sábado, 19 de agosto de 2023
terça-feira, 8 de agosto de 2023
CASO MARIELLE: SUSPEITOS DE ENVOLVIMENTO NO ASSASSINATO TEMIAM PRISÃO DE DOMINGOS BRAZÃO
O político Domingos Brazão é investigado como um dos principais suspeitos de mandar matar Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018.
O Intercept
26 de jul de 2023, 15h37
O caso Marielle
Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?
NA VÉSPERA DA OPERAÇÃO POLICIAL que levou para cadeia os ex-policiais militares acusados de matar Marielle Franco e Anderson Gomes, outros suspeitos de envolvimento no crime temiam a prisão de um político investigado como um dos possíveis mandantes do atentado: Domingos Inácio Brazão.
No dia 11 de março de 2019, às 23h, Jomar Duarte Bittencourt Júnior, conhecido como Jomarzinho e filho de um delegado da Polícia Federal, enviou uma mensagem por WhatsApp a um policial militar. O atentado que matou Marielle e Anderson completaria um ano dali a três dias.
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Quem recebeu a mensagem foi um sargento da PM, Maurício da Conceição dos Santos Júnior. Jomarzinho informava que no dia seguinte pessoas seriam presas no âmbito da investigação do atentado contra a ex-vereadora.
“Pelo que me falaram vão até prender Brazão e Rivaldo Barbosa”, escreveu Jomarzinho.
“Putz”, respondeu o sargento.
O diálogo mostra que operação policial foi vazada, e é ainda mais importante porque revela o temor com a possível detenção de Domingos Brazão, um político com passagem pelo MDB no Rio, e cujo nome sempre esteve no rol de suspeitos de ser um dos mandantes do atentado contra Marielle. Além disso, a conversa reforça a hipótese de que o atentado teve motivação política, como destacado pelo ministro Flavio Dino, ao determinar a abertura de um inquérito sobre o caso no começo deste ano.Troca de mensagens entre suspeitos revela medo de que Domingos Brazão fosse preso em operação da Polícia Civil, em 2019.
A primeira menção refere-se a Domingos Brazão, líder de uma família de políticos com atuação na Zona Oeste do Rio de Janeiro e suspeito de ser aliado de milicianos na região. À época, ele estava afastado do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, acusado pela Operação Lava Jato de receber propinas de empresários do setor de transporte.
As investigações cogitam a hipótese de que Brazão mandou matar Marielle para se vingar de Marcelo Freixo, ex-deputado estadual e atual presidente da Embratur na gestão Lula. Freixo ajudou procuradores da República em operações da Lava Jato do Rio que resultaram nas prisões de políticos do MDB, a exemplo do próprio Brazão, e dos então deputados estaduais Jorge Picciani (já falecido), Paulo Melo e Edson Albertassi.
Post no Twitter do Ministro da Justiça, Flávio Dino sobre a abertura de investigação da Polícia Federal no caso Marielle Franco.
“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro”, afirmou a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, quando foi debatida a federalização do caso, em maio de 2020.
“Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, também está escrito no relatório da ministra.
Já Rivaldo Barbosa é delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio. Tempos depois, a PF associou a ele a um suposto recebimento de propina para impedir avanços na investigação do caso. Barbosa nega.
A operação, de fato, aconteceu como Jomarzinho previa, mas os presos foram outros: os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz. Élcio firmou, recentemente, acordo de delação premiada e confirmou que foi o motorista do carro usado no atentado de 14 de março de 2018 e que Lessa foi o autor dos disparos. Ronnie Lessa também foi filiado ao MDB durante alguns anos.
Quando foi preso saindo do condomínio Vivendas da Barra, Lessa admitiu aos policiais civis que estava em fuga. Ele tinha recebido a informação de Maxwell Simões Corrêa, o Suel, ex-bombeiro e seu sócio em negócios milicianos. Por sua vez, Suel soube por Maurício, que o avisou logo depois de conversar com Jomarzinho.
