sábado, 3 de abril de 2021

Jornalista faz a cronologia dos fatos que culminariam num suposto "golpe" para derrubar Bolsonaro


03/04/2021 às 11:10


Fotomontagem: Jair Bolsonaro e Regina Villela - Marcos Corrêa/PR; Reprodução
Nesta sexta-feira (2), a Jornalista Regina Villela denunciou toda a trama que estava por traz da exoneração do Ministro da Defesa, o General Fernando Azevedo e Silva.


Na segunda-feira (29/03), o Brasil inteiro ficou surpreso com as mudanças que ocorreram em seis Ministérios. Sendo certo mais emblemática aconteceu no Ministério da Defesa.

Inesperada, a extrema imprensa ficou sem entender o que estava acontecendo e pior ainda, fazendo ilações sem nenhuma fundamentação.

No entanto, uma pessoa acompanhava tudo que estava acontecendo e estava juntando as peças do quebra-cabeça: Regina Villela.
A Jornalista independente, concedeu entrevista exclusiva nesta sexta-feira (2) para denunciar o golpe que culminaria com a destituição de Bolsonaro da Presidência da República


                               Vamos à cronologia dos fatos:

1) No dia 6 de setembro de 2018, Bolsonaro sofre um atentado e no dia seguinte, o alto-comando do Exército se reúne para tomar alguma providência. Pressionado pelos demais generais, o General Villas Boas, então Comandante do Exército, teria resolvido impor ao Presidente do STF, Dias Toffoli, a nomeação do General Fernando Azevedo e Silva como seu assessor direto, de modo a “acompanhar” de perto as movimentações de bastidores do STF.
A oposição já sabia que Bolsonaro venceria as eleições e o atentado foi a última tentativa para evitar sua vitória nas urnas;

2) Bolsonaro é eleito e nomeia o General Fernando Azevedo e Silva como seu Ministro da Defesa, por indicação do General Heleno, homem de sua total confiança;

3) Ao longo dos primeiros dois anos de seu Governo, Bolsonaro rompeu com “tradições” políticas que desagradaram ao establishment e com isso, no início de 2020, um primeiro golpe foi tramado contra ele, capitaneado por Rodrigo Maia e o STF, conforme denúncia de Roberto Jefferson em entrevista ao Jornalista Oswaldo Eustáquio, concedida em março de 2020;

4) Com Maia fora do “jogo”, o STF assumiu o protagonismo da “oposição”, tendo agora como “peças do jogo de xadrez” alguns deputados amargurados com Bolsonaro, como Joice Hasselmann. Antes, no entanto, o STF precisava “testar” o sistema, vendo como se dariam reações às suas ações. Primeiro, já havia revogado prisão em segunda instância, o que deixou Lula solto. Segundo, precisava calar e por medo à sociedade, exigindo que às críticas populares ao próprio STF minimizassem. Fez isso por meio de dois famigerados Inquéritos, o das “Fake News” e o dos “Atos Anti-Democráticos”;

5) Sem nenhuma reação mais forte do Estado (Poder Executivo / Forças Armadas), o STF foi além, e neste ano de 2021, anulou condenações de Lula na Lava-Jato, tornando-o elegível, e ainda, deixou o Juiz Sergio Moro suspeito no julgamento de Lula no processo do “Triplex”, algo com possíveis consequências terríveis em vários aspectos;

6) Neste cenário de avanços, o STF recebia constantes sinais do Ministro da Defesa de que as Forças Armadas não fariam nada;

7) Com sinal positivo para avançar, a Câmara dos Deputados (Deputada Joice Hasselmann) entraria em ação, propondo um Projeto de Lei para afastar o Presidente da República por insanidade mental;
8) Em seus desdobramentos finais, Bolsonaro seria julgado incapaz pelo STF pela forma com que gerenciou a pandemia do “quanto pior, melhor”;

9) Por meio do trabalho da inteligência do GSI, o General Heleno descobriu que o Ministro da Defesa consentia o avanço do STF, ao “lavar as mãos”, trocando mensagens com o Presidente do STF de que as Forças Armadas se manteriam sempre neutras entre quaisquer divergências entre os Poderes;

10)
Antes do golpe avançar até um desfecho final, Bolsonaro chamou o Ministro da Defesa e o exonerou, acabando com a trama diabólica que se desenhava.


