domingo, 21 de agosto de 2016

7 exemplos de como Lula é retratado como herói nos livros didáticos brasileiros

Há inúmeros casos estapafúrdios, como no livro “História para o Ensino Médio”, da Editora Saraiva, adotado em todo país. Nele, entre outras peças de propaganda, os escândalos dos governos petistas são encarados como meros conchavos de oposição.
A história se repete outras tantas vezes. Para os autores do livro “Caminhos do Homem”, da editora Base Editorial, por exemplo, o governo Lula foi um tremendo sucesso. Para eles, “os grandes avanços obtidos em várias áreas” e a “ampliação de programas sociais que favorecem os mais pobres” são “indicadores amplamente positivos do governo Lula” – por isso, suas duas vitórias eleitorais “simbolizaram a vitória de um projeto social alternativo para a consolidação da cidadania plena no país”.
Nem o Plano Real, capitalizado politicamente pelo maior adversário político de Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, escapa. No livro “Novo Olhar História”, da editora FTD, por exemplo, o trecho que fala sobre o plano econômico já traz no título um olhar tendencioso: “Plano Real e seus custos sociais”.
Os exemplos são inúmeros. Abaixo, separamos outras 7 vezes em que Lula entrou para os livros didáticos brasileiros como um super-herói (e como seus adversários são os arqui-inimigos do país).

1.  “História e Vida Integrada”


O livro “História e Vida Integrada” é um best seller do mercado de livros didáticos do país. Publicado pela Editora Ática, com autoria dos irmãos Nelson Piletti e Claudino Piletti, é destinado ao alunos do 9º ano do ensino fundamental (a antiga 8º série).
Livros didáticos aprovados pelo Ministério da Educação para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
Em seu capítulo 19, o livro enumera problemas do governo FHC, como crise cambial e o apagão, e traz críticas às privatizações. No item “Tudo pela reeleição”, os autores citam denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a permanência do tucano no posto mais alto do país. O fim da gestão FHC aparece no tópico “Um projeto não concluído”, que lista dados negativos do governo.
A análise sobre Lula é completamente diferente. O livro cita a “festa popular” da posse e diz que o petista “inovou no estilo de governar” ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
O professor Claudino Piletti, coautor do livro, concorda que sua obra é mais favorável ao governo Lula. “Não tem o que contestar”, afirmou à Folha.
Claudino se desculpou dizendo que é responsável pela parte de história geral da obra e que a história do Brasil ficou a cargo de seu irmão, Nelson. Claudino assumiu que critica o irmão pela tendência pró-Lula e vai tentar convencê-lo a mudar a obra.
“Não dá para ser objetivo. O professor de história tem suas preferências, coloca sua maneira de pensar. Realmente ele [Nelson] tem esse aspecto, tradicionalmente foi ligado à esquerda e ao PT”, disse Claudino.
Nelson Piletti já foi candidato a deputado federal pelo PT.

2. “História em Documento”



O livro “História em Documento”, da historiadora Joelza Ester Domingues, foi publicado em 2007, pela Editora FTD. Na obra, que também é destinada aos alunos do 9º ano do ensino fundamental, ao analisar a eleição de FHC, a autora afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta:
“Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites”. 
Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar. Quando o assunto é o governo Lula, a autora – que diz ter sido imparcial – inicia com a luta do PT contra a ditadura (sustentada pelos aliados de FHC) e apenas cita que o partido fez “concessões” ao fazer “alianças com partidos adversários”.
Assim como “História e Vida Integrada”, o livro “História em Documento” foi aprovado pelo MEC em 2009. À época, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que os livros eram imparciais e que tinham passado por seleção rigorosa.

3. “Estudos de Geografia”


O livro “Estudos de Geografia”, dos professores James Onnig e Ivan Lazzari Mendes, editado pela Saraiva, chamou a atenção do deputado federal, e delegado da PF, Fernando Francischini. Segundo ele noticiou em suas redes sociais no ano passado, ao estudar com seu filho o conteúdo do livro, teve uma surpresa: o livro era uma propaganda escancarada de Lula (e um manifesto de oposição aos seus adversários políticos).
O deputado postou as imagens acima, com algumas páginas do livro, em seu perfil no Facebook.

