sábado, 5 de novembro de 2022

Pompeo: Fontes do relatório do Yahoo News WikiLeaks 'todos devem ser processados'


29 de setembro de 2021· 6 minutos de leitura

O ex-diretor da CIA e ex-secretário de Estado Mike Pompeo pediu na quarta-feira o processo criminal de fontes que conversaram com o Yahoo News para uma história detalhando propostas da agência de inteligência em 2017 para sequestrar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e discussões dentro do governo Trump e da CIA para possivelmente até mesmo assassiná-lo.

Pompeo, que aparece no podcast de Megyn Kelly , foi convidado a responder à história do Yahoo News , baseada em entrevistas com 30 ex-funcionários de inteligência e segurança nacional dos EUA com conhecimento dos esforços do governo dos EUA contra o WikiLeaks.

“Não posso dizer muito sobre isso além das 30 pessoas que supostamente falaram com um desses repórteres [do Yahoo News] – todos deveriam ser processados ​​por falar sobre atividades classificadas dentro da Agência Central de Inteligência”, disse Pompeo.

Ao mesmo tempo, Pompeo se recusou a responder a muitos dos detalhes na conta do Yahoo News e confirmou que “partes disso são verdadeiras”, incluindo a existência de uma campanha agressiva da CIA para atacar o WikiLeaks após a publicação da organização de informações altamente documentos sensíveis do chamado Vault 7 revelando algumas das ferramentas e métodos de hacking da CIA.

“Quando bandidos roubam esses segredos, temos a responsabilidade de ir atrás deles, para evitar que isso aconteça”, disse Pompeo. “Temos absolutamente a responsabilidade de responder. ... Queríamos desesperadamente responsabilizar os indivíduos que violaram a lei dos EUA, que violaram os requisitos para proteger as informações e tentaram roubá-las. Existe um arcabouço legal profundo para isso. E tomamos ações consistentes com a lei dos EUA para tentar conseguir isso.”

O ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. (Joe Raedle/Getty Images)

Os comentários de Pompeo vieram quando alguns ativistas de direitos humanos, grupos de liberdades civis e apoiadores de Assange disseram que as revelações do Yahoo News deveriam ser investigadas e eram motivos para abandonar os esforços do Departamento de Justiça de extraditar Assange de uma prisão britânica para enfrentar acusações criminais nos EUA. por publicar segredos governamentais classificados em violação da Lei de Espionagem da Primeira Guerra Mundial, bem como por supostamente conspirar para invadir uma rede secreta do governo dos EUA.

“Agora sabemos que este caso criminal sem precedentes foi lançado em parte por causa dos planos genuinamente perigosos que a CIA estava considerando”, disse Ben Wizner, diretor do Projeto de Discurso, Privacidade e Tecnologia da União Americana das Liberdades Civis. “Isso fornece mais uma razão para o Departamento de Justiça de Biden encontrar uma maneira tranquila de encerrar este caso.”

Também pesando sobre a história do Yahoo News estava Nils Melzner, o Relator Especial das Nações Unidas sobre Tortura. “Não se trata de lei. Trata-se de intimidar o jornalismo; trata-se de suprimir a liberdade de imprensa; trata-se de proteger a imunidade para funcionários do estado”,ele disseem um vídeo que ele postou no Twitter. O caso de Assange “tornou-se impossível de ignorar”, acrescentou. “E eu encorajaria jornalistas de todos os meios de comunicação a analisarem profundamente este caso, reunir todas as evidências e expor má conduta, porque o público merece saber a verdade.”

Embora o Departamento de Justiça de dois procuradores-gerais nomeados pelo presidente Trump tenha feito acusações contra Assange, os promotores federais do procurador-geral do presidente Biden, Merrick Garland, continuam a investigar o caso. Eles entraram com apelações da decisão de um juiz britânico no início deste ano de que Assange não deveria ser entregue ao governo dos EUA porque ele representaria um risco de suicídio em uma prisão americana.

Os advogados de Assange devem apresentar na quarta-feira respostas aos argumentos do Departamento de Justiça e estão considerando ativamente maneiras de levantar questões de má conduta do governo com base em parte em muitos dos detalhes da história do Yahoo News. Entre eles está a revelação de que, após o vazamento do Vault 7, visto na época como a maior perda de dados da história da CIA, Pompeo ficou furioso e exigiu uma campanha multifacetada para desmantelar o WikiLeaks. Publicamente, ele descreveu o grupo como um “serviço de inteligência hostil não estatal”. Mas, em particular, ele pressionou por ações agressivas em reuniões com altos funcionários do governo Trump, incluindo uma operação de sequestro para sequestrar Assange da Embaixada do Equador em Londres.

Fontes disseram ao Yahoo News que na Casa Branca e na CIA também houve discussões sobre um possível assassinato, embora ex-funcionários tenham dito que a ideia de matar Assange não foi levada a sério. Mas quando os advogados da Casa Branca souberam de alguns dos planos da agência visando Assange, particularmente as propostas de rendição de Pompeo, levantaram objeções, resultando em um dos debates de inteligência mais contenciosos da presidência de Trump.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em entrevista coletiva na Embaixada do Equador em Londres, agosto de 2014. (John Stillwell/Pool via Reuters)

Os comentários de Pompeo no podcast de Kelly vieram um dia depois que ele apareceu no podcast de Glenn Beck e afirmou: “Eu sou a favor de uma Primeira Emenda grande, ousada e forte”. Mas seu apelo na quarta-feira para o processo criminal de fontes que conversaram com o Yahoo News atraiu uma forte repreensão de um membro da equipe jurídica de Assange.

"Acho altamente perturbador que a reação dele seja tentar impedir que informações sobre má conduta sejam conhecidas pelo povo americano", disse Barry Pollack, advogado americano de Assange.