A cadeia de vazamento da operação foi a seguinte: Jomarzinho contou a Maurício. Este contou a Suel que, por sua vez, contou a Lessa.
E um detalhe chama a atenção. Lessa decide fugir, mas o nome dele não é especulado entre os que seriam presos de acordo com Jomarzinho, que cita Brazão e Rivaldo Barbosa. Mas mesmo assim, Lessa optou por escapar da operação.
Essas informações constam na investigação da Polícia Federal que resultou na prisão de Suel na última segunda-feira, 24 de julho. Ele é suspeito de ter participado do planejamento do atentado contra Marielle e foi delatado por Élcio. Jomarzinho e Maurício foram alvos de mandados de busca e apreensão.O político Domingos Brazão é investigado como suspeito de ser um dos possíveis mandantes do atentado que matou Marielle Franco e Anderson Gomes. Foto: Reprodução/Globo
Brazão suspeito de mandar matar Marielle
A violência marca a trajetória pública de Domingos Brazão. Em março de 1987, Domingos Brazão matou a tiros um homem e feriu outro por causa de uma desavença entre vizinhos. O inquérito policial mostrou que ele perseguiu os dois homens e efetuou os disparos pelas costas. Ele alegou legítima defesa. O caso nunca foi submetido a júri popular e tramitou durante 15 anos até a denúncia ser rejeitada pela corte especial do Tribunal de Justiça, quando Brazão era deputado estadual.
“A autoridade policial destacou, à época, a índole violenta e perigosa do réu, que constantemente portava arma e se unira a ‘grileiros’ que disputavam a posse das terras na região”, afirmou em 2002, José Muiños Pinheiro Filho, então procurador-geral de Justiça, chefe do Ministério Público do Rio de Janeiro, e posteriormente desembargador.
Anos depois, Brazão teria seu nome citado na CPI das Milícias, que foi presidida pelo então deputado estadual pelo Psol Marcelo Freixo. Marielle Franco trabalhou no caso como assessora parlamentar dentro do gabinete de Freixo.
‘Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações.’
Desde o começo das investigações sobre as mortes de Marielle e Anderson, Domingos Brazão figurou entre os suspeitos de ser um dos mandantes do crime. Ele prestou depoimento meses após o atentado e negou qualquer participação.
Em um inquérito anterior da PF, que apurava um esquema para atrapalhar as investigações do duplo homicídio, ele foi citado em 2019 “como um dos possíveis mandantes.“
No mesmo ano, a então procuradora-geral da República Raquel Dodge chegou a afirmar na denúncia que fez contra Brazão por obstrução de justiça que ele “arquitetou o homicídio” de Marielle. Brazão negou, novamente, qualquer envolvimento.
Freixo foi à Justiça contra Brazão
Os caminhos de Freixo se cruzaram novamente sete anos depois do relatório final da CPI das Milícias. Em 2015, Domingos Brazão havia sido escolhido pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para ocupar uma vaga do Tribunal de Contas do Estado, o TCE. A indicação foi apadrinhada pelo então presidente da casa legislativa, Jorge Picciani, então seu correligionário no MDB. Para assumir o cargo no TCE, Brazão se desfiliou do partido.
A conversa reforça a hipótese de que o atentado teve motivação política, como destacado pelo ministro Flavio Dino, ao determinar a abertura de um inquérito sobre o caso no começo deste ano.
O único partido a se opor foi o Psol, do qual Freixo era o principal representante da bancada. Ele ingressou na Justiça do Rio para barrar a ida de Brazão ao TCE. Não conseguiu.
Freixo também teve papel fundamental na Operação Cadeia Velha, deflagrada em novembro de 2017, cinco meses antes da morte de Marielle. Nomes fortes do MDB no estado foram presos, a exemplo dos deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi. Este último, pouco antes de ser preso, havia sido indicado para uma vaga no TCE, tal qual como Brazão. Daquela vez, sim, Freixo obteve uma liminar na Justiça impedindo a posse de Albertassi no Tribunal de Contas do Rio.