4. “História Geral e do Brasil”


Publicado pela Editora Spicione, o livro “História Geral e do Brasil”, dos historiadores Gianpaolo Dorigo e Cláudio Vicentino, pinta os mesmos quados comparativos. Nele, o PSDB é um partido “supostamente ético e ideológico” e os anos de Fernando Henrique foram tempos de desemprego, de “compromissos com as finanças internacionais”, em que “o crime organizado expandiu-se em torno do tráfico de drogas, convertendo-se em verdadeiro poder paralelo nas favelas”. E mesmo “dentro das prisões”, transformadas em “centros de gerenciamento do tráfico e do crime organizado”, acrescentam os autores.
O livro critica a prioridade “da poupança externa”, em detrimento da interna, durante o governo FHC. Para fundamentar sua postura, os autores citam o historiador americano marxista Perry Anderson, que teria qualificado a medida de “ingênua e provinciana”.
FHC fez alianças com “um partido supostamente ético e ideológico, o PSDB, e outros partidos supostamente fisiológicos, PFL, PMDB e PTB”.
A abordagem em torno do governo Lula, no entanto, é bem diferente. Os autores destacam a ascensão do PT ao governo, “um partido considerado de esquerda”. Para eles, a “observação de sua prática administrativa” constituíram “importante aprendizado político”.
O livro termina apresentando a tensão entre o Brasil “pessimista”, dos anos FHC, com os anos “otimistas” de Lula, e conclui com um prognóstico:
“As boas notícias nos últimos anos indicavam que talvez os anos do pessimismo a toda prova já tenham passado e, nesse caso, pode ser o momento do não negativo como um novo paradigma para o Brasil”.

5. “Projeto Coopera História”


O “Projeto Coopera História”, do PNLD 2016, é direcionado aos alunos do 5º ano do ensino fundamental e também não escapa da análise maniqueísta em torno dos recentes governos presidenciais. Sobre o primeiro mandato de FHC os autores dizem que:
 
“O programa de privatizações continuou de forma acelerada; entre as estatais vendidas incluíram-se empresas de telecomunicações, energia elétrica, mineração e setor financeiro.”
 
No livro do professor há a seguinte recomendação de acréscimo:
“Como exemplo de privatização, é possível citar a venda da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a divisão do sistema Telebrás.”
O livro elege e enumera outros pontos negativos do governo além da venda de estatais: apagão de energia, aumento das dívidas interna e externa, crescimento do desemprego, desigualdade na distribuição de renda, corrupção no processo da reeleição e favorecimento aos grupos financeiros.
 
Ao falar dos governos Lula, no entanto, a abordagem é bem diferente:
“Ele foi o primeiro presidente originário das camadas mais pobres da população.”
Em seguida, diz que o maior desafio dele foi combater a miséria e o desemprego. Para tanto, “buscou garantir à população mais carente direitos essenciais.”
 
Além de oferecer “bolsas de estudo para jovens pobres em universidades particulares”, o presidente Lula combateu a seca na região Nordeste e promoveu a integração nacional.
 
E no último parágrafo, afirma que “o governo Lula teve como principais marcas a retomada do crescimento do país, a redução da pobreza e da desigualdade social, a estabilidade econômica, o fortalecimento do país nas relações internacionais.”
 
O livro do professor, como subsídio argumentativo sugere ao professor “comentar com os alunos que o Bolsa Família ajudou, de certa forma, na educação e na saúde das crianças, pois as famílias beneficiadas pelo programa eram obrigadas a manter os filhos na escola e levá-los aos postos de vacinação.”
Sobre os escândalos de corrupção, o livro desdenha:
“Alguns escândalos políticos prejudicaram a imagem do governo, no entanto os bons resultados obtidos possibilitaram que, em 2006, Lula fosse reeleito para seu segundo mandato.”
Dilma, por sua vez, é apresentada como “a primeira mulher presidente do país” (o negrito é do próprio livro, para marcar a importância do acontecimento). Na comparação com o governo Lula, seu governo possibilita a continuidade dos programas sociais como o Bolsa Família e ainda acrescenta outros. Ela também é retratada como alguém que aumentou o nível de emprego e o valor do salário mínimo; diminuiu o desmatamento da Amazônia; reduziu a pobreza, as desigualdades sociais e a mortalidade infantil. 
Os autores também procuram isentar a presidente Dilma dos pontos negativos de seu governo, creditando-os às circunstâncias de percurso. A queda no crescimento do país, por exemplo, é em virtude da crise mundial – e não por políticas econômicas equivocadas – e pela demissão de ministros envolvidos em corrupção. 
 
