambos sentarão… abaixo do juiz. Verbis:

“Durante as audiências, o advogado sentar-se-á à esquerda do juiz, ao lado de seu cliente, e a parte adversa tomará assento à sua direita, ambos em igual posição, horizontal ou perpendicular, abaixo do magistrado”.

(Não)Bingo: até agora, os advogados estávamos formalmente no mesmo nível dos juízes e MP; agora, estamos legalmente abaixo do juiz. Ao que vi, os deputados, para igualarem os advogados ao MP, puxaram este para baixo e deixaram o juiz acima dos dois. Poxa. Mais uma vitória destas e estaremos totalmente lascados — exatamente o que disse o general Pirro às portas de Roma, depois de uma “grande vitória”, olhando para as suas tropas escangalhadas. No Brasil, regras de processo são feitas por regimento interno e portaria; já o lugar de sentar é regulado por lei. Logo, logo vem um PEC para colocar o advogado para fora da audiência. Podíamos também regular a gravata, a sua cor, o cabelo do causídico e coisas desse jaez…

Quase ia esquecendo. A propósito do lugar de sentar, a amiga Andrea Bispo, do longínquo e simpático Pará, chama a atenção para este trecho do Memorial do Convento, de Saramago, página 65, que deveria ser lido pelos senadores quando da votação naquela casa:

“Baltasar recuou assustado, persignou-se rapidamente, como para não dar tempo ao diabo de concluir as suas obras, Que estás a dizer, padre Bartolomeu Lourenço, onde é que se escreveu que Deus é maneta, Ninguém escreveu, não está escrito, só eu digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é à sua direita, à sua mão direita, que se sentam os eleitos, não se fala nunca da mão esquerda de Deus, nem as Sagradas Escrituras, nem os Doutores da Igreja, à esquerda de Deus não se senta ninguém, é o vazio, o nada, a ausência, portanto Deus é maneta. Respirou fundo o padre, e concluiu, Da mão esquerda.”

Portanto, muito cuidado em pedir para sentar do lado esquerdo. Se me entendem as implicaturas de tudo o que aí está dito. E não dito.

1 A propósito da denúncia do PGR contra Temer, feita com sumário (nova moda) em mais de 60 laudas, lembro que, quando eu iniciava minha carreira no MP, um velho Procurador me disse o seguinte: – quem propõe arquivamento em 60 laudas é porque deveria denunciar em 6; e quem quer denunciar em 60 laudas, arquiva em 6 ou requer rigorosas diligências para buscar provas concretas. Sábio conselho que procurei seguir por 28 anos. Hoje tudo mudou.

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