terça-feira, 6 de abril de 2021

2016: Barroso: “Modelo do Brasil não é capitalismo, é socialismo para os ricos”

Ministro do STF nega que políticos influenciem Corte e critica sistema de financiamento eleitoral
Ministro do STF Roberto BarrosoNELSON JR / STF


Fonte: ElPaís

Nesta segunda-feira, quando mais um vazamento de conversa entre políticos de alto escalão
 levantou suspeitas de tráfico de influência Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Corte
 Luís Roberto Barroso afirmou que ninguém tem poder para obstruir a Operação Lava Jato
no tribunal. Desta vez, foi Romero Jucá quem disse ter conversado com ministros do STF e 
sugeriu até incluir o Supremo em um suposto acordo para deter as investigações, de acordo com
 áudios publicado pela Folha de S. Paulo.


"É impensável que qualquer pessoa, individualmente, tenha acesso ao Supremo. Para pedir 
audiência, todos têm acesso. Recebo todos que me pedem. Mas, acesso para intervir?
afirmou o ministro Barroso, nesta manhã durante um seminário em São Paulo promovido pela revista 
Veja. Barroso, contudo, não quis se posicionar diretamente sobre a conversa vazada de Jucá, que o
 acabaria obrigando a deixar o cargo de ministro do Planejamento de Michel Temer .

No mesmo evento, o juiz federal Sergio Moro, responsável pelo caso Lava Jato na primeira instância, 
defendeu que "assuntos pertinentes à Justiça não devem sofrer interferência do Governo". Para ele, a 
Lava Jato não perdeu o ímpeto e as investigações mantém o curso normal de todo processo. 
"A Operação Lava Jato não é um seriado. Claro que a parte mais visível está nos mandados de busca e
 apreensão, mas existe todo um trabalho de investigação, de audiências. Esse trabalho persiste", afirmou.

O vazamento da conversa entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sergio Marchado não é o primeiro 
caso ligado à Lava Jato que envolve o Supremo. Em novembro passado foi a vez do delator e senador
 cassado Delcídio Amaral (PT-MS) protagonizar um escândalo envolvendo suposto tráfico de influência 
política no Supremo Tribunal Federal. Em conversa vazada por Bernardo Cerveró, filho do ex-dirigente 
da Petrobras, Nestor Ceveró, Delcídio teria prometido influenciar ministros do STF na soltura de Nestor
 Ceveró da prisão. O caso mais recente foi a divulgação de conversas telefônicas entre o ex-presidente
  Luiz Inácio Lula da Silva e o então ministro da Casa Civil Jaques Wagner, em março deste ano. 
O diálogo sugere que o Planalto teria tentado pressionar a ministra Rosa Weber para tirar as investigações
 de Lula das mãos de Moro.

A diferença, desta vez, é que o protagonista do escândalo de tráfico de influência é um político do PMDB
, e não do PT.

Corrupção e "socialismo dos ricos"

"Não existe corrupção do PT, do PSDB, do PMDB. O que existe é corrupção e uma das grandes 
causas está associada ao sistema eleitoral, aos mecanismos de financiamento de campanha",
 declarou Barroso no evento. Segundo o ministro, a relação de interdependência entre o Estado e o setor 
privado gera um ambiente de "troca de favores" danoso para a política e para a economia brasileira.
 "Tudo depende do Estado, das suas bênçãos, do seu apoio e financiamento. Todos os subprodutos 
negativos advêm como burocracia, troca de favores e corrupção pura e simples. Vivemos um modelo de
 capitalismo que não gosta nem de risco nem de competição. Isso não é capitalismo, isso é socialismo
 para os ricos", ironizou.

Outra medida importante no combate à corrupção, na visão do ministro, é a mudança na jurisprudência 
do foro privilegiado. "A demora no julgamento dos casos leva à impunidade. Temos 369 inquéritos e 102
 ações contra parlamentares no STF. O prazo para recebimento de um processo como esse pelo Supremo
 é de quase dois anos", diz. Barroso defende a criação de uma vara especial em Brasília para tratar de
 foro privilegiado. "Seria um único juiz, para dar celeridade às decisões e aos julgamentos", justifica.

