sexta-feira, 16 de maio de 2025

Projeto propõe multa a quem levar “bebê reborn” para atendimento no SUS


    (Foto Internet)

Propostas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e na capital carioca refletem diferentes abordagens sobre o uso e impacto dos bonecos hiper-realistas

O deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) apresentou, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, um projeto que proíbe o atendimento médico a bonecos hiper-realistas conhecidos como “bebês reborn” nas unidades públicas de saúde do estado.

A medida prevê multa de até dez vezes o valor do serviço prestado em caso de descumprimento, com os recursos destinados ao tratamento de pessoas com transtornos mentais.Masterclass Renda Fixa Descomplicada: 

Caporezzo justificou o projeto mencionando um episódio em que uma mulher tentou levar um bebê reborn para atendimento médico, alegando que a “criança” estaria com febre. Para o deputado, esses casos representam uma “distopia generalizada” e colocam em risco o funcionamento do sistema de saúde.

A proposta é mais uma que surge em meio a um debate legislativo em diferentes regiões do Brasil, que incluem até a criação de programas de apoio psicológico para pessoas que desenvolvem vínculos emocionais com eles.

Os bebês reborn têm atraído não apenas colecionadores e fãs, mas também figuras públicas como Britney Spears, Gracyanne Barbosa e o padre Fábio de Melo, que já compartilharam experiências com esses bonecos em suas redes sociais. No entanto, o uso dos reborns também desperta questionamentos, especialmente quando são protagonistas de vídeos que simulam partos, amamentação e cuidados maternos.

Apoio psicológico

Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Rodrigo Amorim (União) protocolou um PL que propõe a criação de um programa de saúde mental para pessoas que desenvolvem laços emocionais com os bebês reborn. A iniciativa procura prevenir casos de depressão, suicídio e isolamento social.

O programa deve oferecer acompanhamento psicológico, terapias e orientação conduzidos por equipes multidisciplinares, que incluirão psicólogos, terapeutas e assistentes sociais. Amorim argumenta que, embora os reborns possam ser usados terapeuticamente em casos de luto perinatal, há riscos de que a relação simbólica evolua para uma dependência emocional prejudicial.
“Dia da Cegonha Reborn”

Na capital fluminense, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou um projeto que institui o Dia da Cegonha Reborn no calendário oficial da cidade. O projeto, de autoria do vereador Vitor Hugo (MDB), homenageia as artesãs que produzem os bonecos, conhecidas como “cegonhas”. A data escolhida é 4 de setembro, e a proposta aguarda sanção ou veto do prefeito Eduardo Paes.

Os bebês reborn são bonecos artísticos confeccionados manualmente para se assemelhar a bebês reais. As “cegonhas” são responsáveis por pintar manualmente os detalhes de pele, veias e manchas, implantar cabelos fio a fio e adicionar peso aos bonecos para que se assemelhem a recém-nascidos. O nome “reborn”, que significa “renascido” em inglês, remete ao processo detalhado de produção.


quinta-feira, 15 de maio de 2025

Advogado acusado de fazer empréstimo em nome mortos é preso em MS

Daniel Nardon teve a prisão preventiva decretada pela Justiça gaúcha e foi preso hoje em Dourados


O advogado Daniel Fernando Nardon é conduzido por policiais rodoviários federais (Foto: Direto das Ruas)

O advogado Daniel Fernando Nardon, 46, acusado de enganar clientes e de falsificar assinatura para fazer empréstimo em nome de pessoas mortas e em estado vegetativo foi preso nesta quinta-feira (15) em Dourados, a 251 km de Campo Grande.

Com prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio Grande do Sul no dia 9 deste mês, ele foi capturado na base da PRF (Polícia Rodoviária Federal) na BR-163, na entrada de Dourados, através de trabalho conjunto com a Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Nardon viajava de carro com um amigo e disse que vinha de Mato Grosso. A suspeita é de que ele seguia em direção ao território paraguaio, para fugir.

Daniel Nardon é um dos alvos da Operação Malus Doctor, deflagrada no dia 7 deste mês pela Polícia Civil gaúcha contra 14 pessoas, sendo 9 advogados. O esquema é chamado pela polícia de “advocacia predatória” e pode ter causado prejuízo de 50 milhões.

No início desta semana, quando o advogado já era considerado foragido, a 1ª Vara Regional de Garantias de Porto Alegre (RS) determinou a apreensão do passaporte dele.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) determinou a suspensão cautelar do direito de Nardon exercer a profissão, “de forma preventiva em razão da gravidade dos fatos apurados, além de resguardar a integridade da advocacia e os interesses da sociedade”.

O advogado gaúcho Daniel Fernando Nardon, preso nesta quinta-feira em Dourados (Foto: Reprodução)

O esquema – Conforme a polícia, Daniel Nardon teria ingressado com ações na Justiça contra instituição bancária para revisão de contrato, supostamente utilizando procuração assinada por cliente morto dois meses antes. Ele alegou que não tinha conhecimento da morte do cliente.

Durante as investigações, os policiais descobriram vários outros processos semelhantes, todos na comarca de Porto Alegre. Ainda segundo a polícia, ele chegou a ajuizar 581 processos em um único dia. No total, a polícia identificou 145 mil ações no Rio Grande do Sul e 30 mil em São Paulo.

O delegado responsável pelas investigações, Vinicius Nahan, da 2ª Delegacia de Porto Alegre, disse que o grupo fazia ajuizamento massivo de ações de revisão de juros de empréstimos consignados, muitas vezes usando procurações falsas. Por fim, se apropriava das indenizações. A maioria das vítimas é formada por policiais militares e professores aposentados.

