sábado, 6 de dezembro de 2014

Ônibus que funciona com titica de galinha já está circulando

ECONOMIA & NEGÓCIOS

05 Dezembro 2014 | 18:26

Combustível alternativo do veículo é produzido por 84 mil aves de uma granja em Foz do Iguaçu, no Paraná

Novo combustível: titica de galinha (Foto: Divulgação)
Novo combustível: titica de galinha (Foto: Divulgação)
Já está circulando no Brasil o primeiro ônibus movido a gás proveniente de titica de galinha. O projeto é da geradora de energia Itaipu, localizada no Paraná, e da fabricante de caminhões e ônibus Scania, que lançaram o veículo abastecido com biometano.
O gás usado é produzido a partir de dejetos de 84 mil aves de uma granja que fica a cem quilômetros da usina.
O novo combustível teria algumas vantagens em relação ao óleo diesel, como emitir 70% a menos de poluentes e sair até três vezes mais barato. O ônibus já está circulou no Paraná e agora seguirá para demonstrações no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Ele é o primeiro do tipo na história da indústria de veículos comerciais do Brasil.
Silvio Munhoz, diretor de Vendas de Ônibus da Scania no Brasil, explica que o veículo é fabricado na Suécia, e atende às normas internacionais. O ônibus é considerado um dos mais modernos do transporte público do mundo, com motor dedicado ao uso tanto do com gás natural veicular (GNV) quanto do biometano.
Segundo ele, várias cidades já entraram em contato para conhecer a nova tecnologia. “O mais importante é perceber que ela é 100% viável para comercialização”, afirma Munhoz. Durante quase um mês o veículo fez o transporte de trabalhadores e estudantes, sendo abastecido apenas com biometano.
O presidente da Associação Brasileira de Biogás, Cícero Bley Júnior, conta que o objetivo é demonstrar a viabilidade da aplicação do biometano na mobilidade urbana, para que ele possa ser integrado à matriz de combustíveis do país. Atualmente a Agência Nacional do Petróleo (ANP) está com uma consulta pública aberta para regulamentar o uso do combustível.
“Acreditamos na viabilidade e estamos iniciando um novo período na busca de alternativas mais sustentáveis ao meio ambiente”, afirma Bley. No primeiro teste, o ônibus circulou 3 mil quilômetros e, em relação ao preço por quilometragem, o custo do biometano foi menor em 56% em relação a um veículo similar a diesel.
Capacidade. O ônibus Scania tem 15 metros de comprimento, com dois eixos direcionais e capacidade para até 120 passageiros. As características do motor Scania Euro 6 a gás permitem que o veículo rode não só com biometano, mas também com gás natural ou a combinação de ambos.
Antes de chegar ao Brasil, o coletivo passou pelo México e pela Colômbia, sempre abastecido com GNV. Em Bogotá, foi testado em condições extremas: altitude elevada, baixa pressão atmosférica, tráfego pesado e ladeiras.
O motorista Miguel Morales Gomes garante que não notou diferença de desempenho do veículo abastecido com biometano ou com o GNV convencional, derivado do petróleo. “A diferença é zero, tanto em topografias de subidas quanto de descidas”. No Brasil, a granja que fornece os dejetos produz 700 metros cúbicos de biometano por dia. Rene Moreira, especial para O Estado de S. Paulo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Brasil Justiça mantém júri, mas reduz pena de Alexandre Nardoni






Os desembargadores da 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SP negou a anulação do julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá (Foto: Juliana Cardilli/ G1)

Os desembargadores da 4ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiram por unanimidade, nesta terça-feira (3), negar a anulação do julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados em 2010 por matar Isabella (filha de Nardoni) em 2008. No entanto, a pena de Alexandre Nardoni foi reduzida em cerca de 11 meses devido a uma falha no cálculo da pena em relação aos agravantes. A pena de Anna Jatobá, madrasta da garota, foi mantida.

