quinta-feira, 5 de julho de 2012

Nota do Fórum Permanente de Solidariedade as Ocupações de Belo Horizonte




Na manhã de 11 de maio de 2012, a Polícia Militar de Minas Gerais, de forma truculenta, executou uma ação de despejo na Ocupação Eliana Silva no Barreiro em Belo Horizonte. Iniciada em 21 de abril de 2012 e organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vila e Favelas, a Ocupação Eliana Silva se formou como um novo foco da luta pela moradia em Minas Gerais. No entanto, nesta sexta-feira, dia 11 de maio, moradores e apoiadores da ocupação testemunharam a face mais cruel e impiedosa da prefeitura de Belo Horizonte. A mão violenta do braço forte do Estado burguês pesou mais uma vez sobre o pobre, negro e trabalhador. Esse Estado jogou ao frio das ruas, ao relento da marginalidade, pais, mães e filhos que buscavam o que lhe eram legítimo, o direito a moradia.

Qual seria a maior contradição dessa ação policial tendo em posse um mandato judicial solicitado pela Prefeitura? Um Estado que usa seu aparato orgânico para descumprir os direitos e leis básicas humanas? Ou uma investida do poder público contra a base social a serviço de interesses individuais particulares ou mesmo politiqueiros? Ressaltamos aqui que a ação de reintegração de posse expedida pela juíza Luiza Divina, da 6° Vara da Fazenda Municipal, foi emitida mesmo sem a comprovação da posse do terreno pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, mostrando uma total arbitrariedade de ações e decisões.

Os que estavam presentes durante a desocupação – integrantes do Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações de BH, formado por moradores de comunidades vizinhas, movimentos populares e sociais, coletivos autônomos e independentes, sindicatos e centrais sindicais, entidades e organizações de esquerda – presenciaram uma operação da policial similar à operação do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro.

Uma tropa de Choque da polícia militar fortemente armada, a cavalaria e até um tanque de guerra urbano (também conhecido como Caveirão), invadiram e despejaram friamente famílias provocando sentimento de injustiça e indignação. Todavia não havia tráfico, não havia armas para “resistir”. Havia fome, esperança, frio, alguns móveis provenientes de doações, assim como roupas, trabalhadores, lonas, crianças dormindo, mães preocupadas e um forte desejo de resgatar a dignidade através da moradia. Todas as comunidades em volta da ocupação Eliana Silva, assim como escolas, comércios, postos de saúde, moradores foram contra esse ato criminoso do Estado representado pela tropa de choque da PM.

Vários relatos indignam, mas não mais impressionam, como na desocupação do Eliana da Silva, onde um policial rendeu uma mulher no chão, com os joelhos sobre o seu corpo porque, demonstrava esse, uma incrível incapacidade de dialogar. Essa mulher, professora, não tinha treinamento militar, não tinha arma, e tão pouco uma tropa armada para começar uma guerra civil, mas tinha sim a razão do pobre, trabalhador que parece ser o maior perigo para o Estado. Mães com crianças no colo, pais de famílias, tentavam retornar a suas casas no terreno da ocupação e foram cruelmente impedidas pela cavalaria da tropa de choque da polícia. Foram recebidos com golpes das armas dos policiais ali presentes. Várias pessoas traziam no corpo marcas do enfrentamento direto com a polícia.

Ações assim, não são novidades no quadro nacional, ou mesmo em Belo Horizonte. Todos recordam que, recentemente a polícia de forma truculenta invadiu a comunidade Pinheirinho – São José dos Campos – SP cometendo barbaridades, expulsando moradores, batendo em pais de família, quebrando casas, matando trabalhadores, maltratando pessoas a mando do governo, respaldados pelo poder judicial. Lembramos também dos policiais que entraram na ocupação Zilah Sposito Helena Greco, agredindo todos os moradores, inclusive crianças que levaram nos olhos spray de pimenta e mães que tiveram suas casas jogadas no chão. Os enfrentamentos são constantes em comunidades e quilombos, como Dandara, Irmã Dorothy, Camilo Torres, Arturos, Luízes e Mangueiras entre vários outros.

O Fórum Permanente de Solidariedade as Ocupações de BH, sempre que acionado vai ser obsessivo, contra esse modelo de Estado, onde quem governa é uma elite minoritária e burguesa. Esse grupo de luta e resistência junto às ocupações, formado por militantes, ativistas, trabalhadores e estudantes, vem através desta nota, não somente declarar repúdio, não somente reivindicar os direitos desses, mas afirmar o princípio que estará sempre na briga, buscando a unidade nessa luta contra um Estado imperialista e opressor. Pois nossa luta é diária e reside em cada pobre, negro, mulher, trabalhador, sem teto e oprimido.

Belo Horizonte, 15 de maio de 2012.

