sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

“The Wall” completou 35 anos; obra marcou rito de passagem para o Pink Floyd


Formação clássica do Pink Floyd, com David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright
Formação clássica do Pink Floyd, com David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright
No dia 30 de novembro um dos discos mais emblemáticos da história da música completou 35 anos. “The Wall” foi o projeto mais ambicioso da banda na época em que era liderada pelo baixista Roger Waters e é possível traçar um paralelo nada otimista em relação ao recente lançamento do grupo, “The Endless River”.
Pink Floyd teve 4 eras bem definidas. No início, mais especificamente em “The Piper at the Gates of Dawn” (1967) e “A Saucerful  of Secrets” (1968), a banda tinha uma pegada psicodélica e mais crua, permeada pela criatividade e insanidade de Syd Barrett.
Após seus surtos se tornarem incontroláveis, ele teve de se afastar do grupo, abrindo espaço para uma segunda fase em que a colaboração de Waters, Gilmour, Mason e Wright era bastante recíproca. Trocando em miúdos, a partir de 1970, o Pink Floyd passou a agir como uma banda de verdade pela primeira vez.
Com o clássico “Dark Side of The Moon” (1972) e o já nostálgico “Wish You Were Here” (1975), essa estrutura de cooperação começou a ruir – apenas no sentido do relacionamento dos integrantes, pois foi o início do ápice musical e comercial. Em “Animals”, de 1977, o Floyd já havia se tornado a banda de apoio da mente megalomaníaca de Roger Waters.
O disco duplo “The Wall” (1979) foi praticamente um projeto solitário do baixista, eternizando faixas como “Another Brick in the Wall pt. 2″, “Hey You'', “Confortably Numb'' e “Mother''. A obra marcou o rito de passagem do Pink Floyd de uma das maiores fontes de música inovadora e autêntica do mundo durante os anos 70 para um cover de si mesmo que seguiria fórmulas seguras e infalíveis por três décadas.
Roger Waters interpreta "The Wall" em Berlim, Alemanha
Roger Waters interpreta “The Wall'' em Berlim, Alemanha
A briga de egos se tornou insustentável após mais um ataque de Waters com “The Final Cut” (1983), e após sua saída, o cenário continuou o mesmo, mas com a banda sob o comando do guitarrista David Gilmour, que lançou “A Momentary Lapse of Reason” em 1987.
O lançamento dos álbuns duplos ao vivo “Delicate Sound of Thunder”, “Pulse” e “Is There Anybody Out There?” demonstrou que o Floyd ainda era um titã enorme caminhando sem rumo definido. O segundo disco de estúdio dessa era, “The Division Bell”, deu uma direção mais estável, cautelosa e radiofônica ao grupo, e o transformou em um gigante adormecido por vinte anos, dependendo de coletâneas e compilações.
“The Endless River” acordou o Pink Floyd trazendo-o novamente para um lado muito sofisticado e nada comercial, mas o manteve sob as rédeas de Gilmour, que produziu o disco com seu trabalho de curadoria de arquivo previamente descartado, reciclando faixas do falecido tecladista Richard Wright para, em parceria com o baterista Nick Mason, dar à banda o último sopro de vida.
Tanto o disco recente quando clássico que está completando 35 anos têm em comum a característica de projetos mais solo do que em conjunto, mas a diferença fundamental entre os dois é o excesso de ambição de um e a falta no outro. Ambos têm identidades próprias e distintas entre si, e representam momentos opostos da carreira da maior e mais conturbada banda de rock progressivo de todos os tempos.
Enquanto “The Wall” é o fim do auge, “The Endless River” é o fim do declínio. Descanse em paz, velho Floyd!
André Cáceres
Rádio UOL

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