Conforme a operação policial, o esquema desvendado durante as investigações aponta o uso de empresa de consultoria e até um banco digital criado pelo advogado, o “Nardon Bank”, que não aparece na lista de instituições autorizadas pelo Banco Central.

Outro lado – Em nota publicada no dia 8, o escritório “Daniel Nardon & Advogados Associados”, afirmou “refutar integralmente” as denúncias da polícia.

“Ao longo de sua história, o escritório tem se dedicado à defesa de servidores públicos, aposentados e pessoas em situação de vulnerabilidade, sempre com foco na recuperação de direitos e na proteção da dignidade de seus clientes”, afirma.

O escritório continua: “foram milhares de vidas restabelecidas com a vitória em ações revisionais e trabalhistas, que permitiram a saída de muitos do superendividamento e a reestruturação de suas finanças pessoais. Reiteramos nosso compromisso com a ética, com o respeito à lei e com o Poder Judiciário. Confiamos que todos os fatos serão devidamente esclarecidos, demonstrando a correção da conduta do escritório e de seus integrantes”.

Homem é condenado a 175 anos por matar 4 filhos com golpes de faca e asfixia no RS

David da Silva Lemos é culpado por três homicídios triplamente qualificados e um homicídio quadruplamente qualificado. Crime aconteceu em 2022. Julgamento foi encerrado nesta quarta-feira (14).

Suspeito preso por morte dos quatro filhos em Alvorada — Foto: Reprodução/RBS TV

David da Silva Lemos foi condenado a 175 anos de prisão pela morte dos seus quatro filhos. A sentença saiu na noite desta quarta-feira (14).

O crime aconteceu em dezembro de 2022, em Alvorada. David é acusado de matar os filhos: Yasmin, de 11 anos; Donavan, de 8 anos; Giovanna, de 6 anos; e Kimberlly, de 3 anos. Três foram encontradas com marcas de facadas e uma com asfixia. Relembre abaixo.

O júri formado por quatro juradas e três jurados decidiu que o réu é culpado por três homicídios triplamente qualificados e um homicídio quadruplamente qualificado cometidos contra as vítimas. Ele não poderá recorrer da pena em liberdade, segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS).

Os advogados Thaís Constantin, Deise Dutra e Marçal Carvalho, representantes legais de David da Silva Lemos, afirmaram ao g1 que a defesa "não se vê surpresa com o resultado do julgamento", mas sustenta que recorrerá da decisão.

O julgamento começou na terça-feira (13) no Salão do Júri do Foro local, no bairro Piratini, presidido pelo Juiz de Direito Marcos Henrique Reichelt, da 1ª Vara Criminal Especializada em Júri da Comarca de Alvorada.

Saiba como foram depoimentos e interrogatório


Terminou primeiro dia de júri de pai que matou quatro filhos em 2022

Na terça-feira

A mãe das crianças, Thays da Silva Antunes, prestou depoimento no primeiro dia de júri e se disse “sem chão" após as mortes dos quatro filhos.

Thays começou o depoimento contando sobre os 11 anos de relacionamento com o acusado. Ela confirmou que ele era muito possessivo e ciumento.

A gota d’água veio três meses antes do crime, quando, segundo contou, teria sofrido uma agressão física. Em seguida, Thays conseguiu uma medida protetiva, mas os dois voltaram a se encontrar.

"Jamais imaginei que ele tivesse feito o que fez", diz Thays. "Só queria que os meus filhos saíssem lá de dentro e fossem embora comigo. E não foi isso que aconteceu", desabafa.

Thays da Silva Antunes, mãe das quatro crianças mortas, depondo em júri do pai David da Silva Lemos — Foto: Janine Souza/ DICOM/ TJRS

Também foram ouvidos um delegado de polícia, dois policiais civis, dois policiais militares envolvidos na ocorrência e os avós das crianças.

Na quarta-feira


O interrogatório do réu aconteceu nesta quarta-feira, mas ele optou por permanecer em silêncio.


Também prestou depoimento como testemunha um tio do acusado, que descreveu David como uma pessoa reservada e disse que via pouco ele com as crianças.


Também foi ouvido como testemunha um homem de 34 anos, que entregou à polícia a mochila e o telefone deixados por David no estabelecimento em que ela trabalhava, na Orla do Gasômetro. Segundo ele, David estava alcoolizado e foi repreendido por incomodar outros clientes. Ele teria chegado ao local brigando com alguém pelo telefone, e acabou deixando os pertences no local.

Uma perita judicial também foi ouvida após oitiva das testemunhas.


Relembre o caso

Mapa mostra o local onde o crime ocorreu e onde o suspeito foi preso — Foto: Arte/g1


As crianças foram encontradas mortas na casa onde estavam com o pai em Alvorada por volta das 19h30, de 13 de dezembro de 2022, quando familiares acionaram a polícia. David da Silva Lemos já havia deixado o local, mas foi encontrado no dia seguinte, em um hotel na capital.

Segundo a polícia, ao ser preso, o homem disse que cometeu o crime e que deu calmante às crianças antes da morte. No entanto, na delegacia, durante o depoimento e acompanhado de um defensor público, permaneceu em silêncio.

A avó materna das quatro crianças relatou à reportagem da RBS TV que o acusado já havia agredido a mãe das crianças e que acreditava que ele tenha cometido os crimes para atingi-la.

A mãe das crianças e David tiveram um relacionamento por 11 anos. Eles haviam se separado há cerca de três meses na época do crime. O rompimento foi motivado por uma agressão. Ela registrou um boletim de ocorrência e conseguiu medida protetiva contra o homem.

