Oposição mostra fôlego na Venezuela
- Capriles lota bastião chavista com milhares de seguidores a sete dias da votação
CARACAS - A sete dias das eleições venezuelanas, o governador de Miranda, o oposicionista Henrique Capriles, mostrou a força da oposição ao lotar com centenas de milhares de seus eleitores a Avenida Bolívar, um histórico bastião de partidários de Hugo Chávez no Centro de Caracas. O ato, batizado de “Caracas Heróica”, foi o maior comício da oposição desde 1999, quando o presidente falecido em março elegeu-se pela primeira vez. Os manifestantes denunciaram desde cedo que o governo estaria dificultando o acesso às principais estradas de Caracas e promovendo grandes atrasos no metrô.
Nada impediu, no entanto, que os oposicionistas tomassem o Centro da capital, ocupando ruas, calçadas e até construções abandonadas para ter uma visão melhor de Capriles, que convocou a massa pelo Twitter. No microblog, o candidato, apoiado por 19 partidos da aliança Mesa da Unidade Democrática, escreveu: “Caracas, vamos em frente. Faremos a capital transbordar de alegria e esperança! Vamos!”.
Desde cedo, dezenas de oposicionistas denunciaram na internet atrasos significativos nos intervalos entre composições do metrô. A operadora responsável pelo serviço alegou que estava fazendo serviços de manutenção. O trânsito nas principais estradas que dão acesso a Caracas também foi prejudicado, supostamente pelo mesmo motivo.
Capriles fez um aceno aos chavistas, afirmando que, em 1999, conversou com Chávez:
— Disse-lhe que ambos somos de partidos distintos, mas não inimigos. Você gosta da Venezuela, e eu amo profundamente esta pátria — lembrou, acrescentando no comício: — Não sou oposição, sou solução. Sei trabalhar com gente que pensa diferente. Líderes não são herdados, são construídos.
No sábado, o candidato governista, Nicolás Maduro, dirigiu um ônibus a caminho de um comício, invocando seu passado de motorista. O presidente interino, designado por Chávez como seu sucessor, esforça-se para vincular sua imagem à de seu mentor e seguir a jornada bolivariana rumo ao chamado “socialismo do século XXI”, marcado pela grande intervenção estatal sobre a economia.
Maldição para eleitores oposicionistas
Em seus comícios, Maduro exibe vídeos em que Chávez orienta seus milhões de simpatizantes a votarem no presidente interino da Venezuela se ele não tivesse mais condições de governar o país.
Outros vídeos mostram balões com mensagens como “pelo amor à minha cultura” e “pelo amor às minhas crianças” rumo ao céu, onde o rosto de Chávez aparece entre as nuvens.
A campanha governista ganhou um toque ainda mais surreal quando Maduro declarou que uma maldição secular poderia cair sobre as cabeças de quem não votasse nele.
— Chávez nos ensinou o valor supremo da lealdade. Com ela, tudo é possível. A traição só nos traz derrotas e maldições — pregou.
Capriles, por sua vez, propõe uma política de livre mercado e amparada em programas sociais. Sua maior inspiração é o presidente Lula, que, em oito anos, tirou da pobreza cerca de 20 milhões de pessoas.
Aos ataques desferidos pelo presidente interino, Capriles responde com críticas à segurança pública, ao estado dos hospitais e à falta de água que assola o país. Segundo o oposicionista, Maduro é uma “cópia ruim” de Chávez e não conseguiu conter a desvalorização do bolívar, a moeda venezuelana, nem o aumento da inflação.
O governador de Miranda mantém o otimismo mesmo com a maioria das pesquisas o colocando pelo menos 10 pontos percentuais abaixo de Maduro. Mas o comitê do presidente interino também se apressa em jogar água sobre o clima de “já ganhou” de seus simpatizantes, temendo que isso aumente a abstenção.
Partidários de Capriles acusam o governo de se aproveitar de recursos e do enorme aparato midiático estatais para eleger Maduro.
A eleição merece atenção internacional devido à alta concentração de reservas de petróleo no território venezuelano. Diversos países latino-americanos que receberam o recurso com preços subsidiados por Chávez, como Cuba e Equador, torcem pelo triunfo de Maduro.
A companhia Petróleos da Venezuela (PDVSA), que conta com 100 mil empregados, é uma peça-chave do programa chavista. Ainda em 2010, durante as eleições legislativas, seus funcionários receberam e-mails agradecendo “por sua disposição em participar e contribuir para a consolidação do projeto bolivariano”. Quem não aderisse à campanha era demitido, segundo um ex-empregado da PDVSA que não quis ser identificado.
De fato, o diretor de mobilização e desenvolvimento da campanha de Maduro é Rafael Ramírez, presidente da petrolífera. Em uma reunião com o candidato em Caracas no mês passado, Ramírez recebeu a ordem de fazer os eleitores governistas “chegarem a tempo (nas urnas), terem apoio em seu deslocamento, e que não lhe faltem as refeições necessárias”.
Há dois anos, a PDVSA impede o reencaminhamento de suas mensagens a e-mails externos. Mas alguns funcionários tiram fotos dos comunicados que os convocam a fazer campanha para Maduro.
http://oglobo.globo.com/mundo/oposicao-mostra-folego-na-venezuela-8053119#ixzz2PyQ4KGr5
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