A pena de Alexandre ficou definida em 30 anos, 2 meses e 20 dias. Em 27 de março de 2010, depois de quatro dias de julgamento, ele tinha sido sentenciado a 31 anos, 1 mês e dez dias de prisão sob a acusação de ter jogado a própria filha Isabella da janela do sexto andar do prédio. A madrasta da menina recebeu pena de 26 anos e 8 meses de reclusão pela esganadura antes da queda.

A redução da pena ocorreu devido a um erro em seu cálculo, quando foram incorporados os valores dos agravantes - houve uma sobreposição na sua aplicação. Em casos de crimes com agravantes, sobre a pena base se incidem frações dela mesma para cada qualificadora. No caso de Alexandre, um dos agravantes não foi calculado sobre a pena base, e sim sobre a pena já com duas qualificadoras. Por isso, houve um ligeiro aumento na pena correta.

“Não é por mérito dele [Alexandre Nardoni], ou porque ele merecia menos pena, ou porque a pena foi exacerbada. Nós temos que calcular a pena em três fases. Houve um acerto de colocação de pena. Eu não mudei nenhum fator de incidência da pena. O que eu fiz é um novo cálculo matemático em cima de todos os valores que incidem na origem”, disse o relator do processo, desembargador Luís Soares de Mello Neto.

A autoria do crime e a validade do julgamento, entretanto, não geraram dúvidas ao desembargador. “O recurso estava muito bem feito, me deu muito trabalho, mas tenho certeza absoluta de que tudo correu exatamente como eu falei, que foram os dois os autores do homicídio.”

Defesa Para o defensor do casal, Roberto Podval, a redução da pena foi uma vitória. “Eu saio achando que ganhamos, com uma redução de pena, ainda que pequena. Era inesperada qualquer redução neste tribunal, nesta Câmara, fomos surpreendidos com uma redução, acho que pequena, acho que poderia ter sido maior, poderia ter sido de ambos, mas para mim foi o começo de uma vitória. Não tenho dúvida de que outras virão nos tribunais superiores”, afirmou.


Em relação à manutenção do júri que condenou seus clientes, o advogado afirmou que a decisão já era esperada. “O que aconteceu aqui era em grande parte previsível, a maioria das teses já tinham sido trazidas através de habeas corpus, já tinham sido negadas, mas é necessário trazê-las de novo para poder subir aos tribunais superiores.”


Já o promotor que acompanhou todo o caso, Francisco Cembranelli, minimizou a redução da pena. “Não significou nada, isso é irrelevante no contexto. Foi tão mínima no contexto da sanção que passou completamente despercebida, em uma pena de mais de 30 anos reduziu-se menos de um ano, isso não vai significar nada no cumprimento da sanção. A defesa vem colhendo desde o início do caso decisões desfavoráveis e todas por unanimidade, o que mostra que a acusação esta absolutamente e categoricamente correta”, afirmou.


A procuradora Sandra Jardim, que discursou durante o julgamento, ressaltou que a função do tribunal é reparar eventuais erros, e que a principal questão desta terça, a anulação do processo, foi negada. “Eu acho que essa é a função do tribunal, operar quando visualiza um equívoco, embora o juiz que aplicou a pena tivesse um entendimento particular nessa questão. É uma correção que, na prática, vai ter um efeito quase que nenhum, inexpressivo. No que importava realmente, foi mantida a sentença.”


Fonte: Portal G1

Em livro, Rosane conta sobre vida com Collor: do impeachment a ritual macabro com fetos humanos Ex-primeira-dama conta o que viu e viveu com ex-presidente da República

POR BRUNO GÓES

Fernando Collor e Rosane após o impeachment - Sergio Marques / O Globo


RIO — Cortejada pelo então prefeito de Maceió Fernando Collor de Mello, a menina que ainda usava uniforme escolar, aos 15 anos, e vivia sob ordens severas do pai não imaginava que seria a futura esposa do 32º presidente da República do Brasil. Envaidecida e animada com os elogios, ela levou adiante o flerte, consumado anos mais tarde, após um telefonema surpresa. O roteiro que poderia ser apenas de uma garota apaixonada esbarrou no destino atribulado de Rosane. Ela enfrentou, no centro do poder, crises de depressão, medo do suicídio do marido e “humilhações públicas”, segundo diz no livro lançado na quinta-feira, em Maceió. “Tudo o que vi e vivi” (R$ 39,90, editora LeYa) é a versão de Rosane Malta (agora com o nome de divorciada) sobre a sua relação com o ex-presidente apeado do poder.