Os irmãos mortos em Alvorada: Yasmin, de 11 anos; Donavan, de 8 anos; Giovanna, de 6 anos; e Kimberlly, de 3 anos. — Foto: Arquivo pessoal

Nota da defesa

A defesa de David Silva Lemos, patrocinado pelos advogados Thaís Constantin, Deise Dutra e Marçal Carvalho, não se vê surpresa com o resultado do julgamento. Todavia, em respeito a prova dos autos, onde a prova técnica produzida pelo Instituto Geral de Perícias do Estado afasta o acusado da cena do crime, afirma que recorrerá da decisão proferida junto ao Tribunal de Justiça.

Polícia investiga suspeito de ter cometido crimes sexuais contra 180 vítimas; 'começou a ser fortemente chantageada', conta familiar de menina de 9 anos no RS

Ramiro Gonzaga Barros está preso desde janeiro deste ano. Perícia afirma que encontrou dentro do computador dele 750 pastas com mais de 9 mil imagens, entre fotos e vídeos, relacionadas a pornografia infantil. Entenda a investigação.

Responsáveis de possível vítima de crime sexual — Foto: Reprodução/ RBS TV

O que começou como uma troca de mensagens entre duas supostas crianças virou o fio que desatou um supostos crimes sexuais infantis. A Polícia Civil confirmou 180 possíveis vítimas identificadas e mais de nove mil imagens relacionadas a pornografia infantil, identificados pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). O suspeito é Ramiro Gonzaga Barros, de 36 anos. Ele está preso desde janeiro deste ano.

A reportagem da RBS TV entrou em contato com a defesa, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

O caso teria começado com uma menina de apenas nove anos que acreditava estar conversando com uma nova amiga virtual. De acordo com relato dos familiares, elas trocavam mensagens e fotos, até que as brincadeiras deram lugar a ameaças.

"A partir do momento que ela não quis mandar, começou a ser fortemente chantageada. Então, assim, uma pressão psicológica muito grande de que ia espalhar para os colegas do colégio, de que o pai e a mãe iam bater nela, que ela iria ficar de castigo", relata uma familiar.

Do outro lado da tela, a suspeita é de que havia um homem, segundo investigação da polícia.

O delegado Valeriano Garcia Neto explica que Barros teria seguido um padrão: criaria laços, ganharia confiança e, então, pediria fotos. Depois, com o material em mãos, aumentaria o grau de exigência. Em alguns casos, acompanharia as vítimas por anos — até que, ao atingirem 12 ou 13 anos, revelaria a identidade e exigiria encontros presenciais.

A perícia afirma que encontrou 6.827 fotos e 2.237 vídeos nos dispositivos do suspeito. Os conteúdos estariam em mais de 750 pastas com conteúdo pornográfico infantil, cada uma com nome, apelido e perfil de rede social das vítimas.

Ramiro Gonzaga Barros, de 36 anos, preso preventivamente em Taquara por possíveis crimes sexuais — Foto: Divulgação/ Polícia Civil

Descoberta dentro de casa

O que a família da menina não imaginava era que o agressor estava mais próximo do que pensavam. Barros seria o responsável pelo aquário da casa.

"É uma pessoa conhecida na cidade, que é uma cidade relativamente pequena, e ele se relacionava com os pais das vítimas. Então era uma pessoa próxima e com vínculo em relação a essas vítimas", comenta o delegado.

A Polícia Civil montou uma força-tarefa para identificar cada vítima. O trabalho exige cruzamento de dados e perícia técnica. Pela sensibilidade dos casos, os depoimentos são conduzidos por policiais mulheres.

"O (caso) mais difícil da minha carreira com certeza, em função dos traumas que as vítimas sofreram ao longo desses anos", diz escrivã Iane Marcela Scherer Colpo. "Após constatar o material no laudo pericial, a gente entra em contato com os familiares e aí acaba dando essa triste notícia", comenta.

Para a família, a possível vítima "é uma heroína".

"É uma coisa que a gente sempre fala, que os psicólogos falam, não tem que ter segredo entre pai e mãe com o filho", comenta o responsável.

Busca ativa do MP

No dia 5 de maio, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) anunciou a busca ativa para acolher e prestar apoio psicológico às vítimas .

As crianças e adolescentes, assim como seus responsáveis, serão procurados pelo projeto das Centrais de Atendimento às Vítimas e Familiares de Vítimas de Crimes e Atos Infracionais do Ministério Público gaúcho, que oferece espaços de acolhimento e apoio psicológico em Promotorias de Justiça de sete municípios. O atendimento vai acontecer à medida que os expedientes forem encaminhados ao MPRS.

"A busca ativa realizada pelo MPRS, através das Centrais de Atendimento às Vítimas espalhadas pelo Estado, busca garantir que cada uma das crianças e adolescentes, assim como suas famílias, receba o acolhimento necessário. Este trabalho é essencial porque ressignifica o papel das vítimas no processo penal, assegurando que seus direitos sejam plenamente respeitados e que elas possam participar ativamente na busca por justiça”, explica a coordenadora do Centro de Apoio Operacional Criminal e de Acolhimento às Vítimas, Alessandra Moura Bastian da Cunha.

Perfil do suspeito

Ramiro Gonzaga Barros é morador do município de Taquara. Morava sozinho em uma casa no mesmo terreno da família.

Conforme informações da Polícia Civil era praticante de muay thai e ministrava aulas gratuita de violão, ginástica, desenho e tecido de circo em projetos sociais em Taquara e cidades da região.

Ainda de acordo com a investigação, Ramiro também era dono de uma loja de animais exóticos, principalmente de peixes, no centro da cidade e recebia visitação das escolas.

"Seja nas aulas, no projeto ou na loja, as circunstâncias favoreciam muito o planejamento criminoso dele com as vítimas. Ele tomava conhecimento de detalhes da vida delas", ressalta o delegado.

