sexta-feira, 9 de junho de 2023

Folie à Deux: Transtorno delirante induzido


Photo by Elvin Ruiz

Também conhecido como psicose de associação, o transtorno delirante induzido é um fenômeno raro no qual um sujeito em um quadro psicótico transfere seus delírios para outras pessoas. Geralmente, isso ocorre entre pessoas em um relacionamento íntimo (mãe-filhos, marido-mulher, irmãos etc.) e em condições de isolamento (por barreiras linguísticas, geográficas, sociais, entre outras). No entanto, nem sempre é necessário tal isolamento para que o fenômeno ocorra.

Na maioria dos casos, o indivíduo que “recebe” o delírio (indivíduo secundário) não sofre de qualquer tipo de transtorno psicótico, apresentando sintomas apenas enquanto há contato com o indivíduo indutor (que transfere o delírio). Muitas vezes, o afastamento das duas pessoas resolve o problema para o indivíduo secundário, que tende a ser passivo na sua relação com o indivíduo indutor.

O quadro foi relatado pela primeira vez por Harvey, em 1641, mas ganhou mais detalhes nos relatos de Laségue e Falret, em 1877. De acordo com estes autores, para que o delírio seja transmitido de uma pessoa à outra, é necessário que o conteúdo do delírio seja verossímil, ou seja, facilmente acreditável para o indivíduo secundário. Ainda segundo eles, o fenômeno seria mais frequente em mulheres, sendo elas as principais indutoras de delírios em seus familiares — especialmente filhos e parceiros românticos.

Um outro nome para o transtorno é folie à deux (“loucura a dois” em francês), que pode sofrer modificações de acordo com a quantidade de indivíduos secundários: folie à trois, à quatre, à famille (“em família”) ou à plusieurs.

Em geral, delírios persecutórios são os mais comuns nesse transtorno. No entanto, podem ocorrer delírios religiosos, necessitando um bom discernimento entre o que é fé e o que é sintoma psicótico. Uma boa maneira de ver isso é observar se as outras pessoas também foram afetadas, ou se só poucos dos indivíduos em convivência partilham o delírio. Além disso, se os sintomas se espalham para dimensões além da religiosa, pode ser um indício de que não se trata apenas de fé.

Além disso, é comum que o indivíduo secundário tenha uma predisposição biológica para o desenvolvimento de sintomas psicóticos. No que tange o ambiente em que a pessoa está inserida, o contato prolongado com o indivíduo primário e uma falta de contato com outros círculos sociais estão associados ao desenvolvimento do transtorno.

Apesar de ser um transtorno raro, quando identificado, o tratamento pode ter uma evolução bem favorável, embora muitas vezes envolva o afastamento de duas pessoas ou mais.
Subtipos de folie à deux

De acordo com Gralnick, o transtorno delirante induzido pode ser dividido em 4 subtipos. Contudo, esses subtipos não são reconhecidos pelo CID-10 (Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição) nem pelo DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição) e, portanto, estão listados aqui apenas a título de curiosidade.Folie imposée: Ocorre quando os delírios da pessoa indutora são transferidos a uma pessoa secundária mentalmente saudável. Os delírios do indivíduo secundário desaparecem após a separação.

Folie simultanée: Quando ocorre um delírio simultâneo e idêntico em duas pessoas intimamente associadas e predispostas à psicose.

Folie communiquée: O indivíduo secundário possui uma resistência inicial ao delírio induzido mas, após algum tempo, passa a apresentar os sintomas e demora mais para se recuperar, mesmo após o afastamento do indivíduo indutor.

Folie induite: Dá-se quando um indivíduo que já se encontra em um quadro psicótico adota novos delírios induzidos por outro indivíduo em episódio psicótico.

