George Orwell escreveu o livro já no final da sua vida, quando padecia de uma tuberculose e acabou falecendo alguns meses depois. Muitos acreditam que a obra se trata de um recado que o autor deixou para as gerações futuras.
Escrita no começo da Guerra Fria, a narrativa é fruto de um contexto histórico marcado pelas disputas políticas e ideológicas. O enredo apresenta as guerras constantes como uma forma premeditada de manter os privilegiados no topo, através da dominação das classes mais baixas.
No entanto, 1984 é, acima de tudo, um alerta sobre o poder que corrompe, formulado por um autor que viu a ascensão de vários regimes ditatoriais. Por outro lado, a obra deixa uma visão bastante negativa sobre aquilo que poderia ser o futuro da humanidade, caso ela viva em sociedades que misturam autoritarismo e tecnologia destinada à vigilância.
A história não termina bem, já que o protagonista acaba sendo derrotado no final, abrindo mão do seu pensamento revolucionário para poder sobreviver. No entanto, o enredo deixa transparecer uma réstia de esperança: mesmo nos sistemas mais repressivos, o espírito de rebelião e progresso social pode despertar em qualquer pessoa.
Uma distopia sobre o poder totalitário
Este é um romance distópico que descreve a existência sufocante dos indivíduos que vivem num sistema de opressão e autoritarismo. A história é passada num futuro não muito distante, no qual o mundo se encontra dividido por três grandes impérios que permanecem em guerra.
O maior dos impérios, o da Oceania, está sob o domínio de um governo autoritário designado de Partido. É aqui que a ação da obra se passa, ilustrando o cotidiano de censura e repressão daquela sociedade. Este sistema é bastante elitista, organizado por classes que cumprem diferentes funções e vivem com privilégios diferentes.
O Partido Interno é a classe mais alta e a que exerce uma maior autonomia. Já a classe média, o Partido Externo, é composta pelos cidadãos que trabalham para os governantes e a classe mais baixa é também a mais explorada.
Para poder controlar os indivíduos, o governo precisa padronizar as suas vidas e os seus comportamentos. Assim, a individualidade, a originalidade e a liberdade de expressão são considerados “crimes de pensamento” e perseguidos por uma força policial própria, a Polícia do Pensamento.
Na tentativa de apagar totalmente as ideias que eram consideradas subversivas, o Partido até começou a criar o seu próprio idioma, a novilíngua, para que elas não pudessem mais ser expressas.
Com “Liberdade é escravidão” como um dos seus lemas, este governo está disposto a tudo para manipular as mentes da população, usando as ideias mais absurdas. Isso se torna notório, por exemplo, num dos slogans do partido: “2+2=5”. Embora a equação fosse claramente falsa, todos deveriam acreditar nela, sem nenhuma espécie de sentido crítico.
A vigilância do Grande Irmão e da Teletela
Podemos classificar o tipo de regime apresentado na obra como uma autocracia, ou seja, um estilo de governo totalitário no qual o poder está concentrado em uma só pessoa.
Neste caso, o ditador é o líder supremo do Partido, intitulado de Grande Irmão. Embora ele surja como um homem, nunca chegamos a ter certeza se aquela figura existe mesmo ou é apenas uma representação simbólica da autoridade governamental.
Além de serem controlados por ele, os cidadãos também precisam prestar culto e adorar o seu retrato todos os dias. A foto surge sempre na teletela, um objeto tecnológico que é uma espécie de TV que transmite imagens, mas também espia os cidadãos.
No romance, é sobretudo através da vigilância apertada e constante que o Partido consegue ter um controle tão grande na conduta dos indivíduos. Como resultado, surgiu o adjetivo “orwelliano" que descreve situações nas quais aqueles que estão no poder devassam a privacidade alheia, alegando que é uma questão de segurança.
Propaganda política e revisionismo histórico
O protagonista da narrativa é Winston Smith, um homem comum que trabalha para o Partido Externo, no Ministério da Verdade. Considerado um funcionário menor, o seu trabalho está relacionado com a propaganda política e a falsificação de documentos.
Smith é o responsável por adulterar os registros dos antigos jornais e artigos de opinião, reescrevendo a História segundo os interesses do governo. O objetivo é criar “buracos da memória”, ou seja, apagar a verdade sobre determinados assuntos.
Fazendo desaparecer os fatos históricos, o Partido pretende limitar o conhecimento dos cidadãos, manipulando os acontecimentos do passado. No entanto, Winston tem acesso às informações reais e, gradualmente, elas vão despertando a sua consciência.
Apesar de trabalhar diretamente para o governo, o protagonista vai ficando cada vez mais revoltado, mesmo sabendo que isso tratará sérios problemas no futuro. Aos poucos, ele começa a conspirar contra aquele regime, desejando que seja derrubado.
Amor e violência: tortura no Quarto 101
Com o passar do tempo, as ações do protagonista vão sendo monitoradas e seguidas pelo governo que começa a desconfiar dele. O'Brien, um dos antagonistas da história, é um colega de trabalho de Smith que é recrutado para vigiá-lo e conduzi-lo de volta à obediência.
Por outro lado, é no escritório que ele conhece Julia, uma mulher que partilha as mesmas visões e ideologias, embora também as esconda. É importante salientar que naquela sociedade o amor é proibido e os indivíduos apenas podem se relacionar para gerar novas vidas. Deste modo, a ligação que nasce entre os dois é criminosa desde a sua origem.
O casal resiste e tenta lutar junto contra o sistema, mas acaba falhando e indo parar na prisão. Nas mãos do Ministério do Amor (que era, na verdade, responsável pela tortura) eles conhecem o lado mais violento daquele regime.
