quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Inveja não é desejar o que o outro tem, e sim, destruir o que o outro tem de bom. (Melanie Klein)


Apesar de frequentemente negada, a inveja é um sentimento que surge desde a infância e que deverá ser elaborada durante a maturação do indivíduo.




A sociedade que se apresenta nos dias atuais parece ser baseada apenas no ter, no fazer e no adquirir. O ser humano parece viver um momento onde a posse das coisas é mais importante e estimulada perante a grande maioria das pessoas do que conquistas e desejos internos. Muitos relacionamentos podem funcionar nesta base, onde a percepção do outro pode estar vinculada ao que ele proporciona em termos de aparência e não em suas verdadeiras contribuições emocionais.

Enquanto a busca por um corpo perfeito se anuncia na caminhada de muitos, através de dietas, academias e ingestão de medicamentos que prometem grandes milagres, cada vez mais a importância com as emoções e com a saúde mental vai se perdendo. A grande ironia é que o impulso para adquirir um belo corpo, uma conta bancária recheada e a posse de muitos produtos estão em algo associado aos desejos inconscientes e como se reage a eles.

Ao mesmo tempo em que a sociedade aceita certos padrões, atitudes e assuntos, tende a ser hipócrita quando são mencionadas as malignidades comuns aos seres humanos. A maioria das pessoas tenta se ausentar de observações dessa natureza. Os indivíduos, de modo geral, têm grande resistência quando a psicanálise afirma que o mal está em todos e que a hostilidade, a vingança, a tortura e a inveja pertencem ao homem.


A prosperidade alheia

Um desses sentimentos, por exemplo, é o da inveja. A frase de Nelson Rodrigues, “Amigos verdadeiros não são aqueles que te acompanham nos momentos ruins de sua vida e sim aqueles que suportam o seu sucesso”, exemplifica quanto a inveja está ao redor e pertence quase que à rotina, muito mais do que se imagina.

A proposta aqui é refletir se realmente as pessoas se incomodam com a prosperidade alheia. E caso seja afirmativo, qual seria a reação subsequente? Talvez mais interessante fosse causar movimento na própria vida ao invés de invejar o seu colega ao lado. Será possível controlar esse sentimento que todos conhecem, mas que poucos admitem tê-lo? O que faremos então? Interessante é perceber que as pessoas vivenciam a inveja e falam dela, mas utilizam outros nomes, já que a inveja é tida como sentimento repulsivo – o máximo que podem admitir é ter inveja boa e o interessante é que esse termo (inveja boa), além de ser incorreto, não existe.

Portanto, a fofoca, que é uma ferramenta para depreciar além de tencionar o controle ilusório do seu alvo, e o ciúme – sentimento onde se idealiza eliminar a pessoa que supostamente pode estar ameaçando o relacionamento – são diferentes nomes para se referir à presença da mascarada inveja.

Saber que a sociedade tende a aceitar melhor a fofoca e o ciúme e condena a sua manifestação pura não evita a atuação do invejoso. Reprimir nunca é a solução. A violência das manifestações varia muito – desde uma simples tentativa de destruir o outro com palavras, causando intrigas, até a destruição de fato.
Melanie Klein e a primeira inveja

Segundo Elisabeth Roudinesco, em seu dicionário de psicanálise, Melanie Klein (1882-1960) introduz pela primeira vez o termo inveja em 1924, atribuindo esse sentimento a desejos inconscientes de destruição ao objeto no qual há relacionamento. A primeira manifestação da inveja, já no nascimento, seria, portanto, contra o seio materno. Quando o bebê nasce, ele é expulso de um paraíso onde não sentia fome, dor, sede ou qualquer vicissitude (mudanças ou diversidades de coisas que se sucedem). O aparelho psíquico dele ainda não pode perceber a existência de si mesmo e muito menos de um outro. As suas primeiras relações, na grande maioria da população, são com sua mãe, que lhe oferece o seio para aplacar a fome e sanar tal desconforto.

