sábado, 5 de julho de 2014

Holanda tira a chata Costa Rica nos pênaltis e joga a semi

A zebra da Copa veio à Fonte Nova para se defender. Arrastou o 0 a 0 até o fim, mas perdeu duas cobranças, defendidas por goleiro que entrou só para a série

Giancarlo Lepiani, de Salvador
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Jogadores da Holanda comemoram pênalti contra a Costa Rica, durante partida em Salvador
Jogadores da Holanda comemoram pênalti contra a Costa Rica, durante partida em Salvador - Ivan Pacheco/VEJA.com
Van Gaal surpreendeu e colocou o goleiro Krul no lugar do titular Cillessen especificamente para as cobranças de pênaltis. Deu certo: ele defendeu as cobranças de Ruiz e Umana
Brasil, Alemanha, Argentina e Holanda: são essas as equipes que ainda sonham com o título na Copa do Mundo. A seleção laranja foi a última a garantir sua vaga entre as quatro melhores, de forma sofrida, nos pênaltis, contra a Costa Rica, neste sábado, na Fonte Nova. Apesar da torcida alegre, a seleção da América Central já vai tarde para casa: a equipe veio a Salvador pensando só em não levar o gol. A retranca e a catimba foram castigadas com uma derrota nos pênaltis, depois do 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação. Nas cobranças alternadas, vitória holandesa por 4 a 3, com destaque para o goleiro reserva Tim Krul, que entrou especificamente para defender os pênaltis. Os holandeses jamais haviam vencido em caso de prorrogação na Copa (perderam três vezes no tempo extra e uma nos pênaltis, para o Brasil, na semi de 1998). A Holanda agora se prepara para viajar a São Paulo, onde encara a Argentina, na quarta-feira, no Itaquerão, para decidir quem vai à final no dia 13, no Maracanã. Será o quinto confronto entre as equipes em Mundiais, e os holandeses têm a vantagem: venceram duas vezes, empataram uma e perderam outra. Há 40 anos, no Mundial de 1974, a Laranja Mecânica registrou a maior goleada do confronto: 4 a 0, com eliminação argentina do torneio. Os sul-americanos se vingaram na Copa seguinte, batendo a Holanda na decisão, em Buenos Aires, por 3 a 1. Quem sair desse duelo pega o vencedor de Brasil x Alemanha, que jogam na terça.
Ataque contra defesa - Como o confronto colocava frente a frente um time que marcou doze vezes em cinco jogos e outro que sofreu apenas dois gols na campanha inteira, não era difícil de se prever como as equipes se comportariam. O primeiro tempo foi quase todo de duelo entre ataque holandês contra defesa costarriquenha, deixando a partida morna e até monótona em alguns momentos. A Holanda era a dona do jogo, mas não conseguia furar a retranca da Costa Rica e era incapaz de criar chances de gol. Em maioria na Fonte Nova e contando com a simpatia de muitos brasileiros, a torcida da equipe da América Central era mais animada e barulhenta, vaiando o domínio de jogo ineficaz dos europeus. Os holandeses pareciam não encontrar inspiração para o passe final e para preparar suas conclusões a gol. Os costarriquenhos eram pacientes e tentavam jogar no erro do adversário, apostando sempre no contragolpe. As primeiras boas chances dos holandeses vieram aos 21 minutos, quando Van Persie recebeu na área e chutou sobre o goleiro Navas; no rebote, foi a vez de Sneijder tentar, e Navas agarrou. Os holandeses intensificavam a pressão, mas o organizado e disciplinado sistema defensivo da Costa Rica suportava bem.
Aos 28, Navas, que chegou às quartas como o goleiro com melhor índice de defesas da competição (bloqueou 88% das finalizações contra seu gol), voltou a salvar a surpresa da Copa: após chute rasteiro de Memphis Depay, ele rebateu com o pé. Aos 33, a Costa Rica também assustou, com Borges tentando finalizar numa bola alçada sobre a área holandesa, mas tratou-se de um lance isolado: os zagueiros europeus quase não trabalharam. Aos 37, Navas voltou a brilhar, voando para defender falta muito bem cobrada por Sneijder. Os holandeses cercavam a área costarriquenha e trocavam passes de forma incansável à espera de uma brecha, mas não a encontravam. A zebra do Mundial parecia disposta a derrubar a média de gols da Fonte Nova – o estádio baiano, que recebeu sua última partida no torneio neste sábado, foi o palco das principais goleadas da competição, com 24 bolas na rede em seus cinco primeiros jogos. A Holanda – que chegou às quartas como equipe com maior precisão de finalizações na Copa, com 66% de acerto – terminou a primeira etapa com todos os seus quatro chutes no alvo, e todos defendidos pelo confiante Navas, que defende o Levante, da Espanha. Os holandeses tinham 69% da posse de bola, contra apenas 31% dos costarriquenhos.
Retranca - Mesmo valendo um lugar entre os quatro melhores times da Copa, a partida teve um início de segundo tempo morno, com muita briga no meio de campo e poucas oportunidades de gol. A primeira tentativa holandesa veio aos 7 minutos, em jogada ensaiada na cobrança de falta de Robben para Sneijder, que isolou pelo alto. Aos 14, numa rara chegada dos costarriquenhos, o atacante Campbell ficou pedindo pênalti após dividida com a zaga. O árbitro usbeque Ravshan Irmatov, que apitava sua nona partida de Copa, um recorde, mandou o jogo seguir. O tempo passava e os holandeses davam sinais de impaciência. Aos 20 minutos, Campbell deu lugar a Urena. Com fôlego novo no ataque, a estratégia costarriquenha parecia dar certo, já que a equipe laranja, frustrada com o bloqueio defensivo do oponente, cometia mais erros e também passava a ser atacada. O técnico Louis Van Gaal decidiu mexer, trocando Memphis Depay por Jeremain Lens. O treinador colombiano da Costa Rica, Jorge Luís Pinto, respondeu trocando Gamboa por Myrie. Mas quem quase decidiu o jogo foi o recordista de partidas de Copa pela Holanda, Sneijder, que acertou a trave cobrando falta com categoria, aos 37. No minuto seguinte, Navas fez outra incrível defesa, rebatendo uma bomba de Van Persie.
Robben, o melhor jogador da Holanda na Copa, tentava desequilibrar de novo, apostando nas jogadas individuais, mas sempre parava nos marcadores, fosse com falta ou desarme. Já nos acréscimos, outro milagre da defesa costarriquenha: Van Persie aproveitou a sobra de um cruzamento e bateu cruzado, com endereço certo, mas Tejeda tirou sobre a linha. Pela segunda partida consecutiva, a equipe de Jorge Luís Pinto levava a decisão para a prorrogação. A Holanda bombardeou desde o início do tempo extra: logo aos 3 minutos, o zagueiro Vlaar fez Navas brilhar novamente, defendendo uma ótima cabeçada. A equipe laranja voltava a dar sinais de impaciência e afobação. Enquanto isso, a Costa Rica só queria epserar o tempo passar, sonhando em repetir a classificação contra a Grêcia, nos pênaltis. Depois da primeira metade da prorrogação, Van Gaal colocou mais um atacante, Huntelaar, no lugar de Martins Indi. A Costa Rica já nem fingia mais querer o jogo, e depositava todas as suas fichas no talento de Navas nos pênaltis. Aos 5, Huntelaar levou amarelo por golpear o rosto do goleiro num cruzamento. Navas aproveitou para gastar mais um bom tempo recebendo atendimento médico. Aos 12 da segunda etapa da prorrogação, Sneijder voltou a acertar o travessão, num lindo chute colocado. No último minuto, Van Gaal surpreendeu e colocou o goleiro Krul, alto e de grande envergadura, no lugar do titular Cillessen, especificamente para as cobranças de pênaltis. Deu certo: ele defendeu as cobranças de Ruiz e Umana. Van Persie, Robben, Sneijder e Kuyt converteram seus pênaltis e definiram a vitória holandesa.
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Torcedores beijam a taça da Copa do Mundo de Futebol, durante partida entre Holanda e Costa Rica, na arena Fonte Nova, em Salvador
Torcedores beijam a taça da Copa do Mundo de Futebol, durante partida entre Holanda e Costa Rica, na arena Fonte Nova, em Salvador - Ivan Pacheco/VEJA.com
by Veja

