quinta-feira, 15 de maio de 2025

TBT 2013 - Cardeal que participou de eleição do Papa diz que pedofilia 'não é crime'

Para sul-africano, pedófilos 'são doentes' e não podem ser punidos.
Declarações causam indignação e revolta entre vítimas de abusos.

O arcebispo sul-africano Wilfrid Fox Napier, um dos 115 cardeais que participaram da eleição do novo papa, defendeu neste sábado (16) que a pedofilia seria uma "doença" psicológica, "não uma condição criminal", causando indignação entre especialistas e vítimas de abusos de sacerdotes da Igreja Católica.

Um dos 115 a participar do conclave que elegeu o Papa Francisco, o arcebisto sul-africano Wilfrid Fox Napier(Foto: Plinio Lepri / France Presse)

Em entrevista à Radio 5, da BBC, Napier disse que, no geral, pedófilos são pessoas que sofreram abusos quando eram crianças e por isso eles precisam ser examinados por médicos especializados.

"(A pedofilia) é uma condição psicológica, uma desordem", afirmou o arcebispo. "O que você faz com transtornos? Você tem que tentar consertá-los."

Napier disse que conhecia pelo menos dois sacerdotes pedófilos, que teriam sofrido abusos quando crianças.

"Se alguém 'normal' escolher quebrar a lei, sabendo que está quebrando a lei, então eu acho que precisa ser punido", disse.

"Agora não me diga que essas pessoas (pedófilos) são criminalmente responsáveis, como alguém que escolhe fazer algo assim. Eu não acho que você pode realmente tomar a posição de dizer que a pessoa mereça ser punida. Ele mesmo foi afetado (na infância)."

As declarações foram feitas em um momento em que a Igreja Católica está bastante abalada por causa dos escândalos de abusos sexuais cometidos por seus sacerdotes em diversos países.

Indignação
Os comentários de Napier foram amplamente criticados por especialistas, vítimas dos padres pedófilos e grupos de defesa dos direitos das crianças.

"Pode ser que (pedofilia) seja uma doença, mas também é um crime e os crimes são punidos. Os criminosos são responsabilizados pelo que fizeram e o que fazem", diz Barbara Dorries, que foi vítima de abusos por parte de um padre quando era criança e hoje trabalha para uma ONG com sede em Chicago que trata do tema.

"Os bispos e os cardeais contribuíram muito para que esses predadores seguissem em frente, sem serem presos, e também para manter esses segredos dentro da igreja."

Para Michael Walsh, que escreveu uma biografia do falecido papa João Paulo 2º, as declarações do cardeal Napier refletem uma posição que já foi comum na Igreja Católica no Reino Unido e nos Estados Unidos.

'Eles chegaram a acreditar que essa era uma condição que podia ser tratada. Muitos bispos simplesmente mudaram o lugar de atuação de seus sacerdotes e tentaram esconder o fato de que eles tinham cometido esses crimes', afirmou Walsh.

Marie Collins, outra vítima de abusos, acredita ser "terrível" o fato de um cardeal - integrante da alta hierarquia da Igreja - manifestar uma opinião desse tipo. "Ele ignora totalmente o lado da criança', diz.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Morre Divaldo Franco, um dos principais líderes espíritas do Brasil

Médium faleceu nesta terça-feira (13), em Salvador, aos 98 anos. Ele tratava um câncer na bexiga.

Divaldo Franco, médium e líder espírita — Foto: Imagem/TV Bahia

O médium e líder espírita Divaldo Franco morreu nesta terça-feira (13), aos 98 anos. A causa da morte ainda não informada, mas ele lutava contra um câncer na bexiga desde novembro do ano passado e, nesta noite, teve falência múltipla dos órgãos.

O óbito foi constatado às 21h45, quando Divaldo estava em sua casa, na sede da Mansão do Caminho, no bairro Pau da Lima. Ele recebia atendimento na modalidade home care.