O Quarto 101, apogeu do poder repressor do Partido, os indivíduos considerados desviantes são torturados com aquilo que mais temem. Smith é atormentado por ratos e embora se segure durante muito tempo, acaba cedendo á pressão e delatando Julia.
Nesta passagem, fica evidente a impossibilidade de criar laços e o modo como a solidão coletiva é usada como um jeito de fragilizar e dominar estes indivíduos.
Final do livro e transformação do protagonista
O objetivo do Partido não é eliminar os membros da resistência, mas sim conseguir convertê-los verdadeiramente, de modo a erradicar as ideias que eles defendem. Na verdade, depois de ser libertado, o protagonista está convertido, à custa do medo e da tortura.
Quando reencontra Julia, percebemos que ela também o denunciou no Quarto 101 e que o sentimento que os unia já não existe mais. Smith passa, assim, a ser um cidadão exemplar, cumprindo acriticamente todas as ordens e regras.
No final, quando olha a imagem do Grande Irmão, percebemos a sua fé no poder daquele sistema: a lavagem cerebral foi bem sucedida.
Enredo
A história tem Londres como cenário (na fictícia Oceânia). Tudo gira em torno do Grande Irmão. “Quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, o Big Brother é o líder máximo. Assumiu o poder depois de uma guerra de escala global (análoga à Segunda Guerra, porém com mais explosões atômicas), que eliminou as nações e criou três grandes estados transcontinentais totalitários. A Oceânia reúne a ex-Inglaterra, as ex-Américas, ex-Austrália e Nova Zelândia e parte da África. É um mundo sombrio e opressivlugares públicos e nos recantos mais íntimos dos lares, elas são uma espécie de televisor capaz de monitorar, gravar e espionar a população, como um espelho duplo. A intimidade era tão devassada ali quanto na casa do Projac que sediou a última edição do Big Brother Brasil. O protagonista é Winston Smith. Funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro ministérios que governam Oceânia, sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico (prática, aliás, comum na União Soviética).
A opressão era física e mental. A Polícia das Ideias atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. Relações amorosas estavam entre as muitas proibições. Nesse cenário de submissão onde não há mais leis, mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido, ninguém nunca viu o Grande Irmão em pessoa. Uma sacada genial do autor: o tirano mais amedrontador é também aquele mais abstrato.
Winston detesta o sistema, porém evita desafiá-lo além das páginas de seu diário. Isso muda quando se apaixona por Júlia, funcionária do Departamento de Ficção. \O sentimento transgressor o faz acreditar que uma rebelião é possível. Mas combater o regime não é nada fácil. Enredada numa trama política, a “reeducação” dos amantes será brutal.
Dedo-duro
Num episódio controverso (e não comprovado), Orwell entregou ao serviço secreto britânico, em 1949, uma lista de 130 simpatizantes do comunismo, entre eles J.B. Priestley e Charles Chaplin.... O autor foi procurado quando estava hospitalizado, tratando-se de uma tuberculose. Ele morreu no ano seguinte.
A obra do escritor é profética também sobre a questão da quebra de privacidade. O avanço tecnológico permite um amplo monitoramento (dos satélites às microcâmeras). Em Nova York, a ONG New York Civil Liberties Union protesta hoje contra a existência de 40,76 câmeras instaladas popor quilômetro quadrado em Manhattan. Uma coisa, porém, Orwell não pôde antever: o gosto atual pelo exibicionismo/voyeurismo (o que vale tanto para a moçada do Big Brother quanto para certos usuários do Youtube, Facebook e afins).
“As pessoas agora detestam acima de tudo o anonimato. Explorar o privado virou uma forma de participação pública”, diz a especialista em comunicação Cosette Castro, da... “Na obra de Orwell, é o governo que observa tudo através de câmeras – ele fala de autoritarismo e não de voyeurismo, como é nosso caso”, disse John de Mol, criador do Big Brother, numa entrevista à à revista VEJA. Mas Orwell faz questão de frisar que existe um nexo indissolúvel entre voyeurismo e totalitarismo. No livro, é evidente o prazer de O’Brien em imiscuir-se na vida dos outros. Em As Sombras do Amanhã, de 1945, o historiador Johann Huizinga demonstrou que uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia. Todo mundo gosta de um pouco dede fofoca e muitos ditadores já usaram isso a seu favor, para coletar informações sobre os cidadãos.
“Temos curiosidade de saber como o outro dorme, come, toma banho. O Big Brother propicia uma resposta a esse anseio”, diz Cosette. O fenômeno do reality show, que talvez tivesse escandalizado o escritor, é mundial. No Brasil, faz sucesso há dez anos. “O reality show é um laboratório do qual a audiência também faz parte”, afirma Cosette Castro, referindo-se ao poder dos telespectadores de decidir o destino dos participantes dos programas. O Big Brother da ficção foi superado pelo Grande Irmão da realidade.
Teletelas
“Viveremos uma era em que a liberdade de pensamento será de início um pecado mortal e mais tarde uma abstração sem sentido”, disse Orwell. As teletelas do livro são ferramentas de controle. Estão em todo canto. Transmitem mensagens e monitoram ao mesmo tempo.
Novafala
No mundo de 1984, a língua ganha novos termos, e palavras antigas, novas acepções. A semântica é distorcida para criar um estado de torpor e confusão. Isso está expresso no lema do Partido úúnico: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força”.
Grande Irmão
Ditador e líder do Partido. É dever da população amá-lo, embora nunca tenha sido visto em pessoa. Foi inspirado em Josef Stalin e representa o perigo do totalitarismo, junto com a com a teletela. Nas ruas, cartazes mostram seu rosto e dizem “O Grande Irmão está de olho em você”.
REFERENCIAS:
**guiadoestudante.abril.com.br/estudo/saiba-mais-sobre-o-livro-1984-de-george-orwell/