Tem-se, portanto, uma relação de total dependência, onde o bebê sobreviverá apenas se a mãe ofertar seu leite e carinho. Esse é o protótipo das primeiras relações, que influenciará o adulto em maior ou menor grau nas suas relações futuras. No imaginário do bebê, a mãe, conforme vai se constituindo como um ser separado dele, possui a totalidade das coisas. O bebê tem a fantasia de que a mãe contém a completude que ele sentia no útero e, ao mesmo tempo, ele se percebe incompleto. A corrida inicia-se, o bebê quer retornar à sensação de perfeição e o alvo será o único objeto de relação: a mãe.

O sentimento que nasce no bebê diante dessa ilusão de “tudo ou nada” é a inveja. Invejar é querer destruir o que o outro tem, de forma a acabar com a relação de dependência. Portanto, quando o bebê sente fome e a mãe não está lá no exato momento de sua fome, o seio pode ser recebido com mordidas e beliscões. Essa reação, segundo Melanie Klein, demonstra a existência da inveja primária.

No ínterim entre a espera e o momento de saciar sua fome, o bebê começa a fantasiar sobre a inveja e através do seu pensamento mágico acredita que pode e está destruindo o seio (Continente de tudo). A inveja primária, então, é inerente ao ser humano, e esses registros são arquivados no inconsciente de todos. Quando há interferência, a palavra inconsciente é uma alusão de desejos que não podem ser controlados e nem percebidos. A existência deles só podem ser observados através das reações.

Todavia, a todo momento em que o ser humano é colocado frente a algo ou alguém a quem acredita que possui mais do que si, a inveja pode ser acionada. Não se inveja apenas a prosperidade, mas também as capacidades contidas no outro. Sempre se inveja o que é bom, já que trata-se de uma imitação do primeiro modelo mãe/bebê. Como dito acima, não existe inveja boa, já que esse termo está sempre relacionado à destruição, a tentar esvaziar as capacidades do outro, a esgotar suas conquistas. Suportar o sucesso de alguém é estar em constante encontro com os próprios sentimentos invejosos. A grande maioria dos bebês enfrenta esse conflito, suporta a inveja e continua o seu desenvolvimento.
No adulto

Para Melanie Klein, a sequência maturacional e emocional somente pode ser conquistada de forma satisfatória caso o bebê sustente pequenas doses de inveja sem provocar sem provocar destruições, mesmo que imaginárias, no seio em outro objeto com o qual esteja se relacionando. Quando se fala em objeto, nesse texto, refere-se a uma palavra técnica em psicanálise que significa tudo, seja uma pessoa ou uma coisa que fazem parte. Importante compreender é que as destruições em fantasia, e obviamente não na realidade, ainda assim são inveja.

No entanto, lidar com a inveja não é algo tão simples. Esse sentimento dispara a ansiedade, e se para um adulto contê-la é difícil, imagine para um bebê que ainda não tem completa noção da realidade e se depara com um meio assustador e desconhecido.

Existem mecanismo internos que defendem o sujeito dessa ansiedade, e uma das formas encontradas pelo aparelho psíquico é expulsar esse mal angustiante de dentro e depositá-lo no meio ambiente. Quando isso ocorre, o meio externo passa a ser sentido como perseguidor. O indivíduo observa, por exemplo, um grupo de pessoas conhecidas, e sente que esse grupo está falando mal dele. Essa sensação é proveniente da inveja, mas passa a ser depositada em caráter defensivo na realidade. Em verdade, esse grupo de pessoas não está comentando sobre o sujeito, mas o sentido interno de que o meio ambiente oferece perseguição é intenso a ponto de se acreditar nessa fantasia.

Nota-se que se relacionar com um indivíduo portador de grau considerável de inveja torna-se bastante dificultoso, já que é comumente aceito buscar um círculo social de pessoas com afinidades de pensamentos e, facilmente, esse sujeito pode vir a ser alvo de inveja logo que represente algo admirável.

O invejoso apresentará dificuldade em usufruir das boas coisas da vida, de amigos que possam proporcionar momentos agradáveis e sentir prazer por elas, valorizar pequenos feitos e realizações. Cabe lembrar que todas as movimentações desse sujeito estão para tentar eliminar a diferença que possa existir entre o eu e o outro. Já que não se tem posse de algo que se deseja, a tentativa será destruir, pois assim a equação se igualaria.