Photo by Jake Davies

Folie à deux na história e na ficção

Apesar de se tratar de uma condição rara, existem diversos casos de transtorno delirante induzido na história — e também em algumas obras de ficção. Aqui vão alguns exemplos:

Caso Margaret e Michael
Um dos primeiros casos de transtorno delirante induzido registrado se passou com o casal Margaret e Michael, ambos com 34 anos de idade na época. Os dois acreditavam que algumas pessoas os perseguiam. De acordo com o casal, tais perseguidores entravam em sua casa espalhando poeira e outras sujeiras, chegando até mesmo a desgastar seus sapatos.
Sr. e Sra. A

O caso do Sr. e da Sra. A parece até mesmo história de filme, mas aconteceu de verdade. Desde criança, Sra. A conversava com deuses de elementos da natureza, como o mar, o céu e as estrelas. Sua família acreditava na religião espírita, mas mesmo assim repreendiam os comportamentos da menina pois não eram completamente compatíveis com suas crenças.

Já o Sr. A foi diagnosticado com esquizofrenia quando tinha apenas 8 anos de idade, e acreditava ter em sua companhia 3 demônios “bons”.

Após publicar um anúncio a procura de uma companheira, Sr. A recebeu uma resposta de Sra. A. Em apenas uma semana, os dois se conheceram, se apaixonaram e casaram. Em seguida, Sra. A viu seu marido ser “possuído” por um dos demônios, que a fez a acreditar que ele era o mesmo deus do mar com quem ela conversava quando era criança.

Durante muitos anos, o casal viajou a procura de emprego seguindo os conselhos dos demônios. Em um determinado momento, um dos demônios disse que Sr. A seria assassinado e a Sra. A seria estuprada, o que fez com que o casal adquirisse uma arma.

Em uma determinada noite, o casal foi jantar em um restaurante, onde viram dois garçons rindo deles. Os dois foram para casa, chateados, e os demônios então disseram que eles deveriam ir ao restaurante matar os garçons. Eles pegaram a arma e voltaram ao restaurante, atirando e matando os dois garçons.
Após o incidente, Sr. e Sra. A se separaram.

Família Tromp
Em 2016, uma família australiana deixou sua fazenda em Silvan, no estado de Victoria, de maneira repentina. Mark Tromp pegou sua mulher, Jacoba, e seus 3 filhos adultos Mitch, Ella e Riana, e deixou sua casa completamente destrancada, indo em direção a Nova Gales do Sul, um outro estado australiano.

No segundo dia de viagem, os irmãos ficaram com medo a respeito do que iria acontecer e resolveram se separar do casal. Mitch ficou em Bathurst e foi para Sydney, onde pegou um trem para voltar para Melbourne, capital do estado de Victoria. Já Ella e Riana foram para Goulburn, onde se separaram.

Riana foi encontrada em estado catatônico se escondendo na parte de trás de uma picape. Ella, por outro lado, roubou um carro e voltou para casa. Poucos dias depois, Jacoba foi avistada perdida na pequena cidade de Yass e foi levada para o hospital. Por último, Mark foi encontrado perto de Wangaratta, uma cidade ao nordeste de Victoria, ainda delirando e tentando fugir de pessoas que ele acredita que iriam matá-lo.

Felizmente, a família se encontra novamente em casa nos dias atuais. Todos receberam tratamento médico e psicológico para lidar com o trauma do evento, e hoje voltaram a levar a vida cuidando da fazenda.

O Babadook
Se você assistiu o filme australiano O Babadook (2014), já deve ter se perguntado como aqueles eventos pareciam tão reais tanto para a mãe quanto para o filho. Trata-se de um caso de folie à deux no qual o delírio da mãe era transmitido ao filho.

Ainda que seja raro, o transtorno delirante induzido é uma realidade com a qual os profissionais da saúde mental devem estar preparados para lidar. Embora alguns casos de folie à deux sejam curiosos, outros causam prejuízos graves aos indivíduos envolvidos, que tendem a piorar caso não haja intervenção médica. Por isso, é de extrema importância levar em consideração a quantidade de pessoas apresentando sintomas semelhantes.

Caso você conheça alguém que passou a se comportar de maneira diferente e prejudicial após um tempo em contato frequente com uma pessoa em específico, não hesite em conversar sobre a possibilidade de procurar ajuda.