Em uma live de duas horas, Regina Villela narra com detalhes todo o contexto da trajetória de fatos que culminariam com o impedimento do Presidente da República.



by Jornal da Cidade On Line

quarta-feira, 31 de março de 2021

“Era um dia frio e luminoso de abril, e os relógios davam 13 horas.” Assim começa um dos romances mais citados do século 20. A frase omite o ano da ação, mas isso seria redundante, pois ele dá nome à à obra: 1984. Só a menção ao título desencadeia uma avalanche de associações mentais: comunismo, polícia política, nazifascimo, tortura… O livro ganhou fama por tratar de forma ficcional de uma das grandes mazelas contemporâneas, o totalitarismo. Escrito pelo jornalista, ensaísta e romancista britânico George Orwell e publicado em 1949, o texto nasceu destinado à polêmica e nunca foi tão atual. A lavagem cerebral coletiva, avança á passos largos. E tudo indica que como a obra, será bem sucedida.


Qual é a mensagem do livro?

George Orwell escreveu o livro já no final da sua vida, quando padecia de uma tuberculose e acabou falecendo alguns meses depois. Muitos acreditam que a obra se trata de um recado que o autor deixou para as gerações futuras.

Escrita no começo da Guerra Fria, a narrativa é fruto de um contexto histórico marcado pelas disputas políticas e ideológicas. O enredo apresenta as guerras constantes como uma forma premeditada de manter os privilegiados no topo, através da dominação das classes mais baixas.

No entanto, 1984 é, acima de tudo, um alerta sobre o poder que corrompe, formulado por um autor que viu a ascensão de vários regimes ditatoriais. Por outro lado, a obra deixa uma visão bastante negativa sobre aquilo que poderia ser o futuro da humanidade, caso ela viva em sociedades que misturam autoritarismo e tecnologia destinada à vigilância.

A história não termina bem, já que o protagonista acaba sendo derrotado no final, abrindo mão do seu pensamento revolucionário para poder sobreviver. No entanto, o enredo deixa transparecer uma réstia de esperança: mesmo nos sistemas mais repressivos, o espírito de rebelião e progresso social pode despertar em qualquer pessoa.

Uma distopia sobre o poder totalitário

Este é um romance distópico que descreve a existência sufocante dos indivíduos que vivem num sistema de opressão e autoritarismo. A história é passada num futuro não muito distante, no qual o mundo se encontra dividido por três grandes impérios que permanecem em guerra.

O maior dos impérios, o da Oceania, está sob o domínio de um governo autoritário designado de Partido. É aqui que a ação da obra se passa, ilustrando o cotidiano de censura e repressão daquela sociedade. Este sistema é bastante elitista, organizado por classes que cumprem diferentes funções e vivem com privilégios diferentes.

O Partido Interno é a classe mais alta e a que exerce uma maior autonomia. Já a classe média, o Partido Externo, é composta pelos cidadãos que trabalham para os governantes e a classe mais baixa é também a mais explorada.

Para poder controlar os indivíduos, o governo precisa padronizar as suas vidas e os seus comportamentos. Assim, a individualidade, a originalidade e a liberdade de expressão são considerados “crimes de pensamento” e perseguidos por uma força policial própria, a Polícia do Pensamento.

Na tentativa de apagar totalmente as ideias que eram consideradas subversivas, o Partido até começou a criar o seu próprio idioma, a novilíngua, para que elas não pudessem mais ser expressas.

Com “Liberdade é escravidão” como um dos seus lemas, este governo está disposto a tudo para manipular as mentes da população, usando as ideias mais absurdas. Isso se torna notório, por exemplo, num dos slogans do partido: “2+2=5”. Embora a equação fosse claramente falsa, todos deveriam acreditar nela, sem nenhuma espécie de sentido crítico.

A vigilância do Grande Irmão e da Teletela

Podemos classificar o tipo de regime apresentado na obra como uma autocracia, ou seja, um estilo de governo totalitário no qual o poder está concentrado em uma só pessoa.

