3 de abril de 2021 Brasil

George Orwell escreveu o livro já no final da sua vida, quando padecia de uma tuberculose e acabou falecendo alguns meses depois. Muitos acreditam que a obra se trata de um recado que o autor deixou para as gerações futuras.
Escrita no começo da Guerra Fria, a narrativa é fruto de um contexto histórico marcado pelas disputas políticas e ideológicas. O enredo apresenta as guerras constantes como uma forma premeditada de manter os privilegiados no topo, através da dominação das classes mais baixas.
No entanto, 1984 é, acima de tudo, um alerta sobre o poder que corrompe, formulado por um autor que viu a ascensão de vários regimes ditatoriais. Por outro lado, a obra deixa uma visão bastante negativa sobre aquilo que poderia ser o futuro da humanidade, caso ela viva em sociedades que misturam autoritarismo e tecnologia destinada à vigilância.
A história não termina bem, já que o protagonista acaba sendo derrotado no final, abrindo mão do seu pensamento revolucionário para poder sobreviver. No entanto, o enredo deixa transparecer uma réstia de esperança: mesmo nos sistemas mais repressivos, o espírito de rebelião e progresso social pode despertar em qualquer pessoa.
Este é um romance distópico que descreve a existência sufocante dos indivíduos que vivem num sistema de opressão e autoritarismo. A história é passada num futuro não muito distante, no qual o mundo se encontra dividido por três grandes impérios que permanecem em guerra.
O maior dos impérios, o da Oceania, está sob o domínio de um governo autoritário designado de Partido. É aqui que a ação da obra se passa, ilustrando o cotidiano de censura e repressão daquela sociedade. Este sistema é bastante elitista, organizado por classes que cumprem diferentes funções e vivem com privilégios diferentes.
O Partido Interno é a classe mais alta e a que exerce uma maior autonomia. Já a classe média, o Partido Externo, é composta pelos cidadãos que trabalham para os governantes e a classe mais baixa é também a mais explorada.
Para poder controlar os indivíduos, o governo precisa padronizar as suas vidas e os seus comportamentos. Assim, a individualidade, a originalidade e a liberdade de expressão são considerados “crimes de pensamento” e perseguidos por uma força policial própria, a Polícia do Pensamento.
Na tentativa de apagar totalmente as ideias que eram consideradas subversivas, o Partido até começou a criar o seu próprio idioma, a novilíngua, para que elas não pudessem mais ser expressas.
Com “Liberdade é escravidão” como um dos seus lemas, este governo está disposto a tudo para manipular as mentes da população, usando as ideias mais absurdas. Isso se torna notório, por exemplo, num dos slogans do partido: “2+2=5”. Embora a equação fosse claramente falsa, todos deveriam acreditar nela, sem nenhuma espécie de sentido crítico.
Podemos classificar o tipo de regime apresentado na obra como uma autocracia, ou seja, um estilo de governo totalitário no qual o poder está concentrado em uma só pessoa.
Neste caso, o ditador é o líder supremo do Partido, intitulado de Grande Irmão. Embora ele surja como um homem, nunca chegamos a ter certeza se aquela figura existe mesmo ou é apenas uma representação simbólica da autoridade governamental.
Além de serem controlados por ele, os cidadãos também precisam prestar culto e adorar o seu retrato todos os dias. A foto surge sempre na teletela, um objeto tecnológico que é uma espécie de TV que transmite imagens, mas também espia os cidadãos.
No romance, é sobretudo através da vigilância apertada e constante que o Partido consegue ter um controle tão grande na conduta dos indivíduos. Como resultado, surgiu o adjetivo “orwelliano" que descreve situações nas quais aqueles que estão no poder devassam a privacidade alheia, alegando que é uma questão de segurança.
Propaganda política e revisionismo histórico
O protagonista da narrativa é Winston Smith, um homem comum que trabalha para o Partido Externo, no Ministério da Verdade. Considerado um funcionário menor, o seu trabalho está relacionado com a propaganda política e a falsificação de documentos.