Referências

Nishihara, R. M. and Nakamura, C. T. (1993) A Case Report of Folie’a Deux: Husband-and-Wife. Jefferson Journal of Psychiatry, 11(1) , Article 9. DOI: https://doi.org/10.29046/JJP.011.1.012 Available at: http://jdc.jefferson.edu/jeffjpsychiatry/vol11/iss1/9

Machado, L.; Cantilino, A.; Petribú, K. & Pinto, T. (2015). Folie à deux (transtorno delirante induzido). Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 64(4), 311-314. https://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000095

http://listverse.com/2018/03/26/10-highly-unusual-examples-of-folie-a-deux-or-shared-psychosis/

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Desembargador de SC denunciado por manter mulher em condições análogas à escravidão por 20 anos é especialista em direito do trabalho; saiba quem é

Segundo o MPF, vítima residia na casa de Jorge Luiz de Borba e esposa e executava tarefas domésticas. Ela não tinha carteira assinada e sofria maus-tratos.


Por Sofia Mayer, g1 SC
06/06/2023 14h47 


Desembargador Jorge Luiz Borba, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina — Foto: YouTube/Reprodução

O desembargador Jorge Luiz de Borba, alvo da investigação que apura suspeita de trabalho análogo à escravidão, é especializado em Direito do Trabalho pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb), onde já havia se formado em direito, segundo a plataforma Currículo Lattes. O mandado foi cumprido na casa do magistrado, em Florianópolis, nesta terça-feira (6).

O desembargador disse em nota que "aquilo que se cogita, infundadamente, como sendo 'suspeita de trabalho análogo à escravidão', na verdade, expressa um ato de amor. Haja vista que a pessoa, tida como vítima, foi na verdade acolhida pela minha família" (confira nota na íntegra abaixo).

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) foi procurado e informou que não irá se manifestar.

Natural de Blumenau, ele presidiu a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no município do Vale do Itajaí em 1991 e recebeu o título de cidadão emérito da cidade em 2017.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Borba e a esposa são suspeitos de manter uma mulher com deficiência auditiva como empregada doméstica por 20 anos sem carteira assinada.

Há indícios de prática criminosa, conforme o MPF, e relatos de trabalho forçado, jornadas exaustivas e condições degradantes.

A ação

O MPF informou que a ação na casa do desembargador foi motivada por uma investigação que apura "indícios da prática criminosa" após relatos de "trabalho forçado, jornadas exaustivas e condições degradantes".
Desembargador Jorge Luiz de Borba — Foto: TJSC/ Divulgação

Em nota enviada às 11h40, o órgão disse que a medida tem como objetivo apurar denúncias de que Borba, nomeado para o desembargo em 2008, e a esposa mantêm a trabalhadora em condição análoga à escravidão.
"A trabalhadora seria vítima de maus tratos em decorrência das condições materiais em que vive e em virtude da negativa dos investigados em prestar-lhe assistência à saúde", informou o MPF.

Conforme o órgão, a trabalhadora tem deficiência auditiva, nunca teve instrução formal e não possui o convívio social resguardado.

O que diz o desembargador
Confira abaixo a nota na íntegra do desembargador investigado.

Nota de Esclarecimento

Venho manifestar surpresa e inconformismo com o ocorrido, antecipando, desde logo, que aquilo que se cogita, infundadamente, como sendo “suspeita de trabalho análogo à escravidão”, na verdade, expressa um ato de amor. Haja vista que a pessoa, tida como vítima, foi na verdade acolhida pela minha família.

Trata-se de alguém que passou a conviver conosco, como membro da família, residindo em nossa casa há mais de 30 anos, que se juntou a nós já acometida de surdez bilateral e muda, tendo recebido sempre tratamento igual ao dado aos nossos filhos.