Wizner, o advogado da ACLU, disse que os comentários de Pompeo efetivamente “apenas verificaram a veracidade da história [do Yahoo News]. Porque a única razão para processar alguém é que eles revelaram informações confidenciais legítimas. ... Este foi o jornalismo de interesse público de primeira ordem e a questão é se o público tem o direito de saber que o governo está engajado nesse tipo de conduta.”

Quando perguntado pela primeira vez sobre a história do Yahoo News por Kelly, Pompeo respondeu: “Isso cria uma ficção muito boa”. Mas quando pressionado pelo apresentador se isso significava que ele estava negando o que o Yahoo News relatou, ele reconheceu que “há partes disso que são verdadeiras”.

“Estávamos tentando proteger as informações americanas de Julian Assange e do WikiLeaks? Absolutamente sim. Nosso Departamento de Justiça acreditava que tinha uma reivindicação válida que resultaria na extradição de Julian Assange para ser julgado? Sim. Eu apoiei esse esforço, com certeza. Alguma vez nos envolvemos em atividades incompatíveis com a lei dos EUA? Não temos permissão pela lei dos EUA para realizar assassinatos. Nós nunca agimos de uma maneira que fosse inconsistente com isso. ... Nunca realizamos planejamento para violar a lei dos EUA – nem uma vez no meu tempo.”

Ele não abordou nenhum dos detalhes sobre outras ações que a CIA estava contemplando, como o possível sequestro de Assange, ou as medidas que a inteligência dos EUA realmente tomou, incluindo a condução de vigilância de áudio e visual de Assange dentro da Embaixada do Equador ou o monitoramento das comunicações e viagens de seus associados. em toda a Europa.

Mas Pompeo discordou de uma declaração feita por Trump, que abraçou o WikiLeaks durante a campanha de 2016 depois que publicou e-mails do Partido Democrata embaraçosos para Hillary Clinton. Solicitado a comentar na história do Yahoo News, Trump disse que Assange estava sendo tratado “muito mal”.

Pressionado por Kelly se concordasse com essa avaliação, Pompeo disse: “Não. Assange tratou muito mal os EUA e seu povo”.

domingo, 30 de outubro de 2022

TRE condena Carla Zambelli por propaganda eleitoral irregular em São Paulo


Ônibus inteiro "envelopado" com adesivo de Carla Zambelli vai contra limitação do TSE, que só permite o uso de adesivos em automóveis a uma área de 0,5m²

Luana Pedra - Estado de Minas
postado em 04/09/2022 

(crédito: Agência Brasil/Reprodução)

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) condenou a candidata à reeleição Carla Zambelli (PL) por propaganda eleitoral irregular. O motivo foi um ônibus “envelopado” com um adesivo da deputada federal, que vai contra a limitação do TSE, que só permite o uso de adesivos em automóveis a uma área de 0,5m². Nas redes sociais, Zambelli chamou o ônibus de “Expresso da Liberdade''.

O irmão da congressista, Bruno Zambelli (PL), candidato a deputado estadual, também foi condenado pela Justiça. A denúncia foi feita pelo postulante à Câmara dos Deputados, Cristiano Beraldo (União Brasil), e foi acatada pelo magistrado Regis de Castilho Barbosa Filho.

"Expresso da Liberdade", conforme era chamado por Carla Zambelli, foi o motivo pelo qual a deputada federal foi condenada(foto: Reprodução/Redes Sociais)

Os condenados têm um prazo de dois dias, contados a partir da decisão (3/9), para retirar o adesivo irregular do ônibus. Caso a ordem judicial não seja cumprida, terão de pagar uma multa diária de R$ 1.000. Até o momento, os irmãos Zambelli não se pronunciaram sobre o caso.

sábado, 29 de outubro de 2022

Carla Zambelli é alvo de ação de cassação por fake news e ataques às urnas



Ação apresentada pela coligação do ex-presidente Lula ao TSE mira cassação de parlamentares que disseminaram informações falsas nas eleições

27/10/2022 13:40 

Segundo equipe jurídica petista há um 'ecossistema de desinformação' criado por um grupo de pessoas para beneficiar Bolsonaro(foto: EVARISTO SA / AFP)SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

- A ação apresentada pela coligação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em meados deste mês coloca na mira de uma possível cassação parlamentares que disseminaram informações falsas ao longo das eleições. São citadas 81 pessoas, entre elas o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

No documento de 245 páginas, a equipe jurídica petista descreve um "ecossistema de desinformação" criado por um grupo de pessoas para beneficiar Bolsonaro. Essas pessoas, por meio de perfis em redes sociais, disseminaram informações falsas e realizaram ataques contra as urnas eletrônicas, criando um ambiente de "caos informativo".

Os advogados afirmam que desde a campanha de 2018 Bolsonaro constrói uma narrativa contra o sistema eleitoral. Nessas eleições, uma rede de interação virtual tem trabalhado para "enraizar a fake news de que o sistema eleitoral é inseguro, corrompível, manipulável e não se curva à vontade popular", dizem.

A partir disso, o processo aponta abuso do poder econômico, político ou dos meios de comunicação, crimes previstos no artigo 22 da Lei Complementar nº64/90, conhecida como lei de inelegibilidade.

Atuação destacada

A atuação de Zambelli para desacreditar o processo eleitoral é destacada na ação. Reeleita com mais de 946 mil votos que a fizeram a segunda mais votada no pleito, a parlamentar foi alvo de duas ações individuais da coligação petista no primeiro turno.

Em agosto, a deputada e outros dois candidatos divulgaram um vídeo nas redes sociais dizendo que os títulos de eleitor digitais tinham um QR code que computaria o voto "Lula 13". Zambelli compartilhou a notícia falsa nos canais do Telegram e do Gettr, onde tinha à época 243.400 seguidores.

