by Estadao
Relatório produzido pela Receita Federal durante as
investigações da Operação Monte Carlo revela que, além dos indícios de sonegação
fiscal e lavagem de dinheiro, a organização criminosa de Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, acumulou um patrimônio de cerca de R$ 30 milhões. Cachoeira
é um dos alvos da CPI criada pelo Congresso, cuja instalação está prevista para
quarta-feira.
Para a Receita, os valores são incompatíveis com a renda dos
integrantes do esquema que, segundo a Polícia Federal, explorava caça-níqueis e
contratos públicos em parceria com a Delta Construções. O relatório apresenta a
quebra de sigilo bancário, incluindo a análise das contas bancárias e das
declarações de imposto de renda.
Os auditores identificaram movimentações atípicas e ações
fiscais anteriores às investigações da PF. Segundo a Receita, Carlinhos deixava
todos os seus bens em nome da ex-mulher Andréia Aprigio de Sousa ou do
ex-cunhado Adriano Aprigio. 'Observa-se que os valores que circulam pelas contas
bancárias de Andréia não dão indícios de omissão de rendimentos' , dizem os
auditores. 'Pelo contrário, como em determinados anos eles ficam aquém do total
declarado, a única justificativa plausível seria de que parte dos rendimentos
seriam recebidos em espécie ou por outro meio que evitasse a circulação nas
próprias contas bancarias.'
A ex-mulher de Cachoeira declarou um patrimônio de R$ 9,8
milhões. Entre os bens há uma casa em Miami, uma fazenda de 165 hectares, um
avião Cessna, salas comerciais e apartamentos em Goiânia e no Rio. Andréia tem
registro de assalariada no laboratório Vitapan, que a PF diz pertencer, de fato,
a Cachoeira. O salário em 2010 era de R$ 12 mil.
Casas em Miami eram um dos investimentos preferidos de
Cachoeira. Escutas telefônicas mostram o contraventor negociando a compra de
imóveis na Florida. Ele negociava em dólares e em euros.
Cofre. A análise da Receita mostra que Carlinhos declara ser
dirigente, presidente e diretor de uma empresa industrial. Seus rendimentos
variavam entre R$ 60 mil e R$ 70 mil. Já seu patrimônio chegava a R$ 4,3
milhões. O contraventor informou ainda ter R$ 1,2 milhão em espécie no cofre de
sua casa.
'Não há indicação da origem de tais recursos. O contribuinte
possui baixa movimentação financeira, mas gastos relevantes com cartão de
crédito. Se houver pagamento das faturas é possível que seja com conta no
exterior', destaca a Receita. Segundo o relatório, uma das faturas de Andréia
chegou a R$ 51 mil.
Já o contador de Cachoeira, Geovani Pereira da Silva - que está
foragido -, apresentou movimentação financeira incompatível com o patrimônio. Em
2010, foram mais de R$ 4,3 milhões. Seus rendimentos, porém, não passaram de R$
21,3 mil.
O irmão de Cachoeira, Sebastião Ramos, também recebeu dinheiro
que não circulou nas suas contas bancárias. Em 2009, por exemplo, foram
declarados rendimentos de R$ 1,3 milhão, mas sua movimentação financeira naquele
ano foi de R$ 170 mil.
Bens. Até pouco tempo, o engenheiro Cláudio Dias Abreu era
apenas o diretor regional de uma grande construtora - a Delta. A Operação Monte
Carlo, no entanto, trouxe à tona um operador dos mais diversos negócios.
Abreu mantinha um patrimônio incompatível com seus
rendimentos. Em 2008, ele declarou ter recebido R$ 320,9 mil. Naquele mesmo ano,
o ex-diretor regional da Delta começou a construção de uma casa no condomínio
Alphaville, em Goiânia, e pediu um empréstimo para Rossine Aires Guimarães,
outro citado nas investigações, para finalizar a obra. O valor foi de R$ 950
mil. 'O patrimônio de Cláudio cresce acima dos rendimentos e passa de R$1,3
milhão para R$ 2,1 milhões', destacou a Receita.
Dentre os itens que determinaram o patrimônio descoberto estão
a aquisição de três salas comerciais em Palmas (TO), um apartamento em Caldas
Novas (GO), um veículo Mercedes ao custo de R$ 188 mil e outros sete imóveis
residenciais e comerciais, indicam os auditores. Abreu teria ainda quitado o
empréstimo com Rossine e obtido um novo crédito, de R$ 1,1 milhão. Os
rendimentos tributáveis recebidos por Abreu são todos da Delta.
Construções. No auto de prisão, ele afirmou receber R$ 100 mil
por mês, sendo R$ 35 mil da construtora.
A PF pediu o sequestro dos bens e o bloqueio das contas dos
envolvidos.
Advogado de Cachoeira, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos não
quis se pronunciar sobre o relatório da Receita. 'Não estamos falando sobre
questões pontuais. A investigação é sigilosa, as menções são descontextualizadas
e não tivemos acesso à integralidade dos autos.'