Neste caso, o ditador é o líder supremo do Partido, intitulado de Grande Irmão. Embora ele surja como um homem, nunca chegamos a ter certeza se aquela figura existe mesmo ou é apenas uma representação simbólica da autoridade governamental.

Além de serem controlados por ele, os cidadãos também precisam prestar culto e adorar o seu retrato todos os dias. A foto surge sempre na teletela, um objeto tecnológico que é uma espécie de TV que transmite imagens, mas também espia os cidadãos.

No romance, é sobretudo através da vigilância apertada e constante que o Partido consegue ter um controle tão grande na conduta dos indivíduos. Como resultado, surgiu o adjetivo “orwelliano" que descreve situações nas quais aqueles que estão no poder devassam a privacidade alheia, alegando que é uma questão de segurança.

Propaganda política e revisionismo histórico

O protagonista da narrativa é Winston Smith, um homem comum que trabalha para o Partido Externo, no Ministério da Verdade. Considerado um funcionário menor, o seu trabalho está relacionado com a propaganda política e a falsificação de documentos.

Smith é o responsável por adulterar os registros dos antigos jornais e artigos de opinião, reescrevendo a História segundo os interesses do governo. O objetivo é criar “buracos da memória”, ou seja, apagar a verdade sobre determinados assuntos.

Fazendo desaparecer os fatos históricos, o Partido pretende limitar o conhecimento dos cidadãos, manipulando os acontecimentos do passado. No entanto, Winston tem acesso às informações reais e, gradualmente, elas vão despertando a sua consciência.

Apesar de trabalhar diretamente para o governo, o protagonista vai ficando cada vez mais revoltado, mesmo sabendo que isso tratará sérios problemas no futuro. Aos poucos, ele começa a conspirar contra aquele regime, desejando que seja derrubado.

Amor e violência: tortura no Quarto 101

Com o passar do tempo, as ações do protagonista vão sendo monitoradas e seguidas pelo governo que começa a desconfiar dele. O'Brien, um dos antagonistas da história, é um colega de trabalho de Smith que é recrutado para vigiá-lo e conduzi-lo de volta à obediência.

Por outro lado, é no escritório que ele conhece Julia, uma mulher que partilha as mesmas visões e ideologias, embora também as esconda. É importante salientar que naquela sociedade o amor é proibido e os indivíduos apenas podem se relacionar para gerar novas vidas. Deste modo, a ligação que nasce entre os dois é criminosa desde a sua origem.

O casal resiste e tenta lutar junto contra o sistema, mas acaba falhando e indo parar na prisão. Nas mãos do Ministério do Amor (que era, na verdade, responsável pela tortura) eles conhecem o lado mais violento daquele regime.

O Quarto 101, apogeu do poder repressor do Partido, os indivíduos considerados desviantes são torturados com aquilo que mais temem. Smith é atormentado por ratos e embora se segure durante muito tempo, acaba cedendo á pressão e delatando Julia.

Nesta passagem, fica evidente a impossibilidade de criar laços e o modo como a solidão coletiva é usada como um jeito de fragilizar e dominar estes indivíduos.

Final do livro e transformação do protagonista

O objetivo do Partido não é eliminar os membros da resistência, mas sim conseguir convertê-los verdadeiramente, de modo a erradicar as ideias que eles defendem. Na verdade, depois de ser libertado, o protagonista está convertido, à custa do medo e da tortura.

Quando reencontra Julia, percebemos que ela também o denunciou no Quarto 101 e que o sentimento que os unia já não existe mais. Smith passa, assim, a ser um cidadão exemplar, cumprindo acriticamente todas as ordens e regras.

No final, quando olha a imagem do Grande Irmão, percebemos a sua fé no poder daquele sistema: a lavagem cerebral foi bem sucedida.

Enredo

A história tem Londres como cenário (na fictícia Oceânia). Tudo gira em torno do Grande Irmão. “Quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, o Big Brother é o líder  máximo. Assumiu o poder depois de uma guerra de escala global (análoga à Segunda Guerra, porém com mais explosões atômicas), que eliminou as nações e criou três grandes estados transcontinentais totalitários. A Oceânia reúne a ex-Inglaterra, as ex-Américas, ex-Austrália e Nova Zelândia e parte da África. É um mundo sombrio e opressivlugares públicos e nos recantos mais íntimos dos lares, elas são uma espécie de televisor capaz de monitorar, gravar e espionar a população, como um espelho duplo.  A intimidade era tão devassada ali quanto na casa do Projac que sediou a última edição do Big Brother Brasil. O protagonista é Winston Smith. Funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro ministérios que governam Oceânia,  sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico (prática, aliás, comum na União Soviética). 