Bolsonaro representa a luta contra a corrupção e a expectativa de uma política de segurança eficaz. Ele apresentou suas ideias de forma mais clara.Bolsonaro representa uma forma de virar a mesa






09/11/2018 nº 2551Edições anteriores



FERNANDO GABEIRA, JORNALISTA E ESCRITOR
Camilla Maia / Agência O Globo




André Vargas
Edição 09/11/2018 - nº 2551


Observador da realidade brasileira desde 1979, quando voltou do exílio após a Anistia, o mineiro Fernando Gabeira, 77 anos, foi jornalista, ativista e político, voltando ao jornalismo após o fim de seu quarto mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro, em 2011. Desde 2013, ele apresenta um programa de reportagens que leva seu nome no canal GloboNews. Com passagens pelo Partido Verde (PV), que ajudou a fundar, e Partido dos Trabalhadores (PT), com o qual rompeu, Gabeira crê na reconstrução da esquerda brasileira e dos movimentos sociais sem as amarras petistas. Dono de uma lucidez crítica e desprovida de pudores ideológicos, ele falou sobre os acertos da campanha de Bolsonaro, as conexões de seu populismo com o de Donald Trump, o surgimento de uma nova direita via redes sociais, a relevância do jornalismo diante das fake news e o papel dos militares no novo governo.


O que você achou do resultado geral das eleições?
Não meu surpreendeu. Sua vitória afirmou três pontos. Primeiro, foi uma grande crítica ao sistema político. Bolsonaro representa uma forma de virar a mesa. Depois, uma possibilidade de luta contra a corrupção. E, finalmente, a expectativa de uma política de segurança eficaz. Embora, não necessariamente ele será capaz disso. Bolsonaro apenas apresentou essas ideias com mais ênfase e de forma mais clara para o entendimento popular.



Bolsonaro representa a luta contra a corrupção e a expectativa de uma política de segurança eficaz. Ele apresentou suas ideias de forma mais clara.

As eleições de Bolsonaro e de Trump foram parecidas?

Há pontos em comum. O principal é a utilização das redes sociais. A seguir, é a expectativa de alcançar o homem comum, colocando-o contra o que dizem ser o sistema. Ambos os políticos se mantêm distantes dos partidos políticos, apesar de Trump ter a força do partido Republicano por trás. Ambos também se mostram distantes da mídia, de especialistas, de técnicos e de intelectuais. Todavia, Bolsonaro fez uma campanha bem modesta. Trump não só tinha muito dinheiro arrecadado, como uma rede de televisão [Fox] grande e conservadora ao seu lado. Por isso, acho que a campanha do Bolsonaro foi mais difícil.

A democracia de coalizão que pautou a Nova República está exaurida?
Tanto que a proposta do vencedor é superá-la por meio da escolha de ministros que sejam técnicos, competentes e independentes de filiações partidárias. Será uma tentativa de superar o modelo anterior, o que é de difícil realização. O novo presidente terá que ser um pouco mais aberto, a ponto de entender que, se houver gente competente e honrada nos partidos para ocupar alguns postos no governo, ele terá que abrir espaço. Um governo não pode discriminar seus políticos. Seria algo extraordinário.


Como o senhor avalia o crescimento político dos evangélicos. Hoje daria para governar sem eles e sua agenda conservadora?
O campo que elegeu Bolsonaro é diversificado. Há os evangélicos e também jovens liberais que fazem apologia do estado mínimo, além de intelectuais e propagandistas de direita que surgiram na mídia e nas redes sociais nos últimos tempos. Os evangélicos sempre estiveram na política, só que agora encontraram um candidato que, além de professar o mesmo credo, parece disposto a aceitar uma série de reivindicações. Algumas podem ser problemáticas, como a ideia recente de transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Temos no Brasil uma grande harmonia entre as comunidades judaica e árabe, além de relações comerciais com países do Oriente Médio, grandes compradores de nossos produtos. Isso poderia nos prejudicar.

O futuro governador do Rio Wilson Witzel (PSC) fala em combate aberto contra o tráfico. Seria por aí?
É preciso distinguir o combate às drogas e o combate aos grupos armados que ocupam territorialmente certas áreas. Há táticas e problemas. Eu apoiei a intervenção federal na Segurança Pública do Rio. Achava que as polícias não tinham mais condições de rechaçar o crime. Parte por falta de equipamento, parte por corrupção, além de outros fatores. A intervenção trouxe alguns parâmetros, com regras de engajamento adotadas no Haiti. Porém, não foram desenvolvidas táticas para enfrentar esses grupos, que também podem ser encontrados no México, em El Salvador e até na Síria. Diante de quem utiliza a população como escudo é preciso políticas mais sofisticadas. Se as forças armadas atingem e matam moradores, acaba-se fomentando um apoio permanente da população ao tráfico.