— É uma história dolorosa e triste. Mas uma história bonita que poderia terminar da melhor forma possível. Eu aprendi desde criança a falar a verdade. Se não pudesse, não falava nada. Então, tudo o que digo no livro é verdade — afirma ela ao GLOBO.

Mesmo vivenciando a conturbada rotina de primeira-dama, com muitas brigas conjugais, Rosane subiu a rampa do Palácio do Planalto após o impeachment, apertou a mão de Collor, e disse: “Levante a cabeça. Não abaixe, não. Seja forte”. Collor é, segundo ela, o maior amor e a maior decepção de sua vida. Em 288 páginas, Rosane relata intrigas familiares, os rituais macabros que eram realizados na Casa da Dinda, os esquemas do ex-tesoureiro de campanha de Collor, além da morte de PC Farias e do destino do dinheiro do esquema de corrupção.

Durante a Presidência da República, ela conta que Collor usava a Casa da Dinda para rituais que pudessem fortalecê-lo politicamente. O relato mais forte sobre as sessões realizadas pela Mãe Cecília, de confiança do ex-marido, envolveu fetos humanos.

“Cecília me contou que, certa vez, fez um trabalho para Fernando envolvendo fetos humanos. Ela pegou filhas de santo grávidas, fez com que abortassem e sacrificou os fetos para dar às entidades. Uma coisa terrível, da qual ela obviamente se arrepende. Quando eu soube disso, chorei copiosamente”.

Um dos primeiros “trabalhos” dos quais Rosane teve notícia ocorreu quando Collor ficou enfurecido com a decisão de Silvio Santos de se candidatar à Presidência em 1989. E ainda mais com o apoio de José Sarney, seu inimigo político. O dono do SBT havia dito a Collor que não concorreria ao cargo, mas descumpriu o acordo. O candidato do PRN, então, encomendou um “trabalho”. Pouco depois, a candidatura de Silvio foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Perguntada se tem medo da repercussão e de possíveis processos judiciais por conta das revelações do livro, Rosane responde de forma tranquila:

— Estamos muito bem documentados. E não temos preocupação em relação isso. Tudo o que eu falei eu vi e vivi, como diz o título do livro. É realmente isso.

COLLOR E A CUNHADA

“O grande problema de Fernando era com Pedro. E o meu, com Thereza, a mulher dele”. Rosane diz que o irmão caçula do ex-marido tinha ódio do ex-presidente. Segundo ela, Pedro sustentava que Fernando cantava Thereza.

“Acredito na tese de que os dois tiveram algo antes do meu casamento e Thereza continuou apaixonada. Eu também não duvido que tenha sido por Thereza, por essa obsessão que ela tinha pelo cunhado, que Pedro resolveu destruir o próprio irmão”, diz ela.

Pedro Collor denunciou à revista “Veja”, em 1992, que PC Farias era testa de ferro do então presidente, e que o jornal Tribuna de Alagoas, que PC queria lançar em Maceió, na verdade pertenceria a seu irmão.

No período mais agitado da República desde a redemocratização, ela diz que não tinha dúvidas de que Collor era inocente. “Eu era muito nova, pouco experiente e acreditava no meu marido. Eu achava normal que as pessoas ajudassem Fernando espontaneamente, como fazia PC Farias”. Depois, no entanto, mudou de opinião e relatou que “algumas dúvidas foram surgindo”.