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segunda-feira, 7 de agosto de 2023
Morre, aos 83 anos, a atriz Aracy Balabanian
Por Bruno de Freitas Moura -
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
A atriz Aracy Balabanian morreu na manhã desta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, aos 83 anos. A confirmação foi feita pela Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul da cidade. A causa da morte não foi revelada. “A Clínica São Vicente lamenta a morte da paciente Aracy Balabanian e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda”, diz o hospital, ao informar não ter autorização da família para divulgar mais detalhes.
A artista é dona de uma carreira de cerca de 50 anos, com participação em mais de 30 novelas e peças de teatro. Além disso, ficou marcada pelo programa Sai de Baixo, da TV Globo.
Filha de uma família de origem armênia, Aracy Balabanian nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 22 de fevereiro de 1940. Na adolescência, cultivava o sonho de ser atriz. Ainda na época de escola, quando morava em São Paulo, entrou para o Teatro Paulista do Estudante. Aos, 18 anos, Balabanian passou para duas faculdades, Escola de Arte Dramática de São Paulo e Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP). Mas deu razão à vocação e terminou apenas a de Arte Dramática, mesmo contrariando pai, que não queria que ela se tornasse a atriz.
A partir de 1963, aos 23 anos, iniciou a participação de espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia, entre eles, Os Ossos do Barão. Ainda na década de 50, começou a trajetória na TV. Em 1965, trabalhou em Marcados pelo Amor, na TV Record. Em seguida, fez novelas na extinta TV Tupi.
Nos anos 70, Aracy Balabanian estreou na TV Globo. A primeira novela foi O Primeiro Amor, em 1972. No ano seguinte, trabalhou no programa infantil Vila Sésamo. A maior parte da trajetória artística dela foi na emissora carioca, ao mesmo tempo em que se apresentava também em peças teatrais. Entre 1986 e 1988 trabalhou na TV Manchete, voltando à Globo, em 1989, para fazer Que Rei Sou Eu.
Dona Armênia
O sotaque e alguns costumes da família de origem armênia ajudaram a forjar a personalidade de dona Armênia, papel de destaque de Balabanian na novela Rainha da Sucata (1990). A aceitação do público foi tão grande que a personagem voltou na novela Deus nos Acuda (1992).
"Eu aprendi a ler e a escrever, e declamava em armênio, porque começaram a fazer isso comigo [ensinar] muito cedo. Meu pai e minha mãe me ensinavam poemas, que eu declamava", lembrou a atriz em entrevista ao Programa Sem Censura, da TV Brasil, em 2015. No programa, ela lembrou que recitava os poemas em festas que reuniam outras famílias de origem armênia. "Aí os velhos choravam, então eu percebi que fazia as pessoas se comoverem, bem pequenininha", contou. "Isso eu fui cobrar meu pai mais tarde, ele me incentivou [na carreira artística]", brincou.
O sucesso mais duradouro de Aracy Balabanian é a socialite Cassandra, do humorístico Sai de Baixo (1996-2002). O programa de TV era gravado no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, com a presença de plateia, o que fazia com que os artistas levassem ao ar cenas repletas de improvisação. Muitas vezes, a atriz não segurava o riso no meio dos diálogos.
O último trabalho na televisão foi em 2019, no especial de fim de ano Juntos a Magia Acontece.
Repercussão
Parceiro de Balabanian no Sai de Baixo, o ator Miguel Falabella publicou uma homenagem à atriz nas redes sociais. “Minha amada Aracy, minha rainha, atriz de primeira grandeza, companheira irretocável, amor de muitas vidas. Obrigado pela honra de ter estado ao seu lado exercendo nosso ofício, obrigado pelo afeto, pelos conselhos, pelas gargalhadas e pela vida que você tão delicadamente me ofereceu”.
“Uma atriz referência para todos nós, um ícone de várias gerações, seus personagens ganharam as ruas com seus bordões maravilhosos, com sua integridade, sua dignidade, sua inteligência e humor”, publicou a atriz Beth Goulart.