Embora irresignado, confio serenamente na justa elucidação dos fatos, certo de que, quem faz o bem não pode ser penalizado. Colocamo-nos à disposição de todos, posto que dispomos de elementos suficientes para comprovar a dignidade dos nossos propósitos, que foram, são e serão exclusivamente humanitários, de amor ao próximo.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Saiba o que é a Igreja do Evangelho Quadrangular, que teve avião apreendido com drogas no PA



Operação foi realizada no Aeroporto de Belém (Crédito: Divulgação Polícia Federal)

by Isto É

31/05/2023 - 10:40Compartilhe

A Polícia Federal apreendeu no sábado, 27, um avião da Igreja do Evangelho Quadrangular, liderada por Josué Bengtson, tio da senadora Damares Alves (Republicanos – DF), que continha quase 300 kg de skunk (um tipo de maconha). O caso ocorreu no aeroporto internacional de Belém, no Pará.
O que acontece:A Igreja do Evangelho Quadrangular foi fundada em 1923, em Los Angeles, na Califórnia (EUA). No Pará, a primeira unidade foi aberta em 1973 no bairro do Reduto. A instituição religiosa em solo nacional completou 50 anos de fundação no ano de 2023;

O fundador da igreja no Brasil foi o pastor e ex-deputado federal Josué Bengtson; Ele teve o seu mandato cassado pela Justiça Federal em 2018 por possível envolvimento envolvimento no caso conhecido como “máfia das ambulâncias”;

Além disso, Josué é pai do ex-deputado federal Paulo Bengtson, que atua como membro do conselho nacional e estadual da Igreja do Evangelho Quadrangular e é secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme).

Apreensão:Após a apreensão da aeronave, Damares Alves afirmou que teve conhecimento sobre a operação da PF por meio da imprensa. Ao entrar em contato com a sua família, teria sido informada de que a própria igreja realizou a denúncia à Polícia Federal sobre uma carga suspeita que tinha sido carregada no avião sem autorização;

Contudo, momentos depois, a corporação refutou a versão dada pela parlamentar ao afirmar que o avião já era monitorado por conta de informações fornecidas pelo Núcleo de Polícia Aeroportuária;
A IstoÉ entrou em contato com a senadora para saber o seu posicionamento sobre a nova manifestação da PF, porém a parlamentar afirmou que não tem nada a declarar, “uma vez que a única ligação é o parentesco com o pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular”, concluiu.

segunda-feira, 29 de maio de 2023

O que se sabe sobre o caso de empresário que pagava mesada a mães para estuprar crianças no RS


Empresário Jelson Silva da Rosa, de 41 anos, foi preso em Imbé em 27 de abril. Homem é suspeito de produzir material pornográfico com crianças e fornecer lista de abusos com valores para mães de menores de idade.

Por g1 RS
26/05/2023

Quatro mulheres e um homem já foram presos no Rio Grande do Sul na Operação La Lumière, que investiga desde fevereiro uma suposta rede de pedofilia no estado. De acordo com a Polícia Civil, o esquema envolvia uma rede de mulheres que entregavam seus filhos, todos entre 0 e 12 anos de idade, para abusos sexuais em troca de dinheiro e presentes.
As primeiras prisões feitas por conta da investigação aconteceram em 27 de abril, quando o suspeito de comandar o esquema e uma mãe foram presos, e a mais recente foi realizada nesta sexta-feira (26).

O suspeito, identificado como o empresário Jelson Silva da Rosa, de 41 anos, oferecia, segundo a polícia, uma lista de opções às mães, com preços para passar o fim de semana e dar banho nas crianças, como se fosse um cardápio. Ele está preso na Penitenciária Modulada de Osório. A identidade das mulheres não é divulgada pela polícia para proteger as crianças.

Saiba, abaixo, o que se sabe e o que falta saber sobre o caso.

O empresário 

Empresário Jelson Silva da Rosa é suspeito de exploração sexual e pornografia infantil — Foto: Arquivo Pessoal

O homem preso em flagrante em 27 de abril por suspeita de exploração sexual, pornografia infantil e fraude processual em Imbé, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, é Jelson Silva da Rosa, de 41 anos. Ele é casado e tem uma empresa de tecnologia em Porto Alegre. A Polícia Civil não divulgou o nome do homem, mas a reportagem da RBS TV conseguiu confirmar a identidade. Jelson foi encaminhado para a Penitenciária Modulada de Osório.