A opressão era física e mental. A Polícia das Ideias atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. Relações amorosas estavam entre as muitas proibições.  Nesse cenário de submissão onde não há mais leis, mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido, ninguém nunca viu o Grande Irmão em pessoa. Uma sacada genial do autor: o tirano mais amedrontador é também aquele mais abstrato. 

Winston detesta o sistema, porém evita desafiá-lo além das páginas de seu diário. Isso muda quando se apaixona por Júlia, funcionária do Departamento de Ficção.  \O sentimento transgressor o faz acreditar que uma rebelião é possível. Mas combater o regime não é nada fácil. Enredada numa trama política, a “reeducação” dos amantes será brutal. 

Dedo-duro

Num episódio controverso (e não comprovado), Orwell entregou ao serviço secreto britânico, em 1949, uma lista de 130 simpatizantes do comunismo, entre eles J.B. Priestley e Charles Chaplin.... O autor foi procurado quando estava hospitalizado, tratando-se de uma tuberculose. Ele morreu no ano seguinte.

A obra do escritor é profética também sobre a questão da quebra de privacidade.  O avanço tecnológico permite um amplo monitoramento (dos satélites às microcâmeras). Em Nova York, a ONG New York Civil Liberties Union protesta hoje contra a existência de 40,76 câmeras instaladas popor quilômetro quadrado em Manhattan. Uma coisa, porém, Orwell não pôde antever: o gosto atual pelo exibicionismo/voyeurismo (o que vale tanto para a moçada do Big Brother quanto para certos usuários  do Youtube, Facebook e afins).

“As pessoas agora detestam acima de tudo o anonimato. Explorar o privado virou uma forma de participação pública”, diz a especialista em comunicação Cosette Castro, da... “Na obra de Orwell, é o governo que observa tudo através de câmeras – ele fala de autoritarismo e não de voyeurismo, como é nosso caso”, disse John de Mol, criador do Big Brother, numa entrevista à à revista VEJA. Mas Orwell faz questão de frisar que existe um nexo indissolúvel entre voyeurismo e totalitarismo. No livro, é evidente o prazer de O’Brien em imiscuir-se na vida dos outros. Em As Sombras do Amanhã, de 1945, o historiador Johann Huizinga demonstrou que uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia. Todo mundo gosta de um pouco dede fofoca e muitos ditadores já usaram isso a seu favor, para coletar informações sobre os cidadãos.

“Temos curiosidade de saber como o outro dorme, come, toma banho. O Big Brother propicia uma resposta a esse anseio”, diz Cosette. O fenômeno do reality show, que talvez tivesse escandalizado o  escritor, é mundial. No Brasil, faz sucesso há dez anos. “O reality show é um laboratório do qual a audiência também faz parte”, afirma Cosette Castro, referindo-se ao poder dos telespectadores de decidir o destino dos participantes dos programas. O Big Brother da ficção foi superado pelo Grande Irmão da realidade.

Teletelas 

“Viveremos uma era em que a liberdade de pensamento será de início um pecado mortal e mais tarde uma abstração sem sentido”, disse Orwell. As teletelas do livro são ferramentas de controle. Estão  em todo canto. Transmitem mensagens e monitoram ao mesmo tempo.

Novafala

No mundo de 1984, a língua ganha novos termos, e palavras antigas, novas acepções. A semântica é distorcida para criar um estado de torpor e confusão. Isso está expresso no lema do Partido úúnico: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força”. 

Grande Irmão

Ditador e líder do Partido. É dever da população amá-lo, embora nunca tenha sido visto em pessoa. Foi inspirado em Josef Stalin e representa o perigo do totalitarismo, junto com a  com a teletela. Nas ruas, cartazes mostram seu rosto e dizem “O Grande Irmão está de olho em você”. 

