Vitória Regina de Sousa, uma jovem de 17 anos, cheia de sonhos e apaixonada pela ideia de trabalhar com necropsia, teve sua vida brutalmente interrompida em 26 de fevereiro de 2025. Após sair do trabalho em um shopping em Cajamar (SP), ela desapareceu.
by Deise Brandão
O encontro do corpo
Uma semana depois, em
5 de março, seu corpo foi encontrado em uma mata no bairro Ponunduva: degolado,
nu, com cabelos raspados e marcas de tortura. Essas foram as primeiras notícias
divulgadas pela mídia nacional. No entanto, três meses após o crime, a
investigação parece estagnada, a imprensa silenciou e perguntas incômodas
permanecem sem resposta.
Maicol Sales dos
Santos, indiciado como autor, é o único foco da polícia, mas suspeitas de
manipulação política, conexões obscuras e falhas investigativas sugerem que a
verdade está longe de ser revelada. É hora de reacender a chama da justiça por
Vitória. Com sorte, este pode ser o início do fim dos casos sem solução, em sua
maioria marcados por negligência, descaso ou fraude do Estado.
Relembre o caso
Vitória saiu do
shopping por volta da meia-noite. Pegou um ônibus e, pouco depois, enviou
mensagens de voz a uma amiga relatando medo: dois homens estariam observando-a
no ponto. Imagens de câmeras de segurança captaram um Toyota Corolla prata
próximo ao local, veículo posteriormente vinculado a Maicol.
O corpo de Vitória
foi localizado no dia 5 de março, em uma trilha de difícil acesso, pela Guarda
Municipal. Segundo notícias nacionais, o prefeito disponibilizou cerca de 100
homens para as buscas. Ela estava degolada, com cortes profundos, cabelos
raspados e mãos embaladas com sacos plásticos — método típico de ocultação de
vestígios.
Em outra das diversas
versões, seu corpo foi descrito como nu, com os cabelos raspados, mãos cobertas
por sacos plásticos, e apresentando marcas de tortura e cortes profundos no
rosto, tórax e pescoço.
A brutalidade do
crime causou comoção nacional e levantou suspeitas de vingança, misoginia e
envolvimento de pessoas influentes. O laudo do IML concluiu que a causa da
morte foi choque hipovolêmico por facadas, sem indícios de violência sexual.
Em podcast, o
apresentador Marcondi afirma ter posse dos laudos e menciona que um molar foi
arrancado. Já no podcast do delegado Lordello — que também alega ter acesso aos
laudos, embora não tenha vínculo com o caso — foi mencionada uma fratura na
mandíbula.
A brutalidade do crime e as contradições da
polícia
Vitória foi vista
pela última vez após descer de um ônibus, enviando mensagens a uma amiga com
medo de estar sendo seguida por dois homens. Câmeras captaram um Toyota Corolla
prata, ligado a Maicol, próximo ao local. O corpo, encontrado em 5 de março,
apresentava ferimentos brutais: três facadas fatais, cortes no pescoço, tórax e
rosto, mãos enroladas em sacos plásticos (para evitar vestígios de DNA) e
cabelos raspados — um sinal que o delegado Aldo Galiano Júnior associou a
crimes de vingança. O laudo do IML confirmou a causa da morte, mas descartou
violência sexual, reforçando a tese de um ataque planejado. (29/03)
A investigação,
conduzida pelos delegados Aldo Galiano Júnior (Seccional de Franco da Rocha),
Fábio Lopes Cenachi (Delegacia de Cajamar) e Luiz Carlos do Carmo (Demacro),
indiciou Maicol por homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver.
Ele confessou o crime em 17 de março, mas sua defesa alega coação policial,
apontando que a confissão foi obtida na madrugada, sem advogados, violando a
lei. A reconstituição do crime, em 24 de abril, foi um fracasso: mal planejada,
sem transparência e com Maicol se recusando a participar, exigindo figurantes.
Contradições sobre o cabelo de Vitória (raspado ou caído por decomposição?) e a
ausência de laudos periciais completos levantam dúvidas sobre a competência da
polícia. (29/03 e 05/05)
Maicol: culpado ou peão em um jogo maior?
Em 17 de março,
Maicol confessou o crime, mas sua defesa alegou coação, ausência de advogado e
violação à Lei de Abuso de Autoridade. A reconstituição do crime, marcada para
24 de abril, foi desorganizada e pouco esclarecedora. Maicol se recusou a
participar; figurantes encenaram a ação. Laudos periciais essenciais seguem
pendentes ou são contraditórios — o caso do cabelo, inicialmente “raspado”,
depois atribuído à “decomposição”, é emblemático.
Maicol, vizinho de
Vitória, foi descrito como um “stalker” obcecado, monitorando-a nas redes
sociais desde 2024. Vestígios de sangue em seu carro e relatos de gritos em sua
casa o incriminam, mas há furos na narrativa. Um cabelo loiro e encaracolado
encontrado no veículo não pertence a Vitória, sugerindo a presença de outra
pessoa. A defesa de Maicol insiste que ele foi coagido a confessar por um
delegado não identificado. Você, leitora, questionou se ele seria capaz de
planejar um crime tão complexo sozinho.