A atriz Patrícia Pillar também se despediu de Balabanian. “Atriz adorável, com seu jeito tão próprio, tão original... Lembro a alegria enorme que senti quando soube que trabalharia a seu lado em Rainha da Sucata! E sempre me senti assim a cada vez que trabalhamos juntas. Fico aqui com o coração partido, desejando paz e conforto a seus familiares, aos inúmeros amigos e fãs”.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, lamentou a morte na rede social X (antigo Twitter). “Notícia triste que recebo agora da partida da querida Aracy Balabanian. Uma grande mulher, filha de refugiados, pioneira na televisão brasileira, atriz brilhante. Impossível pensar em Aracy e não lembrar de suas risadas em cena como Cassandra. Fez história e vai fazer falta. Meus sentimentos à família e aos amigos”, escreveu.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, escreveu nas redes sociais que a atriz “dedicou sua vida à cultura, nos presenteando com o seu brilhantismo em personagens que marcaram gerações”. Castro acrescentou que “seu legado ficará para a história do país e no nosso coração. Meus sentimentos e abraço para familiares e amigos de profissão de Aracy”.
“O Brasil perde uma grande atriz”, lamentou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. “Meus sentimentos aos amigos, familiares e fãs”, completou.
sábado, 8 de julho de 2023
Neurodireitos: é possível falar em direito à privacidade mental?
Neurodireitos: é possível falar em direito à privacidade mental?
Os neurodireitos vêm sendo objeto de preocupação nos últimos anos, levando países como o Chile a postular sua incorporação no texto constitucional. Entre suas ramificações está o chamado direito à privacidade mental, que compreende a proteção dos dados produzidos pela atividade cerebral, atualmente acessíveis por meio das neurotecnologias.Direito à privacidade mental
Em resumo, os neurodados reúnem informações valiosas que, sem a devida regulamentação, pavimentariam o solo para manipulações. Não precisamos imaginar cenários apocalípticos para ilustrar um rol de aplicações indevidas. Basta pensarmos em algo comum a todos e que integra as nossas rotinas: o recebimento de anúncios publicitários.
Se hoje os algoritmos já são eficazes em nos direcionar publicidade, vender anúncios e sugerir relacionamentos amorosos, imagine fazê-lo a partir de dados e informações extraídos de nossas mentes (neurodados). Já existem, aliás, campos inteiramente dedicados a estudar a atividade simultânea de vários neurônios em determinadas regiões do cérebro.
Com a ascensão da Internet das Coisas, dispositivos neurais conectados à rede permitirão também que indivíduos ou organizações possam rastrear ou manipular a experiência mental de um indivíduo. Tal potencial, aliás, levou o neurocientista Rafael Yuste e outros pesquisadores do Morningside Group a registrar alertas à comunidade jurídica.
É possível falar, em suma, em direito à privacidade mental?
É provável que você goste:
Compartilhamento de dados neurais
Em artigo publicado na revista Nature, os pesquisadores destacam que empresas e organizações deverão acrescentar uma nova opção em seus termos e condições de uso – a de compartilhar dados neurais –, que deverá ser assinalada (ou não) pelos usuários. Destaco a seguir um trecho do artigo, assinado por 25 pesquisadores do Morningside Group:
Os indivíduos precisariam optar explicitamente por compartilhar dados neurais de qualquer dispositivo. Isso envolveria um processo seguro e protegido; incluindo um procedimento de consentimento que especifica claramente quem usará os dados, para quais fins e por quanto tempo. – Rafael Yuste et al.
Os autores propõem que a venda, transferência comercial e uso de dados neurais sejam regulamentadas; a exemplo do que ocorreu com a National Organ Transplant Act (1984). Tal iniciativa restringiria a possibilidade de que as pessoas cedam seus dados neurais a empresas ou tenham sua atividade neural gravada para obter recompensas financeiras.