REFERENCIAS:


**guiadoestudante.abril.com.br/estudo/saiba-mais-sobre-o-livro-1984-de-george-orwell/

**culturagenial.com/1984-de-george-orwell-o-livro-explicado/#:~:text=Final%20do%20livro%20e%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20do%20protagonista&text=Smith%20passa%2C%20assim%2C%20a%20ser,lavagem%20cerebral%20foi%20bem%20sucedida.

Há 20 anos, um americano elaborou uma teoria sobre como nós podemos ser levados a pensar o que um grupo de pessoas quer que nós pensemo



Como todo bom começo, estamos aceitando contribuições, além das boas e velhas sugestões, críticas e comentários. Espero que gostem. Ou que pelo menos seja útil.

***

Pense bem antes de responder. Qual sua opinião sobre a legalização do aborto? A descriminalização das drogas? A privatização das universidades públicas? O casamento gay?

Essas e várias outras questões estão postas de alguma forma na sociedade brasileira atual e, provavelmente, você tem uma opinião mais ou menos fundamentada sobre cada um desses assuntos. Mas a pergunta que fica é: será que essa é verdadeiramente nossa opinião ou fomos levados a pensar assim?
Influências

Que as pautas vigentes na sociedade podem ser escolhidas pela imprensa, pelas propagandas, pelos políticos, pelos ativistas, etc, todos nós já sabemos. Mas uma teoria bem mais "recente" – de meados da década de 1990 – e suplementar veio nos mostrar que esses diversos atores sociais podem estar escolhendo não só o que pensamos, mas como.

O conceito foi elaborado por Joseph P. Overton e chamado de Janela. Mais tarde, assim como o Teorema de Pitágoras e as Leis de Newton, o termo assumiu a alcunha do autor e passamos a chamá-lo de Janela de Overton.


Resumidamente, ele estabeleceu que as opiniões sobre todos os assuntos podem ser enquadras num espectro alocado numa faixa que vai desde o absolutamente contrário até o absolutamente favorável. Esse espectro representa onde está alocada a opinião pública (ou da grande maioria dela) e passou a ser chamado de janela.






O conceito demonstra, por exemplo, quais tipos de posições são consideradas aceitáveis para aquela sociedade naquele momento. Nesse cenário, se uma figura pública deseja ser bem quista pela população (ou pela grande maioria dela), então suas opiniões devem variar apenas dentro dessa janela. Extrapolá-la pode significar rejeição.

Mas a teoria de Overton não se limitou a isso e provou que essa tal janela não só é mutável como manipulável. Explico.
Influenciadores

Por ações naturais, a nossa opinião e, consequentemente, do nosso coletivo muda. Compreender isso não é lá tão difícil, basta notar que a menos de 150 anos atrás a escravidão era legal.

O experimento, porém, mostrou também que, além das ações naturais, agentes podem interferir deliberadamente no deslocamento dessa janela e movê-la no sentido que desejarem ao influenciarem a opinião pública. A esses agentes – que podem ser desde políticos até youtubers –, Overton chamou de Think Tank, ou seja, aqueles que desviam o foco da questão principal e começam a pautar assuntos adjacentes para tornar o discurso mais aceitável até que a percepção das pessoas seja deslocada.

Esse jogo de influências foi se profissionalizando com o passar do tempo e hoje existe toda uma indústria de assessores de imprensa, publicitários, relações públicas, cientistas políticos, pesquisadores e tantos outras profissões que estão por aí tentando mover as diversas janelas de acordo com seus interesses – sejam eles louváveis ou não. A Janela de Overton se torna, assim, um conceito fundamental na nossa tentativa de entender melhor a complexidade da sociedade.

Usando o mesmo exemplo: em 1850 era um absurdo propor a libertação dos escravos no debate público da sociedade brasileira. Sabendo que mudar de um extremo ao outro seria muito difícil, primeiro foi proposto apenas a proibição do tráfico de negros. A aceitação a esse tópico específico foi maior e o resultado foi a aprovação da lei Eusébio de Queiroz. 21 anos depois, as opiniões foram novamente deslocadas e a lei do Ventre Livre conseguiu ser aprovada. Levaram mais 13 anos até que a lei dos Sexagenários tivesse o mesmo fim e só em 1888 a lei Áurea foi finalmente sancionada.