Participam do Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações de Belo Horizontes:

Associação dos Geógrafos Brasileiros/AGB-BH, Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas/AMES-BH, Brigadas Populares/BPs, CSP-Conlutas, Coletivo Voz Ativa, Comissão Pastoral da Terra/ CPT, D.A Letras UFMG – “Gestão ao Pé da Letra”, Fórum Social Mundial-MG/FSMMG, Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania/IHG, Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas/MLB, Movimento dos Trabalhadores sem Teto/ MTST, Movimento Marxista 5 de Maio/MM5, OCUPABH, Ocupação Dandara, Ocupação Camilo Torres, Ocupação Eliana Silva, Ocupação Irmã Dorothy, Ocupação Zilah Spósito – Helena Greco, Partido Comunista Brasileiro/PCB, Partido Socialismo e Liberdade/PSOL, Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado/PSTU, União da Juventude Revolucionária/UJR, Coletivo SobreHistória.org, SINDREDE, SINDELETRO, CSP-Conlutas, Quilombo Raça e Classe, Movimento Mulheres em Lutas.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Isso é que eu chamo de uma grande 51. by Deise


Bem vindo ao Clube, companheiro não de copo, mas de Cruz. by Deise


PELO À SOLIDARIEDADE DOS COMPANHEIROS E DOS JUSTO



Infelizmente, depois de evitar enquanto pude esta medida extrema, vejo-me obrigado a pedir a ajuda dos solidários para lidar com uma situação que está acima de minhas forças.

De um lado, sou vítima da iniquidade da Lei do Inquilinato, cujo viés atual é totalmente favorável aos locadores, em perfeita consonância com a desumanidade capitalista. Uma ação de despejo em curso provavelmente privará do lar a minha pequena família para satisfazer a ganância de rentistas, já que venho pagando religiosamente o aluguel ao longo de seis anos e meio, incluindo a aplicação anual de aumentos baseados nos índices inflacionários. No entanto, tem maior peso jurídico a intenção da proprietária de lucrar com a valorização dos imóveis na minha região do que o direito de um idoso a viver em paz e o de uma criança de quatro anos a continuar no bairro onde nasceu e na escola em que se ambientou tão bem. Coisas do capitalismo.

Mas, não fosse nossa Justiça totalmente kafkiana, há muito eu possuiria a minha morada. Em 08/02/2007, como ainda não houvesse nenhuma previsão de pagamento da indenização retroativa que me foi concedida pela União, entrei com um mandado de segurança, pois necessitava muito daquele montante para pagar dívidas e reconstruir minha vida. O julgamento do mérito da questão ocorreu somente quatro anos depois, em 23/02/2011; 9x0 em meu favor. No entanto, acaba de se completar um ano que o processo se encontra parado, sem movimentação nenhuma, quando falta apenas o ministro rechaçar uma óbvia manobra protelatória e ordenar o "cumpra-se". [Para quem quiser conferir, ele tramita na 1ª seção do STJ, sob nº 0022638-94-2007.3.00.0000.]

Assim, estou sendo privado dos recursos que me fazem falta imensa, obrigando-me a contrair empréstimos e mais empréstimos na Caixa Econômica Federal, embora se refiram a direitos atingidos no primeiro semestre de 1970 (há 42 anos, portanto!!!), embora seja totalmente aberrante um mandado de segurança não ter solução depois de cinco anos e meio, embora seja mais aberrante ainda uma sentença unânime, verdadeira goleada jurídica, não haver sido cumprida após um ano e meio.

Por último, a perspectiva de sair de meus apuros financeiros por meio do trabalho remunerado praticamente inexiste, já que a grande imprensa decretou a minha morte profissional (como a de vários outros articulistas inconformados com as injustiças sociais). Nem como personagem histórico ela me dá voz, além de desconsiderar sistematicamente meus direitos de resposta e de apresentar o outro lado, mesmo nos assuntos em que tais direitos são incontestáveis à luz das boas práticas jornalísticas.

De tudo isso, o mais inaceitável, para mim, é não receber a quantia que há tanto tempo me pertence e permitiria que eu resolvesse sozinho todos os outros problemas, trazendo-me tranquilidade e permitindo-me desfrutar plenamente um momento familiar feliz, após uma vida das mais tumultuadas.

Não possuo elementos para relacionar a atual letargia judicial aos trâmites bizarros que meus assuntos tiveram no passado, junto a algumas burocracias do Estado. No entanto, sendo personagem polêmico e detestado pelos círculos direitistas, nunca pode ser desconsiderada tal hipótese.

O certo é que pressões de nenhum tipo me tirarão do rumo atual. É mais do que definitiva a decisão de dedicar os anos que me restam a tentar legar uma sociedade mais justa e igualitária às minhas filhas, netos e a todos os que virão depois de mim. Fiz minha opção quando comecei a percorrer os caminhos das lutas sociais, em 1967. Tudo por que passei desde então só veio reforçar minha convicção de que o capitalismo desgraça a humanidade e tem de ceder lugar a uma organização da sociedade que priorize a cooperação dos seres humanos para o bem comum.

Quem puder/quiser me ajudar a encontrar uma luz no fim do túnel, por favor, contate-me pelo e-mail lungaretti@gmail.com.

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