Na quarta-feira à tarde, após o estadão.com.br revelar que
Agnelo, segundo a Polícia Federal, pedira um encontro com Cachoeira, o
governador disse que nunca estivera com o contraventor. Nessa quarta, voltou
atrás.
O encontro, segundo relato do porta-voz do governador, Ugo
Braga, 'ocorreu entre 2009 e 2010, ele não se lembra bem', numa reunião com
empresários da indústria farmacêutica, em Anápolis (GO). Na ocasião, Agnelo
diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e esse tipo de
reunião, explicou o porta-voz, 'fazia parte das rotinas do cargo'.
A PF levantou indícios de que Cachoeira fez doação de caixa
dois para a eleição do governador e depois passou a cobrar contrapartidas em
contratos para empresas ligadas à quadrilha.
'O governador foi apresentado a Cachoeira em 2009 ou 2010. Ele
não lembra com exatidão porque foi durante uma visita que ele fez a uma empresa
farmacêutica em Anápolis. Lá estavam vários empresários desse ramo', relatou o
assessor. A cidade, há 30 quilômetros de Goiânia, é o maior polo farmacêutico da
região. Lá funciona o laboratório Vitapan, que pertenceu a Cachoeira e hoje está
registrado em nome da ex-mulher dele.
Escuta. Em telefonema gravado pela PF em 16 de junho de 2011,
com autorização judicial, o sargento Idalberto Matias, o Dadá, avisa a Cachoeira
que foi procurado por João Carlos Feitosa Zunga, ex-subsecretário de Esportes e
funcionário do governo do DF. Zunga foi demitido ontem por Agnelo. O governador
já havia demitido o chefe de Gabinete, Cláudio Monteiro, e outro assessor,
também suspeitos de envolvimento com a quadrilha do contraventor.
Nessa quarta, Agnelo passou o dia dando satisfações à base
aliada. Ao final, arrancou um manifesto de apoio assinado por 19 dos 24
deputados distritais, filiados a 12 partidos. Encabeça a lista o deputado
Agaciel Maia (PTC), pivô do escândalo dos atos secretos do Senado, denunciado em
2009 em série de reportagens publicadas pelo Estado. Cauteloso, Maia não
divulgou a adesão na sua página na Internet, como fizeram os demais.
Araponga saiu em defesa do
'amigo'
Protógenes Queiroz
Flagrado em conversas comprometedoras com o araponga Idalberto
Matias de Araújo, o Dadá, operador do esquema de Carlinhos Cachoeira, o deputado
Protógenes Queiroz (PC do B-SP) disse ontem que manteve apenas conversas formais
com ele.
Apesar da tentativa do deputado de esconder sua proximidade com
Dadá, pelo menos duas interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal na
Operação Monte Carlo mostram que, da parte do braço direito do contraventor, a
situação era outra.
Dadá não apenas fala de sua amizade por Protógenes, como também
diz que chegou a se indispor com o então delegado da PF, Daniel Lorenz, para
defender o amigo. No grampo do dia 20 de dezembro de 2011, Dadá fala com o
policial civil Ventura sobre a nomeação de Lorenz para comandar o órgão.
O araponga diz que Lorenz 'é um cara bom', mas acrescenta: 'Meu
problema com ele é que ele queria que eu botasse o Protógenes na mão dele e esse
negócio é o seguinte, cara, você vai para vala com os amigos, né?'.
Em outra conversa, no dia 14 de janeiro do ano passado, Dadá
conta para um determinado Serjão que tentou arrumar emprego no gabinete de
Protógenes para uma ex-secretária do deputado Laerte Bessa (PMDB-DF), derrotado
na eleição: 'Aí eu liguei para o Protógenes, eu sou muito amigo do Protógenes.
Falei: Protógenes em seu gabinete como é que tá? Ele disse, tá fechado, não tem
jeito de botar mais ninguém'.
O diálog0 também chama a atenção por ser um dos poucos em que
Dadá fala o nome completo de Cláudio Monteiro, chefe de gabinete do governador
Agnelo Queiroz, que deixou o cargo na terça-feira para se defender da acusação
de receber propina para favorecer empresas.
Autor do requerimento para criação da CPI do Cachoeira,
Protógenes afirmou anteontem que os diálogos não o impediam de compor a
comissão, já que não tinham relação com o grupo de Cachoeira.
Delta tinha esquema para nomeações no DF
Depois de abastecer a campanha do governador Agnelo Queiroz
(DF), como indicam os grampos da Polícia Federal, a Delta Construções atuou no
governo do petista indicando ocupantes para cargos-chave, para manter sua
influência na administração.
Dona de 70% da coleta de lixo em Brasília, a empresa
apresentou, via emissários, lista de nomes ao secretário de Governo, Paulo
Tadeu, e emplacou seus aliados no Serviço de Limpeza Urbana (SLU), órgão que tem
a função de fiscalizá-la.
Paralelamente, a empreiteira acionava arapongas para levantar
informações de 'inimigos' na administração, com o objetivo de provocar sua
demissão.
Segundo conversas interceptadas pela Polícia Federal na
Operação Monte Carlo, a organização do contraventor Carlinhos Cachoeira, ligada
à empreiteira, tinha acesso privilegiado a documentos do governo, como as
nomeações, antes que elas saíssem no Diário Oficial do DF.
O interesse da empreiteira era alocar 'amigos' nos cargos de
comando do SLU, especialmente as Diretorias de Limpeza das regiões
administrativas. São elas as responsáveis por pagar pelos serviços de varrição e
recolhimento de entulho. Até o fim de 2011, as medições eram feitas por
estimativa. Com aliados nessas funções, a Delta tinha como garantir que o
cálculo lhe seria favorável.
Conforme o Estado revelou ontem, num dos grampos, de 31 de
março de 2011, o sargento Idalberto Matias, o Dadá, conversa com um funcionário
da Delta sobre o envio de relação de nomeados a Paulo Tadeu, numa negociação
intermediada pelo então chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, Cláudio
Monteiro: 'O Marcelão vai levar para o Cláudio Monteiro, para resolver esse
negócio aí, levar para o Paulo Tadeu, tirar esse pessoal aí e botar o pessoal
que a gente pediu'.
Horas antes, Marcelo Lopes, o Marcelão, ex-assessor da Casa
Militar do governo, explicava a Dadá que João Monteiro, na época diretor-geral
do SLU, negociaria indicações com Paulo Tadeu: 'O João Monteiro vai lá no Paulo
Tadeu para resolver o negócio da nomeação'. Dois dias depois, Dadá disse a Lopes
que aliado seu 'botou a mão' no CD com as nomeações.
Desafetos. O engenheiro Cláudio Abreu, então diretor regional
da Delta no Centro-Oeste, acionou Dadá para que investigasse desafetos no
Distrito Federal. Um dos alvos era Pedro Luiz Rennó, gestor de um dos contratos
da empresa no SLU. Em abril de 2011, Abreu cobrou de Dadá num telefonema: 'Você
tem de pegar o tal Pedro, filmar esse cara fazendo roubalheira. É isso o que
você tem de me dar'.
Procurado pelo Estado, o secretário Paulo Tadeu informou, por
sua assessoria, que nunca teve reuniões com Marcelo Lopes ou João Monteiro para
tratar de nomeações. Em nota, a Delta alegou desconhecer o teor dos relatórios
da PF e assegurou jamais ter solicitado qualquer pesquisa sobre a vida de
qualquer pessoa.