terça-feira, 25 de maio de 2021

A teoria dos seis graus de separação funciona mesmo no mundo real?


Felipe Ventura



Uma teoria bastante popular diz que cada indivíduo no mundo está a seis graus de qualquer outra pessoa. Ou seja, seriam necessários no máximo seis laços de amizade para você chegar a pessoas como Barack Obama, o papa ou o ator Kevin Bacon.

Um estudo do Facebook tenta desmentir essa teoria usando informações sobre os usuários da rede social – mas parece que eles esqueceram um detalhe crucial.

Vamos recapitular: a teoria dos seis graus de separação foi testada pelo sociólogo Stanley Milgram num estudo de 1967. No experimento, 300 participantes tinham que levar uma carta a um indivíduo específico (um corretor da bolsa em Boston) passando-a para pessoas que conhecessem alguém próximo a ele.

A carta passava, em média, por cinco pessoas antes de chegar ao destino, em um total de seis graus de separação. No entanto, havia um grande problema no teste: apenas 3% das cartas de fato chegaram ao destino.

Graus de separação na internet

Será que a teoria está errada? Para ter certeza, o sociólogo Duncan Watts tentou recriar o experimento na internet.

Em 2001, ele realizou um grande estudo conduzido por e-mail com 24.163 pessoas em 157 países. Cada uma delas tinha um “alvo” – um consultor de tecnologia na Índia, um policial na Austrália, entre outros – e precisava chegar até ele enviando um e-mail para seus conhecidos, que enviariam um e-mail para os conhecidos deles, e assim por diante.

O resultado: só 384 cadeias de e-mail (ou 1,6%) chegaram ao destinatário correto, com quatro graus de separação.

Ainda assim, usando técnicas estatísticas, Watts estimou que seriam necessários entre cinco e sete e-mails para chegar à pessoa-alvo. O psicólogo Earl Hunt explica isso no livro The mathematics of behavior:

Os pesquisadores assumiram que não existem pessoas isoladas no sistema de e-mail; qualquer pessoa pode chegar a qualquer outra pessoa se ela se esforçar o bastante. Cadeias acabam porque as pessoas perdem o interesse, não porque elas não podem pensar em alguém para enviar uma mensagem.

Para verificar esta hipótese, os pesquisadores enviaram um e-mail ao remetente que não conseguiu passar a mensagem para a frente. Menos de 1% das pessoas contatadas disse que não tinha para quem enviá-la. Aparentemente, elas simplesmente perderam o interesse.

O estudo de Watts conclui que, no início do milênio, estávamos em média a seis graus de separação – mas apenas se tivéssemos muito empenho em chegar a um alvo.

A natureza humana desempenha um papel importante na teoria dos seis graus de separação: se alguém não estiver disposto a apresentar você a uma celebridade, por exemplo, você não vai conhecê-la. Se as taxas de insucesso forem altas, a teoria cai por terra.

Era de se esperar que estudos posteriores levassem isso em conta, mas não foi o caso.

Em 2006, a Microsoft Research fez um estudo usando a rede de mensagens instantâneas do finado Messenger. Os pesquisadores Eric Horvitz e Jure Leskovec analisaram os registros de 30 bilhões de conversas entre 180 milhões de pessoas de todo o mundo – na época, isso era metade do tráfego global de mensagens instantâneas.

Eles concluíram que duas pessoas estavam, em média, a 6,6 graus de separação. Ou seja, elas poderiam ser ligadas por sete conhecidos ou menos. No entanto, o estudo não pediu que nenhum usuário enviasse mensagens para outro – foi uma conclusão teórica.

Facebook


O estudo recente do Facebook faz o mesmo. Eles analisaram a base de usuários e, sem enviar mensagens, concluíram: “cada pessoa no mundo (pelo menos entre os 1,59 bilhões de usuários ativos no Facebook) está ligada a todas as outras pessoas por uma média de 3,5 graus de separação”.

Então na verdade estamos a 3,5 graus de separação de outra pessoa? Bem, grupos que têm mais em comum serão obviamente mais conectados, e o estudo analisa um grupo específico: pessoas com acesso suficiente à internet, tempo livre e interesse em possuir uma conta no Facebook.

A própria rede social explica como, em tese, um usuário médio do Facebook está a poucos graus de separação de um milhão de pessoas:

Imagine um usuário com 100 amigos. Se cada um desses amigos também tiver 100 amigos, então o número de amigos-de-amigos será 10.000. Se cada um deles também tiver 100 amigos, o número de amigos-de-amigos-de-amigos será 1.000.000.

Mas, na prática, você não conseguiria falar com todo mundo. Ao não fazer um teste empírico – pedir para um grupo de usuários enviar mensagens para outras pessoas – o estudo não consegue provar muita coisa: em vez disso, ele é uma tentativa do Facebook de nos fazer pensar o site é uma parte fundamental da experiência humana.

A teoria dos seis graus de separação segue questionada. Sim, estamos cada vez mais conectados, isso é inegável. No entanto, mesmo com a magia da internet, o amigo do amigo do seu amigo nem sempre ajudará você a contatar alguém.

Imagem por Chris Potter/StockMonkeys.com/Flickr

Nenhum comentário:

Em Alta

Novo HamburgoRS - Hospital do RS fecha UTI e transfere pacientes após detectar superbactéria considerada uma das mais perigosas do mundo

Acinetobacter baumannii, espécie detectada no hospital do RS, foi listada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2024 como resistente a ...

Mais Lidas