domingo, 30 de maio de 2021

Emissoras estão em poder de poucos




DA SUCURSAL DO RIO
São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2001
Folha São Paulo


Além da presença de políticos, há o problema da concentração de mercado na radiodifusão. As emissoras de TV estão em poder de poucos grupos empresariais. A família Marinho tem participação societária em 32 concessões, o que representa mais de 10% das geradoras existentes no país.
As quatro grandes redes nacionais de televisão -Globo, SBT, Bandeirantes e Record- têm, somadas, 75 emissoras próprias, mais de um quinto das concessões de TV comercial.

Os Marinho têm 11 das 40 emissoras de TV existentes no Estado de São Paulo, o que dá uma proporção de 28%. Duas destas emissoras - a TV Vale do Paraíba, em São José dos Campos, e a TV Aliança Paulista, de Sorocaba- foram concessões dadas pelo ex-presidente José Sarney. A terceira concessão obtida pela família naquele governo foi a TV Cataratas, de Foz do Iguaçu (PR).

Em seis anos, os Marinho quase dobraram suas emissoras de televisão. Em 1994, eles apareciam no cadastro do Ministério das Comunicações com apenas 17 emissoras. Agora, três gerações da família já aparecem como acionistas em emissoras em Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal. Há concessões registradas em nome de Roberto Marinho, de seus três filhos e de cinco netos.

O registro em nome de diferentes pessoas da mesma família é um artifício legal encontrado pelas empresas para ultrapassar o limite de propriedade de TVs permitido na legislação. O teto por acionista é de duas concessões por Estado e dez em âmbito nacional, sendo cinco em VHF (canais de número 1 a 13) e cinco em UHF (do canal 13 para cima).

A Globo tem afirmado que ampliou sua participação no setor com aquisições legais e transparentes e que obedece à lei. Segundo a empresa, não é a família Marinho que possui 32 emissoras, mas pessoas físicas que, independentemente do parentesco entre elas, investiram no setor.

As redes Bandeirantes e SBT também aumentaram suas concessões nos últimos anos, mas em escala menor do que a Globo. A família Saad, da Bandeirantes, passou de nove para 12 concessões, enquanto a família Abravanel passou de nove para dez.

Nesse período também a Igreja Universal do Reino de Deus construiu seu império de 21 emissoras, divididas em três redes: Record, Rede Mulher e Rede Família.

Afiliadas da Rede Globo lideram ranking de ligações com políticos, seguidas pelas do SBT e da Bandeirantes

Políticos controlam 24% das TVs do país


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2001

Levantamento exclusivo feito pela Folha mostra que pelo menos 59 emissoras de televisão -24% das 250 concessões de TV comercial existentes- pertencem a políticos. Dentro de dois meses, o número subirá para 60, com a inauguração da TV do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), em Macapá.
Esses números referem-se a empresas que têm concessão do governo para gerar programação e não incluem as milhares de retransmissoras que funcionam com licenças precárias e apenas repetem o sinal das geradoras nem as TVs educativas.

A Rede Globo tem 21 afiliadas ligadas a políticos, contra 17 do SBT e 9 da Bandeirantes. Entre os políticos ligados comercialmente à Globo, estão os ex-presidentes da República José Sarney e Fernando Collor de Mello e três governadores: Roseana Sarney (PFL-MA), Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e o tucano Albano Franco, de Sergipe.

Entre os afiliados da Rede Globo encontram-se ainda o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (PFL-BA), o ex-senador João Calisto Lobo (PMDB-PI), oito deputados federais e um estadual.
No SBT, estão o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), e o presidente interino do Senado, Edison Lobão (PFL-MA). Na lista da Bandeirantes figuram três senadores -entre eles, o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e o vice-governador de Alagoas, Geraldo Sampaio, do PDT.

Crise em Alagoas

Uma emissora de televisão na mão de políticos pode ser uma arma tanto para promover aliados quanto para atacar adversários.
De janeiro a abril deste ano, o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), esteve em guerra contra a TV Gazeta, afiliada da Globo pertencente à família Collor de Mello, que o acusou de tramar o assassinato do coronel Cavalcante. O militar cumpre pena em Maceió pela morte de um irmão do governador, em 1991."Era uma acusação sem nenhum fundamento, apenas porque Collor e eu somos adversários históricos. Fui para ofensiva. Suspendi entrevistas e publicidade oficial para as Organizações Arnon de Mello", diz o governador.