''Ele é uma pessoa que tem duas faces. Quem não conhece de verdade, acha que ele é uma pessoa extremamente boa, que ele é uma pessoa que ajuda instituições beneficentes, instituições de caridade. Nesses locais, ele conhece as pessoas, ele ganha a confiança e começa a explorar as mães das crianças'', diz a delegada Camila Franco Defaveri, da 1ª Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA).

O advogado Marcos Vinícius Barrios, que representa Jelson, alega que ''a acusação é lastreada em intuições e presunções indevidas''. Ele acrescenta que ''do material existente que está ao conhecimento da defesa não existe nada que possa indicar as condutas descritas pela autoridade policial''.


'R$ 3 mil mês mais mimos': suposta negociação entre suspeito de abusos e mãe de crianças

Quem são as mulheres presas

Quatro mulheres já foram presas pela Polícia Civil do RS por suspeita de participação no suposto esquema de pedofilia. Elas não tiveram as suas identidades reveladas para preservar as crianças envolvidas.

A primeira prisão aconteceu em 27 de abril, em Porto Alegre. A mulher presa é suspeita de receber uma mesada para submeter suas três filhas, de 8, 10 e 12 anos, a abusos sexuais do homem preso. A defesa da suspeita não havia sido encontrada pelo g1 até a publicação desta reportagem.

A segunda e a terceira prisões aconteceram em 17 de maio. Uma das mulheres é mãe de uma menina de 7 anos, que teria sido entregue ao homem para abusos sexuais mediante pagamento de uma mesada. Ela residia em Cachoeirinha e já teria prestado serviços para a empresa do homem preso, sendo registrada como "digitadora". A defesa da suspeita não havia sido encontrada pelo g1 até a publicação desta reportagem.

A outra mulher, de 23 anos, foi presa pelo mesmo motivo, em Porto Alegre. De acordo com a polícia, ela também é suspeita de entregar as filhas de 1 e 3 anos para abusos sexuais em troca de mesada. O advogado que defende a mulher de 23 anos, Nelson Elias, diz que "ela foi aliciada pelos pedófilos como 'acompanhante' e que, depois, eles começaram a assediar as filhas dela".

Em 26 de maio, a quarta mulher foi presa preventivamente por suspeita de submeter sua filha, de 1 e 8 meses, a abusos sexuais do suspeito.

Há mais pessoas envolvidas


De acordo com a delegada Camila Defaveri, que investiga os casos, as prisões das quatro mulheres e do homem são resultado da investigação do que pode ser uma rede de pedofilia no RS.

"É a ponta do iceberg. Temos muita investigação a ser realizada ainda, temos bastante volume, porque os fatos são graves. Envolvem crianças e adolescentes, é uma investigação muito delicada", explica a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

De acordo com as informações da polícia, a mãe da quarta mulher presa também é suspeita. Ela daria suporte e apoio para os crimes e também seria beneficiada economicamente pela exploração da neta.

Polícia Civil prende mais uma mãe envolvida em esquema de abuso sexual infantil

Como a polícia descobriu o caso


A 1ª Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) descobriu o caso após receber uma denúncia anônima. "Esse crime chegou através de uma denúncia anônima, de uma pessoa que viu uma conversa no computador da empresa onde a mãe dessas meninas trabalhava, com o pedófilo", diz a delegada Camila Franco Defaveri.

No celular do suspeito, a polícia encontrou mensagens em que o homem ofereceria uma lista com preços para abusar das crianças que era enviada, inclusive, a outras mães de menores de idade. Segundo a delegada, era "um cardápio" de abusos. O caso deve ser dividido em vários inquéritos, a partir da identificação de novas suspeitas de submeter crianças a exploração sexual.


Como ocorria a aproximação

A partir da prisão do empresário, a polícia começou a desvendar o que pode ser uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes. O homem se aproximava de mães vulneráveis financeiramente em ONGs e sites de prostituição. O alvo nunca eram as mulheres, e sim as crianças.

O suspeito ofereceria uma lista de opções às mães, com preços para passar o fim de semana e dar banho nas crianças. Nesse material, conforme a delegada Camila Franco Defaveri, da 1ª Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), ele ofereceria um "cardápio" com preços por abusos a várias mães de menores de idade.