Um ato aberto ao público será realizado das 9h às 20h de quarta-feira (14), no ginásio de esportes da Mansão do Caminho para que as pessoas prestem suas últimas homenagens. A pedido do médium, as cerimônias póstumas serão de curta duração, sem cortejo em carro aberto e o caixão permanecerá fechado. O sepultamento será às 10h de quinta (15), no Cemitério Bosque da Paz.

Reconhecido como um dos principais líderes religiosos do Brasil, Divaldo começou a tratar o tumor assim que descoberto, ainda em fase inicial. O tratamento foi feito com sessões de radioterapia associada a “pequenas doses” de quimioterapia.

Natural de Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, ele dedicou mais de 70 anos ao espiritismo. Colheu os frutos de todo esse trabalho ao se consagrar como uma das vozes mais respeitadas na área.

Morre Divaldo Franco, aos 98 anos — Foto: Mansão do Caminho

Sua trajetória começou a ganhar destaque em 1952, quando fundou a Mansão do Caminho, localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador. A entidade acolhe e educa milhares de crianças que antes viviam em condições de miséria extrema.

Depois, na década de 1960, iniciou a construção de escolas, oficinas profissionalizantes e atendimento médico, transformando a entidade em um grande complexo educacional. Até hoje, o espaço atende crianças, jovens e famílias inteiras de baixa renda, com atividades diversas, ensino fundamental e médio, cursos profissionalizantes e atendimento de saúde. Todo o trabalho é mantido com a venda dos livros mediúnicos e das gravações de palestras, seminários, entrevistas e mensagens do próprio Divaldo.

O médium também fez carreira como autor de mais de 250 livros, muitos deles psicografados a partir de histórias de diversos espíritos. Em 2015, ele ganhou uma biografia assinada pela jornalista Ana Landi.

Divaldo Franco não deixou filhos biológicos, mas era reconhecido como pai de cerca de 685 pessoas que acolheu e instruiu ao longo dos anos na entidade espírita.

Divaldo Franco e Chico Xavier — Foto: Mansão do Caminho

Mediunidade descoberta na infância

Nascido em 5 de maio de 1927, Divaldo Franco é o caçula de 12 irmãos. A biografia disponível na Mansão do Caminho conta que ele desenvolveu a mediunidade ainda na infância, mas sofreu com críticas e até surras dos pais que não entendiam e consideravam suas visões "demoníacas".

Com isso, seu contato inicial com o espiritismo foi difícil. Além da discriminação no meio familiar, Divaldo precisou lidar com visões perturbadoras e um espírito obsessor que o perseguia aos 7 anos.

A situação só melhorou anos depois, quando Divaldo enfrentou um problema de saúde que o deixou por meses acamado. Após recorrer a diversos médicos, a família enfim aceitou que uma médium o visitasse. Foi ela quem entendeu que ele era oprimido por um espírito e identificou sua mediunidade.


Histórico de internações e luta contra o câncer

Divaldo Franco volta a ser internado com infecção urinária — Foto: Mansão do Caminho

Em novembro de 2024, Divaldo Franco passou nove dias internado no Hospital São Rafael por conta dos desconfortos urinários — foi durante esse período que ele recebeu o diagnóstico de câncer na bexiga. O líder espírita recebeu alta hospitalar no dia 25 daquele mês, quando retornou para casa, no bairro de Pau da Lima.

O tratamento contra o câncer começou no dia 2 de dezembro. Na ocasião, o Centro Espírita Caminho da Redenção (CECR) e as Obras Sociais Mansão do Caminho informaram que a primeira fase seria realizada no ambulatório do Hospital Santa Izabel, em Salvador, sem necessidade de internamento.

Divaldo Franco lutava contra um câncer na bexiga desde novembro de 2024 — Foto: Mansão do Caminho

Nos 20 dias úteis seguintes, foram administradas sessões de radioterapia, com associação, em dias alternados, de pequenas doses de quimioterapia. Em meio a isso, Divaldo seguiu com acompanhamento de nutricionista e fisioterapeuta. Na época, a assessoria divulgou que o tumor de Divaldo era pequeno, localizado e não provocava dor.

Em fevereiro deste ano, Divaldo foi internado pela segunda vez. Ele passou oito dias no Hospital São Rafael, em Salvador, para tratar uma infecção urinária.

