(Foto: Reprodução)
A jornalista Sandra Gomide tinha 32 anos quando foi assassinada pelo ex-namorado e também jornalista, Antonio Marcos Pimenta Neves, de 63 anos, então diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo. O crime aconteceu no dia 20 de agosto de 2000 em um haras na cidade de Ibiúna, no sudeste do Estado de São Paulo. Pimenta Neves assumiu a autoria horas depois do crime. Apesar disso, o julgamento só aconteceria seis anos depois e a sentença judicial só seria aplicada onze anos após o assassinato.
Sandra Gomide conheceu Pimenta Neves no final de 1995, quando trabalhava como repórter no jornal Gazeta Mercantil e ele havia sido contratado para assumir a direção do veículo. Em 1997, Pimenta Neves transferiu-se para o jornal O Estado de S. Paulo e contratou a jornalista. Depois de algum tempo, Sandra se tornaria chefe do caderno de Economia do jornal. Porém, após terminar o namoro de quatro anos, Pimenta a demitiu acusando-a de incompetente e entrou em contato com chefes de outros veículos para que ela não fosse mais contratada.
Quinze dias antes do crime, Pimenta Neves invadiu o apartamento de Sandra, agrediu-a com dois tapas e a ameaçou de morte. A jornalista registrou boletim de ocorrência e o inquérito foi instaurado. Sandra seria ouvida no dia 28 de agosto. Para protegê-la, a família da repórter contratou um segurança particular, que foi dispensado pouco tempo depois, pois nem ela e nem os familiares acreditavam que Pimenta cumpriria as ameaças. Para evitar novas invasões, ela trocou a fechadura do apartamento.
No dia do assassinato, o dono do haras de Ibiúna, Deomar Setti, relata que Pimenta Neve passou o dia no local, cuidando dos cavalos e observando o movimento dos carros que passavam pela estrada. Ele foi convidado para um churrasco que acontecia no local, mas recusou o convite e foi embora. Já na estrada, reconheceu o carro de Sandra chegando ao local e voltou.
O capataz do haras, João Quinto de Souza, observava à distância quando o jornalista parou o carro, foi até a ex-namorada e tentou uma conversa. Os dois discutiram, Pimenta pegou Sandra pelo braço e tentou empurrá-la para o carro. Ela conseguiu se desvencilhar e correu, quando foi atingida por um tiro no meio das costas. Sandra caiu e Pimenta se aproximou e deu um segundo tiro no ouvido esquerdo da jornalista.
Segundo o pai de Sandra, João Gomide, Pimenta demonstrava comportamento possessivo e já havia apontado uma arma para a cabeça de Sandra outras duas vezes. Durante o processo de investigação a Polícia confirmou que o telefone de Sandra estava grampeado.
Internação, prisão e habeas corpus
Pimenta Neves chega ao Fórum de Ibiúna para prestar depoimento um mês após o crime (Foto: Caio Guatelli/Folha Imagem/Digital)
Com base no depoimento das testemunhas, a prisão do jornalista foi decretada dois dias após o crime. Entretanto, Pimenta Neves não foi detido de imediato. Após assassinar a ex-namorada, o jornalista foi internado com quadro de overdose de sedativos na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. De lá, foi transferido para uma clínica psiquiátrica da zona sul da cidade, a partir de uma liminar concedida pelo TJSP a pedido dos advogados.
Pimenta permaneceu internado durante dez dias. Enquanto isso, a defesa tentou, sem sucesso, um habeas corpus para suspender o pedido de prisão preventiva. No dia quatro de setembro, 15 dias depois do crime, Pimenta foi transferido para a carceragem do 77º Distrito Policial da capital.
O jornalista permaneceu sete meses detido. No final de março de 2001, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, concedeu uma liminar determinando que Pimenta Neves aguardasse em liberdade o julgamento do habeas corpus impetrado pela defesa. Três meses depois, em junho, numa decisão unânime, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal julgou a medida judicial em favor do jornalista considerando que os fundamentos justificadores da prisão preventiva não estavam de acordo com a jurisprudência da Corte.
Julgamento
Jornalista sai em liberdade depois de julgamento no Fórum de Ibiúna, em 2006 (Foto: Márcio Fernandes/ AE)
Após quase seis anos da morte de Sandra e tentativas da defesa de suspender o julgamento,
Pimenta Neves foi levado a júri popular em 3 de maio de 2006.