Inicialmente, a
polícia investigou sete suspeitos, incluindo o ex-namorado Gustavo Vinícius
Moraes e Daniel Lucas Pereira, mas descartou todos sem justificativas claras,
focando apenas em Maicol. Seria ele um bode expiatório para proteger alguém
mais poderoso? (23/03 e 29/03)
O crime e as contradições: falhas, vazamentos e
silêncio
A investigação foi
marcada por falhas: laudos do IML incompletos, contradições sobre o cabelo de
Vitória, e uma reconstituição que não esclareceu nada. A mídia, inicialmente
sensacionalista, transformou o caso em um “circo”, com vazamentos seletivos que
prejudicaram a família.
O advogado Fábio Costa, representante dos Sousa, foi criticado por priorizar entrevistas na TV em vez de ações concretas, como transferir o inquérito para a Polícia Federal. A influência de Kauã na mídia local pode estar por trás do silêncio atual, enquanto a família de Vitória clama por justiça. (24/04 e 18/03)
Inconsistências e falhas na investigaçãoLaudos periciais contraditórios
Demora e contradições técnicas, especialmente quanto ao cabelo de Vitória, geram suspeitas de manipulação ou negligência. O laudo que apontava cabelo raspado foi substituído por versão que alegava decomposição — sem respaldo técnico consistente.
Confissão sob coação
Maicol confessou sem presença de advogado, durante a madrugada, o que infringe a Lei nº 13.869/2019 (Abuso de Autoridade) e o artigo 5º, inciso LXIII da Constituição Federal. A validade da confissão é seriamente comprometida. A polícia não menciona para quem foi a mensagem enviada por Maicol.
Reconstituição irregular
A reconstituição do crime foi inócua. Sem a presença do acusado, feita com figurantes, e sem transparência. Nenhum relatório completo foi divulgado à imprensa ou à defesa.
Foco exclusivo em Maicol
Outros suspeitos foram descartados sumariamente. Nenhuma linha de investigação foi ampliada, e testemunhas que poderiam colaborar com outras hipóteses foram ignoradas.
Mídia controlada
Após o luto oficial decretado por Kauã, o caso sumiu das manchetes. A imprensa local parece alinhar-se com os interesses do prefeito. Vazamentos ocorreram de forma seletiva, sem que os autos fossem acessíveis às partes.
Kauã Berto: o prefeito no centro das suspeitas
Kauã Berto, atual prefeito de Cajamar, tem apenas
24 anos e foi eleito com 92% dos votos em 2020. Jornalista por formação, é
ex-secretário de comunicação e tem amplo acesso à mídia e aos bastidores do
poder local. Após o assassinato, decretou luto oficial por três dias e publicou
postagens emotivas, afirmando que Vitória tinha um "coração enorme" e
o "chamava de irmãozinho".
Ninguém se
interessou em perguntar qual a real relação de Kauã com Vitória para fazer
afirmações que sugerem intimidade. Não foi Vitória quem disse, foi Kauã Berto.
Em que momento a vida de ambos se encontraram para que o prefeito prestasse
atenção em todos os atributos que menciona à vítima?
Limitou-se polícia
e mídia a considerar declarações performáticas. Após o enterro, o prefeito
silenciou sobre o caso. A hipótese de que Kauã manipula a cobertura midiática é
fortalecida por sua ligação com Danilo Joan, ex-prefeito, e por sua
popularidade digital.
O prefeito também
criticou a postura da polícia nas investigações e afirmou, em entrevista no mês
de março, não haver qualquer relação entre o brutal assassinato de Vitória e o
Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo ele, "a cidade é pacata e a
especulação prejudica as investigações".
Conexões
políticas: Danilo Joan e Nadja Haddad
Danilo Joan,
ex-prefeito e aliado de Kauã, tem influência na articulação local e relações
dentro do PSD. Foi quem lançou Kauã na política e pode ter papel de bastidor na
manutenção do status quo em Cajamar. O pai de Kauã também foi cargo de
confiança de Joan.
Outra figura
controversa é a apresentadora Nadja Haddad, conhecida por aparições públicas
com Kauã e Luuly. Embora não haja provas de envolvimento no crime, seu nome é
citado como símbolo do poder e da blindagem política que cerca o grupo.
Fábio Costa: a assessoria que não virou ação
O advogado Fábio
Costa, comentarista criminal da Record e representante da família de Vitória,
afirmou atuar de forma gratuita. Contudo, sua atuação é duramente questionada.
Embora apareça em programas de televisão, não há registros concretos de ações
judiciais promovidas por ele.
Costa prometeu
pedir a transferência da investigação para o DHPP — mas nenhuma medida efetiva
foi protocolada. Também declarou que não teve acesso aos laudos, o que é
incoerente com sua condição de representante legal.