Smith é o responsável por adulterar os registros dos antigos jornais e artigos de opinião, reescrevendo a História segundo os interesses do governo. O objetivo é criar “buracos da memória”, ou seja, apagar a verdade sobre determinados assuntos.
Fazendo desaparecer os fatos históricos, o Partido pretende limitar o conhecimento dos cidadãos, manipulando os acontecimentos do passado. No entanto, Winston tem acesso às informações reais e, gradualmente, elas vão despertando a sua consciência.
Apesar de trabalhar diretamente para o governo, o protagonista vai ficando cada vez mais revoltado, mesmo sabendo que isso tratará sérios problemas no futuro. Aos poucos, ele começa a conspirar contra aquele regime, desejando que seja derrubado.
Com o passar do tempo, as ações do protagonista vão sendo monitoradas e seguidas pelo governo que começa a desconfiar dele. O'Brien, um dos antagonistas da história, é um colega de trabalho de Smith que é recrutado para vigiá-lo e conduzi-lo de volta à obediência.
Por outro lado, é no escritório que ele conhece Julia, uma mulher que partilha as mesmas visões e ideologias, embora também as esconda. É importante salientar que naquela sociedade o amor é proibido e os indivíduos apenas podem se relacionar para gerar novas vidas. Deste modo, a ligação que nasce entre os dois é criminosa desde a sua origem.
O casal resiste e tenta lutar junto contra o sistema, mas acaba falhando e indo parar na prisão. Nas mãos do Ministério do Amor (que era, na verdade, responsável pela tortura) eles conhecem o lado mais violento daquele regime.
O Quarto 101, apogeu do poder repressor do Partido, os indivíduos considerados desviantes são torturados com aquilo que mais temem. Smith é atormentado por ratos e embora se segure durante muito tempo, acaba cedendo á pressão e delatando Julia.
Nesta passagem, fica evidente a impossibilidade de criar laços e o modo como a solidão coletiva é usada como um jeito de fragilizar e dominar estes indivíduos.
O objetivo do Partido não é eliminar os membros da resistência, mas sim conseguir convertê-los verdadeiramente, de modo a erradicar as ideias que eles defendem. Na verdade, depois de ser libertado, o protagonista está convertido, à custa do medo e da tortura.
Quando reencontra Julia, percebemos que ela também o denunciou no Quarto 101 e que o sentimento que os unia já não existe mais. Smith passa, assim, a ser um cidadão exemplar, cumprindo acriticamente todas as ordens e regras.
No final, quando olha a imagem do Grande Irmão, percebemos a sua fé no poder daquele sistema: a lavagem cerebral foi bem sucedida.
Enredo
A história tem Londres como cenário (na fictícia Oceânia). Tudo gira em torno do Grande Irmão. “Quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, o Big Brother é o líder máximo. Assumiu o poder depois de uma guerra de escala global (análoga à Segunda Guerra, porém com mais explosões atômicas), que eliminou as nações e criou três grandes estados transcontinentais totalitários. A Oceânia reúne a ex-Inglaterra, as ex-Américas, ex-Austrália e Nova Zelândia e parte da África. É um mundo sombrio e opressivlugares públicos e nos recantos mais íntimos dos lares, elas são uma espécie de televisor capaz de monitorar, gravar e espionar a população, como um espelho duplo. A intimidade era tão devassada ali quanto na casa do Projac que sediou a última edição do Big Brother Brasil. O protagonista é Winston Smith. Funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro ministérios que governam Oceânia, sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico (prática, aliás, comum na União Soviética).
A opressão era física e mental. A Polícia das Ideias atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. Relações amorosas estavam entre as muitas proibições. Nesse cenário de submissão onde não há mais leis, mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido, ninguém nunca viu o Grande Irmão em pessoa. Uma sacada genial do autor: o tirano mais amedrontador é também aquele mais abstrato.