Nesse caso, portanto, levou quase 40 anos para que a Janela da escravidão no Brasil se deslocasse do absolutamente favorável ao absolutamente contrário (pelo menos no que diz respeito a lei).

Assim, vagarosamente, caminha a maior parte das discussões em tempos de paz em regimes democráticos. A Janela de Overton pode ser definida sem muito prejuízo como a zona de conforto das opiniões públicas.
Cuidados

Essa transformação intencional, porém, deve ser vista com algum cuidado e ratifica a importância de estar sempre questionando nossos princípios e as reais motivações dos temas colocados em pauta (e até dos que não estão colocados). O fato da janela ser manipulável ganha um agravante quando percebemos que ela se desloca por meio do debate público de ideias, mas que estas não precisam, sequer, ser verdadeiras.

Para ilustrar e seguir ao pé da letra a Lei de Godwin, vamos citar o caso do nazismo para encerrar o artigo.







“Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”

Joseph Goebbels – ministro da propaganda na Alemanha Nazista

A frase mais célebre do ministro da propaganda no governo nazista revela muita coisa. Os nazistas sabiam que para mudar as coisas era necessário, antes de mais nada, travar uma batalha no campo ideológico. Não foi a toa que foi criado um ministério da propaganda e que, assim, os nazistas conseguiram convencer os alemães (ou a maioria deles) de que a raça ariana era pura e superior.

Com essa mensagem bem difundida e consolidada, os nazistas facilitaram as coisas pra si. As pessoas foram se deslocando aos poucos do ponto radicalmente contrário ao extermínio de minorias para o apoio ao massacre promovido contra judeus, negros, ciganos, homossexuais, comunistas e assim por diante.

Perceber, portanto, que as batalhas começam a ser travadas no campo do discurso nos faz treinar um olhar mais amplo sobre as transformações pelas quais estamos passando. Ainda que o aspecto comercial seja predominante no mundo globalizado, eles têm um caráter menos decisivo do que outros tantos que também estão colocados como o político, o social, o econômico, o religioso, etc.

Com esses exemplos, fica evidente que a Janela de Overton é um conceito que pode ser igualmente utilizado para o bem ou para o mal. Conhecê-lo não rende nenhuma garantia de se tornar "imanipulável", mas como gosto de dizer, conhecer as regras do jogo torna ele muito mais fácil de jogar.
Unanimidades

Antes de terminar, uma última ressalva. Ao tomar conhecimento desse conceito e, caso você se interesse muito por ele, é preciso tomar cuidado para não cair no outro extremo da ingenuidade: as teorias da conspiração.

Para não começar a achar que simplesmente tudo que você vê, ouve ou pensa faz parte de um plano maior arquitetado por [insira aqui seu adversário], é preciso lembrar que algumas mudanças ocorrem apenas pelas suas próprias forças naturais. Além disso, mesmo algumas daquelas que são orquestradas podem ser benéficas, se o interesse for justo.

A dica é a mesma que todas as outras vezes: exercite a empatia. Procure pessoas com pontos de vista e argumentos diferentes (e distantes) dos seus. Ouça o que ele tem a dizer com atenção, sem tentar convencê-la. Quando você tiver dimensão de todos os atores e espectros de opiniões envolvidos na questão, ficará mais fácil descobrir os interesses por trás. Se assim for o seu caso, desconfie. Toda unanimidade é burra.

***

Tecla SAP é uma série de autoria de Breno França publicada quinzenalmente às quintas-feiras que se propõem a explicar ou traduzir conceitos complexos que estão presentes nas nossas vidas, mas não sabemos ou reconhecemos.

terça-feira, 30 de março de 2021

Petistas Magros não Lutam Sumô


Cedê Silva


A FORÇA DO PETISMO não está (obviamente) na sua capacidade de vencer discussões, mas de pautá-las.

Um petista sempre vai avaliar o adversário antes de escolher o esporte. Se você for magrelo como eu, o petista vai desafiá-lo para um duelo de sumô. Se for gordo e pesado, o petista vai querer competir com você na natação, ou talvez em uma maratona. Se você for bom de briga mas ruim da cabeça o petista te convida para uma amigável partida de xadrez; se for o contrário, para uma luta de boxe.