O absurdo conflito de interesses no trabalho de Ronaldo como comentarista da Globo

Eles
Eles
 “A Copa do Mundo é um grande negócio e irá deixar legado importante. Vamos mostrar isso para essa minoria que é contra o torneio”.
Este era Ronaldo em fevereiro.
“Eu me sinto envergonhado”.
Este é Ronaldo hoje.
O que mudou?
Nada. Ronaldo é o mesmo. Se alguém já saiu ganhando com a Copa, qualquer que seja o resultado, é ele. De apoiador entusiasmado a crítico contumaz do evento, ele sente como o vento sopra e corre atrás.
O que perde com isso? Por enquanto, nada. Pelo contrário, é chancelado. Ronaldo, sabe-se há um tempo, será comentarista da Globo, num conflito de interesses absurdo. Quando, em circunstâncias normais, um membro do Comitê Organizador Local, órgão ligado à CBF e à Fifa, poderia dar pitacos se é parte interessada?
Sua empresa, a 9ine, agencia Neymar. É nula a possibilidade de um acordo para ele se calar a cada vez que Neymar pegar na bola.
A 9ine representa a Marfinite, que forneceu as cadeiras para o Itaquerão, a Fonte Nova e a Arena Grêmio. O grafite do avião da seleção, feito pelos Gêmeos, também é uma ação da 9ine, que tem a Gol como cliente.
Estes são alguns dos acordos que se tornaram públicos. Certamente há outros.
Jornalistas da Globo não podem — ao menos em tese –, declarar apoio a políticos. Ronaldo, que avisou que estará com Aécio, não precisou obedecer essa norma. A justificativa é a de que Ronaldo é “convidado”. Convidado, portanto, pode tudo.
Sua pretensa indignação, agora, é como a de Joana Havelange. É como se ambos fossem gandulas e não diretores da Fifa. São casos impressionantes de esperteza às avessas.
Ronaldo é ele mesmo um belo quinhão dos problemas que aponta. O casamento com a Globo é o coroamento dessa estratégia macunaímica de sempre se dar bem. É chamar o torcedor de otário na cara dura.
Como diz aquele velho slogan, eles têm tudo a ver.
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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