Somente quando se percebe que a vida não é perfeita é que se pode aproveitar a realidade em si e usufruí-la, tendo gratidão pela vivência. Se o sujeito se fecha em si, afasta os outros e é incapaz de saber aproveitar os prazeres; pode-se estar de frente para a inveja. Exatamente da mesma forma que o bebê tenta encontrar a sua completude e acredita que a mãe está completa, a pessoa que cria a ilusão da perfeição – de casamento, de carreira profissional, de filhos, de empreendimentos perfeitos e plenos -, está fadada a não gozar a vida. Essa forma de pensar impede os prazeres, já que essa caminhada é impossível de ser realizada.

A clínica psicanalítica tem por objetivo levar o indivíduo a se relacionar com a realidade e aceitá-la. A ideia é trabalhar com o que se tem e realmente se pode. O filósofo grego Epicuro dizia que “as pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo”. Seu objetivo era atingir a felicidade onde para ele seria a completa ausência de dor.

Melanie Klein, em sua obra Inveja e Gratidão, apresenta a teoria de que somente a gratidão é que pode ajudar o indivíduo a suportar a inveja. Conclui-se, portanto que ser grato diante da realidade é sem dúvida chegar mais perto da felicidade.
Inveja branca

É da natureza humana sentir inveja. Por mais que a gente tente evitar, é impossível não desejar para nós o que os outros têm: seja mais dinheiro, um emprego melhor, ou até traços da personalidade, como ser mais engraçado. Lógico que se sentir “verde de inveja” não é nada bom, mas a chamada “inveja branca” pode, sim, ser boa para você.

Não entende qual a diferença entre esses dois tipos de sentimento? De acordo com psicólogos, a inveja “verde” é destrutiva – você acha que o sucesso de alguém que alcançou o que você queria não é merecido e deseja que aquela pessoa se dê mal. Já a inveja branca surge quando você vê o que os outros alcançam e fica motivado a buscar seus objetivos porque sente que “se outra pessoa conseguiu, você também consegue”.

E é justamente esse o poder da inveja: ela pode motivá-lo. Mas isso só funciona quando você se compara com a pessoa certa. Não adianta ter inveja do Bill Gates e pensar em objetivos que, no momento, não estão em seu alcance. Inveje quem está na mesma situação que você e, usando as mesmas ferramentas que você, está se dando bem.

Quando vemos alguém como nós se dando bem, nos sentimos bem – por mais que exista aquela pontinha de inveja. Isso significa que também somos capazes de alcançar nossos objetivos. E mais- podemos fazer as coisas ainda melhor. Quando você vê um amigo jogando videogame, por exemplo, e observa quais são suas técnicas, pode, a partir dessa observação, criar táticas ainda melhores e ter ainda mais sucesso que ele.

Isso quer dizer que a inveja também nos motiva a ser mais criativos. Afinal, toda a criatividade vem da observação. Um estudo realizado pela Associação Americana de Psicologia, por exemplo, mostra que quem tem a chance de observar alguém realizando uma tarefa primeiro consegue ter mais ideias novas do que aqueles que não observam ninguém praticando as mesmas atividades antes de sua vez.

E, da mesma forma que a inveja te deixa criativo, segundo uma pesquisa publicada no Journal of Personality and Social Psychology, ela pode te deixar mais inteligente. Quando estudantes faziam um teste de matemática sozinhos, eles tiravam notas piores do que quando tinham outros estudantes realizando o mesmo teste, com os quais pudessem comparar sua performance.
Saiba como controlar suas emoções


A raiva, o medo e a inveja são alguns dos sentimentos que nos ajudam a viver e a sobreviver. Fundamentais em doses moderadas, podem botar tudo a perder quando tomam conta de nós. Solução? Aprenda a dominar as suas emoções! Os sentimentos são uma espécie de leme que estabelece, direciona e corrige a rota da vida humana. Mais do que isto, sem eles, provavelmente morreríamos muito cedo, não existiria o conceito de propriedade privada, não haveria democracia, não haveria laços como os do casamento… A lista é imensa. Talvez por esta razão, os sentimentos não tiveram alterações ao longo de milhões de anos de evolução da humanidade. “As emoções servem para que nos adaptemos ao meio em que vivemos, permitindo que possamos nos proteger, expressar o que nos foi agradável ou desagradável e perceber quando ultrapassamos limites”, explica a psicóloga clínica Inês Cavalieri, que atua em aconselhamento e diagnóstico psicológico.

