Lucas S. Ferreira
Aproximadamente em 1980 tivemos a Geração Y (da qual faço parte), seguiu-se logo após uma tal de Geração Z, que nasceu num mundo já dominado por tecnologia e que perdura até hoje. Porém acredito que essa Geração Z tem se misturado a outra que eu gostaria de denominar de Geração I. I de Inexistente.
Nossa tecnologia criou um mundo de inexistentes apesar das milhares de formas de conexões com que nos relacionamos atualmente. Falo “relacionamos”, no inteiro sentido da palavra, porque nossas máquinas muitas vezes são mais pessoais que a pessoas que respiram ao nosso lado.
Convivemos com adolescentes e jovens hipnotizados por aparelhos de mão que dominam qualquer lugar onde eles estejam. Aparentemente o interessante é o que existe no virtual e não o que me olha nos olhos e enxuga minhas lágrimas. Apesar que em breve provavelmente nossas criações, dotadas de inteligência artificial, já estarão fazendo isso também.
A felicidade se exibe no Facebook e a satisfação pessoal se mede pelo número de curtidas que alguém recebe. Seu telefone toca ou alguém se senta ao seu lado, mas é mais interessante digitar frases rápidas com carinhas engraçadas, baseadas em nossas emoções no Whatsapp, do que viver essas mesmas reações e emoções numa vida autêntica. Preferimos um aplicativo de encontros para buscar sexo e companhia, assim como alguém escolhe meio quilo de carne moída em um açougue, isso é mais interessante do que sair de casa e ir para algum lugar na Terra e conhecer pessoas reais.
Ah! Nossa tristeza também merece postagens em redes sociais! O mundo precisa saber que eu estou triste e que estou “superando”, afinal receber frases de apoio e carinho de pessoas que mal olham na minha cara no mundo físico é muito mais interessante e prazeroso.
Nossos familiares podem morrer sentados em uma cadeira ao nosso lado, mas nossos olhos não se movem do Snapchat ou qualquer outra rede que faça com que nos esqueçamos da nossa própria vida sem graça.
Na internet somos mais legais, mais inteligentes, mais bonitos, mais queridos, mais amados, mais reconhecidos, mais apoiados, mais TUDO.
Na internet somos Inexistentes se nossa única intenção é sermos ali alguma coisa.
Somos construções daquilo que os outros desejam e num circulo virtual todos tentam se tornar o que os outros esperam. Tarefa frustrante. De repente então estamos completamente perdidos, nossa subjetividade não existe mais e sim a expectativa daquilo que eu preciso ser para o mundo.
A pergunta inconsciente dos dias atuais é: “Quem eu sou mesmo?”.
A Ansiedade é requisito hoje para a juventude que quer pertencer a algum grupo e é mais importante e exuberante se dizer que tem “Depressão”, do que dizer simplesmente que “está tudo bem”. A solidão então… esta é melhor deixar em algum canto fingindo que ela não está ali.
Geração I, Inexistente… Inexistente de realizações, de progresso como seres humanos, de objetivos, de produzir cultura, educação ou até mesmo comida. Inexistente de saber se relacionar, de empatia, de se mover.
O mundo inteiro está a disposição, mas ir até a esquina sem postar a #partiuesquina não tem graça.
Estamos cercados de tudo, mas cheios de nada.
Um surto coletivo já pode ser observado se você, é claro, tiver tempo para parar por alguns segundos e notar o que está acontecendo ao seu lado.
A Economia pode ruir e a tecnologia pode entrar em pane.
No entanto, o maior colapso será o do ser humano Inexistente de si mesmo, pois não sabe mais quem é.
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