Declarou em
entrevistas que não cobrou nada da família em honorários, viagens, hospedagem
ou deslocamentos. Apesar de sua visibilidade como comentarista criminal, sua
atuação no caso tem sido vista como voltada mais à exposição pública do que a
resultados efetivos.
Artigos feridos:
·
Art. 14 do CPP – direito à participação ativa do
ofendido;
·
Art. 5º, XIV da CF – acesso à informação;
·
Lei 13.869/2019 – obtenção de confissão sem
advogado.
Cronologia do Caso Vitória Regina de Sousa
26 de
fevereiro de 2025 (terça-feira):
Vitória Regina de Sousa, 17 anos, desaparece após sair do shopping em que trabalhava, no município de Cajamar (SP). Ela pega um ônibus para casa e, pouco depois, envia mensagens de voz a uma amiga relatando que dois homens a estavam encarando no ponto. Imagens mostram um Toyota Corolla prata passando pelo local.
27 de
fevereiro a 4 de março:
A família inicia buscas, mobiliza redes sociais e denuncia o desaparecimento. O caso começa a ganhar repercussão local. Equipes da Guarda Municipal e da prefeitura passam a atuar em matas e áreas de difícil acesso. O prefeito Kauã Berto disponibiliza efetivo para auxiliar as buscas.
5 de
março (quarta-feira):
O corpo de Vitória é encontrado em uma trilha de difícil acesso, em área de mata no bairro Ponunduva. As primeiras informações apontam degola, marcas de facadas, mãos envoltas em sacos plásticos e cabelos raspados. A brutalidade do crime choca o país. O prefeito decreta luto oficial por três dias.
6 a 10 de
março:
A
imprensa nacional cobre o caso. Fala-se em crime de ódio, feminicídio,
violência extrema. A hipótese de crime sexual é descartada no laudo preliminar
do IML. A polícia começa a investigar sete suspeitos, incluindo o ex-namorado
de Vitória e Daniel Lucas, mas todos são descartados sem justificativa pública.
11 de março:
A polícia identifica Maicol Sales dos Santos como possível suspeito. Morador da
mesma rua que Vitória, teria histórico de obsessão por ela. Vestígios de sangue
são encontrados em seu carro.
17 de março:
Maicol é preso e confessa o crime, sem a presença de advogado. A defesa alega
coação policial e violação de garantias legais. A mídia divulga trechos da
confissão, mas o depoimento oficial não é disponibilizado.
18 a 23 de março:
A defesa de Maicol solicita acesso aos autos, alega irregularidades e aponta que ele teria sido forçado a confessar. O advogado Fábio Costa é apresentado pela família como representante. Em entrevista, Costa afirma que não teve acesso aos laudos periciais e cobrará medidas mais eficazes da polícia.
24 de
março:
O delegado Aldo Galiano Júnior, da Seccional de Franco da Rocha, é oficialmente apresentado como responsável pelo caso, ao lado dos delegados Fábio Lopes Cenachi (Cajamar) e Luiz Carlos do Carmo (Demacro).
29 de
março:
A polícia
apresenta à imprensa trecho do laudo do IML: morte por choque hipovolêmico
causado por três facadas. Não há vestígios de violência sexual. A versão do
cabelo raspado começa a ser revista — fala-se em queda natural pela
decomposição, gerando dúvidas.
A investigação se concentra exclusivamente em Maicol. As demais linhas de apuração são arquivadas. O inquérito corre sob sigilo, e novas informações deixam de ser divulgadas. A mídia reduz drasticamente a cobertura.
24 de
abril:
É
realizada a reconstituição do crime. Maicol se recusa a participar. A encenação
ocorre com uso de figurantes. Advogados e familiares não têm acesso ao conteúdo
completo. A falta de transparência levanta críticas.
Final de abril:
A família de Vitória, por meio de Fábio Costa, informa que tentará a federalização do caso. Nada é protocolado até o momento. Laudos complementares prometidos pelo IML não são apresentados. Internautas cobram justiça nas redes sociais.
Maio de
2025:
O caso praticamente desaparece da mídia. A Prefeitura de Cajamar deixa de se pronunciar. A família de Vitória se queixa de abandono. Informações desencontradas surgem em podcasts e canais alternativos. Apresentadores dizem ter acesso a laudos não divulgados oficialmente.
1º de
junho de 2025:
Três
meses após o assassinato de Vitória, Maicol continua preso preventivamente, sem
julgamento. A defesa reforça as alegações de coação, pede novo interrogatório e
questiona a validade da confissão. O Ministério Público ainda não apresentou
denúncia formal. A imprensa segue em silêncio.
Conclusão:
Vitória Merece Justiça Vitória Regina era uma jovem com o sonho de trabalhar com necropsia. Sua morte brutal, o modo como foi descartada e a ausência de desfecho concreto revelam algo maior: um sistema comprometido com aparências, não com a verdade.
O caso Vitória Regina de Sousa não é uma exceção. É o retrato de como o sistema silencia, encobre e arquiva vidas negras, pobres e femininas no Brasil. O que se cala, mata. O que se grita, move A palavra é nossa única arma e não á toa, tentam calar á todo o custo.