Homem preso em Taquara é suspeito de estupro de 127 adolescente

Padre Fábio de Melo relata confusão com preços em cafeteria de SC e funcionário é demitido

Nas redes sociais, ele disse que o gerente não teria aceitado passar a mercadoria pelo valor estabelecido na prateleira - mais barato que no caixa. Empresa de Joinville diz que apura a situação.

Padre Fábio de Melo usou redes sociais para relatar confusão com preços em cafeteria em Joinville (SC) — Foto: Redes sociais/ Reprodução

Um funcionário de uma cafeteria em Joinville, cidade mais populosa de Santa Catarina, foi demitido após o padre Fábio de Melo relatar, em uma rede social, uma situação que passou na loja. Ele disse que houve uma confusão com os preços de um produto, e que o gerente não teria aceitado passar a mercadoria pelo valor estabelecido na prateleira - mais barato que no caixa (assista acima).

"Peguei dois potes [de doce de leite], fui para o caixa pagar e vi que o valor que estava sendo cobrado era muito maior do que a soma de dois potes com o preço que estava na estante", relatou.

Ao g1, a advogada Roberta Von Jelita, especialista em Direito do Consumidor, esclareceu que, pela lei, nesses casos, o que vale é o menor preço.

"Normalmente, é o preço que está na prateleira e, ainda que tenham dois preços na prateleira para o mesmo produto, o que vale é o de menor valor".

Em nota, a Havanna, rede onde a situação ocorreu, informou que está "apurando os detalhes do ocorrido com responsabilidade e agilidade" e que o "colaborador envolvido no ocorrido já não faz mais parte do nosso quadro de funcionários" (veja íntegra abaixo).

Relato

O caso aconteceu no sábado (10), antes de um show que o padre teria em Joinville. Em vídeos divulgados em uma rede social, ele disse que a situação serviria de alerta "para que as pessoas que trabalham com comércio saibam que elas não estão acima do bem e do mal".

Nas imagens, ele relata que pegou dois potes de doce de leite da prateleira. Na hora de pagar, porém, viu que o valor era superior ao anunciado na etiqueta.

"Muito educadamente, eu disse à moça do caixa: 'Olha, a soma está errada, porque o doce de leite custa isso, e dois potes o valor seria este". Aí ela ficou 'assim', foi lá, viu. Ela falou: "não, lá está errado'. E, nisso, o gerente já se adiantou em ser extremamente deselegante, e disse: "O preço está errado e é isso. Se quiser levar, o preço certo é este".

"Sabe quando é muito desagradável para o consumidor? Quando parece que nós estamos errados. Não estamos errados, nós estamos comprando uma coisa que foi anunciada por aquele preço. E se você é gerente e está numa situação embaraçosa, há uma forma de dizer isso com elegância", completou.

Em entrevista ao Bom Dia Paraná, o professor de Direito do Consumidor Guilherme Correa reforçou que o consumidor tem o direito de adquirir o produto pelo menor preço indicado na prateleira, e orientou sobre o que fazer quando não há acordo com o estabelecimento.

➡️ Se o preço cobrado no caixa for diferente, por exemplo, o cliente pode exigir o preço correto e, se necessário, registrar reclamação junto aos órgãos de defesa do consumidor.

O padre não informou, no relato, se finalizou a compra.

O que diz a cafeteria

"A Havanna Joinville/SC, tem como missão proporcionar momentos acolhedores e especiais a cada pessoa que passa por nossa loja. Por isso, recebemos com muita atenção e preocupação o relato de um cliente que se sentiu mal atendido em nossa unidade.

Queremos expressar, em primeiro lugar, nosso pedido sincero de desculpas. Lamentamos profundamente que a experiência vivida tenha ficado aquém do que prezamos e buscamos diariamente. Sabemos o quanto cada cliente é importante e levamos muito a sério qualquer situação que afete a confiança que construímos com todos vocês.

Já estamos apurando os detalhes do ocorrido com responsabilidade e agilidade, informamos também que o colaborador envolvido no ocorrido já não faz mais parte do nosso quadro de funcionários. Mais do que esclarecer, nosso compromisso é agir para corrigir e garantir que esse tipo de situação não volte a acontecer. Estamos redobrando os cuidados com nosso atendimento e reforçando nossos valores junto à equipe.

Agradecemos por cada manifestação, seja de crítica ou apoio, pois são elas que nos impulsionam a crescer. Nossa loja está sempre de portas abertas para ouvir e melhorar.

Com respeito e gratidão,
Equipe Havanna Joinville/SC"

TBT 2013 - Cardeal que participou de eleição do Papa diz que pedofilia 'não é crime'

Para sul-africano, pedófilos 'são doentes' e não podem ser punidos.
Declarações causam indignação e revolta entre vítimas de abusos.

O arcebispo sul-africano Wilfrid Fox Napier, um dos 115 cardeais que participaram da eleição do novo papa, defendeu neste sábado (16) que a pedofilia seria uma "doença" psicológica, "não uma condição criminal", causando indignação entre especialistas e vítimas de abusos de sacerdotes da Igreja Católica.

Um dos 115 a participar do conclave que elegeu o Papa Francisco, o arcebisto sul-africano Wilfrid Fox Napier(Foto: Plinio Lepri / France Presse)

Em entrevista à Radio 5, da BBC, Napier disse que, no geral, pedófilos são pessoas que sofreram abusos quando eram crianças e por isso eles precisam ser examinados por médicos especializados.

"(A pedofilia) é uma condição psicológica, uma desordem", afirmou o arcebispo. "O que você faz com transtornos? Você tem que tentar consertá-los."

Napier disse que conhecia pelo menos dois sacerdotes pedófilos, que teriam sofrido abusos quando crianças.

"Se alguém 'normal' escolher quebrar a lei, sabendo que está quebrando a lei, então eu acho que precisa ser punido", disse.