Como conquistaram a hegemonia nas redações, na universidade, nos sindicatos, nos “movimentos sociais” etc. os petistas possuem um imenso poder de agenda, de pauta, sempre deslocando-a em favor dos seus interesses.

Um exemplo recente: a Operação Carbono 14, deflagrada em uma sexta-feira (1º), trouxe à tona o incômodo caso Celso Daniel. Celso Daniel incomoda porque os mesmos petebas que berram “que se investigue tudo!” querem dar por encerrado um mistério que envolve, atenção, pelo menos sete OUTROS cadáveres. O caso também expõe diretamente a incoerência daqueles que cobram menos violência, mais moderação, etc. Ora, imaginem que um prefeito petista fosse assassinado hoje. Como reagiria o PT? Pediriam, corretamente, investigação, apuração, etc. custe o que custar, até tudo ser esclarecido. Porque isso não vale para Celso Daniel podemos apenas imaginar.

Quem acompanhou a sexta-feira na internet viu o silêncio geral dos petistas. Falavam de flores…

Mas um dia depois da Carbono 14 eis que surge a capa da IstoÉ. Bendita capa! Bendita foto! Os petistas se agarraram a ela com muito gosto. O assunto, a pauta, passou a ser a misoginia, o machismo, etc. Por que os petistas não falam da capa de VEJA, que além de ter circulação e audiência muito maiores sempre foi sua inimiga favorita? Porque VEJA, esta semana, traz na capa a foto de Celso Daniel, e isso não interessa. Petistas Magros Não Lutam Sumô: eles escolhem o esporte que mais lhes apetece, e é precisamente por isso, e apenas por isso, que vencem.

Dá na mesma quando um petista — ignorando total e completamente a delação do LÍDER DO GOVERNO DILMA NO SENADO, as declarações da Andrade Gutierrez ou tudo aquilo que Rui Falcão, Jaques Wagner, Mercadante e o faraó Lula disseram e está gravado — repercute aos mil ventos uma planilha da Odebrecht para a qual não existe uma só boa razão para faltar o nome de Dilma, cujo partido recebeu da empreiteira, só em 2013 (!), R$ 6 milhões declarados.

É por isso que digo que, quando um reaça diz “veja, até a Luciana Genro disse que…” ou “vejam, até a Marina Silva…”, ele já perdeu. Porque entregou a legitimidade de sua causa ou de sua agenda para uma terceira parte (ou, no caso destas duas personagens, para o Outro Lado mesmo).

***

Esta semana a internet está sendo acometida por uma nova onda. Pela coincidência de pautas entre os AstroTurfs de sempre, podemos notar que essa onda tem o carimbo ou pelo menos a anuência do Comando Central do Partido. Trata-se da “não perca amizades por política”, aí necessariamente entendido o “não brigue por causa de opiniões”.

A pauta interessa muitíssimo ao PT. Quando você está tomando uma surra dos fatos, um recurso interessante é mudar o esporte para uma saudável e amigável disputa de opiniões. Desta maneira, defender o governo vira uma mera questão de opinião, de gosto, um capricho, como escolher um time de futebol ou gostar de azeitona. Se é tudo questão de opinião, os fatos podem ser deixados de lado, como o cardápio logo depois que bons amigos escolhem o que pedir. E assim as comprovadíssimas pedaladas fiscais, o petrolão, o documento do Bessias, as promessas de Mercadante, a longuíssima delação de Delcídio, etc. etc. viram, quando muito, palpites, isso se forem lembrados.

Pelo menos dois jogos de tabuleiro reproduzem esta dinâmica. Em “Campaign Manager 2008”, o jogador deve deslocar o assunto em pauta em cada Estado — defesa ou economia — antes de amealhar os eleitores. Já em “Gym”, que será lançado no fim do ano, o jogador pode usar bullies — crianças ruins de esporte mas boas de confusão — para atrasar as competições nas olimpíadas da escola: dos seis eventos possíveis, apenas quatro serão realizados, sendo os outros dois cancelados pelas crianças marrentas.

A força do petismo está em seus bullies. 

UM partido que transformou um Pais Rico e próspero em uma nação de perversos e pervetidos. Os que escapam, são vítimas de.

 


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