O amor é um sentimento, a saudade é outro. Mas, o nosso objetivo aqui é abordar aqueles sentimentos materializados pela ação ou que a sua manifestação em exagero pode prejudicar o individuo e as pessoas que o cercam. São as emoções perigosas como a raiva, o medo, que em excesso podem trazer danos irreparáveis. Excessos? Ações? “As emoções são sentimentos que podem levar a uma ação. Um sentimento de cólera pode levar a um ataque, um sentimento de tristeza provoca o choro”, esclarece Inês Cavalieri.
Perigo do descontrole

Os sentimentos são fundamentais para a vida, porém, a falta de controle dos sentimentos é tão grave quanto a inexistência deles. Os sentimentos precisam estar equilibrados, caso contrário, o descontrole faz com que você perca o domínio sobre si mesmo, destrói relações de amizade e inviabiliza o convívio em sociedade. E mais: o descontrole constante é responsável por doenças físicas e psicológicas. Alarmante, não? A saída é: vigie e dome os seus sentimentos, antes que eles consigam dominar você.

Lembre-se: não se trata de bloquear esses sentimentos. Na dose certa, eles são fundamentais. Uma pessoa sem agressividade nenhuma não terá força para lutar pelas suas conquistas, se não for ciumenta, não conseguirá cuidar do que é seu. Eles precisam existir, mas em equilíbrio, na dose certa. Eles devem ser externados na hora e na dose certa. Controlados eles só podem fazer bem a sua vida, pois foi para isto que eles foram feitos. “O medo ou a ansiedade, por exemplo, em pequenas doses, pode ajudar você a não se arriscar demais num negócio ou fazer com que você planeje e se prepare para enfrentar melhor uma situação difícil. As emoções também podem funcionar como molas propulsoras para enfrentar desafios”, completa a PhD em psicologia Ana Maria Rossi, especialista em biofeedback e presidente da Isma-Br (International Stress Management Association, associação internacional que estuda o estresse e suas formas de prevenção).

E por falar em estresse, um alerta importante: o descontrole das emoções pode causar e agravar doenças. Pessoas irritáveis tendem a ter mais enxaquecas; o medo descendo a ladeira é péssimo para o coração etc. Isto porque o descontrole maltrata o descontrolado, as vítimas e, finalmente, faz muito mal para o corpo do descontrolado.

Porém, para domá-las é preciso saber a sua função, reconhecê-las, saber a causa e a melhor forma para retomar o equilíbrio. Mas como? A fórmula para colocar as suas emoções nos eixos não existe. É muito complexa, depende da sua força interior, do seu histórico de vivências, das suas crenças e, em muitos casos, requer a ajuda de um especialista. O que existe são alguns caminhos que podem ajudar você a construir o seu próprio autocontrole. Vamos a eles.
Raiva

O que é: a mais destrutiva das emoções. Uma sensação de revolta que faz com que você tenha vontade de gritar, ou esbofetear o rosto de alguém. Geralmente ocasionado quando algo que você considera correto e justo lhe é negado, burlado ou negligenciado. Pode ir desde uma vaga no estacionamento até um processo perdido (por negligência do seu confiável advogado). A raiva surge diante de situações de frustração que despertam a agressividade. Temos raiva quando algo nos desagrada e, por isso, sentimos aquela vontade, geralmente controlada, de “voar no pescoço de alguém”, diz Inês Cavalieri.