"Eles combinavam valores, por exemplo, R$ 1,5 mil para passar o fim de semana com as meninas, R$ 500 para dar banho, tipo um 'cardápio' mesmo", diz.

A lista foi encontrada em um celular apreendido com o suspeito. A polícia verificou conversas dele com várias mulheres, em que o homem combinaria valores e recebia o dinheiro via Pix.

Como e onde aconteciam os supostos crimes

Segundo a polícia, os abusos aconteciam no apartamento do homem, em Imbé. O crime foi descoberto através de uma denúncia anônima. Uma pessoa viu a conversa da mãe das meninas, de 8, 10 e 12 anos, no computador da empresa onde ela trabalhava. Nas mensagens, obtidas pela RBS TV, o empresário acertava valores com a mulher para abusar das filhas.

"Vamos ficar aí em POA em um apzinho que vou alugar no (...) pego ela saímos jantamos vamos pro ap depois no outro (...) R$1.500. E aí daqui 15 dias fizemos de novo. Ou seja R$ 3.000 mês mais mimos a ela", diz o suposto abusador à mulher em uma das mensagens. Há trechos que foram suprimidos pela polícia. O empresário ainda sugere que no verão eles façam viagens para a praia e também parques aquáticos.  ''Era tipo um ‘cardápio’ mesmo. De uma forma bem singela, explicando os valores e o que faria com a criança, por exemplo, desde passeios ao shopping e ao cinema, como banho, dormir de conchinha'', relata a delegada.


Itens apreendidos no apartamento do suspeito, em Imbé — Foto: Polícia Civil/Divulgação


O que aconteceu com as crianças


As filhas da primeira mulher presa foram encaminhadas aos cuidados da avó.
O g1 não tem informações sobre o que aconteceu com a filha da segunda mulher presa.
As filhas da terceira mulher presa foram encaminhadas para perícia psíquica e verificação de violência sexual no Centro de Referência em Atendimento Infanto-juvenil do Instituto-Geral de Perícias (CRAI-IGP) por equipes do Conselho Tutelar. Após, a Justiça orientou que elas fossem encaminhadas para um abrigo. A filha da quarta mulher presa foi encaminhada para perícia psíquica e verificação de violência sexual no Centro de Referência em Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI-IGP), por equipes do Conselho Tutelar.

Como denunciar casos do tipo
Casos de exploração sexual de menores podem ser denunciados pelos telefones 181 e 0800-642-6400. A Polícia Civil do RS também recebe relatos pelo WhatsApp (51) 98444-0606.

Presa mãe suspeita de receber mesada para que empresário abusasse de filha menor de 2 anos no RS, diz polícia

Mulher foi presa nesta sexta (26). Ela teria submetido a filha de 1 ano e 8 meses aos abusos. Suspeito dos crimes está preso desde abril. Homem pagava as mães para abusar dos filhos delas.

Por Vitor Rosa, RBS TV
26/05/2023 13h58 Atualizado há 2 dias
Mulher presa por exploração sexual da filha no RS — Foto: RBS TV/Reprodução

A Polícia Civil prendeu preventivamente, na manhã desta sexta-feira (26), em Porto Alegre, uma mulher, de 25 anos, suspeita de receber mesada para que o empresário Jelson Silva da Rosa, de 41 anos, abusasse sexualmente de sua filha, de 1 e 8 meses. Ela é a quarta mãe presa pela Operação La Lumière, que investiga a exploração sexual infanto-juvenil.

O advogado Marcos Vinícius Barrio, que defende o empresário, afirmou à RBS TV que a suspeita é "descabida e imprópria" e que a conduta de Jelson não se enquadra na "figura prevista do crime de exploração sexual".

A mãe, que reside na Capital, é suspeita de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança e adolescente e estupro de vulnerável.

Além das quatro mulheres, o empresário suspeito de cometer as violências sexuais contra as crianças está preso desde abril. Ele foi indiciado por exploração sexual infantil e estupro.