No livro do professor, há uma orientação para o professor:
 
“Comentar com os alunos que, o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em 2014 se conseguiu no Brasil a primeira geração de crianças sem fome, quebrando o ciclo de pobreza que há séculos domina a história do país.”
 
O livro é direcionado para crianças na faixa dos dez anos de idade.

6. Vestibular da Universidade Federal do ABC


Em 2013, Lula recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do ABC.
A Universidade Federal do ABC foi escolhida para ser o carro-chefe da propaganda em torno dos projetos de expansão das universidades federais durante os governos Lula e Dilma. Criada por Lula, em 2005, no seu berço político, a região do ABC, a instituição virou uma espécie de “queridinha” do ex-presidente.
Desde seu nascimento, no entanto, a instituição não escapa do proselitismo político. Logo em seu primeiro vestibular, em 2006, a UFABC apresentou textos com apoio ao presidente Lula.
“A prova é uma propaganda para o governo Lula”, afirmou na época o professor de história da UFSCar, Marco Antonio Villa. “No que diz respeito ao país, foram escolhidas apenas notícias positivas.”
Em discussão no vestibular, a auto-suficiência do país em petróleo, a diminuição das queimadas no interior paulista e o aumento da expectativa de vida dos brasileiros. A prova usou como base notícias publicadas pela imprensa.
Numa questão, o candidato deveria “analisar” o convite das centrais sindicais CUT e Força Sindical para a comemoração do Dia do Trabalho.
O selo da CUT dizia: “Valorize o emprego e a ampliação dos direitos”. Segundo o gabarito oficial, a resposta era a que afirmava que “a CUT defende o emprego e a reeleição de Lula à Presidência da República”.
“A resposta faz uma defesa da CUT e uma ligação subliminar entre a reeleição do presidente e a luta pelo emprego”, afirmou o professor de história Ciro de Moura Ramos. “É uma questão ideológica, imperdoável”.
O vestibular foi feito pela Vunesp, que negou que a prova tivesse qualquer apoio à gestão Lula.
Em 2013, Lula recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do ABC.

7. “Estudos de História”

Outra obra que possui viés maniqueísta da história é o livro “Estudos da História”, da editora FTD. Como conta Fernando Schüler cientista político, professor e doutor em filosofia:
“No livro Estudos de História, da Editora FTD, por exemplo, nossos alunos adolescentes aprenderão o seguinte sobre o governo de Fernando Henrique: era neoliberal (apesar de “tentar negar”) e seguiu a cartilha de Collor de Melo; os “resultados dessas políticas foram desastrosos”. Na sua época, havia “denúncias de escândalos, subornos, favorecimentos e corrupção” por todos os lados, mas “pouca coisa se investigou”.
Nossos alunos saberão que “as privatizações produziram desemprego”, e que o país assistia, naqueles tempos, ao aumento da violência urbana e da concentração de renda e à “diminuição dos investimentos”. E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.
Na página seguinte, vem a luz. Ilustrado com o decalco vermelho da campanha “Lula Rede Brasil Popular”, o texto ensina que, em 2002, “pela primeira vez” na história brasileira, alguém que “não era da elite” é eleito presidente. E que, graças à “política social do governo Lula”, 20 milhões de pessoas saíram da miséria. Isso tudo faz a economia crescer e, como resultado: “telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados e computadores passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas, que antes estavam à margem desse perfil de consumo”.
Lendo isto, me perguntei se João Santana, o marqueteiro do PT, por ora preso em Curitiba, escreveria coisa melhor, caso decidisse publicar um livro didático.”
Não resta dúvida: ainda há muita coisa que os nossos marqueteiros políticos precisam aprender com os autores dos livros didáticos tupiniquins. Neles, um super-herói com o poder de discursar em palanques eleitorais reina absoluto. Como se tudo não passasse de uma saga em quadrinhos.
By Spotniks

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