"O Centro Espírita Caminho da Redenção e a Mansão do Caminho têm a alegria de informar que o médium Divaldo Franco encontra-se em casa, com sua saúde plenamente recuperada e quadro clínico estável", disseram em nota compartilhada no Instagram. Ele seguiu com as sessões de fisioterapia e os cuidados nutricionais indicados, sendo assistido por uma equipe de homecare.

Líder espírita Divado Franco foi internado em Salvador

Câncer na bexiga

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), homens brancos e com idade avançada, como Divaldo, fazem parte do grupo com maior probabilidade de desenvolver esse tipo de tumor. A prevenção inclui não fumar — o tabagismo triplica o risco de câncer de bexiga — e evitar a exposição a derivados do petróleo, como tintas.

O Inca destaca que sintomas como sangue na urina, dor durante o ato de urinar e necessidade frequente de urinar, sem êxito, são sinais da doença. Pacientes que desenvolvem esses sintomas devem ser submetidos a exames para detectar ou descartar a presença de tumor.

Caso o diagnóstico seja confirmado, o tratamento segue e é variável, de acordo com o grau da doença. As possibilidades são cirurgia, radioterapia e quimioterapia — opção adotada pelos médicos que cuidavam do baiano. Os procedimentos podem ser feitos de modo isolado ou associados.

Divaldo Franco, líder espírita — Foto: Assessoria de Comunicação

Ex-presidente do Uruguai ‘Pepe’ Mujica morre aos 89 anos

Mujica foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e deixou legado progressista na política uruguaia



O ex-presidente do Uruguai, José Alberto “Pepe” Mujica Cordano, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo presidente uruguaio Yamandú Orsi. O ex-mandatário deixou um legado na política uruguaia por ser protagonista na transformação da Frente Ampla, hoje a principal coalizão de esquerda do país.

Segundo sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, Pepe estava “em situação terminal” e passava por cuidados paliativos. Mujica foi diagnosticado com câncer em abril de 2024 e passou por radioterapia até 16 de junho do ano passado, quando interrompeu o tratamento. Ele não participou das últimas eleições regionais, disputadas no último domingo (11).

Do sítio em que vive, na zona rural da capital Montevidéu, Mujica já havia falado sobre seu estado de saúde em entrevista publicada pelo jornal estadunidense The New York Times. Em uma espécie de despedida, ele disse à época: “está na hora de partir”.

“Fiz tratamento radiológico. Segundo os médicos, correu tudo bem, mas estou arrasado. A vida é bela. Com todas as suas reviravoltas, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque estou na hora de partir”, afirmou na ocasião.

Ele ainda votou no final do ano passado nas eleições presidenciais. Deu apoio ao candidato da Frente Ampla, Yamandú Orsi, que venceu o pleito e se tornou presidente do Uruguai.

Em janeiro deste ano, Mujica anunciou que estava com metástase hepática e não se submeteria a nenhum outro tratamento. Nesse período, com dificuldade de comer, foi submetido a uma cirurgia para colocar um stent no esôfago para se alimentar. Há algumas semanas, a situação piorou e o ex-presidente não conseguiu mais fazer atividades básicas.

Mujica havia deixado a internação para ficar em casa. Segundo a família, o espaço era mais “confortável” para o ex-presidente. Ele recebeu visitas de familiares e pessoas próximas. Uma dessas visitas foi de Alejandro Pacha Sánchez, secretário do presidente Yamandú Orsi, que disse: “Mujica sempre havia dito que queria chegar aos 90 anos”. O uruguaio faria aniversário em 20 de maio.
Apoio popular

Nos últimos dias, milhares de uruguaios manifestaram solidariedade ao ex-presidente. Mujica foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e ficou conhecido por ter tido uma política progressista. As principais medidas aprovadas em sua gestão foram a legalização da maconha e a permissão do casamento homoafetivo.

Essa política fez com que Mujica se tornasse uma figura popular não só dentro como fora do Uruguai. O ex-presidente integrou o Movimento de Participação Popular (MPP) de 1994 até 2025. O seu grupo político publicou uma mensagem em apoio a Mujica.