Winston detesta o sistema, porém evita desafiá-lo além das páginas de seu diário. Isso muda quando se apaixona por Júlia, funcionária do Departamento de Ficção. \O sentimento transgressor o faz acreditar que uma rebelião é possível. Mas combater o regime não é nada fácil. Enredada numa trama política, a “reeducação” dos amantes será brutal.
Dedo-duro
Num episódio controverso (e não comprovado), Orwell entregou ao serviço secreto britânico, em 1949, uma lista de 130 simpatizantes do comunismo, entre eles J.B. Priestley e Charles Chaplin.... O autor foi procurado quando estava hospitalizado, tratando-se de uma tuberculose. Ele morreu no ano seguinte.
A obra do escritor é profética também sobre a questão da quebra de privacidade. O avanço tecnológico permite um amplo monitoramento (dos satélites às microcâmeras). Em Nova York, a ONG New York Civil Liberties Union protesta hoje contra a existência de 40,76 câmeras instaladas popor quilômetro quadrado em Manhattan. Uma coisa, porém, Orwell não pôde antever: o gosto atual pelo exibicionismo/voyeurismo (o que vale tanto para a moçada do Big Brother quanto para certos usuários do Youtube, Facebook e afins).
“As pessoas agora detestam acima de tudo o anonimato. Explorar o privado virou uma forma de participação pública”, diz a especialista em comunicação Cosette Castro, da... “Na obra de Orwell, é o governo que observa tudo através de câmeras – ele fala de autoritarismo e não de voyeurismo, como é nosso caso”, disse John de Mol, criador do Big Brother, numa entrevista à à revista VEJA. Mas Orwell faz questão de frisar que existe um nexo indissolúvel entre voyeurismo e totalitarismo. No livro, é evidente o prazer de O’Brien em imiscuir-se na vida dos outros. Em As Sombras do Amanhã, de 1945, o historiador Johann Huizinga demonstrou que uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia. Todo mundo gosta de um pouco dede fofoca e muitos ditadores já usaram isso a seu favor, para coletar informações sobre os cidadãos.
“Temos curiosidade de saber como o outro dorme, come, toma banho. O Big Brother propicia uma resposta a esse anseio”, diz Cosette. O fenômeno do reality show, que talvez tivesse escandalizado o escritor, é mundial. No Brasil, faz sucesso há dez anos. “O reality show é um laboratório do qual a audiência também faz parte”, afirma Cosette Castro, referindo-se ao poder dos telespectadores de decidir o destino dos participantes dos programas. O Big Brother da ficção foi superado pelo Grande Irmão da realidade.
Teletelas
“Viveremos uma era em que a liberdade de pensamento será de início um pecado mortal e mais tarde uma abstração sem sentido”, disse Orwell. As teletelas do livro são ferramentas de controle. Estão em todo canto. Transmitem mensagens e monitoram ao mesmo tempo.
Novafala
No mundo de 1984, a língua ganha novos termos, e palavras antigas, novas acepções. A semântica é distorcida para criar um estado de torpor e confusão. Isso está expresso no lema do Partido úúnico: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força”.
Grande Irmão
Ditador e líder do Partido. É dever da população amá-lo, embora nunca tenha sido visto em pessoa. Foi inspirado em Josef Stalin e representa o perigo do totalitarismo, junto com a com a teletela. Nas ruas, cartazes mostram seu rosto e dizem “O Grande Irmão está de olho em você”.
REFERENCIAS:
A FORÇA DO PETISMO não está (obviamente) na sua capacidade de vencer discussões, mas de pautá-las.
Um petista sempre vai avaliar o adversário antes de escolher o esporte. Se você for magrelo como eu, o petista vai desafiá-lo para um duelo de sumô. Se for gordo e pesado, o petista vai querer competir com você na natação, ou talvez em uma maratona. Se você for bom de briga mas ruim da cabeça o petista te convida para uma amigável partida de xadrez; se for o contrário, para uma luta de boxe.
Como conquistaram a hegemonia nas redações, na universidade, nos sindicatos, nos “movimentos sociais” etc. os petistas possuem um imenso poder de agenda, de pauta, sempre deslocando-a em favor dos seus interesses.