Que aparência tem: Lábios cerrados, sobrancelhas arqueadas, respiração acelerada, pupilas dilatadas, taquicardia, músculos contraídos. Em casos mais graves de descontrole: faces intensamente vermelhas (caminhando para o roxo beliscão), olhos arregalados e ameaçadores.

Importância para a sobrevivência: Ferramenta que serve para você defender o seu território, seu ponto de vista, sua vida, além de ajudá-lo a reforçar e manter os seus limites pessoais, profissionais, sociais. “Uma dose de agressividade serve para que você possa enfrentar as dificuldades, defender seus interesses e satisfazer suas necessidades. Sem ela você se tornaria apático”, lembra a psicóloga.

Quando passa da medida: Você já ouviu as expressões “pavio curto” ou “ferver em pouca água”? O termômetro de que a sua raiva passou da medida é quando você entra em estado de ira profunda por um motivo que merecia um simples aborrecimento, isto é, suas explosões são inadequadas. Por exemplo: basta que um amigo se atrase dez minutos, e você já está pronto para explodir. Um incidente no trânsito, você não pode esfolar o infrator (ou devolver a malcriação), é razão de sobra para estragar o seu dia. No trabalho, esqueceram de entregar imediatamente uma encomenda esperada (e que ninguém sabia da urgência) e pronto: você reivindicou aos berros a cabeça do negligente, amaldiçoado e incompetente responsável. Enfim… por tudo e por nada você quase sufoca de tanta raiva.

Mas, cuidado. A raiva velada também é ruim. É como se fosse o mesmo veneno, porém, em doses pequenas. Se é velada, como saber? Este tipo de ira geralmente se autodenuncia através do senso de humor. Não na falta de humor, como é óbvio, mas no tipo de humor. Sob a raiva, muitas pessoas ficam sarcásticas, ácidas, irônicas. De acordo com especialistas 90% do que se passa por humor é, na verdade, uma raiva contida e persistente. Neste caso – e aqui uma questão de estilo do raivoso – a raiva é disfarçada por comentários supostamente humorados, alfinetadas esporádicas, opiniões impiedosas.

Como retomar o controle: Com a civilização, os ensinamentos religiosos e as regras sociais, muitos aprenderam a “engolir” a raiva. Uma atitude nada recomendada. Por quê? As especialistas afirmam que esta medida cria pontos sensíveis que quando são tocados transformam-se em vulcões de ira. Você já presenciou explosões de iras inadequadas e ouviu do raivoso a justificativa “desculpe, mais isto foi a gota d”água”. É isto. Disfarçar ou engolir a raiva é pior. Quando ela se manifestar (e ela algum dia se manifesta), virá com força dobrada, com todo o radicalismo dos não atendidos.

E não subestime a raiva. “A raiva é a mais devastadora de todas as emoções. É intensa, é como se fosse a base de um vulcão, algo em ebulição que consome muita energia. Raiva em excesso gera processos depressivos e autodestrutivos. Não só para o próprio raivoso, mas também para quem convive com ele. Pessoas que não conseguem lidar com a raiva têm 65% mais chance de ter problemas cardíacos”, afirma Ana Maria Rossi.

O que fazer: Primeiro, utilize a sinceridade, quando ficar com raiva diga que está com raiva e explique os seus motivos. Tente expor suas razões e escute a opinião do outro. É uma forma de aliviar e refletir sobre os verdadeiros motivos, além de o outro saber quais são os seus limites. Sim, pois haverá motivos de raiva incuráveis e as pessoas a sua volta precisam saber que exatamente sobre aquele ponto a sua tolerância é zero. Estabeleça quais são os seus limites.

Outra forma de minimizar uma raiva frequente é rever os seus conceitos. Por que isto tem de necessariamente fazer tão mal a você? Segundo as especialistas, a raiva pode ser fruto de padrões ou expectativas pouco realistas em relação às outras pessoas e se este for o caso, cabe o exercício da tolerância e da flexibilidade. Você não faz a mínima ideia se o seu nível de raiva é aceitável ou adequado? Peça feedback, toque no assunto e mencione que você se sente tenso ultimamente, pergunte se o outro não concorda.