Rosane descreve o deslumbramento da jovem que desfrutou o poder: a dedicação ao figurino e as palavras elogiosas que trocou com a princesa Diana, além da amizade com Cláudia Raia e outras pessoas famosas. Conta que foi elogiada por Fidel Castro:

“Esse presidente do Brasil é muito esperto. Arrumou uma esposa novinha e linda” teria dito o ditador cubano a Collor. Segundo Rosane, mesmo após o impeachment, Fidel continuou a enviar charutos da ilha caribenha ao ex-presidente.

AMIGA DE ROGER ABDELMASSIH

Em busca por tratamento para a gravidez, Rosane, que abortou naturalmente filhos de Collor, procurou Roger Abdelmassih, hoje condenado a 181 anos, 11 meses e 12 dias de reclusão por abusar sexualmente de pacientes. Ele era amigo do casal.

“O doutor Roger era nosso amigo. Frequentávamos a casa dele, e ele, a nossa. Houve até um Natal em que assistimos a uma missa em sua casa antes de ir para a festa na residência de Patsy Scarpa (falecida em 2012,aos 82 anos), mãe do Chiquinho Scarpa, onde comemorei a data por três anos. (...) Fiquei muito assustada quando vieram à tona as histórias de mulheres que dizem ter sido abusadas por Roger durante as consultas”.

COLLOR NÃO TEM CARÁTER

Nos últimos oito anos, Rosane briga com Collor no tribunal para que seja reconhecido o direito de ser compensada pelo fato de ter deixado de lado a sua própria vida profissional para acompanhá-lo. Recentemente conseguiu que ele fosse condenado, mas o processo ainda não terminou.

— Muitas coisas que aconteciam, como abandonar a carreira, não concordava, com certeza. Mas não ia largá-lo. A mesma dignidade que eu tive com ele, ele não teve comigo. Ele não teve caráter — diz ela, que acrescenta:

— Eu amenizei muitas coisas que estão no livro, não passei ódio. Passei, sim, decepção. Eu não guardo ódio. Guardo decepção. Eu lutei para que a Justiça me desse os meus direitos.

Procurada pelo GLOBO sobre os assuntos descritos no livro, a assessoria de Fernando Collor ainda não retornou.

PRIMEIRA-DAMA EM APUROS

Enquanto o marido era presidente, Rosane estava à frente da Legião Brasileira de Assistência (LBA), um órgão assistencial público. À época, ela foi acusada de envolvimento na compra superfaturada de 1,6 milhão de quilos de leite em pó: cerca de 25% a mais pelo quilo do leite. Além disso uma cunhada sua, que ocupava uma superintendência do órgão, foi acusada de dirigir projetos que nunca saíram do papel.

No livro, ela diz que “sequer precisava assinar a autorização para esses projetos nos Estados. Cada superintendente estadual era indicado por uma liderança política da base aliada do governo”. Sobre o escândalo do leite, diz que “não tinha nada a ver com aquilo, como ficou comprovado depois na Justiça”. Ela relata que Collor ficava preocupado que o escândalo o atingisse.

Rosane também conta que foi acusada pela imprensa de dar uma festa de aniversário para a amiga com dinheiro público. Ela sustenta, no entanto, que apenas convidou-a para um evento de embaixatrizes no dia de seu aniversários.

Além dos fatos noticiados sobre a primeira-dama, Collor preocupava-se com irmão de Rosane, “Joãozinho”, que poderia atingir a imagem do presidente. Após saber que o prefeito Canapi, Mauro Fernandes da Costa, havia falado mal de Rosane, Joãozinho foi atrás dele em um bar, sacou um revólver, e atirou contra o prefeito. “Os Malta não levam desaforos para casa e, quando alguém provoca um parente, toda a família se sente atingida”, escreve Rosane.

PC FARIAS E CONTA SECRETA

No início das investigações contra o governo, abertas em 1992 para investigar o chamado esquema PC Farias, o secretário particular de Collor, Cláudio Vieira, afirmou que os gastos pessoais do presidente vinham de um empréstimo para a campanha de US$ 5 milhões feito no Uruguai. A versão foi desmentida após uma secretária relatar que o empréstimo ocorreu depois das eleições, apenas para encobrir o pagamento das contas da Casa da Dinda.