Um exemplo recente: a Operação Carbono 14, deflagrada em uma sexta-feira (1º), trouxe à tona o incômodo caso Celso Daniel. Celso Daniel incomoda porque os mesmos petebas que berram “que se investigue tudo!” querem dar por encerrado um mistério que envolve, atenção, pelo menos sete OUTROS cadáveres. O caso também expõe diretamente a incoerência daqueles que cobram menos violência, mais moderação, etc. Ora, imaginem que um prefeito petista fosse assassinado hoje. Como reagiria o PT? Pediriam, corretamente, investigação, apuração, etc. custe o que custar, até tudo ser esclarecido. Porque isso não vale para Celso Daniel podemos apenas imaginar.
Quem acompanhou a sexta-feira na internet viu o silêncio geral dos petistas. Falavam de flores…
Mas um dia depois da Carbono 14 eis que surge a capa da IstoÉ. Bendita capa! Bendita foto! Os petistas se agarraram a ela com muito gosto. O assunto, a pauta, passou a ser a misoginia, o machismo, etc. Por que os petistas não falam da capa de VEJA, que além de ter circulação e audiência muito maiores sempre foi sua inimiga favorita? Porque VEJA, esta semana, traz na capa a foto de Celso Daniel, e isso não interessa. Petistas Magros Não Lutam Sumô: eles escolhem o esporte que mais lhes apetece, e é precisamente por isso, e apenas por isso, que vencem.
Dá na mesma quando um petista — ignorando total e completamente a delação do LÍDER DO GOVERNO DILMA NO SENADO, as declarações da Andrade Gutierrez ou tudo aquilo que Rui Falcão, Jaques Wagner, Mercadante e o faraó Lula disseram e está gravado — repercute aos mil ventos uma planilha da Odebrecht para a qual não existe uma só boa razão para faltar o nome de Dilma, cujo partido recebeu da empreiteira, só em 2013 (!), R$ 6 milhões declarados.
É por isso que digo que, quando um reaça diz “veja, até a Luciana Genro disse que…” ou “vejam, até a Marina Silva…”, ele já perdeu. Porque entregou a legitimidade de sua causa ou de sua agenda para uma terceira parte (ou, no caso destas duas personagens, para o Outro Lado mesmo).
***
Esta semana a internet está sendo acometida por uma nova onda. Pela coincidência de pautas entre os AstroTurfs de sempre, podemos notar que essa onda tem o carimbo ou pelo menos a anuência do Comando Central do Partido. Trata-se da “não perca amizades por política”, aí necessariamente entendido o “não brigue por causa de opiniões”.
A pauta interessa muitíssimo ao PT. Quando você está tomando uma surra dos fatos, um recurso interessante é mudar o esporte para uma saudável e amigável disputa de opiniões. Desta maneira, defender o governo vira uma mera questão de opinião, de gosto, um capricho, como escolher um time de futebol ou gostar de azeitona. Se é tudo questão de opinião, os fatos podem ser deixados de lado, como o cardápio logo depois que bons amigos escolhem o que pedir. E assim as comprovadíssimas pedaladas fiscais, o petrolão, o documento do Bessias, as promessas de Mercadante, a longuíssima delação de Delcídio, etc. etc. viram, quando muito, palpites, isso se forem lembrados.
Pelo menos dois jogos de tabuleiro reproduzem esta dinâmica. Em “Campaign Manager 2008”, o jogador deve deslocar o assunto em pauta em cada Estado — defesa ou economia — antes de amealhar os eleitores. Já em “Gym”, que será lançado no fim do ano, o jogador pode usar bullies — crianças ruins de esporte mas boas de confusão — para atrasar as competições nas olimpíadas da escola: dos seis eventos possíveis, apenas quatro serão realizados, sendo os outros dois cancelados pelas crianças marrentas.
A força do petismo está em seus bullies.