Ele conta que gravou em vídeo as imagens veiculadas pela TV e que entregou a fita ao ex-diretor de Jornalismo da Rede Globo, Evandro Carlos de Andrade. A emissora passou a enviar jornalistas de Recife para cobrir os eventos importantes de Alagoas.

Segundo Ronaldo Lessa, a guerra acabou em abril, quando a TV Gazeta noticiou que as acusações não procediam. No dia 9 de julho, o ex-diretor de jornalismo da Gazeta, Célio Gomes, foi substituído pelo então coordenador do núcleo de rede da Globo no Paraná, Clésio Oliveira. A Globo nega que tenha feito intervenção na afiliada, mas admite ter sugerido Clésio para o cargo. A TV Gazeta não comentou o episódio.

Mais recentemente, em maio, a Globo teve problemas na Bahia. Sua afiliada local, a TV Bahia, da família de Antonio Carlos Magalhães, não cobriu as manifestações em Salvador pela cassação de ACM. A Globo usou imagens feitas por um sindicato no noticiário nacional, mas -pelo menos para efeito externo- justificou a conduta da afiliada dizendo que ela subestimou os protestos.

Coronelismo

A forte influência política na radiodifusão é uma herança dos governos anteriores que Fernando Henrique Cardoso não conseguiu modificar. "O coronelismo eletrônico é uma face do atraso brasileiro. Mostra a nossa carência de cidadania e fragilidade partidária", diz o diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade Nacional de Brasília, Murilo Ramos.
Ramos lembra que FHC, ao anunciar Sérgio Motta para ministro das Comunicações, em 1995, prometeu explicitamente mudar esse quadro. "Não mudou. Pelo contrário, consolidou o poder político no setor."

A família Sarney tem o maior império de comunicação do Maranhão, Estado em que controla quatro emissoras de TV afiliadas da Globo: as TVs Mirante das cidades de São Luís, Imperatriz, Santa Inês e Codó.

No Rio Grande do Norte, as quatro emissoras comerciais de televisão existentes pertencem a políticos, de acordo com o ex-ministro Aluísio Alves, tio do governador Garibaldi Alves e um dos acionistas da TV Cabugi, afiliada da Globo.

Aluísio Alves conseguiu a concessão da TV Cabugi quando foi ministro da Administração no governo Sarney. Foram agraciados, na mesma ocasião, os senadores Agripino Maia (PFL) e Geraldo Melo (PSDB).

Além da TV, a família Alves é dona de rádios e do jornal "Tribuna do Norte", de Natal.
O ex-ministro diz que a TV não lhe dá dividendos políticos. "O contrato com a Globo não permite fazer política com a emissora, mas meus adversários usam as deles. Só tenho liberdade de fazer política no jornal e nas rádios."

SBT
Entre os políticos vinculados comercialmente ao SBT, além de Tasso Jereissati e Edison Lobão, estão o senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR), Orestes Quércia (ex-governador de São Paulo e atual presidente do PMDB no Estado), o prefeito de Araçatuba (SP), Jorge Maluly Neto (PFL), e o ex-governador do Paraná Paulo Pimentel. Constam também quatro deputados federais, entre eles, o ex-governador da Bahia Nilo Coelho (PSDB).

Maluly Neto e Sílvio Santos são sócios da TV Araçá, de Araçatuba. O prefeito admite que ser proprietário de TV o beneficia politicamente. Em entrevista à Folha, por telefone, ele travou o seguinte diálogo:

Folha - De que maneira a TV o ajuda politicamente?

Maluly - Você pode mostrar sua atuação. O fato de noticiar ajuda.

Folha - Há fatos relativos à sua gestão que são divulgados em sua TV e não saem nas emissoras concorrentes?

Maluly - Com certeza. Quando há fatos proeminentes na cidade, elas cobrem, mas nem sempre eu apareço. A mesma notícia, na nossa emissora, traz uma pontinha de declaração da gente.
Na avaliação de Maluly Neto, os radiodifusores tem 50% a mais de chances de se elegerem do que os demais candidatos, o que explica o interesse dos políticos pelas rádios e televisões.

Bandeirantes
A Bandeirantes é a rede de televisão com o maior número de senadores entre seus afiliados. Além de Jader Barbalho, também estão na lista os tucanos Geraldo Melo, do Rio Grande do Norte, e Romero Jucá, de Roraima.