"Agora não me diga que essas pessoas (pedófilos) são criminalmente responsáveis, como alguém que escolhe fazer algo assim. Eu não acho que você pode realmente tomar a posição de dizer que a pessoa mereça ser punida. Ele mesmo foi afetado (na infância)."

As declarações foram feitas em um momento em que a Igreja Católica está bastante abalada por causa dos escândalos de abusos sexuais cometidos por seus sacerdotes em diversos países.

Indignação
Os comentários de Napier foram amplamente criticados por especialistas, vítimas dos padres pedófilos e grupos de defesa dos direitos das crianças.

"Pode ser que (pedofilia) seja uma doença, mas também é um crime e os crimes são punidos. Os criminosos são responsabilizados pelo que fizeram e o que fazem", diz Barbara Dorries, que foi vítima de abusos por parte de um padre quando era criança e hoje trabalha para uma ONG com sede em Chicago que trata do tema.

"Os bispos e os cardeais contribuíram muito para que esses predadores seguissem em frente, sem serem presos, e também para manter esses segredos dentro da igreja."

Para Michael Walsh, que escreveu uma biografia do falecido papa João Paulo 2º, as declarações do cardeal Napier refletem uma posição que já foi comum na Igreja Católica no Reino Unido e nos Estados Unidos.

'Eles chegaram a acreditar que essa era uma condição que podia ser tratada. Muitos bispos simplesmente mudaram o lugar de atuação de seus sacerdotes e tentaram esconder o fato de que eles tinham cometido esses crimes', afirmou Walsh.

Marie Collins, outra vítima de abusos, acredita ser "terrível" o fato de um cardeal - integrante da alta hierarquia da Igreja - manifestar uma opinião desse tipo. "Ele ignora totalmente o lado da criança', diz.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Morre Divaldo Franco, um dos principais líderes espíritas do Brasil

Médium faleceu nesta terça-feira (13), em Salvador, aos 98 anos. Ele tratava um câncer na bexiga.

Divaldo Franco, médium e líder espírita — Foto: Imagem/TV Bahia

O médium e líder espírita Divaldo Franco morreu nesta terça-feira (13), aos 98 anos. A causa da morte ainda não informada, mas ele lutava contra um câncer na bexiga desde novembro do ano passado e, nesta noite, teve falência múltipla dos órgãos.

O óbito foi constatado às 21h45, quando Divaldo estava em sua casa, na sede da Mansão do Caminho, no bairro Pau da Lima. Ele recebia atendimento na modalidade home care.

Um ato aberto ao público será realizado das 9h às 20h de quarta-feira (14), no ginásio de esportes da Mansão do Caminho para que as pessoas prestem suas últimas homenagens. A pedido do médium, as cerimônias póstumas serão de curta duração, sem cortejo em carro aberto e o caixão permanecerá fechado. O sepultamento será às 10h de quinta (15), no Cemitério Bosque da Paz.

Reconhecido como um dos principais líderes religiosos do Brasil, Divaldo começou a tratar o tumor assim que descoberto, ainda em fase inicial. O tratamento foi feito com sessões de radioterapia associada a “pequenas doses” de quimioterapia.

Natural de Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, ele dedicou mais de 70 anos ao espiritismo. Colheu os frutos de todo esse trabalho ao se consagrar como uma das vozes mais respeitadas na área.

Morre Divaldo Franco, aos 98 anos — Foto: Mansão do Caminho

Sua trajetória começou a ganhar destaque em 1952, quando fundou a Mansão do Caminho, localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador. A entidade acolhe e educa milhares de crianças que antes viviam em condições de miséria extrema.

Depois, na década de 1960, iniciou a construção de escolas, oficinas profissionalizantes e atendimento médico, transformando a entidade em um grande complexo educacional. Até hoje, o espaço atende crianças, jovens e famílias inteiras de baixa renda, com atividades diversas, ensino fundamental e médio, cursos profissionalizantes e atendimento de saúde. Todo o trabalho é mantido com a venda dos livros mediúnicos e das gravações de palestras, seminários, entrevistas e mensagens do próprio Divaldo.

O médium também fez carreira como autor de mais de 250 livros, muitos deles psicografados a partir de histórias de diversos espíritos. Em 2015, ele ganhou uma biografia assinada pela jornalista Ana Landi.

Divaldo Franco não deixou filhos biológicos, mas era reconhecido como pai de cerca de 685 pessoas que acolheu e instruiu ao longo dos anos na entidade espírita.

Divaldo Franco e Chico Xavier — Foto: Mansão do Caminho

Mediunidade descoberta na infância

Nascido em 5 de maio de 1927, Divaldo Franco é o caçula de 12 irmãos. A biografia disponível na Mansão do Caminho conta que ele desenvolveu a mediunidade ainda na infância, mas sofreu com críticas e até surras dos pais que não entendiam e consideravam suas visões "demoníacas".

Com isso, seu contato inicial com o espiritismo foi difícil. Além da discriminação no meio familiar, Divaldo precisou lidar com visões perturbadoras e um espírito obsessor que o perseguia aos 7 anos.

A situação só melhorou anos depois, quando Divaldo enfrentou um problema de saúde que o deixou por meses acamado. Após recorrer a diversos médicos, a família enfim aceitou que uma médium o visitasse. Foi ela quem entendeu que ele era oprimido por um espírito e identificou sua mediunidade.


Histórico de internações e luta contra o câncer

Divaldo Franco volta a ser internado com infecção urinária — Foto: Mansão do Caminho

Em novembro de 2024, Divaldo Franco passou nove dias internado no Hospital São Rafael por conta dos desconfortos urinários — foi durante esse período que ele recebeu o diagnóstico de câncer na bexiga. O líder espírita recebeu alta hospitalar no dia 25 daquele mês, quando retornou para casa, no bairro de Pau da Lima.