Recomendação importante: não cultive a raiva! De acordo com Ana Maria, a raiva é muito comum nos conflitos de trabalho. Raiva do chefe, por exemplo. O subordinado acha que não tem o reconhecimento pelo seu trabalho, que nunca recebe uma palavra positiva. Este quadro é muito perigoso e não pode ser alimentado. “Você pode começar um processo de sabotagem e prejudicar a produção de todos a sua volta, a sua e, em última instância, prejudicar a empresa.” Para controlar a raiva é fundamental expor o que você está sentindo, conversar com o chefe, por exemplo”, diz ela.

Se o seu chefe for intratável ou você simplesmente não o suporta, tente ainda uma solução a curto prazo: a válvula de escape da atividade física intensa. A raiva faz muito mal ao corpo, então, nada melhor do que tratá-lo também. Em médio prazo: procure outro emprego.
Medo


O que é: Mãos suadas, um pavor que percorre cada centímetro da sua pele, blackout mental. Pode sentir-se medo de qualquer coisa: de inícios, de fins, de locais fechados, de mudança, de falar em público… “O medo é a base dos distúrbios de ansiedade e desencadeia as fobias. 13% da população sofre de fobias. As mais comuns são as fobias de lugares abertos, altura, insetos/animais e lugares fechados”, dia Ana Maria.

Que aparência tem: Taquicardia, boca seca, mãos suadas, pupilas dilatadas. Estas e outras reações metabólicas são desencadeadas, levando à produção de cortisol (hormônio relacionado ao estresse). “A presença do hormônio no organismo pode causar tontura, transpiração excessiva, dificuldade em raciocinar, náuseas, palpitação”, detalha ela.

Importância para a sobrevivência: O medo prende a nossa atenção e ajuda-nos a evitar situações perigosas. “O medo é um mecanismo de defesa ativado em caso de perigo real, que prepara o corpo para enfrentar uma ameaça ou fugir dela. Quando, ao atravessar a rua, você ouve uma buzina, automaticamente seus batimentos cardíacos se alteram e seu corpo se prepara para correr”, explica a psicóloga Inês Cavalieri. Este efeito físico do medo se consiste em um dos seus principais prejuízos quando ele surge em um contexto inadequado. Imagine que você não tem controle sobre o seu medo e está fazendo um teste muito importante para a sua carreira. O quadro é: você não consegue se controlar, está apavorado. O medo, neste momento, já desencadeou o processo que confere mais força e energia para a luta ou a fuga, isto é, boa parte do sangue desviou-se do cérebro para os músculos. Mas no teste você precisa do cérebro 100%. E agora?

Fora de si: O sinal do medo inadequado é traduzido por situações que teoricamente deveriam agradar a você, mas, inexplicavelmente, o apavoram. Por exemplo: viajar, iniciar um novo relacionamento, iniciar um esporte…

Como retomar o controle: E aqui a ironia. Medo todos temos, o que é preciso é a coragem para enfrentar o medo. Sim, pois esta emoção não tem outro jeito. É preciso encará-la mesmo. Exatamente o que você pensou. Tem medo de avião? A cura: andar de avião. Medo de falar em público? A cura: falar em público.

É difícil e envolve uma boa dose de sofrimento, mas é possível. Comece em pequenas doses, pequenos riscos. Outro recurso valioso é fazer uma espécie de lista do que pode ocorrer se a tarefa assustadora resultar em derrota. Quando somos capazes de visualizar saídas é mais fácil dar os primeiros passos. Todos os tipos de medo têm pouco de racional, por isso, este exercício funciona. Falar em público pode acarretar o que de mal? Você esquecer o discurso? Gaguejar? Isto não constitui um perigo real. “O medo é uma reação aprendida, portanto, para vencê-lo é preciso admiti-lo, compreendê-lo e reavaliá-lo. É preciso avaliar se o medo é proporcional ao risco efetivo. Conhecendo melhor os riscos talvez seja possível redimensionar o medo”, completa Inês Cavalieri. Lembre-se de que tudo que pode acontecer é acontecer o pior, e isto provavelmente já lhe aconteceu.
Inveja

O que é: Desejo urgente de possuir alguma coisa que pertence a outro. O invejoso, sempre que recebe uma notícia boa, questiona-se por que aquilo não aconteceu com ele. Vê o proprietário de um objeto e pensa: quero um igual… “Percebemos a inveja quando existe um sentimento de incapacidade diante do querer ter algo que pertence ao outro, ou de querer ser algo que o outro é”, afirma Inês Cavalieri.