Ainda faz parte da listagem o ex-senador e ex-governador do Mato Grosso Júlio Campos. A mulher dele, Isabel Campos, é diretora-executiva da TV Oeste, da cidade de Cuiabá.
Campos é o único político que figura no cadastro do Ministério das Comunicações como titular de emissora de televisão em Mato Grosso, mas, na avaliação de Isabel, "quase 100% das rádios e televisões do Estado têm vínculos com grupos políticos".
Ela diz que as emissoras que apóiam o governo são favorecidas na distribuição da verba publicitária e que a TV Oeste estaria sendo discriminada por pertencer a Campos. "Nem sempre o vínculo explícito com um político favorece a emissora", afirma.

Outras redes

Oficialmente, a Record tem apenas cinco afiliadas com políticos, mas sua situação não é comparável às das demais redes. "A Record é um caso à parte. Ela está a serviço de uma denominação religiosa, a Igreja Universal do Reino de Deus, que tem seus representantes do Congresso", afirma o diretor da Faculdade de Comunicação da UNB.

A CNT, que tem quatro geradoras próprias de televisão, é a rede com vínculo político mais explícito. Seu acionista controlador é o presidente nacional do PTB e deputado federal pelo Paraná, José Carlos Martinez.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

TSE autoriza quebra de sigilo e pode cassar chapa Bolsonaro-Mourão

Tribunal busca responsáveis por ataque à página ‘Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’, com 2,7 milhões de integrantes, nas eleições de 2018. Uma das ações foi movida pela coligação O Povo Feliz de Novo
26/05/2021 17h32

Foto: Adriano Machado


Após invasão e alteração do nome por criminosos, print da página do Facebook foi usada no perfil de 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a quebra de sigilo e disponibilização de informações de cinco empresas de tecnologia relativas a duas ações contra a chapa presidencial Bolsonaro-Mourão. A chapa é investigada por um ataque hacker à página no Facebook “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” nas eleições de 2018. Uma das ações foi movida pela coligação O Povo Feliz de Novo, encabeçada pelo PT. A decisão foi tomada pelo ministro Luis Felipe Salomão, corregedor-geral eleitoral.

Após o ataque à página, que tinha mais de 2,7 milhões de membros na rede social, o grupo passou a se chamar “Mulheres Com Bolsonaro”. Pela decisão, as empresas de telefonia terão de informar dados cadastrais dos números de telefone utilizados para moveintações na página e que foram identificados pela Polícia Federal. Além disso, as empresas de tecnologia intimadas devem apresentar os registros de acesso ao grupo.

À época da eleição, Bolsonaro chegou a compartilhar uma foto do grupo, já com o nome alterado, em seu perfil no Twitter, com uma mensagem de agradecimento. Salomão pediu ainda que o Twitter informe, no prazo de até cinco dias, o número de IP do celular ou computador utilizado para publicar a mensagem.

A mensagem de Bolsonaro, datada de 15 de setembro de 2018, dizia: “Obrigado pela consideração, Mulheres de todo o Brasil!” Bolsonaro tornou prática comum a utilização de estruturas subterrâneas para promover notícias e perfis falsos a fim de fraudar as eleições de 2018.

As empresas intimadas a prestar esclarecimentos são o Facebook, o Twitter, a Microsoft, a Oi e a Vivo. Desde o resultado das eleições de 2018, a Justiça Eleitoral já recebeu oito ações pedindo a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

Currículo “bombado”, Battisti, ligações com PT: todas as polêmicas de Kassio Nunes Marques

Nunes começou a carreira jurídica na advocacia. Como advogado, foi indicado em 2008 a uma vaga de juiz do TRE-PI (Tribunal Regional Eleitoral do Piauí). Em 2011 tomou posse como desembargador federal do TRF-1, nomeado pela então presidente Dilma Rousseff (PT), após ser indicado ao cargo em lista sêxtupla elaborada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Ele é natural de Teresina e se formou pela UFPI (Universidade Federal do Piauí).

O desembargador foi responsável pela decisão que em maio do ano passado liberou a licitação do STF que previa a compra de itens considerados de luxo como lagosta e vinhos premiados. O pregão estimado em R$ 1,1 milhão tinha sido suspenso por decisão de primeira instância da Justiça Federal do Distrito Federal. Em sua decisão, Nunes considerou que a licitação não seria "lesiva à moralidade administrativa" e ponderou que os itens não serviriam à alimentação dos ministros, mas a eventos institucionais realizados pelo tribunal com a presença de autoridades.