O tratamento contra o câncer começou no dia 2 de dezembro. Na ocasião, o Centro Espírita Caminho da Redenção (CECR) e as Obras Sociais Mansão do Caminho informaram que a primeira fase seria realizada no ambulatório do Hospital Santa Izabel, em Salvador, sem necessidade de internamento.

Divaldo Franco lutava contra um câncer na bexiga desde novembro de 2024 — Foto: Mansão do Caminho

Nos 20 dias úteis seguintes, foram administradas sessões de radioterapia, com associação, em dias alternados, de pequenas doses de quimioterapia. Em meio a isso, Divaldo seguiu com acompanhamento de nutricionista e fisioterapeuta. Na época, a assessoria divulgou que o tumor de Divaldo era pequeno, localizado e não provocava dor.

Em fevereiro deste ano, Divaldo foi internado pela segunda vez. Ele passou oito dias no Hospital São Rafael, em Salvador, para tratar uma infecção urinária.

"O Centro Espírita Caminho da Redenção e a Mansão do Caminho têm a alegria de informar que o médium Divaldo Franco encontra-se em casa, com sua saúde plenamente recuperada e quadro clínico estável", disseram em nota compartilhada no Instagram. Ele seguiu com as sessões de fisioterapia e os cuidados nutricionais indicados, sendo assistido por uma equipe de homecare.

Líder espírita Divado Franco foi internado em Salvador

Câncer na bexiga

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), homens brancos e com idade avançada, como Divaldo, fazem parte do grupo com maior probabilidade de desenvolver esse tipo de tumor. A prevenção inclui não fumar — o tabagismo triplica o risco de câncer de bexiga — e evitar a exposição a derivados do petróleo, como tintas.

O Inca destaca que sintomas como sangue na urina, dor durante o ato de urinar e necessidade frequente de urinar, sem êxito, são sinais da doença. Pacientes que desenvolvem esses sintomas devem ser submetidos a exames para detectar ou descartar a presença de tumor.

Caso o diagnóstico seja confirmado, o tratamento segue e é variável, de acordo com o grau da doença. As possibilidades são cirurgia, radioterapia e quimioterapia — opção adotada pelos médicos que cuidavam do baiano. Os procedimentos podem ser feitos de modo isolado ou associados.

Divaldo Franco, líder espírita — Foto: Assessoria de Comunicação

Ex-presidente do Uruguai ‘Pepe’ Mujica morre aos 89 anos

Mujica foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e deixou legado progressista na política uruguaia



O ex-presidente do Uruguai, José Alberto “Pepe” Mujica Cordano, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo presidente uruguaio Yamandú Orsi. O ex-mandatário deixou um legado na política uruguaia por ser protagonista na transformação da Frente Ampla, hoje a principal coalizão de esquerda do país.

Segundo sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, Pepe estava “em situação terminal” e passava por cuidados paliativos. Mujica foi diagnosticado com câncer em abril de 2024 e passou por radioterapia até 16 de junho do ano passado, quando interrompeu o tratamento. Ele não participou das últimas eleições regionais, disputadas no último domingo (11).

Do sítio em que vive, na zona rural da capital Montevidéu, Mujica já havia falado sobre seu estado de saúde em entrevista publicada pelo jornal estadunidense The New York Times. Em uma espécie de despedida, ele disse à época: “está na hora de partir”.

“Fiz tratamento radiológico. Segundo os médicos, correu tudo bem, mas estou arrasado. A vida é bela. Com todas as suas reviravoltas, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque estou na hora de partir”, afirmou na ocasião.

Ele ainda votou no final do ano passado nas eleições presidenciais. Deu apoio ao candidato da Frente Ampla, Yamandú Orsi, que venceu o pleito e se tornou presidente do Uruguai.

Em janeiro deste ano, Mujica anunciou que estava com metástase hepática e não se submeteria a nenhum outro tratamento. Nesse período, com dificuldade de comer, foi submetido a uma cirurgia para colocar um stent no esôfago para se alimentar. Há algumas semanas, a situação piorou e o ex-presidente não conseguiu mais fazer atividades básicas.

Mujica havia deixado a internação para ficar em casa. Segundo a família, o espaço era mais “confortável” para o ex-presidente. Ele recebeu visitas de familiares e pessoas próximas. Uma dessas visitas foi de Alejandro Pacha Sánchez, secretário do presidente Yamandú Orsi, que disse: “Mujica sempre havia dito que queria chegar aos 90 anos”. O uruguaio faria aniversário em 20 de maio.
Apoio popular

Nos últimos dias, milhares de uruguaios manifestaram solidariedade ao ex-presidente. Mujica foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e ficou conhecido por ter tido uma política progressista. As principais medidas aprovadas em sua gestão foram a legalização da maconha e a permissão do casamento homoafetivo.

Essa política fez com que Mujica se tornasse uma figura popular não só dentro como fora do Uruguai. O ex-presidente integrou o Movimento de Participação Popular (MPP) de 1994 até 2025. O seu grupo político publicou uma mensagem em apoio a Mujica.

“Caro Pepe! Você sempre nos disse que faria campanha até o seu último dia. Você cumpriu sua promessa e sabemos que continuará a cumpri-la. Este grupo o apoiará até o fim”, diz o texto.
História de luta

A construção política de Mujica está muito ligada à sua infância. Mujica nasceu em 20 de maio de 1935 em Paso de la Arena, uma zona rural na região metropolitana de Montevidéu. Seu pai, Demetrio Mujica, era um pequeno agricultor e morreu quando Mujica tinha 4 anos. Sua mãe, Lucy Cordano, ficou responsável por cuidar de 2 filhos.

