Humano, o animal que fala
Dizer que o humano é “o animal que fala” pode nos confundir com corvos ou papagaios; muito embora isto seja, em parte, verdade, não é esta a intenção desta crônica.
Ainda é difícil, para muitos, admitir que, por simbolizarem e tal processo ser algo artificial, os humanos não são seres naturais.
Seja como for, concordando ou não, não se pode negar que o ser humano simboliza.
Para quem ainda não entende o que seja este processo, vai aí um exemplo simples.
Numa primeira vez um humano, ao lidar com algo repugnante – provavelmente algo podre, de mau aspecto e fedorento – criou a palavra “nojo”.
Num segundo momento, já passado algum tempo, outra pessoa, já acostumada ao termo, pronunciou a palavra nojo ao se referir a alguém que lhe causava má impressão moral, ou seja, já não se tratava de alguém sujo fisicamente ou de aspecto que denominaríamos de nojento.
Este exemplo, que elejo como clássico, nos dá uma noção das possibilidades evolutivas dos símbolos, sendo que, além dos símbolos gestuais, há uma infinidade outros verbais.
Afirmar que somos apenas carne e osso seria reduzir-nos à condição animal, pois estaríamos desprezando o imponderável e mais valioso da evolução: nossa capacidade de pensar, imaginar, rir, chorar, elaborar e criar as coisas mais incríveis, inclusive fantasmas.
Se, por um lado, tal poder nos é proporcionado, por outro, vivemos no constante perigo de sermos atropelados ou manipulados por tal poder quando advindo de mentes inescrupulosas. Os governos, por exemplo, que são eles, em sua maioria, senão a manipulação das mentes distraídas: oferecem pão e circo e, junto, uma mentira, um inimigo fictício, uma guerra... Ao não percebermos a maldade incrustrada em tais mentes, fazemos seu jogo e... estamos agindo como idiotas...
Não é minha intenção chamar quem quer que seja de idiota, mas, em tempos idos,
confesso, já acreditei em governos corruptos, portanto visto a carapuça.
Errar, todos erramos, mau e persistir no erro; e, para persistir, novamente se recorre ao uso de palavras. Um animal, quando erra e percebe seu erro, num simples processo denominado “condicionamento” evita repetir o erro; já os humanos são capazes de inventar uma desculpa para continuar errando.
Não é incrível essa nossa capacidade de agirmos pior do que os animais?
Pior é que há, ainda, aquele indivíduo que, alertado para este fato, é capaz de rir da própria desgraça.
Sim, desgraça, pois não há imagem mais degradante do que a do prisioneiro psicológico.
Brincar com palavras é maravilhoso; porém, de um modo geral, as palavras devem ser levadas a sério, senão, por leviandade,
a canoa pode virar e você se afogar num mar de letras sem sentido.