Desembargador Kassio Nunes Marques foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o
Desde que foi indicado para ser o substituto do ministro Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF), o desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) Kassio Nunes Marques vem sendo alvo de diversas acusações. De ligações com o PT ou mesmo com parlamentares do Centrão; passando pelo fato de ter liberado a polêmica licitação de lagostas para ministros do Supremo e até ter prestado informações inconsistentes sobre sua vida acadêmica, com suspeita de plágio em sua dissertação de mestrado.

Apesar disso, integrantes do Senado classificam como certa a aprovação dele tanto na sabatina do dia 21 de outubro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) quanto no plenário da Casa. Integrantes do governo acreditam que Kassio Nunes terá pelo menos 22 votos na CCJ (dos 27 possíveis) e 65 votos no plenário do Senado, de um total de 80 senadores.

Confira abaixo as principais polêmicas envolvendo o indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal:


Kassio Nunes Marques apresentou currículo acadêmico "vitaminado"

O desembargador indicado ao STF é acusado de turbinar o seu currículo, incluindo nas informações acadêmicas um pós-doutorado em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, Itália (Universitá Degli Studi di Messina), e um “postgrado” em Contratación Pública pela Universidad de La Coruña, na Espanha.
Os dois títulos são questionáveis. O primeiro equivale a um ciclo de seminários e o segundo a curso, de fato, não existe. O “postgrado” em Contratación Pública, de acordo com a instituição, foi um Curso Euro-Brasileiro de Compras Públicas. O pós-doutorado é uma extensão dos estudos e pesquisas realizados no doutorado. O período do pós-doutorado varia de país para país sendo de 6 meses a 6 anos.


Em resposta encaminhada ao Senado, Kassio Nunes Marques afirmou que “em nenhum momento foi afirmado que o aludido curso corresponde a uma pós-graduação no Brasil. A coincidência é tão somente de ordem semântica, pois na Espanha, o curso de aperfeiçoamento após a graduação é denominado ‘postgrado’”, justificou o desembargador.


Acusação de plágio na dissertação de mestrado

Uma reportagem da revista Crusoé apontou que o desembargador teria copiado trechos de artigos publicados pelo advogado Saul Tourinho Leal, que foi integrante da banca de advocacia do ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto, em sua dissertação de mestrado. Até erros de português foram reproduzidos no estudo.

De acordo com a revista, pelo menos 10 trechos reproduziam passagens de Tourinho Leal e, ao todo, a dissertação teria em torno de 46,2% de semelhança com textos já publicados. Por sua vez, o desembargador afirmou que o trabalho é diferente do posicionamento de Saul Tourinho. Kassio Nunes Marques alegou que defende a autocontenção judicial; já Tourinho defende o ativismo judicial.

“A coincidência das citações apontadas provavelmente decorre da troca de informações e arquivos relacionados a um dos temas abordados", justificou o desembargador por meio de sua assessoria.

Levantamento feito pela Gazeta do Povo mostrou ainda que, em dez anos, Kassio Nunes é um dos poucos magistrados do TRF-1 a não ter publicado artigos acadêmicos na Corte.

Lagosta liberada para os ministros do Supremo

Considerado "garantista", o desembargador tem em seu histórico manifestações ou a concessão de decisões, no mínimo, controversas. Dois casos são pontuais. A liberação da compra de lagostas para os ministros do Supremo; e a manifestação em favor da não extradição do terrorista italiano Césare Battisti.

Sobre o caso das lagostas, em maio de 2019, ele cassou a decisão da juíza Solange Salgado, da 1.ª Vara Federal em Brasília, que havia determinado a suspensão do pregão eletrônico do Supremo Tribunal Federal que previa a contratação de um buffet com fornecimento de vinhos, lagostas e outros pratos finos.

Em sua decisão, atendendo a pedido da AGU, Kassio Nunes alegou que o processo licitatório não feria princípios da economicidade no polêmico certame. “A licitude e a prudência com que se desenvolveu o processo licitatório desautorizam tal ideia, que reflete uma visão distorcida dos fatos, nutrida por interpretações superficiais e açodadas, daí se justificando o acionamento da excepcional jurisdição plantonista para que, imediatamente, se afaste a pecha indevidamente atribuída ao STF”, disse o magistrado na decisão.