A expertise de Rafael Yuste e dos pesquisadores Morningside Group motivou, aliás, o projeto de reforma constitucional apresentado pelo Senado chileno. A ideia é que os cidadãos desfrutem plenamente de sua identidade e privacidade, sem interferências de mecanismos tecnológicos que as diminuam ou perturbem sem o devido consentimento.
Enfim, será que estamos indo longe demais? Ou o direito à privacidade mental tem, de fato, razão de existir?
Beba Na Fontesexta-feira, 30 de junho de 2023
TSE condena Jair Bolsonaro para torná-lo inelegível, mas livra Braga Netto Voto definidor foi dado
Voto definidor foi dado pela ministra Cármen Lúcia. O ex-presidente Jair Bolsonaro ficará inelegível até 2030
30/06/2023 14:45Atualizado em 30/06/2023 às 15:44
O ex-presidente Jair Bolsonaro / Crédito: Carolina Antunes/PR
O ex-presidente Jair Bolsonaro está fora das disputas eleitorais pelos próximos 8 anos por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desta sexta-feira (30/6). O julgamento durou quatro sessões da Corte Eleitoral. Por 5 votos a 2, os ministros entenderam que o ex-presidente cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao discursar contra o sistema eletrônico de votação para embaixadores em 18 de junho, em Brasília. No entanto, por unanimidade, o TSE não estendeu a penalidade a Braga Netto, candidato a vice na chapa, sob o argumento de que não tem como relacioná-lo aos fatos trazidos aos autos.
A maioria dos ministros acompanhou o relator, Benedito Gonçalves, e entendeu que o ex-presidente cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao discursar para embaixadores em 18 de junho, em Brasília, a um público formado por embaixadores de diferentes países.
Essa é a primeira condenação de Bolsonaro na Corte Eleitoral – ele é réu de 16 ações de inelegibilidade no TSE. Dessa forma, com a decisão, o ex-presidente fica com os direitos políticos suspensos e, enquanto isso, inicia-se uma movimentação na esfera política de quem será o seu herdeiro político: alguém da família, como por exemplo, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ou algum representante do centrão.
O Partido Liberal (PL), do qual Bolsonaro faz parte, pretende usar o ex-presidente como cabo eleitoral e tem feito uma agenda pelo país para manter a figura de Bolsonaro viva entre os eleitores.
A decisão do TSE também prevê o envio de seu conteúdo para o Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Alexandre de Moraes é relator dos Inquéritos nos 4.878 e 4.879. O primeiro trata do vazamento da investigação da Polícia Federal sobre urnas eletrônicas, enquanto o segundo investiga os atos golpistas de 8 de janeiro. Também determinou o envio para o ministro Luiz Fux, relator da Petição no 10.477, que investiga o mesmo evento.
O TSE determinou ainda a comunicação imediata da decisão à Secretaria da Corregedoria-Geral Eleitoral, para que, “independentemente da publicação do acórdão, promova a devida anotação no histórico de Jair Messias Bolsonaro no cadastro eleitoral na hipótese de restrição à sua capacidade eleitoral passiva”. Além disso, a decisão deve ser comunicada à Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE), para análise de eventuais providências na esfera penal e ao Tribunal de Contas da União (TCU), considerando-se o provável emprego da máquina pública para fins eleitoreiros.
Votaram a favor da inelegibilidade de Bolsonaro: o relator, Benedito Gonçalves; o presidente do TSE, Alexandre de Moraes; a vice-presidente do TSE, Cármen Lúcia; e os ministros juristas Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares. Divergiram os ministros Raul Araújo e Nunes Marques.
Com o resultado posto, a defesa de Bolsonaro deve recorrer da decisão e opor embargos de declaração no TSE – o prazo será de 3 dias após a publicação do acórdão. De acordo com o advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira, o STF também será acionado. Na Corte Suprema, a defesa deve alegar que a decisão do TSE é contrária a direitos constitucionais como o direito de defesa e a liberdade de expressão. O advogado não descarta a possibilidade de ajuizar um pedido de liminar caso Bolsonaro queira concorrer às eleições municipais, em 2024. As chances de sucesso destes movimentos são ínfimas.