A campanha eleitoral à Presidência tirou a relevância da cobertura jornalística tradicional?
Não creio, ainda que parte dos candidatos tenha falado diretamente com seus eleitores por meio das redes sociais. É preciso lembrar que grande parte dos temas que as redes discutiram nasceu da cobertura da mídia tradicional. As redes, por si, não podem dispensar a estrutura tradicional de apuração de notícias, pois é daí que tiram a matéria-prima com a qual trabalham e brigam.

O boicote do presidente eleito aos grandes veículos de imprensa é um tiro na democracia, uma maneira de se preservar ou a escolha de um adversário?
Quando ocorre uma situação de crise em que populistas entram em cena, eles tendem a apresentar o conjunto da imprensa, da política, da academia e da Justiça como partes de um sistema, fazendo com que tudo seja visto como um ataque contra a renovação. Creio que a referência que temos que analisar é o próprio Trump, que foi muito mais radical, acusando a imprensa de ser inimiga do povo. Já Bolsonaro falou que a “Folha de S.Paulo” tem que acabar e, em certos momentos, não fala com jornalistas de determinados veículos. Na comparação, os termos de Bolsonaro são mais brandos.

Qual o futuro do jornalismo em tempos de fake news?
Quase todas as grandes empresas jornalísticas tiveram que montar equipes para traduzir as fake news. É indispensável que a sociedade tenha notícias bem apuradas e verdadeiras para que as pessoas e as empresas tomem as decisões corretas. As estruturas profissionais de jornalismo gastam até 30% de seu esforço confirmando informações, algo que não existe na internet. É claro, porém, que existem pessoas nas redes que só acreditam no que querem acreditar. Daí não se pode fazer nada.

Bolsonaro disse ser apaixonado por você. Como assim?
Ele estava fazendo campanha. Antes, convivemos 16 anos na Câmara dos Deputados, atuando em campos diferentes, mas nunca tivemos um atrito. Sempre nos respeitamos e nos unimos quando o tema era corrupção.

Essa mentalidade militar que se apresenta nos postos do próximo governo oferece algum risco?
As Forças Armadas se transformaram nos últimos anos, por isso alguns de seus integrantes ao lado de Bolsonaro podem funcionar como elementos moderadores. A aventura autoritária foi decantada e hoje os militares integram o campo democrático, com uma leitura nova do mundo, sem a Guerra Fria. Muitos quadros militares fizeram assessoria parlamentar, adquirindo uma visão muito clara do que é o mundo político.

Após décadas de avanços sociais e políticos, lhe parece que parte dos brasileiros ficaram mais conservadores?
Essa tendência conservadora sempre existiu de modo latente. O que houve foi um fracasso ético da esquerda no poder, o que colocou, por extensão, em dúvida muitas de suas bandeiras. Outro fator foi o governo de esquerda encaminhar algumas medidas favoráveis às minorias, tentando avançar, sem a consulta permanente à população. Um exemplo é a educação sexual nas escolas. Muita gente prefere que isso seja feito dentro da família. A esquerda fez avanços, sim, mas que acabaram ofuscados pela corrupção, o que fortaleceu uma certa visão de impureza nas lutas sociais e identitárias. Outro ponto é o surgimento, ao largo da imprensa, de pensadores de direita, alguns deles jovens liberais, outros propagandistas religiosos, de redes sociais. O movimento Escola Sem Partido, por exemplo, representa uma reação à presença da esquerda no magistério. Todavia, não acredito que isso deva ser feito com repressão. Defendo a diversidade de opiniões nas escolas.

A violência contra as minorias pode aumentar?
A forma como o tema foi apresentado na campanha suscita tais atitudes. Às vezes, pode-se chegar à violência, como ocorreu pontualmente, em outras, podemos ficar naquele humor violento, como o das torcidas organizadas cantando: “Bolsonaro vem aí para matar viado”. Creio que passada a eleição, essas questões devem entrar em segundo plano, já que teremos discussões sobre Reforma da Previdência, economia, acertos políticos e segurança pública. Tudo isso envolverá o País.