(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 24 de março de 2021)
Ao longo dos 520 anos de existência do Brasil houve um momento, apenas um, em que a população brasileira acreditou que havia realmente justiça em seu País; acreditou, nesses instantes, que de fato existiam leis e que elas eram aplicadas a todos por igual, incluindo os milionários, os influentes e os poderosos. Isso aconteceu durante o período, poucos anos atrás, em que o juiz Sergio Moro, à frente de uma vara penal em Curitiba, julgou, condenou e mandou para a cadeia um ex-presidente da República sentenciado por corrupção e lavagem de dinheiro, prendeu empresários-gigante que confessaram publicamente os seus crimes e recuperou bilhões de reais em dinheiro roubado da Petrobras e outros cofres do Estado. Mas foi apenas um intervalo fugaz. A maior conquista já alcançada pela Justiça brasileira foi transformada em ruínas pela ação direta de um Supremo Tribunal Federal (STF) em que oito dos onze ministros foram nomeados justamente pelos dois governos mais corruptos da história nacional — e os que mais sentiram as punições aplicadas por força da Operação Lava Jato.
Foi um trabalho contínuo, cauteloso e deliberado. No começo, os ministros foram devagar com sua operação de desmanche da Lava Jato. Temiam, então, causar resistências sérias aos seus atos — especialmente por parte das Forças Armadas, que chegaram a avisar, nas primeiras manobras do STF em favor dos acusados de corrupção, que não aceitariam a promoção da impunidade no mais alto tribunal do país. Mas, com o tempo, foi ficando cada vez mais claro que ninguém ia fazer nada. Os ministros, então, foram perdendo o medo, ganharam a certeza de que podiam agir com impunidade e acabaram por jogar na lata de lixo anos a fio de valioso trabalho da Justiça brasileira. Nesta fase final do ataque em favor da corrupção e dos corruptos, aquilo que começou com uma calamidade, com a decisão do ministro Edson Fachin de anular todas as ações penais contra Lula, acabou com um deboche, agora por obra da ministra Cármen Lúcia — ela tomou a extraordinária decisão de decretar que, após a roubalheira histórica dos governos Lula e Dilma, o único culpado é o juiz que puniu os ladrões.
Não se notou, em nenhum dos dois casos, sequer aqueles escrúpulos apressados que, em geral, entram em cena nessas circunstâncias. Fachin, em sua decisão, conseguiu não dizer uma única sílaba sobre culpa, provas e outros elementos básicos de uma ação penal; anulou tudo porque achou, cinco anos e três instâncias depois, que o processo contra Lula não deveria ter corrido em Curitiba, e sim em Brasília. Cármen, por sua vez, viveu um momento de pura superação, baseando seu decreto sobre a “suspeição” de Moro em informações obtidas através de atos criminosos — isso na mais alta corte de Justiça da nação. De um lado, um ministro anula os processos de Lula invocando uma miserável questãozinha burocrática. De outro, a ministra aceita gravações flagrantemente ilegais como “prova” contra Moro. É o “garantismo” à moda da casa.
As instituições brasileiras estão em vias de liquidação — e no ponto específico da insegurança jurídica, a marca das sociedades subdesenvolvidas que tanto envenena o Brasil de hoje, vamos chegando a extremos cada vez mais incompreensíveis. O STF, como se diz a cada decisão tomada por seus ministros, tornou-se o mais agressivo fator de insegurança no país. A ministra Cármen foi além: provou que não há segurança nem nos votos que os próprios ministros dão. Ela já tinha votado, neste mesmíssimo caso, contra a defesa de Lula. Agora, sem que tenha acontecido absolutamente nada de novo, vem dizer que o voto que tinha dado não vale mais nada — e apareceu com outro voto, exatamente ao contrário do que já havia decidido, este a favor de Lula.
Quando nem o voto de um ministro tem qualquer significado, jurídico ou moral, podendo mudar à medida que mudam os seus interesses, estamos no limite da insanidade.
Leia também: “Cinco vezes em que o STF desorganizou o Brasil”, artigo de Silvio Navarro publicado na Edição 50 da Revista Oeste