Ontem o Fantástico denunciou casos de fantasmas que recebem salários. Em Cuiabá, diz a reportagem, uma auditoria na folha de pagamento da Secretaria de Fazenda de Mato Grosso encontrou 32 fantasmas. E 31 recebiam os salários, eram coniventes com a fraude. Nenhum deles jamais trabalhou na secretaria. Houve quem recebesse, em quatro anos, mais de um R$ 1 milhão. Total do prejuízo: quase R$13 milhões. A polícia começa a investigar a fraude. (
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Essa reportagem me lembrou da Assembléia Legislativa de MT. Um exemplo é o ‘empreendedorismo’ do cidadão Lucas Marques Gomes, que mesmo depois um mês morto e enterrado, ele constitui a empresa LM Gomes Gráfica, participou de uma licitação na Assembléia, venceu e recebeu. Relembre o caso na reportagem de Fábio Pannunzio:
Fábio Pannunzio: Os bandidos e a política de Mato Grosso
30 de agosto de 1999. Lucas Marques Gomes é enterrado numa cova simples do cemitério da Costa Verde, em Várzea Grande, Mato Grosso.
30 de setembro de 1999. Um mês depois de enterrado, Lucas Marques Gomes constitui uma empresa, a LM Gomes Gráfica. É o primero passo para que o cadáver ganhe uma “licitação” e passe a fornecer serviços para a Assembléia Legislativa de Mato Grosso.
No comando da Assembléia, o deputado José Geraldo Riva passa a mandar emitir cheques e a pagar religiosamente os “serviços” prestados pela gráfica do cadáver de Lucas na antevéspera do Natal, pouco antes da morte do prestador de serviço completar cinco meses. O valor do primeiro pagamento é de R$ 7 mil.
Daí em diante foram emitidos mais 65 cheques. Somados, os “serviços” prestados pelo morto chegaram a R$ 3,74 milhões. A maior parte dos saques foi feita na boca do caixa.
Os cheques compensados, invariavelmente, faziam uma escala em uma factoring muito conhecida pelos políticos matogrossenses. A empresa pertencia a um homem que era adulado pela politicalha cuiabana, que dela se valia para esquentar o dinheiro amealhado na corrupção. Pertencia a um dos maiores capos da máfia que controlava o tráfico de drogas, o jogo do bicho, o tráfico de armas no Centro-Oeste brasileiro. O nome dele é Arcanjo Ribeiro. Mas políticos como o deputado Riva, que pagava os serviços do morto, costumavam chamá-lo de Comendador, tamanha era a sua importância nas hostes matogrossenses.
O fantasma de Lucas e as empresas do Comendador Arcanjo eram peças centrais de um dos maiores esquemas de corrupção já montados no país. A máquina de desviar dinheiro, engendrada e mantida pelo poderoso José Geraldo Riva, constituia o “modus operandi” da quadrilha comandada pelo ainda presidente da AL/MT.
O impressionante é que, apesar de ter seu know-how desvendado pelo Ministério Público, Riva e seus comparsas conseguiram sobreviver a 118 processos, às ações do severo Ministério Público do Estado de Mato Grosso, às sentenças que já os condenaram quatro vezes.
Apesar de ter tido os direitos políticos cassados, de estar inelegível, de ter uma parte de seu vasto patrimônio tornada indisponível, de sequer poder assinar cheques emitidos pela Casa Legislativa que preside, Riva ainda é o político mais bajulado e poderoso de Mato Grosso.
O esquema para mantê-lo impune teve a participação efetiva de pelo menos quatro desembargadores, responsáveis pela construção de um couraça judicial que, até a semana passada, funcionava com um relógio.
Dois desses desembargadores foram cassados pelo CNJ. Outros dois serão igualmente premiados com a aposentadoria compulsória nas próximas semanas.
É o começo do fim da Era Riva, que o Ministério Público espera ver enjaulado brevemente — e pelos mesmo motivos que brindaram o governador José Roberto Arruda, da DF , com o status de presidiário.
A partir de hoje o Blog vai fazer uma série de matérias com o objetivo de desvelar a quadrilha chefiada por Riva. Você vai poder entender como esse tipo de tumor político produz metástases que se terminam por contaminar todo o sistema que deveria proteger a sociedade.