"A gente identificou muitas conversas salvas e valores combinados para o programa previamente, como se fosse uma tabela de preços, um cardápio: sair com a criança e a mãe, passear no shopping, o valor era X. Ir para hotel, Y, tomar banho de banheira, fazer massagens. Pedindo Pix, pedindo depósitos prévios, se faz sedutor [suspeito], do bem primeiramente. E, aí vai se aproximando das pessoas. Elas vão ficando dependente financeiramente dele e acabam que exploram suas filhas", conta a delegada Camila Franco Defaveri.
Gelson Silva da Rosa, suspeito de abusar de menores de idade no RS. — Foto: Reprodução/RBS TV

De acordo com as informações da polícia, a avó materna da criança também é suspeita. Ela daria suporte e apoio para os crimes e também seria beneficiada economicamente pela exploração da neta.


O esquema envolvia uma rede de mulheres que entregavam seus filhos, todos entre 0 e 12 anos de idade, para abusos sexuais em troca de dinheiro e presentes.

O suspeito ofereceria uma lista de opções às mães, com preços para passar o fim de semana e dar banho nas crianças, como se fosse um cardápio.

A filha da mulher presa nesta sexta foi encaminhada para perícia psíquica e verificação de violência sexual no Centro de Referência em Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI-IGP), por equipes do Conselho Tutelar.

Entenda o caso

A 1ª Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) descobriu o caso após receber uma denúncia anônima, no fim de abril. De acordo com a delegada Camila Franco Defaveri, uma pessoa avisou a polícia após ver uma conversa, no computador da empresa onde a mãe trabalhava, com o suspeito.

No celular desse homem, a polícia encontrou mensagens, inclusive, com outras mães de menores de idade. Segundo a delegada, ele oferecia era "um cardápio" de abusos.

Já foram presas quatro mulheres. Uma delas é mãe de três filhas com 8, 10 e 12 anos. Ela residia em Porto Alegre. Já a outra é mãe de uma menina de 7 anos e residia em Cachoeirinha. A penúltima prisão ocorreu no dia 17 de maio. Uma mulher, de 23 anos, mãe de duas meninas de 1 e 3 anos de idade.

Em relação ao homem, os primeiros mandados foram cumpridos na casa onde ele mora, em Imbé, no Litoral Norte. Segundo a polícia, o local é um "imóvel de luxo", amplo e com muita segurança.

No momento em que os policiais ingressaram na residência, o investigado teria quebrado um celular e um computador. Contudo, a Divisão de Informática do IGP conseguiu recuperar conteúdos armazenados."Ele estava quebrado, estava danificada a tela, então, não conseguia ter acesso para fazer o desbloqueio. O pessoal conseguiu, através das ferramentas que a gente tem, inserir um numerador de teclado, fazer uma recuperação parcial e, a partir disso, conseguir acessar e extrair os dados. A gente faz sempre uma cópia de segurança e, a partir dessa cópia, faz a análise. Então, por meio desses recursos, a gente conseguiu fazer essa cópia mesmo com a tela quebrada e com parte dos recursos danificados", explicou o perito criminal do Instituto Geral de Perícia (IGP) Márcio Gil Faccin.

O suspeito trabalha na área de tecnologia da informação (TI), atuando na "deepweb", segundo a delegada.

'R$ 3 mil mês mais mimos': conversas mostram suposta negociação entre suspeito de abusos e mãe de crianças no RS

Mulher foi presa em Porto Alegre após denúncia anônima. Preso em Imbé é suspeito de produzir material pornográfico com crianças e de fornecer lista de abusos para mães de menores de idade.


27/04/2023 11h27 Atualizado há um mês

Itens apreendidos no apartamento do suspeito, em Imbé — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Conversas interceptadas pela polícia e obtidas pela RBS TV mostra como funcionaria a negociação entre a mulher suspeita de submeter as filhas a exploração sexual e o homem suspeito de pagar uma mesada a ela e de abusar das crianças. Ambos foram presos em flagrante nesta quinta-feira (27) – ela, em Porto Alegre, e ele, em Imbé, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.