“A defesa recebe com profundo respeito a decisão e vai aguardar a composição integral do julgado, já que foram lidos em sua maioria apenas votos parciais ou resumos de votos para identificar quais são as melhores estratégias daqui para frente”, disse Vieira, no fim do julgamento. “Tem que aguardar o acórdão para identificar a melhor estratégia, inclusive, ir ou não ao Supremo”, acrescentou.
Os advogados do PDT, Walber Agra e Ezikelly Barros, comemoraram a decisão da Corte Eleitoral. “O Bolsonaro é o primeiro ex-presidente da República condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação pelo Tribunal Superior Eleitoral e, via de consequência, o primeiro a se tornar inelegível com base na Lei da Ficha Limpa ( LC n. 64/1990)”, afirmou Ezikelly.
“Acho que hoje é um dia histórico, principalmente, porque essa Corte, o TSE, diz que não há espaço para aventuras ou paranoias golpistas. Então, as instituições devem ser preservadas, é o que mais está sendo preservado nesse momento histórico é o regime democrático e o princípio basilar, que é da Constituição cidadã”, disse Agra.
Provas emprestadas
As provas colhidas após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que resultaram na depredação de prédios na Praça dos Três Poderes, foram levadas em conta no julgamento. A minuta do golpe, apreendida pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, as lives e depoimentos de testemunhas contribuíram para o convencimento do colegiado eleitoral para a inelegibilidade.
Durante a leitura de seu voto, Benedito Gonçalves reiterou que os fatos estão conectados — as lives, a reunião com os embaixadores e a minuta do golpe criaram um “espiral de inverdades” e um “estado de paranoia coletiva”. De acordo com o relator, a partir da análise da minuta do golpe, houve um “flerte perigoso” com o golpismo.
Na visão do relator, Bolsonaro usou “símbolos da Presidência da República como arma institucional”, valendo-se de seu cargo, “com manifesto desvio de finalidade, para obter vantagens no processo eleitoral” e antagonizar com o TSE.
“Ao falar para os embaixadores não mandarem missões internacionais para as eleições de 2022, Bolsonaro deixou claro a rota de colisão evidente com o TSE, deixando explícito o curto-circuito institucional”, disse.
Na sessão desta sexta-feira (30/6), Cármen Lúcia iniciou o seu voto, e defendeu que o ex-presidente Jair Bolsonaro convocou a reunião com embaixadores para apresentar monólogo, no qual se “autopromoveu”. Ela citou, por exemplo, o momento em que o ex-presidente disse que o país “está voando”. A ministra também criticou os ataques feitos pelo ex-presidente ao sistema eleitoral, especialmente por ele ter citado nominalmente alguns ministros. “Não há democracia sem Poder Judiciário independente”, disse.
Já o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, afirmou, durante o seu voto, que os parâmetros criados neste julgamento de Bolsonaro em relação à desinformação deverá prosperar em pleitos futuros, como as eleições municipais de 2024. Moraes também ressaltou que a condenação do ex-presidente é uma resposta do estado democrático de direito.
“A resposta que a Justiça Eleitoral e este TSE dará a esta questão eu tenho a absoluta certeza que confirmará a nossa fé na nossa democracia, no nosso Estado de Direito e demonstra nosso grau de repulsa ao degradante populismo renascido a partir das chamas dos discursos de ódio, antidemocráticos, dos discursos que propagam infame desinformação”.
E acrescentou: “Desinformação produzida e divulgada por verdadeiros milicianos digitais em todo o mundo. Se esse viés autoritário e extremismo é o que queremos para a nossa democracia. Vamos reafirmar a fé na nossa democracia e no Estado de Direito. E a resposta que a Justiça Eleitoral e o TSE confirmará a nossa fé na democracia e no Estado de Direito”.