"Quando eu ouvia de Fernando que os depósitos que recebíamos não eram fruto de negócios escusos, mas simplesmente de doações de empresas que não foram usadas na campanha, eu não tinha por que duvidar. Parecia normal para mim, talvez por inexperiência, ter recursos de campanha, e que usufruir disso não era errado", conta Rosane.

Sobre a conta no exterior dos restos de campanha, no montante de US$ 50 milhões, como admitiu Collor em 2009 à Globonews, Rosane diz que ouviu "algumas conversas de que essa bolada realmente existia". A versão não oficial era a de que seu irmão, Augusto, a movimentava.

Na segunda metade da década de 1990, Collor teria dito a Rosane que estava tendo dificuldade para acessar uma conta gerida pelo irmão. Ela sugere no texto que era a tal conta do escândalo. "Além do mais, eu conheci o suíço Gerard".

Aos 50 anos, Rosane diz que ainda tem muito a contar. Outras histórias podem ficar para um segundo volume.

— Quem sabe? Vamos como me saio com esse livro. Depois a gente vê.

Leia alguns trechos do livro cedidos pela editora LeYa:

“O grande problema de Fernando era com Pedro. E o meu, com Thereza, a mulher dele. Em seu livro cheio de rancor ‘Passando a Limpo – A Trajetória de um Farsante’, publicado em 1993, sobre a rivalidade entre ele e o irmão, Pedro defende a tese de que Fernando dava em cima da cunhada. Eu não acredito nisso. Acredito na tese de que os dois tiveram algo antes do meu casamento e Thereza continuou apaixonada. Eu também não duvido que tenha sido por Thereza, por essa obsessão que ela tinha pelo cunhado, que Pedro resolveu destruir o próprio irmão”.

“Logo depois de Fernando assumir a presidência, comecei a ser alvo de críticas porque meus gastos aumentaram. Isso é uma bobagem tremenda. É claro que eu estava gastando mais! Afinal, eu passei a ter certas obrigações que não tinha como primeira-dama do Estado ou como esposa de um deputado federal. Uma primeira-dama do país gasta mais do que todas as outras, é óbvio! Até mesmo as roupas do dia a dia têm que ser muito alinhadas. Não se pode, por exemplo, comparecer a uma entrevista com um traje simplesinho. Para cada um dos eventos, é preciso pensar em um figurino diferente. E tem ainda as viagens... Um país diferente requer roupas específicas. E eu sempre gostei de boas marcas”.

“Pela péssima execução daquilo que ficou conhecido como Plano Collor, Zélia, para mim, está associada ao primeiro grande erro de Fernando como presidente. Na minha opinião, ela não estava preparada para o cargo de ministra, apesar de ser uma mulher muito inteligente e de ter ajudado muito na elaboração do programa de governo. Ali eu acredito que o governo perdeu muita credibilidade e tornou-se uma vitrine muito frágil para todas as pedras que foram atiradas depois”.

“Aliado a PC Farias, Fernando começou a criar a Tribuna de Alagoas. Na época, ninguém sabia que se tratava de um jornal do presidente. O que se sabia era que PC e seus irmãos estavam montando um diário que, em teoria, concorreria com o jornal da família Collor. E que, por mais estranho que fosse, Fernando apoiava a iniciativa. Só isso. Mas Fernando estava, sim, envolvido no negócio. Tanto é que discutiu com Pedro diversas vezes por causa disso. Pedro temia que a Tribuna tomasse o mercado e os funcionários da Gazeta, e cobrava do irmão uma postura enérgica, pois sabia que PC era seu braço direito. Fernando se negou a fazer qualquer coisa, o que deixou Pedro furioso.”

“Lembro apenas que, depois de um tempo de governo, Fernando começou a se incomodar um pouco com Itamar. Segundo meu marido, seu vice era uma pessoa demasiadamente sensível, que tem um ego dependente de elogios, de afago. Por qualquer coisinha, Itamar se chateava e, para que isso não acontecesse, alguém precisava sempre elogiá-lo, valorizá-lo. Fernando odiava tal comportamento.”