A decisão em segunda instância que manteve Battisti no Brasil

Em relação a Battisti, ele participou, em 2015, de julgamento da Sexta Turma do TRF-1 que decidiu suspender uma decisão de primeira instância para deportação do terrorista italiano.

Durante o julgamento, os desembargadores não adentraram no mérito da legalidade ou não do processo de deportação. Os juízes se debruçaram em uma questão técnica relacionada a uma decisão de primeira instância se sobrepor, ou não, a processo ainda em análise no Supremo Tribunal Federal.

Diante das críticas, o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, resolveu defender o seu indicado. “O desembargador Kassio participou de julgamento que tratou exclusivamente de matéria processual e não emitiu nenhuma opinião ou voto sobre a extradição. A apelação no TRF1 nunca chegou a ser julgada em razão de decisão posterior do STF”, disse Bolsonaro em suas redes sociais.

Kassio Nunes Marques tem ligações com parlamentares do Centrão e PT


Outra polêmica relacionada à carreira do desembargador Kassio Nunes Marques são as supostas ligações políticas. Sua carreira como magistrado começou ainda em 2008, como juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI). Fora nomeado pelo ex-presidente Lula e reconduzido ao cargo também após ato assinado pelo petista.

Ao chegar ao TRF-1, Nunes foi escolhido pela ex-presidente Dilma Rousseff, que foi alvo de um processo de impeachment. Nos dois casos, ele teve como padrinhos nomes como o então governador do Piauí Wilson Martins (PSB) e o atual governador Wellington Dias (PT).

Sua indicação ao Supremo teve apoio de vários políticos, entre os quais, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o filho do presidente da República, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e o ex-advogado da família Bolsonaro Frederick Wassef, segundo reportagem do jornal O Globo. Gilmar Mendes também é apontado como uma das pessoas que balizaram a indicação de Kassio Nunes Marques.

Em audiência com os senadores, porém, Nunes desconversou. “Quanto à questão da indicação, o que eu posso asseverar é que essa indicação foi exclusiva do presidente Bolsonaro. Há um ditado antigo em Brasília que diz que quando a imprensa ultrapassa cinco nomes indicando como padrinhos de indicados, é porque realmente não consegue descobrir. Eu já detectei mais de oito pela imprensa”, disse o magistrado aos senadores.



TBT que me tira o SONO!

 

Por Hora do Povo

 Publicado em 21 de janeiro de 2019

Os parlamentares do PSL - e Dem - em viagem à China

Era terça-feira, dia 15, quando uma delegação de 11 parlamentares do PSL, partido de Bolsonaro, embarcou, feliz da vida, em direção à China.

O convite partira do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista da China, com todas as despesas pagas, desde a viagem até a estadia e a alimentação. O objetivo da visita, segundo o convite, seria o “intercâmbio de experiências de governança e cooperações pragmáticas entre os partidos”.

Estava tudo indo muito bem no passeio, quando alguém do grupo ouviu uma voz que parecia vinda do além:“Essa meia dúzia de analfabetos está achando tudo lindo porque foram chamados a viajar para a China”, disse a voz. “São um bando de caipiras”.

Era o guru do bolsonarismo, o astrólogo Olavo de Carvalho, diretamente de Richmond, Virgínia, a capital dos confederados – isto é, dos escravistas norte-americanos durante a Guerra Civil – onde reside há 14 anos.

“Esses camaradas não sabem absolutamente nada. Eu digo, o problema do Brasil é a ignorância e o analfabetismo funcional, é a presunção dos semianalfabetos”, disse o luminar, que, por sinal, é um conhecido adversário (inclusive pessoal) da escola.

Carvalho passou então a nominar os parlamentares “ignorantes”, “semianalfabetos”, “jumentos” – e outros adjetivos um pouco mais radicais: os deputados Daniel Silveira, Carla Zambelli, Tio Trutis, Felício Laterça, Bibo Nunes, Charlles Evangelista, Marcelo Freitas, Sargento Gurgel, Aline Sleutjes, Delegada Sheila e a senadora eleita Soraya Thronicke, todos do PSL. Além deles, Luís Miranda, do DEM, também participou da viagem.

Em relação à deputada Carla Zambelli (PSL-SP), Olavo ameaçou: “nunca vou te perdoar, eu ajudei muito, se você não largar isso, não falo mais com você, Carla”. E prosseguiu: “vocês são uns palhaços”.