Ao condenar Bolsonaro, Moraes disse que o TSE não está inovando. “O TSE está reiterando o seu posicionamento. A Justiça Eleitoral avisou a todos os participantes das eleições que ocorreriam no ano seguinte que não admitiria extremismo criminoso e atentatório. Não admitiria notícias fraudulentas. Isso ficou pacificado e com um alerta a se evitar o que estamos fazendo hoje”.
Moraes disse ainda que Bolsonaro fez uma “produção cinematográfica” ao televisionar o evento com os embaixadores com o uso da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Para ele, “não há nada de liberdade de expressão ao dizer que há fraude nas eleições”, disse.
Na visão de Moraes, os ataques ao sistema eleitoral não tinham razão de ocorrer e, ao mesmo tempo, eram planejados para construir um discurso contra as instituições brasileiras. Para ele, Bolsonaro tentou antagonizar com o TSE a partir de teorias conspiratórias.
“O presidente acordou nervoso um dia, quis desopilar fígado. Vamos atacar. E aí, quem vamos atacar. Vamos atacar o TSE. O Supremo ficou na outra semana o ataque, o ministro Alexandre foi nas três anteriores. Então, vamos agora no TSE e nas urnas eletrônicas”, afirmou.
“Foi um encadeamento, uma produção cinematográfica com a TV Brasil, com vídeos das reuniões para imediatamente, em tempo real, e na sequência até a eleição, as redes sociais bombardearem os eleitores com essa desinformação. Essa desinformação com sentido de angariar mais votos, angariar mais eleitores, com esse discurso absolutamente mentiroso e radical. Não há aqui nada de liberdade de expressão”, acrescentou.
Divergência
Na sessão de quinta-feira (26/6), a divergência foi aberta pelo ministro Raul Araújo, primeiro a votar naquele dia. Diferentemente dos demais ministros, ele não aceitou a inclusão no processo da minuta do decreto de estado de defesa, encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres. Para ele, inexiste, além de “ilação”, fato capaz de sustentar a existência de relação entre a reunião e o documento “apócrifo”.
Na visão de Araújo, em Aije não se pode usar como prova fato posterior ao pleito e, mesmo se pudesse, teria que haver ligação. A minuta do decreto se tornou pública em janeiro deste ano. O ministro, no entanto, havia votado em 14 de fevereiro a favor da inclusão da minuta do voto nos autos do processo. Araújo considerou ainda que a reunião com embaixadores não surtiu efeitos no andamento e resultado das eleições.
Nunes Marques também divergiu. Para o ministro, o ex-presidente Jair Bolsonaro não usou o evento com embaixadores para “obter vantagem” eleitoral, “tampouco faz parte de tentativa concreta de desacreditar o resultado das eleições”. Nunes Marques considera que Bolsonaro usou o evento para “promover confrontação pública com o presidente do TSE”. Antes, o então presidente do TSE havia feito uma reunião com embaixadores no tribunal para falar sobre a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro.
O ministro afastou a ideia de que a conduta do ex-presidente teve “gravidade para impactar a isonomia do processo eleitoral”.
A ação que tornou Bolsonaro inelegível
A ação foi ajuizada pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e sempre foi a de tramitação mais célere na Corte. O partido questionou os ataques do ex-presidente ao sistema eletrônico de votação brasileiro a embaixadores quando ainda estava no cargo, em 18 de julho de 2022. Para o PDT, a fala de Bolsonaro atacou a integridade do processo eleitoral e disseminou “desordem informacional” relativa ao sistema eletrônico de votação. A legenda diz ainda que o vídeo foi amplamente divulgado nas redes sociais do candidato à reeleição.
Depois, o PDT pediu a inclusão de provas após os atos de 8 de janeiro. A defesa de Bolsonaro tentou afastar essas provas alegando que foram apresentadas depois da contestação, portanto, o ex-presidente teve o direito de defesa cerceado.
Beba na Fonte
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