“Dizem que Fernando ficou devendo meses de aluguel da Casa da Dinda para a mãe, dona Leda, quando era deputado. Não duvido. Ele gastava sem saber se tinha dinheiro para bancar e, depois, tinha que fazer essas maluquices para cobrir a conta.”

“Em 12 de outubro de 1992, um helicóptero que fazia um voo entre São Paulo e Angra dos Reis (RJ) caiu e desapareceu no mar. Dentro dele estavam o deputado Ulysses Guimarães e sua mulher, além de outros passageiros e, claro, o piloto. Apesar de todas as buscas, o seu corpo nunca foi encontrado. Era a primeira manifestação do que ficou conhecido como “a maldição do impeachment”, uma série de mortes estranhas e trágicas de pessoas ligadas a Fernando ou ao seu afastamento da presidência. Além do deputado Ulysses, também Pedro Collor, PC Farias e sua mulher, Elma, supostamente haviam sido atingidos por tal maldição. Todos eles morreram poucos anos depois do impeachment. Todos vítimas de magia negra? Eu não sei quem espalhou esse boato, só sei que ele faz algum sentido.”

“Íamos ao terreiro mais ou menos uma vez por mês, mas, sempre que queria algo, Fernando ligava para a mãe de santo e ela dizia o que precisava ser feito para atingir seus objetivos. Dali até a eleição para a presidência, Fernando não vivia sem as orientações daquela mulher. A Mãe Cecília também passou a frequentar o Palácio, aonde ia para receber as entidades (os espíritos) que falavam com o presidente. Anos depois, em uma entrevista, ela contou que, aos poucos, os santos foram se acostumando com o bom e o melhor. Só queriam champanhe e uísque importado e faziam questão de fumar charuto cubano. Fernando bancava tudo isso, para que os trabalhos espirituais tivessem efeito.”


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“O fato é que Fernando foi meu grande amor e também minha grande decepção. Não só por tudo o que ele me fez até hoje, mas por não me deixar viver em paz depois da separação. É claro que só vou conseguir deixá-lo no passado quando essa situação se resolver e eu encontrar um outro amor verdadeiro. Já tive alguns namorados desde a separação, pessoas muito queridas, mas nenhum conseguiu ocupar esse lugar. Mesmo assim, sinto-me bem resolvida no campo do coração.”

“Em 2014, 22 anos depois do impeachment, ele foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal, por falta de provas, das acusações restantes referentes aos anos em que esteve na presidência do país (peculato, falsidade ideológica e corrupção). O que mais ele queria da vida? Por que nada disso lhe deu a tranquilidade para conseguir me deixar em paz, dando-me uma oportunidade para que eu também pudesse reconstruir minha vida? Ele não parecia querer me ver livre. Eu, pelo contrário, não vejo a hora de essa novela acabar. Também escrevi uma carta pedindo a ele, por favor, que parasse, refletisse, que eu aceitava a proposta irrisória só para ter um ponto final, mas não adiantou. Então não me sobrou outra opção a não ser seguir tentando, para ter o que é meu de direito.”

“Enquanto esse problema não se resolve, eu não quero parar minha vida. E este livro é a prova de que a fila anda. Há anos recebo convites para me candidatar à deputada, vereadora e outros cargos, mas não era a hora, ainda. Outros desafios podem surgir, e estou preparada para enfrentá-los. Já venci tantos problemas... Meu futuro promete!”