No Brasil, haverá muita energia de oposição. Nos EUA, após Trump, os democratas se mobilizaram

O que você achou da fusão do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura?
Se o Meio Ambiente se transformasse em uma agência, não veria problema. O que me preocupa é que as agendas do Meio Ambiente e da Agricultura são muito vastas, por isso acho que não vão ser bem cumpridas. Há também a crítica de que colocaram as raposas cuidando do galinheiro. Isso pode fazer com que nossos produtos agrícolas no exterior sejam boicotados, pois nossos competidores podem se mobilizar. Já houve uma fake news de vaca louca brasileira espalhada no Canadá.


Há saída para a esquerda brasileira?
Claro que há. O governo que começará no Brasil irá liberar muita energia de oposição. Imediatamente após a vitória de Trump, a sociedade americana e os democratas passaram a se mobilizar. A esquerda do partido Democrata ganhou espaço na Câmara com as eleições desta semana. Com isso, quero dizer que a direita será superada, pois haverá alternância no poder. A única dificuldade que vejo na esquerda brasileira, que não há entre parte dos democratas americanos, são essas denúncias de corrupção que aqui não foram objeto de crítica interna. Agora, acho que novas configurações podem surgir. Até o PT pode se transformar. Não está proibido. O caminho está aberto, pois não sabemos que êxitos Bolsonaro obterá. Também acredito que os movimentos sociais, que reúnem lutas de minorias, mulheres, índios e negros, precisam fazer uma crítica sobre sua associação ao PT. Alguns foram cooptados, o que criou uma certa hostilidade que talvez não seja exatamente contra suas causas, mas contra o partido.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

O vídeo sobre o assassinato de Celso Daniel que Lula quer que suma da internet


 

RS: Pacientes com covid há mais de 21 dias na UTI têm morte assistida

 Denúncia aponta ainda que pessoas há mais de 7 dias esperando por leito e idosos com comorbidades vão ao final da fila de espera

  • CIDADES Guilherme Padin, do R7

Hospital da Restinga, em Porto Alegre, teve supelotação de leitos de UTI para covid

Hospital da Restinga, em Porto Alegre, teve supelotação de leitos de UTI para covid

EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO - 19.03.2021

Pacientes com covid-19 internados há mais de 21 dias em UTIs do Rio Grande do Sul estão passando pelo processo de morte assistida. Aqueles há mais de sete dias em postos de saúde, UPA ou emergência estão sendo realocados no final da fila por vagas em UTI para tratamento da doença - a regra vale também para quem tem mais de 60 anos e comorbidades. A denúncia é do vereador Leonel Radde (PT), de Porto Alegre (RS).

A superlotação levou os hospitais gaúchos a seguirem esta recomendação, o que causaria uma falsa sensação de redução nas internações, mas, segundo a denúncia, só está aumentando o número de mortes.

Profissionais de saúde que denunciaram as medidas ao vereador e explicaram a situação à reportagem ao R7. Um médico afirma que já havia a suspeita de que o manejo dos pacientes estivesse funcionando desta forma há dias, e que a confirmou neste domingo com profissionais que trabalham na regulação.

“Pacientes com mais de 60 anos e comorbidades, independentemente da gravidade, vão ao fim da fila, assim como os pacientes graves que esperam sete dias ou mais em emergência UPA, pronto atendimento ou posto de saúde”, disse ele em anonimato, confirmando os relatos publicados pelo vereador em sua rede social.

A ortotanásia é quando há a morte natural, sem interferência da ciência, em que se permite a evolução e percurso da doença. A prática vem sendo adotada com pacientes que chegam a 21 dias em UTIs, segundo o denunciante.

Os médicos estariam sendo orientados a deixarem a doença evoluir sem novos procedimentos depois das três semanas, o que aumenta significativamente as chances de morte. Para o médico, a decisão é grave porque são comuns os casos de pessoas que passam deste período internadas e sobrevivem. “Já tivemos pacientes de três meses na UTI que sobreviveram”, comenta.

Em nota, a secretaria defende que os critérios para priorização de pacientes são técnicos, e que não há definição de prioridade por faixa etária, mas somente por comorbidades. A pasta não negou a prática da morte assistida aos pacientes com covid-19 após 21 dias ou mais de UTI.

O intuito das orientações relatadas na denúncia, segundo afirma Leonel Radde e corroborado pelo médico, seria reduzir a superlotação de leitos. No entanto, a medida não necessariamente significa uma baixa nas mortes pela doença. O índice de mortalidade no estado, segundo eles, é um indicativo disso.

Atualmente, a taxa de mortalidade por covid-19 a cada 100 mil habitantes no Rio Grande do Sul (148,3) é superior à da média brasileira (139,9), segundo dados do Ministério da Saúde.