O ministro do TSE Raul Araújo determinou a remoção da publicação e esclareceu que o QR Code presente nos novos títulos é uma atualização tecnológica para fins de autenticação do eleitor. A ferramenta "não substitui a urna eletrônica, não é usada para contabilizar votos e não interfere na votação em si", disse.

No dia 6 de outubro, o ministro Paulo Sanseverino autorizou a remoção de outra fala de Zambelli sugerindo fraude das urnas pelo PT. Segundo ela, houve a manipulação de urnas em um prédio do Sinticom (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção) sem controle de acesso ao local.

O ministro decidiu que Zambelli descontextualizou um fato para gerar desinformação. Ele esclareceu que as urnas são carregadas no sindicato desde 2014 por falta de espaço físico no cartório eleitoral de Itapeva, no interior de São Paulo.
A reportagem tentou contato com a deputada, mas não houve resposta.

Precedente

Ao pedir a punição da parlamentar, do presidente Bolsonaro e de outros influenciadores, a ação mais recente apresentada pela cogilação de Lula cita como precedente o caso do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR).

Cassado pelo TSE em 2021, Francischini afirmou, em uma live no dia do primeiro turno das eleições de 2018, que as urnas estavam fraudadas para impedir a eleição de Bolsonaro.

Após o caso do ex-deputado, a legislação eleitoral foi detalhada. A partir destas eleições quem divulga conteúdos falsos ou descontextualizados atacando as urnas eletrônicas e a legitimidade das eleições pode ser cassado por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação.

Coordenador-geral da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político) e doutor em direito pela UFPR, Luiz Fernando Pereira afirma que se o TSE aplicar o mesmo entendimento consolidado a partir do caso de Francischini, a cassação de Zambelli é possível. A punição, porém, deve demorar devido ao número de réus no processo.

"Uma ação com vários réus tende a ser mais complexa, porque todos precisam se manifestar. Se ela eventualmente for cassada, isso será mais à frente", afirma ele, que atuou na campanha de Lula em 2018.

"O TSE ainda vai se pronunciar sobre o direito de defesa de todas as pessoas envolvidas nas ações, mas existe a possibilidade de cassação pelo precedente do caso do Francischini, mas cada análise é individual", acrescenta a advogada Cristina Neves da Silva, do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral.

Ela destaca ainda que a ação da coligação vai além dos ataques às urnas e atinge pessoas que já são investigadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por divulgação de fake news.

Outros processos causados por ataques às urnas foram mapeados pelo Observatório da Desinformação Online nas Eleições de 2022, parceria do CEPI (Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação) e do Núcleo de Pesquisa em Concorrência, Políticas Públicas, Inovação e Tecnologia da FGV-SP.
Um desses processos ocorreu no início da campanha. O ministro Mauro Campbell determinou a remoção do vídeo do encontro do presidente com embaixadores, em julho, exibido na TV Brasil e em redes sociais de Bolsonaro. Na ocasião, ele repetiu ataques contra as urnas e levantou a possibilidade de fraude no sistema eleitoral.

Segundo Campbell, houve abuso de poder político no episódio, porque o presidente usou o cargo e a estrutura estatal para "disseminar fatos inverídicos e gerar incerteza acerca da lisura do processo eleitoral".

Outra decisão da Justiça Eleitoral cobrou esclarecimentos do deputado estadual Capitão Assumção (PL-ES).

Nas redes sociais, o candidato à reeleição afirmou haver na urna eletrônica um dispositivo interno capaz de alterar o voto e frraudar o resultado --o que é falso. O candidato foi notificado pelo ministro Mauro Campbell e o conteúdo, removido.

Mesmo com a remoção dos conteúdos, nada impede que o Ministério Público Eleitoral, candidatos e partidos apresentem outras ações pedindo punições mais graves, a exemplo do que aconteceu com Zambelli. 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Uma massa de ar frio de muito forte intensidade para a época do ano vai ingressar na virada do mês no território brasileiro





ESTAEL SIAS 27/10/2022 - 

Anúncios Massa de ar frio muito intensa para os padrões da época do ano chegará no começo da semana com temperatura de inverno e atípica para o mês de novembro | VINNY VANONI/PMPA Frio é normal no inverno como calor é comum no verão. Às vezes, por estar numa região de transição climática entre o ar mais frio do Sul e quente dos trópicos, o Sul do Brasil tem alguns dias de temperatura baixa em plena estação quente.

Como são normais e não raro frequentes dias de temperatura ou alta em pleno inverno, sobretudo nos meses de agosto e setembro que apresentam elevação da temperatura média. Muito se tem falado desde o começo da semana sobre a massa de ar frio prevista para chegar no começo de novembro. Esta incursão de ar frio, afinal, merece tanta atenção?

Sim, vai ser um evento notável do ponto de vista da climatologia. Embora fazer frio em novembro não seja algo inédito, a intensidade desta massa de ar frio destoará muito do que é comum para o penúltimo mês do ano. Aprendemos na escola a diferença entre tempo e clima. O tempo é curto prazo, a condição momentânea da atmosfera. Como exemplo, os dias de ontem e hoje tiveram calor. Já o clima é mais longo prazo. Como hipótese, o próximo verão deve ter clima seco e quente. Por isso, a Meteorologia trabalha com médias e curvas climatológicas. Vamos olhar o caso de Porto Alegre. Em julho, considerando as médias climatológicas da série 1991-2020, a temperatura mínima média histórica na capital gaúcha é de 10,7ºC enquanto a máxima média é de 19,7ºC. 