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/em-livro-rosane-conta-sobre-vida-com-collor-do-impeachment-ritual-macabro-com-fetos-humanos-14751084#ixzz3L3hrrUxG
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Pink Floyd: 35 anos de “The Wall”

pinkfloydthewall1979
Pink Floyd: “The Wall”
Lançado em 30 de novembro de 1979
Concebido pelo baixista Roger Waters, “The Wall” é o 11° disco do Pink Floyd e se tornou um dos álbuns conceituais mais famosos e bem sucedidos da história do rock. Até hoje é aclamado por fãs e crítica, pela riqueza de detalhes conceituais e musicais.
A inspiração para escrever “The Wall” veio quando, durante um show em Montreal, Quebec, Waters cuspiu na cara de um fã que apresentava um comportamento perturbador. Enojado com sua própria atitude, surgiu a ideia de construir um muro (“wall”, para os leigos em inglês) entre a banda e a plateia, desenrolando, a partir daí, a ideia da opera rock.
O conceito do álbum retrata a vida de um anti-herói chamado Pink, excluído da sociedade desde os primeiros dias de vida. Pink constrói um muro em sua consciência para separá-lo da sociedade, ficando em seu próprio e fantasioso mundo. Durante uma alucinação gerada por drogas, ele se torna um ditador fascista, onde seu juiz interior ordena que derrube seu muro e viva a vida. Em 1982 foi lançada uma versão em filme para a história, com o ator Bob Geldof representando o protagonista.
Muito aclamado pela mídia e pelos fãs, “The Wall” atingiu facilmente o 1° lugar nas paradas americanas e 3° nas paradas inglesas. São mais de 30 milhões de cópias vendidas no mundo todo. Além disso, o disco é considerado o duplo mais vendido da história da música. Canções bem trabalhadas, ótima produção, processo criativo minucioso e instrumental forte são os destaques do álbum.
Apesar do genial Roger Waters ter tomado o controle sobre o Pink Floyd – o que deu início aos conflitos que culminariam no fim do grupo -, os destaques para esse disco, ao meu ver, ficam por conta das canções onde a identidade de David Gilmour predomina mais, seja em sua voz, seja em suas melodias, seja em seus solos de guitarra.
“The Wall” transcende a música. Seja pelo conceito, pelo contexto histórico que envolve a sua concepção, pela produção ou por ter um conteúdo musical que, ao mesmo tempo, é requintado e subversivo. O Pink Floyd uniu os dois mundos em um de seus grandes trabalhos.
Destaques para a sensacional “Comfortably Numb” e seu belíssimo solo de guitarra, a apoteótica “Another Brick In The Wall”, a melódica “Mother” e a feroz “Young Lust”, onde a voz de Gilmour mostra uma potência e um drive incrível, além de um solo de guitarra repleto de pegada e feeling. Mas a recomendação é que se aprecie este clássico incontestável da cabeça aos pés.
Roger Waters – vocal, baixo, sintetizadores, guitarra e violão adicional
David Gilmour – vocal, guitarra, baixo adicional, seqüenciador, sintetizadores, clavinet, percussão
Richard Wright – piano, órgão, sintetizadores, clavinet, bass pedal
Nick Mason – bateria, percussão
Músicos adicionais:
Jeff Porcaro – bateria em “Mother”
Lee Ritenour – guitarra-base em “One Of My Turns” e violão em “Comfortably Numb”
Joe Porcaro – caixa em “Bring The Boys Back Home”
Bleu Ocean – caixa em “Bring The Boys Back Home”
Freddie Mandel – órgão Hammond em “In The Flesh?” e “In The Flesh”
Bobbye Hall – percussão
Ron di Blasi – violão clássico em “Is There Anybody Out There?”
Larry Williams – clarineta em “Outside The Wall”
Trevor Veitch – mandolin
Frank Marrocco – concertina
Bob Ezrin – co-produtor, arranjos orquestrais, teclado
Michael Kamen – arranjos orquestrais
James Guthrie – co-produtor, engenheiro de som, percussão, sintetizadores em “Empty Spaces”, seqüenciador, bateria em “The Happiest Days Of Our Lives”
Disco 1
01. In The Flesh?
02. The Thin Ice
03. Another Brick In The Wall (Part 1)
04. The Happiest Days of Our Lives
05. Another Brick In The Wall (Part 2)
06. Mother
07. Goodbye Blue Sky
08. Empty Spaces
09. Young Lust
10. One Of My Turns
11. Don’t Leave Me Now
12. Another Brick In The Wall (Part 3)
13. Goodbye Cruel World
Disco 2
01. Hey You
02. Is There Anybody Out There?
03. Nobody Home
04. Vera
05. Bring The Boys Back Home
06. Comfortably Numb
07. The Show Must Go On
08. In The Flesh
09. Run Like Hell
10. Waiting For The Worms
11. Stop
12. The Trial
13. Outside The Wall
Pink-Floyd-02