Profissionais de outras especialidades tratam covid

A denúncia de Leonel Radde aponta para outro problema no combate à pandemia no Rio Grande do Sul: médicos de outras especialidades estão atendendo pacientes com covid-19. “Não há mais profissionais capacitados para trabalharem nas UTIs/COVID, mesmo com os leitos disponíveis”, escreveu o vereador.

O denunciante ouvido pelo R7 também confirmou a escassez de médicos especializados para covid-19: “Estamos com profissionais recém-formados ou de outras especialidades trabalhando na UTI. Então é óbvio que os óbitos vão aumentar”.

Também sob anonimato, uma profissional contou que, no Hospital de Pronto Socorro, em Porto Alegre, que recentemente teve dois andares terceirizados para o grupo Vila Nova, há médicos recém-formados trabalhando na UTI covid e na enfermaria do quarto andar.

“São profissionais de primeiro emprego, não estão habilitados para isso e, pela questão da experiência, por não saberem manejar os pacientes, há mais pessoas morrendo no local do que o normal”, disse.

Posicionamento

A reportagem do R7 solicitou uma nota à secretaria de saúde do estado do Rio Grande do Sul a respeito dos relatos publicados por Leonel Radde e confirmado pelos profissionais de saúde.Em resposta, a pasta enviou a seguinte nota:

            "O Departamento de Regulação Estadual do RS e as Centrais de Regulação dos municípios seguem um protocolo técnico, debatido entre as equipes e que serve de embasamento para as decisões dos médicos reguladores. O critério de classificação dos pacientes que necessitam de transferencia para leito clínico ou leito de UTI é iminentemente técnico, e são definidos pelos médicos reguladores da Central de Regulação Hospitalar e Central do Samu e não existe orientação de critério de faixa etária isoladamente. Em situações de epidemia e de stress máximo do Sistema Hospitalar, um dos critérios médicos aceitos internacionalmente é o de priorização de pacientes com ausência de comorbidades, e que tenham maiores possibilidades de se beneficiar de algum recurso médico ou hospitalar designado.
Por exemplo, pacientes com doença terminal, ou graves sequelas neurológicas ou estado demencial irreversível, não são considerados prioritários. Mas o intuito da classificação é o de prioridade e não de exclusão. Nossos critérios são técnicos, definidos pela equipe para subsidiar a decisão do médico regulador, e são totalmente dependentes  da avaliação individualizada do caso".

https://noticias.r7.com/cidades/rs-pacientes-com-covid-ha-mais-de-21-dias-na-uti-tem-morte-assistida-22032021

Como a pandemia no RS chegou a mortes assistidas e superlotação

 Estado tem mais de 100% de ocupação de leitos de UTI há semanas, além de adotar prática de ortotanásia. Médicos avaliam crise



CIDADES | Guilherme Padin, do R7
28/03/2021 - 02H00

Estado teve recorde de mortes diárias no último dia 16

Estado teve recorde de mortes diárias no último dia 16

MIGUEL NORONHA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO - 03.03.2021

O Rio Grande do Sul vive seu pior momento no combate à covid-19, com ocupação de leitos de UTI acima dos 100% há mais de três semanas e o recente recorde de mortos (502) pela doença em 24 horas.

O Estado teve 828.397 casos confirmados da doença, 18.680 óbitos e 106,1% da ocupação de seus leitos de UTI, segundo dados da secretaria estadual de saúde nesta sexta-feira (26). Além disso, uma denúncia feita na última semana ao R7 revelou a adoção da prática da morte assistida em pacientes com o vírus há mais de 21 dias na UTI.

Profissionais explicaram à reportagem os principais motivos que levaram o estado gaúcho à atual crise com a covid-19: com as aglomerações, a chegada de uma variante do vírus, a falta de estrutura e a flexibilização num momento inadequado, a pandemia avançou drasticamente no Rio Grande do Sul.

Após as festas de fim de ano e sobretudo no feriado do carnaval, quando muitas pessoas de cidades do interior e de Porto Alegre vão ao litoral, as aglomerações formadas surtiram efeito de aumento no número de casos no início deste ano, comenta Paulo Petry, epidemiologista e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

“Por aqui há o fenômeno de aglomerações nas praias durante as festas, e as pessoas voltam para suas casas em diferentes regiões, espalhando o vírus por todo o Estado. Assim extrapolamos as internações de UTI”, comenta Petry.

