by Deise Brandão
Não sei se Cris Pereira é culpado ou inocente. O que me interessa — e que ninguém parece querer discutir — é que a mãe da menina não condenou ninguém.
Não foi ela quem reverteu a absolvição.
Não foi ela quem levou o caso a uma Câmara Criminal.
Foi o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul.
E quem assinou a condenação final foi o Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul.
O que ninguém está falando
Se fosse uma armação da mãe, como muitos estão repetindo, o
processo teria morrido na primeira instância — como morrem todos os
processos em que não há prova suficiente.
Mas não.
O Ministério Público recorreu.E quatro desembargadores acataram o recurso e condenaram.
A pergunta óbvia que ninguém faz é: por quê?
👉 Quais foram os fundamentos desse
recurso?
👉 Que elementos convenceram um
colegiado inteiro a reverter uma sentença absolutória?
👉 Por que essa informação não está
sendo divulgada com transparência mínima?
O peso da minha experiência
Falo como alguém que conhece, na pele, como o MP e o Judiciário podem
manipular destinos.
Sei que decisões podem ser distorcidas, invertidas, usadas politicamente.
Sei que em certas comarcas “padrão”, a versão oficial é apenas o verniz
de um jogo muito mais sujo.
Então, sim, é mais plausível — do ponto de vista institucional — que tenha havido manobra ou jogo de bastidores, do que imaginar que uma mãe “armou” algo tão grande a ponto de dobrar promotor e quatro desembargadores sozinha.
Afinal, quem teria dinheiro e poder para isso?
A engenharia do bode expiatório
Enquanto a sociedade briga entre “mãe mentirosa” e “comediante
injustiçado”,
o verdadeiro protagonista do ato jurídico passa despercebido: o Estado.
👉 Não foi a mãe que recorreu.
👉 Não foi a mãe que condenou.
👉 Não foi a mãe que sustentou a
tese em segunda instância.
Mas é a mãe que está sendo linchada.
E junto com ela, a filha — que sequer tem voz para se defender da narrativa
pública.
O silêncio que grita
A sentença de primeiro grau absolveu.
A sentença de segundo grau condenou.
Entre uma e outra, há uma peça processual que ninguém está cobrando: a
apelação do MP.
Essa peça tem um nome. Tem um autor. Tem uma fundamentação jurídica.
E deveria — por obrigação institucional — estar clara à sociedade.
Mas não está.
Eu não defendo Cris. Eu defendo a verdade.
Se ele for inocente, que o Estado explique por que o condenou.
Se ele for culpado, que o Estado explique por que esconde as provas.
Em ambos os cenários, há algo podre:
ou uma condenação sem transparência,
ou uma verdade que está sendo enterrada.
E no meio disso tudo, transformam uma mãe em vilã pública — para que ninguém olhe para cima.
A cobrança é clara:
- Quem assinou a apelação do MP?
- Qual foi a fundamentação que convenceu quatro desembargadores?
- Por que o TJRS não dá
transparência mínima ao caso?
- Por que o foco foi desviado para a mãe, quando a responsabilidade é institucional?
Não aceito narrativas prontas. Não aceito linchamentos públicos de quem não condenou.E não aceito que um Estado que se diz de Direito aja na penumbra.
Que a sociedade exija respostas, em vez de destilar
achismos e veneno contra pessoas que sequer conhece — de um lado ou de
outro. E se conhece, que tenha a coragem de parecer imparcial e
cobrar de quem realmente tem poder para responder: o Estado.
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