Deise C. Engelmann
O termo resiliência está bastante em evidência no mundo corporativo.
Na verdade, esta é uma palavra que surgiu na Física, onde a resiliência é a capacidade que alguns materiais apresentam de voltar a sua forma original após serem submetidos à tensão máxima. Se pensarmos nos seres humanos, todos conhecemos pessoas que enfrentaram experiências avassaladoras e se recuperaram.
No mundo das organizações, a mudança das condições de mercado, a globalização, a redução dos recursos disponíveis (tempo, equipes, dinheiro, entre outros) e o aumento da competitividade tornam a resiliência uma competência essencial aos profissionais que querem ter destaque na vida profissional e pessoal. O mundo ficou mais complexo – basta assistir às notícias que os jornalistas nos trazem todos os dias.
O resiliente é aquele ser humano que consegue se recuperar frente às adversidades que enfrenta na existência, seja na vida profissional, seja na vida pessoal. É válido destacar que a pessoa resiliente não é aquela que é onipotente ou invulnerável, ou seja, que nada a atinge. É aquela que se sente atingida e que se recupera das situações difíceis.
A resiliência pode ser percebida em termos práticos, ou seja, é um comportamento observável. Os resilientes conseguem se manter serenos quando enfrentam a situação adversa e, mesmo com esse cenário desfavorável, conseguem encontrar alternativas, por vezes com muita criatividade, para resolver a situação ou, pelo menos, minimizar seus impactos negativos.
Se pensarmos na vida pessoal, podemos dizer, com absoluta certeza, que todas as pessoas já enfrentaram alguma situação adversa como, por exemplo, crise existencial ou financeira, alguma situação de violência, doença ou, até mesmo, morte de alguém querido. A diferença é que as pessoas que conseguem exercer a resiliência consideram as condições adversas como parte da vida e não como algo a ser evitado a qualquer custo. Os resilientes apresentam um comportamento de esperança e buscam aprender com a experiência, já que não tem como evita-la.
Habitualmente, os resilientes demonstram comportamentos de espiritualidade e valores conectados com um propósito de vida. Desta forma, encontram significado em torno das experiências que vivenciam como parte das lições da vida. Outra característica desses seres humanos é que eles focam o processo e abrem mão dos resultados. Os resilientes sabem que farão o melhor possível e que, no entanto, não têm a capacidade de controlar o mundo externo ou tais resultados. Desta forma, estes se mantêm em seu centro, com a esperança de que o melhor irá acontecer e que terão feito o que era possível.
Se pensarmos na coragem das pessoas que enfrentam uma doença incurável, verificaremos que àquelas que demonstram um comportamento resiliente buscam alternativas mesmo sem saber se o resultado será de um tempo de sobrevida ou não. E percebem que são capazes de contribuir com sua cura, mas, não de controlar seu destino ou tempo de vida – afinal, nenhum ser humano é. Os resilientes certamente sabem que não são onipotentes (de forma que possam superar tudo) e, ao mesmo tempo, não se sentem impotentes (de forma que não possam fazer nada para contribuir com a melhoria de uma determinada situação).
No mundo corporativo, a competência resiliência começa a ser uma das mais valorizadas nos profissionais, junto com a competência de liderar pessoas. Isso se deve às situações adversas que as organizações vivenciam todos os dias com mudanças constantes no mundo externo. Ter pessoas que consigam manter-se “centradas” frente aos grandes desafios está se tornando um grande diferencial competitivo tanto para profissionais como para organizações.
Sem qualquer dúvida, os profissionais resilientes serão muito valorizados pelas corporações no mundo todo nos próximos anos ou, quem sabe, décadas.
Se a resiliência é tão importante, como desenvolvê-la?
Podemos citar algumas possibilidades para o desenvolvimento desta competência:
Autoconhecimento: Refletir sobre situações onde o enfrentamento de situações difíceis foi possível ou o que bloqueia a capacidade de resiliência pode ser uma ótima alternativa. Atividades vivenciais relacionadas ao tema, coaching e/ou psicoterapia podem contribuir muito com o desenvolvimento desta competência. Os resilientes costumam desenvolver uma auto-imagem positiva justamente por terem conseguido ultrapassar obstáculos na vida, o que se transforma em autoconfiança. As situações adversas se tornam oportunidades de autoconhecimento.
Manutenção de relações afetivas saudáveis: Manter boas relações amorosas com família e amigos é uma das estratégias dos resilientes, pois estes conhecem a importância da “rede de proteção” no momento em que a tensão aumenta no mundo externo.
Comportamento de aceitação e gratidão: É comum ouvirmos relatos de pessoas que enfrentaram situações muito adversas e que se sentem gratas por estarem vivas. Isso acontece por terem percebido que àquela situação era transitória, que poderia ter sido muito pior e que as mudanças fazem parte da vida.
Hábito de cuidar de si mesmo: As pessoas resilientes têm como hábito o autocuidado como uma forma de criarem “reservas” emocionais, físicas e espirituais para quando tiverem que enfrentam questões difíceis. Quando os resilientes percebem que as condições externas tornam-se desfavoráveis, sempre que possível, reforçam as ações de autocuidado para ter energia e serenidade e enfrenta-las da melhor forma possível.
Prática de alguma forma de expressão de valores pessoais ou de espiritualidade: os resilientes, de forma geral, expressam alguma forma de crença ou espiritualidade que traga força interior e esperança no momento em que o cenário externo se torne complexo. Práticas como a meditação, oração ou outras formas de reverência são comuns entre os resilientes.
Expressão prática de ações para resolver ou gerenciar a situação adversa no momento presente: as pessoas resilientes não ficam sem ação frente à adversidade. Estas agem no mundo, da melhor forma, com serenidade e com o planejamento possíveis naquelas circunstâncias. A ação é sempre no momento presente com um sentimento de esperança em relação ao futuro.
Concluímos que a resiliência é, na verdade, perceber a vida como um caminho de aprendizagem e autoconhecimento. Ser resiliente é deixar de se sentir vítima das circunstâncias para perceber que a dor, as adversidades e as dúvidas são parte integrante da vida, que devem ser atravessadas com atitude positiva.