Há 17 dias, o Núcleo de Inteligência da Polícia Federal enviou à Procuradoria Geral da República um relatório confidencial de 73 páginas. Adornado com 169 diálogos captados por meio de grampos telefônicos, o documento estabelece vínculos monetários entre a construtora Delta e o governador tucano de Goiás Marconi Perillo. No meio do caminho, como elo de ligação entre as partes, aparece o pós-bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Deve-se a divulgação do conteúdo da peça da PF aos repórteres Diego Escostecguy, Murilo Ramos e Marcelo Rocha. A tróica informa que, de acordo com os achados da PF, a Delta firmou um compromisso com Perillo: para receber faturas emitidas contra o governo de Goiás, a empreiteira dava dinheiro ao governador. A nebulosa operação de venda da casa de Perillo num condomínio chique de Goiânia fez parte do acerto.
A íntegra da notícia pode ser lida
aqui. Em essência, revela que, guiando-se pelos indícios colecionados ao longo da Operação Monte Carlo, a PF chegou a cinco conclusões:
1. Assim que assumiu o governo de Goiás, no ano passado, Perillo e a Delta fecharam, segundo a expressão da PF, um “compromisso”. Coisa intermediada por Cachoeira. Para que a Delta recebesse em dia o que o governo de Goiás lhe devia, teria de pagar Perillo.
2. O primeiro acerto envolveu a casa onde Perillo morava. Ele queria vender o imóvel e receber uma “diferença” de R$ 500 mil. Embora tenham regateado os valores, Cachoeira e a Delta toparam. Os pagamentos viriam por meio de cheques de laranjas, em três parcelas.
3. Perillo recebeu os cheques do esquema Cachoeira-Delta. Os pagamentos foram feitos entre março e maio do ano passado. O dinheiro fazia o seguinte caminho: saía das contas da Delta, passava por empresas fantasmas de Cachoeira e, só depois, chegava a Perillo. Na sequência, o governo de Goiás pagava as faturas à Delta.
4. A Delta entregou a um assessor de Perillo a “diferença” de R$ 500 mil embutida no valor da casa.
5. A direção nacional da Delta tinha conhecimento do acerto e autorizou os pagamentos.
Procurada, a Delta alegou desconhecer os elos de sua filial no Centro-Oeste com a turma de Cachoeira. Em nota, escreveu: “Empresas de construção civil que atuam no setor público, como a Delta, precisam zelar e velar pelo recebimento pontual e em dia dos compromissos assumidos a fim de não ocorrer solução de descontinuidade nas obras”. Acrescentou que tem prestado esclarecimentos necessários aos órgãos instituídos.
Perillo absteve-se de comentar os detalhes contidos no document da PF. Também emitiu uma nota. No texto, diz que “prestou, por meses a fio, todos os esclarecimentos solicitados pela imprensa, pela sociedade e pela CPI”. Criticou o deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira. Disse que o deputado quer transformar a CPI numa “comissão de investigação do governador Marconi Perillo”.
Acrescentou que, “no exaustivo crivo a que foi submetido, nenhum fato se encontrou que possa desabonar sua biografia de cidadão ou de homem público. Ao contrário, a Receita Federal, por exemplo, emitiu nota técnica na qual atesta que o patrimônio do governador é compatível com seus rendimentos.”
Portanto, finaliza a nota “o governador Marconi Perillo informa que, considerando já devidamente esclarecidos os assuntos de fato relevantes, não se pronunciará mais a respeito de questões atinentes a sua vida privada, reservando essa providência, como é natural, unicamente para os assuntos relacionados a suas atividades como governador do Estado.” Integrantes da CPI já falam em
reconvocar o governador.