“The Wall” completou 35 anos; obra marcou rito de passagem para o Pink Floyd


Formação clássica do Pink Floyd, com David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright
Formação clássica do Pink Floyd, com David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright
No dia 30 de novembro um dos discos mais emblemáticos da história da música completou 35 anos. “The Wall” foi o projeto mais ambicioso da banda na época em que era liderada pelo baixista Roger Waters e é possível traçar um paralelo nada otimista em relação ao recente lançamento do grupo, “The Endless River”.
Pink Floyd teve 4 eras bem definidas. No início, mais especificamente em “The Piper at the Gates of Dawn” (1967) e “A Saucerful  of Secrets” (1968), a banda tinha uma pegada psicodélica e mais crua, permeada pela criatividade e insanidade de Syd Barrett.
Após seus surtos se tornarem incontroláveis, ele teve de se afastar do grupo, abrindo espaço para uma segunda fase em que a colaboração de Waters, Gilmour, Mason e Wright era bastante recíproca. Trocando em miúdos, a partir de 1970, o Pink Floyd passou a agir como uma banda de verdade pela primeira vez.
Com o clássico “Dark Side of The Moon” (1972) e o já nostálgico “Wish You Were Here” (1975), essa estrutura de cooperação começou a ruir – apenas no sentido do relacionamento dos integrantes, pois foi o início do ápice musical e comercial. Em “Animals”, de 1977, o Floyd já havia se tornado a banda de apoio da mente megalomaníaca de Roger Waters.
O disco duplo “The Wall” (1979) foi praticamente um projeto solitário do baixista, eternizando faixas como “Another Brick in the Wall pt. 2″, “Hey You'', “Confortably Numb'' e “Mother''. A obra marcou o rito de passagem do Pink Floyd de uma das maiores fontes de música inovadora e autêntica do mundo durante os anos 70 para um cover de si mesmo que seguiria fórmulas seguras e infalíveis por três décadas.
Roger Waters interpreta "The Wall" em Berlim, Alemanha
Roger Waters interpreta “The Wall'' em Berlim, Alemanha
A briga de egos se tornou insustentável após mais um ataque de Waters com “The Final Cut” (1983), e após sua saída, o cenário continuou o mesmo, mas com a banda sob o comando do guitarrista David Gilmour, que lançou “A Momentary Lapse of Reason” em 1987.
O lançamento dos álbuns duplos ao vivo “Delicate Sound of Thunder”, “Pulse” e “Is There Anybody Out There?” demonstrou que o Floyd ainda era um titã enorme caminhando sem rumo definido. O segundo disco de estúdio dessa era, “The Division Bell”, deu uma direção mais estável, cautelosa e radiofônica ao grupo, e o transformou em um gigante adormecido por vinte anos, dependendo de coletâneas e compilações.
“The Endless River” acordou o Pink Floyd trazendo-o novamente para um lado muito sofisticado e nada comercial, mas o manteve sob as rédeas de Gilmour, que produziu o disco com seu trabalho de curadoria de arquivo previamente descartado, reciclando faixas do falecido tecladista Richard Wright para, em parceria com o baterista Nick Mason, dar à banda o último sopro de vida.
Tanto o disco recente quando clássico que está completando 35 anos têm em comum a característica de projetos mais solo do que em conjunto, mas a diferença fundamental entre os dois é o excesso de ambição de um e a falta no outro. Ambos têm identidades próprias e distintas entre si, e representam momentos opostos da carreira da maior e mais conturbada banda de rock progressivo de todos os tempos.
Enquanto “The Wall” é o fim do auge, “The Endless River” é o fim do declínio. Descanse em paz, velho Floyd!
André Cáceres
Rádio UOL

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