Assim, um dia em que tiver temperatura mínima de 8ºC e máxima de 16ºC não foge muito ao normal do mês. É absolutamente comum. Já novembro em Porto Alegre tem mínima média histórica de 17,2ºC ao passo que a média das máximas no mês é de 27,7ºC. Assim, um dia que tiver 8ºC em novembro registrará temperatura mínima 9ºC abaixo da média, o que é muito. Se o mesmo dia anotar máxima de apenas 16ºC, esta ficará 11ºC abaixo da média, o que é bastante. Portanto, o que foge ao comum em novembro não necessariamente escapa ao normal que se está acostumado a enfrentar no inverno. 

Aliás, estamos mais do que acostumados com as temperaturas que se prevê para a semana que vem. Voltando à referência de Porto Alegre, se mínima abaixo de 10ºC é pouco comum em novembro, tivemos 15 dias com menos de 10ºC em junho, 6 dias em julho e 9 em agosto, logo 30 dias ou um mês inteiro com mínimas de um dígito na cidade. Uma métrica que nós meteorologistas utilizamos para identificar a intensidade de uma massa de ar frio é a temperatura no nível de 850 hPa, nível de pressão atmosférica que corresponde a 1.500 metros de altitude. Vamos comparar esta que está vindo com uma recente que todos têm na memória? Uma massa de ar polar muito intensa ou poderosa de inverno, como a do final de julho de 2021 que trouxe uma grande nevada, tem temperatura em 850 hPa tão baixa quanto -5ºC a -7ºC. Não é o tipo de massa de ar frio que se tem todos os anos. A que se prevê para o começo do mês, de acordo com os dados de hoje dos modelos, teria uma temperatura em 850 hPa em torno de -1ºC no Sul gaúcho, 0ºC em Porto Alegre e também ao redor de 0ºC entre os Aparados da Serra e Planalto Sul Catarinense. 

Massas de ar frio com 0ºC em 850 hPa são bem comuns no inverno, mas não em novembro. Então, qual o ponto? Vai fazer frio, que seria normal para o inverno, mas é incomum para o mês de novembro por ser uma época mais quente e com médias de temperatura na climatologia muito superiores às da metade do ano. Dessa forma, para a maioria esmagadora maioria das pessoas o frio da semana que vem não representa um risco maior, exceto o teste para a saúde de sair de um calorão no fim de semana para frio fora de época no começo da semana. Pode ter neve? 

Modelos indicam há vários dias, mas, por experiência, prognósticos do fenômeno somente são mais confiáveis mais perto do evento, mesmo no inverno. Em se tratando de novembro, mês que não tem um registro sequer de neve na climatologia histórica, a cautela se impõe ainda mais. O frio vai representar risco e alto é para a agricultura, afinal se espera geada e nesta época do ano, quando o fenômeno ocorre tende a se limitar mais a cidades de maior altitude, como dos Aparados e o Planalto Sul Catarinense. 

Desta vez pode gear muito tardiamente em municípios de baixa e média altitudes, o que em se tratando de novembro é pouco comum e atinge o começo da safra de verão. Se em setembro geada tardia já preocupa o campo, imagine no mês de novembro. Em 2007, ano que é análogo a 2022 nas análises de clima da MetSul, o mês de novembro teve uma poderosa massa de ar frio para os padrões de novembro na Argentina.

As zonas produtoras enfrentaram geada, em muitos locais forte, entre os dias 11 e 15 de novembro daquele ano. À época, segundo entidades ruralistas argentinas, a perda no trigo foi de 1,5 milhão de hectares ou 200 milhões de dólares em prejuízo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

TSE forma maioria para absolvição da chapa Bolsonaro-Mourão

Corte eleitoral julga ações de investigação que acusam os vencedores do pleito de abuso do poder econômico por conta de disparos em massa de mensagens. Relator avaliou que não se evidenciou ilegalidade

Luana Patriolino
postado em 28/10/2021

(crédito: Isac Nóbrega/PR)

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formou maioria contra as ações da cassação da chapa vencedora das eleições de 2018, formada pelo presidente Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão. A Corte retomou na manhã desta quinta-feira (28/10) o julgamento que apura se os vencedores do pleito das últimas eleições cometeram abuso do poder econômico por conta de disparos em mensagens em massa.

Até o momento, o colegiado tem cinco votos contra as ações. Dois ministros ainda precisam votar. Na última terça-feira (26), o relator do julgamento, ministro Luís Felipe Salomão, se manifestou contra a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

O magistrado avaliou que não se evidenciou ilegalidade pela prática durante a campanha de Bolsonaro para atacar adversários no pleito, como alegava a chapa perdedora, liderada por Fernando Haddad (PT). Para Salomão, ficou caracterizada o uso de mensagens em massa e no Whatsapp, aplicativo de conversas, mas não se apresentou dados de abuso de poder econômico.

O ministro citou a existência de uma organização criminosa para espalhar informações falsas e atacar instituições democráticas. Salomão também lembrou que os fatos são apurados em um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

Luís Felipe Salomão deixa os autos do inquérito contra Bolsonaro e Mourão para o ministro Mauro Campbell, que assumirá o cargo de corregedor-geral do TSE a partir desta sexta-feira (29).

Levando-se em conta o histórico da Corte, a absolvição da chapa Bolsonaro-Mourão não é surpresa. O TSE jamais puniu um presidente da República com a cassação da chapa e as condenações costumam alcançar, sobretudo, governadores e prefeitos — no que se refere aos representantes do Poder Executivo.