“Caro Pepe! Você sempre nos disse que faria campanha até o seu último dia. Você cumpriu sua promessa e sabemos que continuará a cumpri-la. Este grupo o apoiará até o fim”, diz o texto.
História de luta

A construção política de Mujica está muito ligada à sua infância. Mujica nasceu em 20 de maio de 1935 em Paso de la Arena, uma zona rural na região metropolitana de Montevidéu. Seu pai, Demetrio Mujica, era um pequeno agricultor e morreu quando Mujica tinha 4 anos. Sua mãe, Lucy Cordano, ficou responsável por cuidar de 2 filhos.

Estudou em uma escola pública desde pequeno, mas teve que conciliar com o trabalho a partir dos 6 anos, já que ajudava a mãe nos trabalhos de cultivo e venda de flores. A família tinha um terreno de 14 mil metros quadrados para a produção. Sua mãe tinha aprendido a cultivar flores com vizinhos japoneses que migraram fugindo da Segunda Guerra e viviam em uma colônia vizinha.

Mujica começou a estudar Direito no Instituto Alfredo Vásquez Acevedo (Iava), mas não concluiu os estudos e passou a focar na militância política. Integrou, a partir de 1956, o Partido Nacional, sigla tradicional da direita uruguaia. Nos anos 1960, Mujica radicaliza seu pensamento político e passa a fazer parte do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), em um momento em que trabalhadores passaram a reivindicar cada vez mais direitos e criticavam o modelo econômico baseado na exportação.

O grupo era uma guerrilha de tendência socialista que lutou contra a ditadura militar uruguaia, que durou de 1973 a 1985. Enquanto atuou pelo Tupamaros, Mujica foi preso três vezes. A primeira, em 1969, aconteceu logo depois de Mujica passar para a clandestinidade. Ele ajudou a organizar a tomada nos principais pontos da cidade de Pando. Neste movimento, ele foi preso e fugiu duas vezes do centro penal de Punta Carretas. A segunda em 1971.

A terceira vez foi em 1972 depois de um confronto armado. Nesta ocasião, ele ficou 13 anos preso, encarando a maior parte da ditadura militar da prisão. Mujica foi torturado e passou por humilhações em todo esse período. Ele e outros militantes do Tupamaros foram submetidos a condições de maus tratos, isolamentos e foram levados a celas superlotadas em diferentes partes do país. Receberam também ameaças de morte pelos militares se o Tupamaros retomasse as atividades fora dos presídios.

Mujica ficou 12 anos preso sem ser julgado. Anos mais tarde, sua detenção foi considerada pela Justiça uruguaia como uma prisão extrajudicial, o que ficou conhecido pelos militantes de esquerda como um “sequestro do ex-presidente”.
Saída da prisão e MPP

A liberdade para os militantes do Tupamaros foi decretada um ano depois do fim da ditadura, em 1984. Em 8 de março de 1985, Mujica deixou a prisão com a anistia aos presos políticos decretada pela Assembleia Nacional. O então líder de esquerda uruguaia anunciou o fim da luta armada pelo Tupamaros. Seu grupo então chega à conclusão de que o melhor era se somar à Frente Ampla, coalizão de esquerda criada em 1971.

O objetivo de Mujica naquele momento era conseguir um entendimento e uma conciliação com socialistas e comunistas para conseguir aglutinar essas forças dentro da Frente Ampla, mas sem suplantar a coalizão. Ele começou a falar em um socialismo “nacional”, “multipartidário”, “democrático” e “participativo”, em um claro aceno aos social-democratas.

A ideia de Mujica foi dominante naquele momento em uma disputa com antigos integrantes do Tupamaros, que reivindicavam uma postura mais radical, tendo como foco uma reforma agrária, nacionalização dos bancos e aumento imediato dos salários dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, ele se mudou para um pequeno lote em Rincon del Cerro com a sua última esposa, para trabalhar como agricultor.