A acusação sustentou a tese de homicídio premeditado. Entre as testemunhas, estava o pai de Sandra, João Gomide, e os donos do haras, Deomar e Marlei Setti. Já a defesa tentou demonstrar que o réu sofria de estresse emocional na época do assassinato para derrubar qualificadoras de motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.
No primeiro dia, Pimenta Neves se manteve em silêncio durante seu interrogatório. No segundo dia, o jornalista permaneceu cabisbaixo durante o
depoimento do pai de Sandra. João Gomide afirmou que Pimenta havia esperado Sandra ficar sozinha para cometer o crime e que havia feito várias ameaças após o fim do relacionamento, cobrando todos os presentes que havia dado a ela ao longo do namoro.
Pimenta não se sentou no banco dos réus, mas ao lado dos advogados de defesa. A pedido da Promotoria, as peças sigilosas do caso foram lidas com o plenário esvaziado já na etapa de debates.
A sentença foi lida pelo juiz Diego Ferreira Mendes no terceiro dia de julgamento, 5 de maio. O magistrado lembrou que o réu não só atirou pelas costas, mas foi até a vítima e lhe deu um tiro na cabeça, a 35 centímetros, dificultando sua defesa. Com isso, Antônio Pimenta Neves foi condenado a
19 anos, 2 meses e 12 dias de prisão, mas saiu livre do Fórum de Ibiúna, com direito a recorrer da sentença em liberdade,
devido a decisão anterior do STF. Anos depois, os ministros da Corte esclareceram nunca terem determinado que a prisão de Pimenta só poderia ser efetuada após o trânsito em julgado da condenação penal e que o
juiz cometeu um grande equívoco.
Redução de pena e recursos
Pimenta Neves é preso 11 anos após o crime (Foto: Leonardo Soares/AE)
Prisão e semiaberto
Por Géssica Brandino
Portal Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha
Com informações do acervo do jornal O Estado de S. Paulo
menta Neves revela amizade com irmãos Cravinhos e diz que poderia estar no exterior
Jornalista foi condenado pela morte da ex-namorada, Sandra Gomide, em agosto de 2000
Pimenta Neves disse ter recebido conselhos para deixar o Brasil, mas que preferiu aguardar a sua condenação no PaísLEONARDO SOARES/AE
O jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves falou pela primeira vez sobre a vida no presídio de Tremembé, no interior paulista, onde cumpre pena por ter matado a ex-namorada, Sandra Gomide, há pouco mais de 13 anos. Em entrevista exclusiva ao Domingo Espetacular, ele fez algumas revelações inéditas. A primeira delas diz respeito ao crime.
No dia 20 de agosto de 2000, Pimenta Neves matou Sandra Gomide com dois tiros, após não conseguir reatar o romance com a também jornalista, em um haras em Ibiúna, no interior de São Paulo. Condenado a 15 anos de prisão pelo crime,
ele está agora no regime semiaberto, o qual permite que elea saia para trabalhar e estudar de dia, e retornar à prisão para passar a noite.
— Eu não quero minimizar de maneira alguma o que eu fiz, tanto que poderia ter ido embora do País antes do meu julgamento. Tenho visto permanente nos Estados Unidos. Eu poderia ter ido pra qualquer lugar. Não foram poucas as pessoas que sugeriram isso, mas eu sempre recusei. Aguardei pacientemente aqui, resignadamente o meu julgamento e minha condenação.
No mesmo dia do indulto, Pimenta Neves contou ser amigo dos irmãos Christian e Daniel Cravinhos, que também estão presos em Tremembé. Eles participaram do assassinato dos pais de Suzane von Richthofen, em outubro de 2002, do qual a própria Suzane participou e acabou condenada. No dia em que o jornalista pôde deixar a cadeia,
Christian também saiu e foi elogiado por Pimenta Neves.
— Esse, por exemplo, é um menino de um talento extraordinário. Eu sou apaixonado por musica, jazz (...). Ele é um baterista extraordinário.
Aos 76 anos, Pimenta Neves nega as alegações de que não possuiria amigos na prisão e mantém o bom humor, só interrompido quando o assunto é Sandra Gomide. O jornalista garante ser “muito doloroso” relembrar o caso, o que o impede de conceder entrevistas. Contudo, ele tenta demonstrar respeito pela memória da vítima que matou, com dois tiros pelas costas.
— Eu nunca disse uma palavra contra a Sandra, nem depus no júri, pra não dizer nada. E proibi os meus advogados e minhas testemunhas de defesa de falarem qualquer coisa sobre ela.