Como votou cada ministro
Luís Felipe Salomão (relator): votou contra a cassação da chapa
Mauro Campbell Marques: votou contra a cassação da chapa
Sérgio Banhos: votou contra a cassação da chapa
Carlos Horbach: votou contra a cassação da chapa
Edson Fachin: votou contra a cassação da chapa

Atenção! Contém cenas de socialismo explícito; leia por conta e risco

Atenção! Contém cenas de socialismo explícito; leia por conta e risco
O texto que segue abaixo não é indicado para capitalistas, liberais e pessoas com baixa resistência ao comunismo, informa Ricardo Kertzman


Ricardo Kertzman - Estado de Minas
postado em 28/10/2021

(crédito: Sergio Lima / AFP)

"A Petrobras é uma empresa que só serve para gerar lucro para os acionistas. Uma empresa que hoje só presta serviços para os acionistas, mais ninguém. A chance de você perder algo é zero. Você compra ação de qualquer empresa e pode perder.

Na Petrobras você não perde nunca . Essa empresa é nossa ou de alguns privilegiados?."

Quem foi que disse isso ontem, quarta-feira (28/10), caro leitor: Lula da Silva, o meliante de São Bernardo; Ciro Gomes, o coroné cabra-macho; Miriam Leitão, a ‘terrorista comunista’; ou Jair Bolsonaro, o mito liberal, que veio para nos salvar do socialismo, ao lado de Paulo Guedes, o nosso indefectível (im)posto Ipiranga ?

Antes de eu responder, me permitam o seguinte comentário: qualquer empresa que se preza visa lucro para os acionistas. A Petrobras é uma empresa de capital misto, logo, não apenas precisa, como deve... gerar lucro! Mais ainda: a petroleira é uma das maiores, senão a maior, pagadoras de impostos do país, e também empregadoras.
Calma, digo já

Outra coisa: o imbecil que disse a besteira acima também disse que: ‘precisamos quebrar o monopólio da Petrobras’. Só que tal monopólio já foi quebrado faz anos! Ou seja, além de ter ideias estúpidas sobre o papel das empresas em uma economia de mercado, o idiota sequer sabe do que está falando - para não variar, aliás.

Por fim, me permitam mais uma observação: a besta-fera ignorante também disse: ‘eu estou cansado da Petrobras, só dá trabalho’. Ele declarou que quer a privatização da empresa . É tão estúpido, mas tão estúpido, que pensa que, uma vez privatizada, a empresa começará a dar prejuízo ou irá congelar seus preços, pode?

Vamos lá: quem disse tantas besteiras foi Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto . Poderia ter sido qualquer político ou ideólogo de esquerda, sim. Até porque, como visto recentemente, a Petrobras quase quebrou pela política de congelamento de preços de Dilma Rousseff, nossa inesquecível e única estoquista de vento.

Bozo comunista

Como tenho dito, além de burro — muito burro! —, e mal assessorado — muito mal assessorado! —, o amigão do Queiroz mostra-se, cada vez mais, um estelionatário eleitoral, que se vendeu como antissocialista, e pratica hoje a cartilha do lulopetismo: populismo eleitoral, farra fiscal, aumento de impostos e descontrole de gastos.

O patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias - compradas e/ou alugadas a preços de barraco — está dando piti porque quer, como um bom estatizante cretino, intervir na política da Petrobras, mas não pode. Daí, como é burro de marré de si, imagina que, uma vez privatizada a estatal, o preço da gasolina cairia.

Jair Bolsonaro, o arregão que correu de um humorista de 20 anos de idade , entende tanto de economia quanto de coronavírus, cloroquina, vacinas e aids. Ou seja, nada. Por isso, recorre à velha, surrada e ineficiente propaganda socialista — o petróleo é nosso! — tentando angariar algum apoio. Porém, o máximo que consegue é passar ainda mais vergonha.

Desesperado, Bolsonaro parte para o socialismo e promete taxar milionários


Jair Bolsonaro, naquele freak show semanal a que chama de 'live', anunciou que pretende, se reeleito, tributar as grandes fortunas



"Enganamos direitinho, hehehe"(foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Portal UAI)Em 2018, eu e milhões de otários votaram em Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, no segundo turno das eleições presidenciais por pura ojeriza à maldita cleptocracia lulopetista, mas, também, acreditando na promessa de "menos Brasília e mais Brasil", já que ventos pretensamente liberais eram soprados na direção dos eleitores.

O amigão do Queiroz é, sem a menor sombra de dúvida, o maior estelionatário eleitoral da história política brasileira, e a concorrência, como sabemos, é bastante forte.

Não há uma mísera promessa de campanha que tenha sido cumprida, e que não se refira, diretamente, às questões de cunho ideológico, sobretudo religioso.

Não vimos um centavo do trilhão de reais em privatizações prometidos por Paulo Guedes, o ex-posto Ipiranga, liberal de araque que seduziu os trouxas, como eu, com sua fala fingida e indignada contra o Estado, os privilégios, a corrupção, os "seis bancos e seis empreiteiras que escravizam 215 milhões de otários no Brasil".

Nem a porcaria da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), TV estatal que custa mais de 500 milhões de reais por ano e não tem audiência - antiga TV Lula, hoje BolsoTV - esses caras se dignaram a atirar no lixo. E nem vou tocar nos assuntos corrupção, centrão, teto de gastos e outras indignidades dessa gente cafajeste.

O tiro de misericórdia - se é que será mesmo, pois a cada dia temos um novo tirambaço na fuça disparado por este desgoverno -, a confissão testemunhal de culpa, ou melhor, de estelionato eleitoral, foi protagonizada ontem, quinta-feira (1/9), por ninguém menos que o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, em pessoa!!

Jair Bolsonaro, naquele freak show semanal a que chama de "live", anunciou, ao vivo e em cores, para todo o Brasil, que pretende, se reeleito, tributar as grandes fortunas. Atenção! Não foi o meliante de São Bernardo, vulgo Lula da Silva, Ciro Gomes ou o presidente do Partido da Causa Operária, não. Foi o liberal, rárárárá, Bolsonaro.