"Vamos ficar aí em POA em um apzinho que vou alugar no (...) pego ela saímos jantamos vamos pro ap depois no outro (...) R$1.500. E aí daqui 15 dias fizemos de novo. Ou seja R$ 3.000 mês mais mimos a ela", diz o suposto abusador à mulher em uma das mensagens. Há trechos que foram suprimidos pela polícia.

De acordo com a Polícia Civil, a mulher submetia suas três filhas – de 8, 10 e 12 anos – a exploração sexual em Porto Alegre. O homem foi preso em flagrante a 120 km de distância da Capital, em Imbé.

A polícia afirma que o homem ofertava presentes, como brinquedos, roupas e material de higiene pessoal, às meninas. Ele receberia as crianças em um apartamento a poucas quadras de sua casa. Ele também é suspeito de produzir material de pornografia infantil para venda e uso pessoal.

"Vou mandar a mais para alguma roupinha e algum perfume. Aí compra calcinha nova, pijaminha novo e perfume, faz cabelo etc. Vê quanto mais ou menos dá isso", diz outra mensagem interceptada pela polícia a que a RBS TV teve acesso.

Em um trecho da conversa, o homem planeja abusos durante viagens.

"No verão podemos fazer viagens [para] praia, parques aquáticos", diz o homem na mensagem.

Denúncia

Casos de exploração sexual de menores podem ser denunciados pelos telefones 181 e 0800-642-6400. A Polícia Civil do RS também recebe relatos pelo WhatsApp (51) 98444-0606.

Policiais cumprem mandados de busca e apreensão contra suspeitos no RS — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Investigação

A 1ª Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) descobriu o caso após receber uma denúncia anônima. De acordo com a delegada Camila Franco Defaveri, a denúncia partiu de "uma pessoa que viu uma conversa no computador da empresa onde a mãe dessas meninas trabalhava, com o pedófilo".

No celular do suspeito, a polícia encontrou mensagens em que o homem ofereceria uma lista com preços para abusar das crianças que era enviada, inclusive, a outras mães de menores de idade. Segundo a delegada, era "um cardápio" de abusos. O caso deve ser dividido em vários inquéritos, a partir da identificação de novas suspeitas de submeter crianças a exploração sexual.

As crianças foram encaminhadas para perícia psíquica e verificação de violência sexual no Centro de Referência em Atendimento Infanto-juvenil (CRAI) do Instituto Geral-de Perícias (IGP), em Porto Alegre. Equipes do Conselho Tutelar, do próprio IGP e das delegacias de Imbé e Balneário Pinhal participaram da operação.

O homem foi autuado por exploração sexual, pornografia infantil e fraude processual, em razão de tentar danificar os aparelhos.


Policiais cumprem mandados de busca e apreensão contra suspeitos no RS — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Prisões

Os flagrantes foram feitos após a polícia cumprir mandados de busca e apreensão em Porto Alegre e Imbé. A mulher foi encontrada em casa, na Zona Sul da Capital, onde foi presa por exploração sexual. Os agentes também cumpriram mandados no local de trabalho dela, onde as conversas com o homem teriam sido realizadas.

Em relação ao homem, os primeiros mandados foram cumpridos na casa onde ele mora, no município do Litoral Norte. Segundo a polícia, o local é um "imóvel de luxo", amplo e com muita segurança.

No momento em que os policiais ingressaram na residência, o investigado teria quebrado um celular e um computador. Contudo, a Divisão de Informática do IGP conseguiu recuperar conteúdos armazenados. O suspeito trabalha na área de tecnologia da informação (TI), atuando na "deepweb", segundo a delegada.

Já no apartamento, mantido sem o conhecimento da esposa do suspeito, foram encontrados diversos objetos, como vibradores com resíduos humanos, diz Camila Franco Defaveri.

"Ele usava um apartamento perto, de um quarto, bem pequenininho, para cometer os abusos. A cama estava bem bagunçada", conta a delegada.



Policiais cumprem mandados de busca e apreensão contra suspeitos no RS — Foto: Polícia Civil/Divulgação

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