Em 1986, durante o governo de Julio María Sanguinetti, Mujica foi uma das principais vozes da oposição que conseguiu derrubar a Lei de Caducidade das Pretensões Punitivas do Estado, que pretendia dar uma anistia aos militares responsáveis pelos principais crimes cometidos pela ditadura. A lei foi derrotada em referendo em 1989.

Ele então formou o Movimento de Participação Popular (MPP), que se tornou uma ala mais à esquerda da Frente Ampla, unindo o próprio Tupamaros, PST e outros grupos menores: Partido para a Vitória do Povo (PVP, pró-anarquista), o Movimento Revolucionário do Leste (MRO, guevarista) e o Partido Comunista Revolucionário (PCR, marxista-leninista-maoista).

Ele não participou das eleições de 1989 e o MPP ficou apenas como a 4ª sigla mais votada da Frente Ampla. Mujica então passou a focar no Espacio 609, grupo dentro da Frente Ampla para tentar atrair militantes que deixavam os partidos tradicionais.

Em 1994, ele foi eleito pela primeira vez como deputado pelo MPP. Na ocasião, a esquerda uruguaia conseguiu disputar de igual para igual o Congresso e ainda deu o terceiro lugar nas presidenciais ao socialista e prefeito de Montevidéu Tabaré Vázquez Rosas. Ele recebeu 621 mil votos, 35 mil votos a menos que o candidato vencedor, Sanguinetti.

Mujica ganhou projeção como deputado e em 1999 foi eleito senador. A Frente Ampla apresentava naquele momento um forte crescimento não só eleitoral, mas também político entre as bases. Ele e Tabaré Vázquez trabalham para fortalecer ainda mais esse processo interno para conseguir ganhar a presidência em 2004. Neste ano, Mujica foi reeleito senador e Vázquez venceu a disputa presidencial, consolidando a força da Frente Ampla naquele momento.
Ministro e eleição

No governo Vázquez, Mujica foi nomeado ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. Mesmo eleito como senador mais votado do Uruguai, ele deixa o cargo de presidente da Assembleia para assumir o posto no governo. Quem ocupa o seu lugar no Legislativo é justamente sua companheira, Lucía Topolansky.

Nesse momento, o então ministro conseguiu aumentar a exportação de carne uruguaia – um dos produtos mais importantes dentro das exportações uruguaias – em um contexto de maior demanda global por commodities, movimento que ficou conhecido como boom das commodities. O principal mercado naquele momento era o asiático e especialmente o chinês.

Ele também implementa uma política de redução de preços dos cortes mais consumidos pelos uruguaios de carnes bovinas. Essa manobra deu resultado e a medida ficou conhecida como El asado del Pepe. Tudo isso aumentou a popularidade de Mujica, que passava a ser visto cada vez mais como um político “autêntico” e sem amarras estéticas dos políticos tradicionais. O terno e a gravata, por exemplo, nunca fizeram parte do vestuário do então ministro.

Em 2005 ele também se casa com Lucía Topolansky, formalizando uma relação que já havia sido construída. Dois anos mais tarde, ele faz parte da comissão que recebeu o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que passou por Montevidéu em viagem pela América do Sul. Mujica negociou acordos para a compra de carne pelos estadunidenses e foi criticado pela militância. Na ocasião, ele respondeu:

“Se eu não fosse ministro, estaria me manifestando, mas negociar não é vender a alma ou mudar de ideia, é chegar a acordos”.

Em março de 2008, Vázquez promove uma reforma ministerial. Mujica deixa o cargo e volta a ocupar sua cadeira no Senado. Ao final daquele ano, Mujica venceu as primárias da Frente Ampla e assumiu o que seria a candidatura para as eleições presidenciais de 2009. O candidato lançou sua candidatura com o lema Um Presidente para Todos.

Seu grupo teve apoio do MPP, PCU, PVP, Compromisso da Frente Ampla (Confa), Corrente de Ação e Liberdade de Pensamento (CAP-L, uma dissidência do MPP) e do Partido pela Seguridade Social (PPSS). Ele enfrentaria como principal oponente Luis Alberto Lacalle do Partido Nacional.