Sim, meus caros e caras, o devoto da cloroquina rasgou a fantasia e cuspiu, mais uma vez!, na cara de quem votou em um antissocialista e elegeu um falsário. Onde estão agora a FIESP, a Faria Lima, a FEBRABAN…? Onde está o "chigago boy", Paulo Guedes, e o discurso contra a criação ou o aumento de impostos? Cadê o "menos Brasília", pô?

O governo não cortou despesas, não realizou reformas (fiscal, tributária e administrativa), não combateu corrupção e desperdício de dinheiro público (haja vista o bilionário orçamento secreto), estourou o teto de gastos e agora, no desespero, às vésperas da eleição, flagrado em mais uma mentira (manutenção do Auxílio Brasil em 600 reais) vem com esse papo.

Como diz o meme da internet, "o golpe tá aí, cai quem quer"! Taxação de grandes fortunas é uma bandeira histórica da esquerda brasileira. Que Jair Bolsonaro assuma, portanto, seu lado socialista, comunista, petista, ou sei lá que diabos de "istas", e pare de dar uma de liberal, pois nunca foi, e sua história de três décadas no Congresso prova o que eu digo.

domingo, 23 de outubro de 2022

Bolsonaro recorre a condenados no mensalão e réus na Lava Jato para romper isolamento político e pressionar Maia


Presidente oferece cargos a políticos do Centrão, mesmo após prometer que não lotearia o seu Governo
Bolsonaro durante protesto que pedia o fechamento de poderes no domingo.SERGIO LIMA (AFP)

No discurso aos seus apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diz que não faz acordos, que representa a nova política e que não loteia o seu Governo para legendas. Na prática, isolado politicamente desde o início da pandemia de coronavírus, agiu de maneira distinta e se aproximou de figuras que foram condenadas ou são rés em dois dos maiores escândalos de corrupção do país: o mensalão e a Lava Jato. Tudo contou com apoio da ala militar de sua gestão. Desde a semana passada, Bolsonaro e seus ministros participaram de reuniões com interlocutores da “velha política” que dizem combater.

Estiveram à mesa presidencial representantes de Valdemar Costa Neto (PL) e Roberto Jefferson (PTB), ambos condenados no mensalão, além de Gilberto Kasab (PSD) e Ciro Nogueira (Progressistas), investigados pela Operação Lava Jato (na noite de quinta-feira a CNN e a revista Época publicaram um vídeo de Jair Bolsonaro ao lado Arthur Lira (PP) onde o presidente cumprimenta a família do deputado, réu em uma ação ligada à Lava Jato). Na movimentação. ainda foram ouvidos representantes do Republicanos. Juntos, esses cinco partidos têm 159 dos 513 deputados federais. É o núcleo duro do bloco conhecido como Centrão. Atualmente, quase nada no Legislativo é aprovado sem os votos desse grupo, que está sob a influência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

Oficialmente, Bolsonaro pediu integração dos partidos para superar as crises sanitária e econômica da covid-19. Nos bastidores, contudo, ele ofereceu dezenas de cargos de segundo e terceiro escalão. Vai desde a presidência do Banco do Nordeste até o comando dos Fundos Nacionais da Saúde (FNS) e da Educação (FNDE). No curto prazo seus objetivos são frear o que considera “pautas bombas” que o Congresso queira votar nesse período e evitar qualquer discussão sobre um eventual processo de impeachment. No médio prazo, pretende influenciar na sucessão da Câmara em janeiro de 2021, tendo um candidato governista para se opor ao próprio Maia – que articula uma mudança constitucional para concorrer a um quarto mandato consecutivo – ou a quem for indicado por ele.

Em contrapartida, os partidos que emplacarem seus indicados já teriam maneiras de interferir na disputa das eleições deste ano, irrigando prefeituras com recursos e ajudando a eleger parte da base eleitoral que servirá de sustentação para o pleito de 2022. O primeiro sinal de que a articulação está dando certo ocorreu já nesta quarta-feira, quando a pedido do Governo e de megaempresários, a Câmara desistiu de votar um projeto de lei que obrigava as empresas bilionárias a fazerem empréstimos compulsórios ao Executivo no período de combate à pandemia de coronavírus. O autor da proposta é Wellington Roberto, líder do PL na Casa.
MDB, DEM e PP

O presidente do MDB, Baleia Rossi, foi outro que se reuniu com o presidente. Mas ele diz que nada lhe foi oferecido e que esteve na reunião apenas para colocar sua bancada, de 34 deputados, à disposição do Governo para combater a covid-19. “O MDB não reivindica, não pede e não indicará nenhuma função no Governo federal”, diz. Rossi tem a missão de trazer alguma relevância aos emedebistas, que tinham assentos em todos os governos desde a redemocratização. Diz que sua prioridade não é buscar o embate, como Bolsonaro tanto apregoou nos últimos meses. “Momento agora não é de radicalismo, de briga política”.

O próximo a se reunir com o presidente é Antônio Carlos Magalhães Neto, que preside o DEM e é prefeito de Salvador (BA). O encontro está previsto para esta quinta-feira. No caso de ACM Neto, ainda não está clara qual será a postura de Bolsonaro.

Os principais incentivadores da aproximação de Bolsonaro com os representantes partidários foram os ministros-generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) e Walter Braga Netto (Casa Civil). Eles entendem que, sem um elo entre presidente o Legislativo, não será possível dar andamento às pautas econômicas necessárias para auxiliar no combate à covid-19. A preocupação deles é a de evitar que as pautas governistas inteiramente alteradas no Parlamento, como foi a ajuda emergencial aos Estados e municípios.