Que aparência tem: Semblante de desconforto, desolamento, grande ansiedade, sentido de urgência. Em alguns casos: olhos arregalados e fixos (alguns – diz a crença popular – têm o poder de matar plantas).

Importância para a sobrevivência: Faz com que você saiba exatamente aquilo que deseja para você, além de funcionar como um motivador de conquistas.

Fora de si: Manifesta-se, principalmente (se não for patológica,) quando você está em baixa. É muito difícil não invejar os bens alheios quando se está sem dinheiro para o básico, por exemplo. Justificativas à parte em nome da tal da inofensiva inveja saudável, os efeitos colaterais são terríveis para o invejoso que passou da medida. Estes vivem insatisfeitos, pois estão sempre desejando e valorizando o que é dos outros, nunca o que é seu. Também não lhe sobra tempo para cuidar de sua própria vida, pois está sempre cobiçando o carro novo do primo, a grama verde do vizinho, a excelente forma da amiga, o prato pedido na mesa ao lado etc. Mas o sinal mais grave de que a inveja está caminhando para a patologia é quando o invejoso passa a ter raiva do invejado. “A inveja foge do controle quando gera raiva pelo outro ter ou ser o que se deseja, levando à vontade de tirar, destruir ou estragar o objeto de desejo. É o tal do “se eu não posso ter, então que ninguém tenha”, continua Inês Cavalieri. O mundo do trabalho, então, é um reduto de invejosos. Se o colega ao lado ganha uma promoção, o invejoso passa a produzir uma raiva velada. Como consequência, faz pequenas sabotagens para minar o trabalho do outro, erra dados com a intenção de prejudicar. “A inveja é uma emoção intensa. O invejoso sente como se o mundo estivesse lhe devendo algo e o cobra por não estar no lugar do outro. É como se o mundo conspirasse contra ele”, esclarece Ana Maria Rossi.

Importante: não menospreze a inveja. Ela mata mesmo. O provérbio tem muita sabedoria e há provas. Recorde-se. No Velho Testamento, Caim matou Abel por invejar a sua bondade e a sua ligação sincera com Deus. Na tragédia shakespeariana Otelo, o Mouro de Veneza, Iago, invejoso da vida de Otelo (alta patente no Exército e uma esposa linda), elabora uma intriga perfeita que faz com que Otelo desconfie e mate a sua amada Desdêmona.

Como retomar o controle: Reverta o jogo. Faça a inveja trabalhar a seu favor. Transforme a chama da inveja em munição para lutar pelo que você quer. Quer um carro novo, economize. Quer um corpinho de sílfide? Músculos? Submeta-se a uma dieta. Passe à ação. Se quer um carro novo ou uma silhueta de esportista, vá à luta. Mas, sobretudo, valorize suas conquistas, fale delas para as pessoas, fale do desafio que foi vencê-las, qual foi o seu ponto zero.

Muito bem. O problema é que mesmo de coisas que você sabe que no fundo não quer, mesmo assim, você tem inveja. Ana Maria afirma que racionalizar a situação e desviar o seu foco para o que lhe pertence são maneiras de sair deste ciclo de sentimentos negativos. Como fazer isso? “Tente separar a realidade da fantasia dos fatos, neutralizar as emoções, conversar sobre a questão com um amigo”, complementa ela.


Fonte: por Fernanda Nascimento, professora responsável pela formação psicanálise na Escola Paulista de Psicanálise (www.apsicanalise.com) / Contato: fernandaterapias.wix.com/vivaterapias / Margot Cardoso (Saiba como controlar suas emoções)

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