Sua campanha foi focada em investimento e uma tranformação na educação. Ele coloca também como proposta um “modelo agrícola inteligente”, além da criação de um polo regional de alta tecnologia, para atrair investimentos estrangeiros. Na área fiscal, Mujica propõe manter o Imposto de Renda para a Pessoa Física e o Imposto da Previdência Social para os contribuintes. A proposta de Lacalle era acabar com essas ferramentas de arrecadação.

Ele deixou claro durante a campanha que negociaria com os mais diversos setores. Naquele momento, Mujica afirmou que sua referência na região era o então presidente brasileiro Lula e não o venezuelano Hugo Chávez. Essa oposição de ideias também voltou à tona quando se tornou presidente. O uruguaio disse que poderia “admirar” a revolução bolivariana, mas que esse não era “o caminho que ele escolheria”.

Mujica venceu com 47,9% dos votos, mas não evitou o segundo turno com Lacalle, que recebeu 29,1%. Um mês depois, o candidato da Frente Ampla foi eleito com 52,4% dos votos.

Editado por: Lucas Estanislau

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Grupo de advogados é alvo de operação no RS por fraudes processuais


Grupo é investigado por sistema fraudulento responsável por mais de 145 mil ações judiciais, sendo 112 mil no Rio Grande do Sul e 30 mil em São Paulo.

Na última quinta-feira, 8, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, deflagrou a operação Malus Doctor, visando desarticular grupo criminoso de advogados responsável por fraudes processuais cometidas em todo o país contra instituições financeiras e pessoas físicas.

Durante a investigação, a polícia descobriu a existência de um sistema fraudulento responsável por mais de 145 mil ações judiciais, sendo 112 mil no Rio Grande do Sul e 30 mil em São Paulo.

Grupo de advogados é alvo de operação por fraudes processuais em todo o país.(Imagem: Agência Enquadrar/Folhapress)

O esquema operava por meio de procurações falsas obtidas sem o conhecimento dos supostos clientes. Eles eram convencidos de que receberiam valores por revisões judiciais de empréstimos consignados.

No entanto, segundo o diretor da DPR/PA - delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre/RS, delegado Rodrigo Bozzetto, esses novos empréstimos eram contratados sem o consentimento das vítimas, que só percebiam a fraude ao notarem descontos indevidos em seus benefícios previdenciários.

Aproveitando-se da situação de vulnerabilidade das vítimas, os suspeitos prometiam revisão judicial de cobranças abusivas dos empréstimos, mediante pagamento de 30% de honorários sobre os valores "recuperados", que eram, na realidade, oriundos das contratações fraudulentas.

Ainda, muitas vítimas sequer sabiam que ações haviam sido ajuizadas. Uma delas afirmou desconhecer mais de 30 processos movidos em seu nome por um dos investigados. Em casos mais graves, ações foram ajuizadas em nome de pessoas já falecidas, com uso de procurações datadas após a morte dos supostos outorgantes.

O principal investigado seria responsável por 47% de todas as ações contra bancos na Justiça gaúcha, figurando como o quinto maior litigante do Estado.

Nota da OAB

Em nota, a OAB/RS prestou os seguintes esclarecimentos:

1 - Tão logo teve ciência das denúncias na manhã desta quinta-feira (8/5), a Ordem solicitou cópia do inquérito e está examinando os elementos que poderão ensejar a suspensão cautelar imediata do exercício profissional, como medida preventiva e de proteção à dignidade da advocacia e da sociedade.

2 - A presidência da OAB/RS entrou em contato com a Polícia Civil e acompanha desde já o andamento das investigações.

3 - A atual gestão da OAB/RS tem atuado de forma efetiva no âmbito do Tribunal de Ética e Disciplina, processando e julgando todos os casos que chegam ao conhecimento da instituição, a partir da ampliação da estrutura do TED, saindo de 11 para 17 Turmas Julgadoras. De 2022 até o momento, 595 advogados foram suspensos e 16 foram excluídos dos quadros da Ordem, evidenciando o firme compromisso institucional com a ética profissional, em defesa da própria advocacia.

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