No último dia 13, a Câmara aprovou uma proposta que mais que dobrava os gastos que União pretendia ter com essa ajuda financeira, atingindo o patamar de 89,6 bilhões de reais. Sob a batuta de Maia e de governadores, o Centrão ajudou a desfigurar o pacote de socorro fiscal desenhado pelo Ministério da Economia. Antes, os mesmos parlamentares aumentaram de 200 reais para 500 reais mensais a ajuda de custo que o governo deveria dar à população mais pobre durante o período da crise – mais tarde o Executivo concordou em elevar para 600 reais.

As alterações nas propostas governistas fizeram com que Bolsonaro elevasse as críticas contra o presidente da Câmara. O mandatário diz que o deputado quer tirá-lo do poder. Sob a mesa de Maia há sete pedidos de impeachment que dependem de uma decisão unilateral sua para serem iniciados. O clima esquentou depois que Bolsonaro participou no domingo de um ato pró-fechamento do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal. E arrefeceu na segunda-feira, quando ele disse a apoiadores que era a favor da democracia e entendia que todos os poderes deveriam seguir abertos. Os vaivéns presidenciais, com acenos radicais e supostos recuos, têm sido praxe, e estão longe de terminarem.

sábado, 22 de outubro de 2022

Tecnologia da vacina contra a Covid-19 é estudada para prevenção ao HIV e combate ao câncer, com pesquisas no Brasil


Plataforma de RNA mensageiro, utilizada nos imunizantes da Pfizer e da Moderna, deu um salto com o investimento decorrente da crise sanitária, e tem potencial para revolucionar a vacinologia, afirmam especialistas

Por Bernardo Yoneshigue

14/08/2022

Instalações da fábrica de vacinas da Fiocruz, Bio-manguinhos, no Rio de Janeiro. Bernardo Portella e Peter Ilicciev / Divulgação Bio-Manguinhos - Fiocruz

Embora alvo de pesquisas há mais de 30 anos, a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm) parecia ainda distante de se tornar realidade. Porém, com a pandemia e o investimento nunca antes visto na história das vacinas, vieram duas conquistas inéditas para a área: os primeiros imunizantes com a tecnologia inovadora a serem aprovados e aplicados em larga escala, e a produção de vacinas desenvolvidas em tempo recorde, em menos de um ano.


Agora, que além de consolidada e segura a tecnologia se mostrou altamente eficaz, já estão em testes estratégias com a técnica para a prevenção inédita de doenças como HIV, zika, ebola, herpes, além de novas vacinas mais eficazes para tuberculose, malária, dengue e gripe. Há até mesmo estudos promissores que implementam o RNAm para o combate ao câncer e de diagnósticos como diabetes e anemia falciforme. Os pesquisadores traçam um cenário otimista para grandes avanços científicos na próxima década.

E o Brasil deve ganhar destaque com a produção própria de imunizantes e terapias que adotam a tecnologia. Na Bahia, já é desenvolvida uma nova vacina contra a Covid-19 que utiliza a plataforma, por cientistas do Senai Cimatec, que está em testes clínicos. Em 2021, Bio-Manguinhos, da Fiocruz, foi escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como parte de uma seleção mundial para incentivar a criação de imunizantes com o RNAm. Além de também desenvolver uma nova vacina para a Covid-19 com a tecnologia, o instituto pesquisa terapias para câncer e prevenção de outras doenças.

— Nós estávamos trabalhando com tecnologia de RNAm por alguns anos, principalmente focado em vacinas terapêuticas para o tratamento do câncer, mas com a pandemia passamos também a desenvolver nossa própria vacina para a Covid-19 de RNAm, que está em testes. Essa tecnologia estava em estudos há décadas, mas deu esse salto com a crise sanitária e se mostrou de fato muito eficaz. Agora esperamos que vamos ter resultados positivos semelhantes com outras doenças — afirma o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Sotiris Missailidis.

As altas expectativas que envolvem o RNA mensageiro se dão por alguns fatores. O primeiro deles é a forma de atuação. Basicamente, trata-se de um código com instruções para que as células do corpo produzam determinada proteína. No caso das vacinas da Covid-19, em vez de o imunizante introduzir o vírus inativado ou uma parte dele para que o sistema imunológico produza as defesas, o RNAm utiliza o próprio organismo como “fábrica” da proteína S do coronavírus, que então é lida pelo corpo para produzir as células de defesa e anticorpos.

— Sem dúvida o RNAm revolucionou a vacinologia, porque você consegue através de um código levar o indivíduo que recebe a vacina a produzir a própria proteína. Isso é uma revolução porque permite que produzamos proteínas contra qualquer coisa, então anticorpos contra alguma doença, proteínas que inviabilizam tumores, doenças degenerativas. Em teoria, a tecnologia é aplicável para diabetes, Alzheimer, câncer, não apenas doenças infecciosas. É uma esperança para muitas outras doenças que até então nós ou não temos vacina ou que precisamos de alternativas melhores — explica o infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri.

Ele conta que, desde 1990, a plataforma é estudada, mas era considerada instável em testes. A situação mudou em 2005, quando uma equipe de pesquisadores americanos desenvolveu cápsulas de gordura, chamadas de lipossomos, que envolvem o RNAm e conseguem levá-lo integralmente ao organismo. Um dos cientistas responsáveis pela descoberta escreveu inclusive um artigo na revista científica Nature Reviews Drug Discovery, em 2018, intitulado “Vacinas de RNAm - Uma nova era na vacinologia”, em que listou uma série de estudos com resultados promissores da tecnologia.

Além do amplo potencial, as vacinas de mRNA têm demonstrado eficácia superior aos modelos convencionais e têm um potencial para fabricação com menor custo. Isso porque, pela plataforma ser sintética, e não envolver vírus vivos, não exige, por exemplo, um laboratório de biossegurança. Além disso, podem ser desenvolvidas e adaptadas de forma mais rápida, o que possibilitou que os imunizantes da Covid-19 tivessem os testes clínicos iniciados menos de seis meses após o Sars-CoV-2 ter sido descoberto na China, em 2019.