O astrólogo foi em frente (em frente?):

Uma polêmica filosófica olavista

“Aqui tem um idiota” – e apontou para a lista dos viajantes – “que diz que uma lei, passada no governo Temer, é adequada para a defesa dos brasileiros contra a violação de seus dados. Você acha que uma leizinha brasileira vai controlar o sistema de informação chinês? Vocês são idiotas? Vocês têm ideia da extensão da tecnologia chinesa? Vocês não estudaram nada disso e não querem estudar?”.

Aí veio o puxão de orelha diretamente no “mito” (cáspite):

“Agora, eu pergunto, cadê o Executivo. O Executivo vai deixar esses caras irem para lá e entregar o Brasil ao poder chinês dessa maneira? “Dizem que eu sou o guru do Bolsonaro. Se eu fosse, essas coisas não estariam acontecendo. E eu sou o guru dessa porcaria? Eu não sou guru de merda nenhuma. Se eu fosse, essas pessoas não teriam nem a coragem de apresentar essas ideias”.

Imediatamente depois do guru ter falado, Bolsonaro, prontamente, mandou um recado aos “desobedientes do Olavo”. Foi Luciano Bivar, presidente do PSL, o porta-voz do recado: “Ontem, falei por telefone com o presidente Bolsonaro e ele me disse: ‘Poxa, Bivar, o pessoal precisa saber que existe uma responsabilidade em ser do PSL, que somos vidraças, que tudo reverbera em cima de nós'”, contou.

Bolsonaro, portanto, quando falou com Bivar, já assistira ao vídeo do seu “chefe espiritual” – que, inclusive, indicou o medieval colombiano Vélez Rodríguez para ministro da Educação e um maluco para ministro das Relações Exteriores.

“Esses deputados foram para China para negociar a instalação do sistema de reconhecimento facial nos aeroportos”, disse Carvalho. “A firma que trata disso, a Huawei, é altamente suspeita. Os representantes dela foram presos na Polônia, no Canadá e nos Estados Unidos por atividades de espionagem”.  Não foi exatamente isso que aconteceu, mas o Olavo é igual ao Lula: o que vale é a “narrativa”. Disse ele que instalar esse sistema nos aeroportos brasileiros é “entregar todas as informações brasileiras ao governo chinês. Como é que o Executivo deixa isso?”.

Como um programa para “reconhecimento facial” (segundo ele) fará essa operação, ele não esclareceu. Mas a imaginação do Olavo é, reconhecidamente, fértil, quando se trata de paranoias – as próprias e as postiças. Naturalmente, ele nada tem contra entregar essas supostas informações aos norte-americanos. Aliás, ele nada tem contra entregar os aeroportos do Brasil aos norte-americanos. Deve ser por isso que mudou para os EUA: lá, os aeroportos são norte-americanos.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) foi a primeira a responder. “Eu sou muito mais brasileira do que muita gente aí. Aliás, eu vivo no Brasil, eu moro no Brasil, diferente de pessoas que estão nos criticando e moram há anos fora do Brasil”.

Quanto à ajuda que teria recebido do astrólogo: “O Olavo de Carvalho falou que me apoiou… muitas vezes me orientou, fizemos hangouts, mas o apoio dele na eleição foi para a Joice Hasselmann, não para mim. Eu não devo minha eleição ao Olavo”.

O deputado Luís Miranda (Dem-DF) – que morava em Miami até a eleição e se elegeu propagandeando as maravilhas do american way of life – lembrou o título de um dos livros de Carvalho (“O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”):

“O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota: Brasil e China são parceiros de negócios há mais de 40 anos, e nos últimos nove [anos] foi a nossa maior importadora. Em 2018 ultrapassamos mais de 100 BILHÕES de dólares em negócios, e a balança comercial tem sido favorável pra nós. A China comprou dos brasileiros mais de 65 bilhões, enquanto o Brasil comprou deles apenas 35 bi”.

Porém, disse outro expoente do bolsonarismo, os deputados que foram à China não passam de “comunistas infiltrados na direita”.

O ex-marido da deputada Carla Zambelli, um certo Marcello Reis, dono de um site denominado “Revoltados Online”, disse – ou, melhor, expeliu – que os deputados do PSL estão servindo aos “interesses dos comunistas”.

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