O aumento de casos – e consequentemente de mortes – levou a outra crise apontada pelo professor: a falta de leitos de UTI e de profissionais capacitados para atender pacientes com a doença.

Soma-se à falta de leitos, há quase um mês com ocupação acima dos 100%, o fato do Estado realocar recém-formados ou médicos de outras especialidades para atendimento à covid. “Esta improvisação de local (leitos) e de pessoal (médicos) aumenta, sem dúvidas, a chance de mortalidade”, aponta Petry.

Os números do Ministério da Saúde apontam na mesma direção da fala do especialista: enquanto a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes é de 147,8 no Brasil, no Rio Grande do Sul ela chega a 164,2.

Um médico que atua em hospitais locais e por isso preferiu não se identificar relatou que, além da prática da ortotanásia (morte assistida), a quantidade de pessoas que estão ao final da fila de espera pela UTI é grande, e isto significa um risco grande de mais óbitos.

“Na semana passada houve um dia em que 200 pessoas estavam esperando por leitos de UTI. Aguardar no final da fila nesse estado de saúde é quase uma sentença de morte. Pode ser que abrissem 200 leitos em um dia e essas pessoas fossem atendidas, mas sabemos que na prática isso não existe, é muito difícil”, comenta o profissional.

Um problema destacado pelo professor Paulo Petry – e que ocorreu simultaneamente aos outros fatos citados – foi a chegada da variante P1, identificada pela primeira vez em Manaus. “No final de janeiro ela já tinha começado a circular (antes da confirmação oficial, no início de março). E como ela possui maior transmissibilidade, isso agravou a situação”, aponta o professor.

Flexibilização Vs lockdown

Centro de Porto Alegre teve movimentação na manhã desta sexta-feira (26)

Centro de Porto Alegre teve movimentação na manhã desta sexta-feira (26)

JOSÉ CARLOS DAVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 26.03.2021

Segundo um estudo matemático da UFRGS, o Rio Grande do Sul teria uma queda considerável na quantidade de casos e mortes se houvesse adotado o regime de lockdown: seriam 938 vidas salvas com um lockdown de 14 dias, 1.383 vidas com um lockdown em 21 dias, 1.395 com dois lockdowns de 14 dias e 1.791 vidas com três lockdowns de 14 dias.

Paulo Petry acredita que foi um erro do governo do Estado não optar pela medida, o que tende a piorar, segundo ele, devido ao anúncio de Eduardo Leite (PSDB) ao decretar a flexibilização da quarentena e a reabertura de serviços não essenciais.

“Pelos indicadores dá para se ter uma idade da importância do lockdown, que infelizmente não tivemos. E nesta semana o governo flexibilizou a economia. Vemos isso com muita preocupação. Está comprovado que, além das vacinas, o lockdown poderia salvar as pessoas”, diz Petry.

Questionado sobre a possibilidade de novas ondas do vírus nos próximos meses, o professor se diz contrário ao termo, “porque na verdade nunca passamos de uma onda para outra. Aqui nunca baixou. Nossa média móvel sempre foi alta”.

Apesar disso, a possibilidade de um agravamento no número de casos, mortes e internações é real e perigosa, destaca o médico.

“Há uma máxima de que ‘quanto mais tempo o vírus circula, maior a probabilidade dele sofrer mutações’. Nós já temos um ano de circulação intensa no país, sabemos que os vírus se replicam com efeitos e a vacinação está atrasada, o que é muito preocupante, porque pode ser que a vacina não sirva mais para proteger novas variantes”, afirma.

Morte assistida

Na última segunda-feira (22), uma denúncia feita ao R7 revelou a prática da ortotanásia (morte assistida) em pacientes com covid-19 internados há mais de 21 dias em UTIs do Rio Grande do Sul. A ortotanásia é a morte natural, sem interferência da ciência, em que os médicos permitem a evolução e percurso da doença.

Os profissionais estariam sendo orientados a deixarem a doença evoluir sem novos procedimentos depois do período indicado, o que aumenta significativamente as chances de morte.

Para o médico que relatou as informações à reportagem, a decisão é grave pois há frequentes casos de pessoas que passam de 21 dias internadas e sobrevivem. “Já tivemos pacientes de três meses na UTI que sobreviveram”, comenta.

Paulo Petry, que ainda não havia tido contato com os relatos da denúncia, aponta que a prática é condenável e também cita a existência de casos de pessoas que ficaram mais de três semanas na UTI e tiveram boa recuperação. “Não é admissível que ocorra”, diz.

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