Estudou em uma escola pública desde pequeno, mas teve que conciliar com o trabalho a partir dos 6 anos, já que ajudava a mãe nos trabalhos de cultivo e venda de flores. A família tinha um terreno de 14 mil metros quadrados para a produção. Sua mãe tinha aprendido a cultivar flores com vizinhos japoneses que migraram fugindo da Segunda Guerra e viviam em uma colônia vizinha.

Mujica começou a estudar Direito no Instituto Alfredo Vásquez Acevedo (Iava), mas não concluiu os estudos e passou a focar na militância política. Integrou, a partir de 1956, o Partido Nacional, sigla tradicional da direita uruguaia. Nos anos 1960, Mujica radicaliza seu pensamento político e passa a fazer parte do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), em um momento em que trabalhadores passaram a reivindicar cada vez mais direitos e criticavam o modelo econômico baseado na exportação.

O grupo era uma guerrilha de tendência socialista que lutou contra a ditadura militar uruguaia, que durou de 1973 a 1985. Enquanto atuou pelo Tupamaros, Mujica foi preso três vezes. A primeira, em 1969, aconteceu logo depois de Mujica passar para a clandestinidade. Ele ajudou a organizar a tomada nos principais pontos da cidade de Pando. Neste movimento, ele foi preso e fugiu duas vezes do centro penal de Punta Carretas. A segunda em 1971.

A terceira vez foi em 1972 depois de um confronto armado. Nesta ocasião, ele ficou 13 anos preso, encarando a maior parte da ditadura militar da prisão. Mujica foi torturado e passou por humilhações em todo esse período. Ele e outros militantes do Tupamaros foram submetidos a condições de maus tratos, isolamentos e foram levados a celas superlotadas em diferentes partes do país. Receberam também ameaças de morte pelos militares se o Tupamaros retomasse as atividades fora dos presídios.

Mujica ficou 12 anos preso sem ser julgado. Anos mais tarde, sua detenção foi considerada pela Justiça uruguaia como uma prisão extrajudicial, o que ficou conhecido pelos militantes de esquerda como um “sequestro do ex-presidente”.
Saída da prisão e MPP

A liberdade para os militantes do Tupamaros foi decretada um ano depois do fim da ditadura, em 1984. Em 8 de março de 1985, Mujica deixou a prisão com a anistia aos presos políticos decretada pela Assembleia Nacional. O então líder de esquerda uruguaia anunciou o fim da luta armada pelo Tupamaros. Seu grupo então chega à conclusão de que o melhor era se somar à Frente Ampla, coalizão de esquerda criada em 1971.

O objetivo de Mujica naquele momento era conseguir um entendimento e uma conciliação com socialistas e comunistas para conseguir aglutinar essas forças dentro da Frente Ampla, mas sem suplantar a coalizão. Ele começou a falar em um socialismo “nacional”, “multipartidário”, “democrático” e “participativo”, em um claro aceno aos social-democratas.

A ideia de Mujica foi dominante naquele momento em uma disputa com antigos integrantes do Tupamaros, que reivindicavam uma postura mais radical, tendo como foco uma reforma agrária, nacionalização dos bancos e aumento imediato dos salários dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, ele se mudou para um pequeno lote em Rincon del Cerro com a sua última esposa, para trabalhar como agricultor.

Em 1986, durante o governo de Julio María Sanguinetti, Mujica foi uma das principais vozes da oposição que conseguiu derrubar a Lei de Caducidade das Pretensões Punitivas do Estado, que pretendia dar uma anistia aos militares responsáveis pelos principais crimes cometidos pela ditadura. A lei foi derrotada em referendo em 1989.

Ele então formou o Movimento de Participação Popular (MPP), que se tornou uma ala mais à esquerda da Frente Ampla, unindo o próprio Tupamaros, PST e outros grupos menores: Partido para a Vitória do Povo (PVP, pró-anarquista), o Movimento Revolucionário do Leste (MRO, guevarista) e o Partido Comunista Revolucionário (PCR, marxista-leninista-maoista).

Ele não participou das eleições de 1989 e o MPP ficou apenas como a 4ª sigla mais votada da Frente Ampla. Mujica então passou a focar no Espacio 609, grupo dentro da Frente Ampla para tentar atrair militantes que deixavam os partidos tradicionais.

Em 1994, ele foi eleito pela primeira vez como deputado pelo MPP. Na ocasião, a esquerda uruguaia conseguiu disputar de igual para igual o Congresso e ainda deu o terceiro lugar nas presidenciais ao socialista e prefeito de Montevidéu Tabaré Vázquez Rosas. Ele recebeu 621 mil votos, 35 mil votos a menos que o candidato vencedor, Sanguinetti.

Mujica ganhou projeção como deputado e em 1999 foi eleito senador. A Frente Ampla apresentava naquele momento um forte crescimento não só eleitoral, mas também político entre as bases. Ele e Tabaré Vázquez trabalham para fortalecer ainda mais esse processo interno para conseguir ganhar a presidência em 2004. Neste ano, Mujica foi reeleito senador e Vázquez venceu a disputa presidencial, consolidando a força da Frente Ampla naquele momento.
Ministro e eleição

No governo Vázquez, Mujica foi nomeado ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. Mesmo eleito como senador mais votado do Uruguai, ele deixa o cargo de presidente da Assembleia para assumir o posto no governo. Quem ocupa o seu lugar no Legislativo é justamente sua companheira, Lucía Topolansky.

Nesse momento, o então ministro conseguiu aumentar a exportação de carne uruguaia – um dos produtos mais importantes dentro das exportações uruguaias – em um contexto de maior demanda global por commodities, movimento que ficou conhecido como boom das commodities. O principal mercado naquele momento era o asiático e especialmente o chinês.