Um dos resultados mais aguardados para a nova geração de vacinas que começam a ser testadas é a do imunizante contra o HIV. Neste ano, a Moderna – farmacêutica criada com foco no RNAm e responsável por uma das vacinas da Covid-19 – deu início à fase 1 dos testes clínicos com algumas candidatas. Estão também na primeira etapa os estudos com um imunizante para o Nipah henipavírus (NiV), patógeno altamente letal, originalmente de animais, que provoca surtos pontuais em humanos na Índia e em Bangladesh.

Porém, essas não devem ser as próximas a saírem do papel. O laboratório conduz ainda testes com uma vacina para o vírus da Zika, que já estão em fase 2, e para uma nova versão do imunizante contra o vírus Influenza, causador da gripe, que está na fase 3. Há também estudos para versões conjuntas de vacina da gripe com a da Covid-19 e uma proteção para o vírus sincicial respiratório (VSR), microrganismo que causa um alto número de hospitalizações e óbitos em crianças pequenas e ainda não pode ser combatido com imunizantes.

Potencial de produção no Brasil

Missailidis, da Fiocruz, destaca que, embora a produção de vacinas com a nova tecnologia esteja começando principalmente em países do exterior, eventualmente Bio-manguinhos pode se tornar autônomo na fabricação de terapias com RNAm.

— Nosso maior problema era ter a capacidade de desenvolver novas tecnologias sem depender dos Estados Unidos, da Europa, de países que normalmente chegam com os produtos primeiro e depois fazem uma transferência de tecnologia. O esforço que estamos fazendo nesse momento é para mudar esse paradigma. E nós podemos usar o RNAm para doenças raras, doenças negligenciadas, que muitas vezes não são de interesse de grandes farmacêuticas, mas que a Fiocruz, como uma instituição pública, tem a missão de poder atender essa parte da população — diz o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-manguinhos.

O novo imunizante da Fiocruz para a Covid-19 de RNAm, que deve começar os testes clínicos no início do ano que vem, tem ainda o diferencial de despertar a resposta imune não apenas com a proteína S do coronavírus, mas também a N. Segundo Sotiris, a segunda proteína é mais conservada, então espera-se que ofereça uma maior imunidade para proteger contra novas variantes.

Há também o desenvolvimento da tecnologia pelo Senai Cimatec, na Bahia, em parceria com a empresa HDT Bio Corp, dos Estados Unidos. O infectologista e pesquisador-chefe da instituição, Roberto Badaró, que lidera a pesquisa, explica que a vacina de RNAm utiliza ainda uma nanopartícula inédita capaz de proteger a molécula e aumentar a absorção no organismo, e celebra o projeto como um passo importante para o domínio da plataforma no Brasil.

— Hoje nós temos capacidade de fabricar essa vacina aqui no Brasil, nós incorporamos essa tecnologia lá no Senai Cimatec e estamos terminando os estudos de fase 1. É uma revolução grande essa plataforma, então nós estamos muito animados que o Brasil vai ter uma participação competitiva no cenário internacional de uma vacina moderna — afirma Badaró.

Ele conta que há um imunizante com a tecnologia também em testes para leishmaniose, uma doença provocada por um protozoário e transmitida por mosquitos que, se não tratada, pode ser altamente fatal.

— São milhares de pessoas que adquirem leishmaniose no Brasil e na América Latina, que é uma doença desfigurante que, quando pega a mucosa nasal, destrói o nariz, sendo uma doença séria, mas que não tem muita atenção por ser tropical. Só que essa tecnologia irá nos ajudar a fazer várias outras vacinas contra outras doenças — acrescenta o infectologista.

Nova arma contra o câncer

Badaró, do Senai Cimatec, conta que há ainda vacinas terapêuticas em desenvolvimento na instituição para câncer de mama, próstata e ovário, que devem ganhar fôlego após o fim dos testes com o imunizante para a Covid-19. O combate a tumores é de fato uma das grandes promessas para o avanço da tecnologia, explica o médico oncologista e professor da Universidade Nove (Uninove), em São Paulo, Ramon Andrade de Mello.

— A expectativa da utilização do RNAm no tratamento do câncer é muito alta. Existem estudos com resultados muito promissores para o uso da tecnologia para que o próprio organismo produza proteínas que atuem com o sistema imune para combater o câncer de uma maneira mais eficaz — explica o especialista, que faz parte do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, também em São Paulo.

Isso porque o câncer desenvolve uma proteína chamada de inibidora de checkpoint, que diz ao organismo que aquelas células são saudáveis, embora sejam cancerígenas – o que impede que o sistema imunológico combata o tumor. Porém, o oncologista explica que, com o RNAm, seria possível ensinar as células de defesa a reconhecerem a tal proteína, e então passarem a atacá-la.

Em junho de 2021, a BioNTech – que desenvolveu um dos imunizantes para a Covid-19 junto à Pfizer – anunciou que tratou o primeiro paciente com uma vacina de RNAm contra o câncer de pele, durante estudos clínicos da fase 2.

— Há uns 20 anos, o tratamento do câncer era muito voltado à quimioterapia, mas da última década para cá as novas tecnologias têm mudado a resposta ao problema. Cada vez mais, vamos chegando a melhores resultados e mais próximo de uma possível cura do câncer, ainda que seja um caminho complexo até lá. Para isso, o desenvolvimento de novas terapias, como o RNAm, é essencial. Creio que de 5 a 10 anos, vamos ter a plataforma incorporada às diretrizes médicas. Com certeza é uma tecnologia que merece atenção e investimento — afirma o oncologista.

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