Ele também implementa uma política de redução de preços dos cortes mais consumidos pelos uruguaios de carnes bovinas. Essa manobra deu resultado e a medida ficou conhecida como El asado del Pepe. Tudo isso aumentou a popularidade de Mujica, que passava a ser visto cada vez mais como um político “autêntico” e sem amarras estéticas dos políticos tradicionais. O terno e a gravata, por exemplo, nunca fizeram parte do vestuário do então ministro.

Em 2005 ele também se casa com Lucía Topolansky, formalizando uma relação que já havia sido construída. Dois anos mais tarde, ele faz parte da comissão que recebeu o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que passou por Montevidéu em viagem pela América do Sul. Mujica negociou acordos para a compra de carne pelos estadunidenses e foi criticado pela militância. Na ocasião, ele respondeu:

“Se eu não fosse ministro, estaria me manifestando, mas negociar não é vender a alma ou mudar de ideia, é chegar a acordos”.

Em março de 2008, Vázquez promove uma reforma ministerial. Mujica deixa o cargo e volta a ocupar sua cadeira no Senado. Ao final daquele ano, Mujica venceu as primárias da Frente Ampla e assumiu o que seria a candidatura para as eleições presidenciais de 2009. O candidato lançou sua candidatura com o lema Um Presidente para Todos.

Seu grupo teve apoio do MPP, PCU, PVP, Compromisso da Frente Ampla (Confa), Corrente de Ação e Liberdade de Pensamento (CAP-L, uma dissidência do MPP) e do Partido pela Seguridade Social (PPSS). Ele enfrentaria como principal oponente Luis Alberto Lacalle do Partido Nacional.

Sua campanha foi focada em investimento e uma tranformação na educação. Ele coloca também como proposta um “modelo agrícola inteligente”, além da criação de um polo regional de alta tecnologia, para atrair investimentos estrangeiros. Na área fiscal, Mujica propõe manter o Imposto de Renda para a Pessoa Física e o Imposto da Previdência Social para os contribuintes. A proposta de Lacalle era acabar com essas ferramentas de arrecadação.

Ele deixou claro durante a campanha que negociaria com os mais diversos setores. Naquele momento, Mujica afirmou que sua referência na região era o então presidente brasileiro Lula e não o venezuelano Hugo Chávez. Essa oposição de ideias também voltou à tona quando se tornou presidente. O uruguaio disse que poderia “admirar” a revolução bolivariana, mas que esse não era “o caminho que ele escolheria”.

Mujica venceu com 47,9% dos votos, mas não evitou o segundo turno com Lacalle, que recebeu 29,1%. Um mês depois, o candidato da Frente Ampla foi eleito com 52,4% dos votos.

Editado por: Lucas Estanislau

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Grupo de advogados é alvo de operação no RS por fraudes processuais


Grupo é investigado por sistema fraudulento responsável por mais de 145 mil ações judiciais, sendo 112 mil no Rio Grande do Sul e 30 mil em São Paulo.

Na última quinta-feira, 8, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, deflagrou a operação Malus Doctor, visando desarticular grupo criminoso de advogados responsável por fraudes processuais cometidas em todo o país contra instituições financeiras e pessoas físicas.

Durante a investigação, a polícia descobriu a existência de um sistema fraudulento responsável por mais de 145 mil ações judiciais, sendo 112 mil no Rio Grande do Sul e 30 mil em São Paulo.

Grupo de advogados é alvo de operação por fraudes processuais em todo o país.(Imagem: Agência Enquadrar/Folhapress)

O esquema operava por meio de procurações falsas obtidas sem o conhecimento dos supostos clientes. Eles eram convencidos de que receberiam valores por revisões judiciais de empréstimos consignados.

No entanto, segundo o diretor da DPR/PA - delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre/RS, delegado Rodrigo Bozzetto, esses novos empréstimos eram contratados sem o consentimento das vítimas, que só percebiam a fraude ao notarem descontos indevidos em seus benefícios previdenciários.

Aproveitando-se da situação de vulnerabilidade das vítimas, os suspeitos prometiam revisão judicial de cobranças abusivas dos empréstimos, mediante pagamento de 30% de honorários sobre os valores "recuperados", que eram, na realidade, oriundos das contratações fraudulentas.

Ainda, muitas vítimas sequer sabiam que ações haviam sido ajuizadas. Uma delas afirmou desconhecer mais de 30 processos movidos em seu nome por um dos investigados. Em casos mais graves, ações foram ajuizadas em nome de pessoas já falecidas, com uso de procurações datadas após a morte dos supostos outorgantes.

O principal investigado seria responsável por 47% de todas as ações contra bancos na Justiça gaúcha, figurando como o quinto maior litigante do Estado.

Nota da OAB

Em nota, a OAB/RS prestou os seguintes esclarecimentos:

1 - Tão logo teve ciência das denúncias na manhã desta quinta-feira (8/5), a Ordem solicitou cópia do inquérito e está examinando os elementos que poderão ensejar a suspensão cautelar imediata do exercício profissional, como medida preventiva e de proteção à dignidade da advocacia e da sociedade.

2 - A presidência da OAB/RS entrou em contato com a Polícia Civil e acompanha desde já o andamento das investigações.

3 - A atual gestão da OAB/RS tem atuado de forma efetiva no âmbito do Tribunal de Ética e Disciplina, processando e julgando todos os casos que chegam ao conhecimento da instituição, a partir da ampliação da estrutura do TED, saindo de 11 para 17 Turmas Julgadoras. De 2022 até o momento, 595 advogados foram suspensos e 16 foram excluídos dos quadros da Ordem, evidenciando o firme compromisso institucional com a ética profissional, em defesa da própria advocacia.

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