Mas essa própria cultura social se contradiz, pois é para exatamente esses poucos, que devem voltar os nossos olhares.
Se paramos para observar, ao caminhar numa rua do Brasil, as pessoas falam de formas diferentes, tem cores diferentes, vestem-se de maneiras diferentes, amam-se de maneiras diversas. O que torna a sociedade brasileira uma das mais ricas e admiradas pelo mundo todo é exatamente os fatores, que dentro desta, se diferenciam.
A diferença e a diversidade não deve ser estranhada pelo ser vivo na pessoa do outro, pois isso é o reflexo daquilo que nos compõe, fisicamente, psicologicamente e geneticamente. No entanto, ainda é difícil dialogar sobre aceitar e incluir. Talvez as duas áreas que mais lidam com esses pontos da fragilidade humana sejam as ciências medicas e a educação, talvez por que, estas contribuam uma com a outra.
Aceitar e incluir! Tantos processos exigem passos mais complexos a serem seguidos, a quebra do preconceito só precisa desses dois e, no entanto é tão difícil.
Muito nos sensibiliza ao voltarmos o nosso olhar para a realidade brasileira, quando se diz respeito à inclusão, de modo especial, dentro ambiente educacional. A escola é a célula viva que fundamenta toda a vida social, é La que se aprende o que se deve fazer, como, onde e com quem. Os lugares sociais ali são, até de maneira cruel, muito bem definidos. Olhando para essa escola e essa educação a qual estamos acostumados a fazer parte, como pensar em incluir, se o que se acentua dentro da escola ainda são as diferenças, e por consequência, a exclusão do diferente?
Até 2003, não se acreditava em inclusão, não se acreditava que era possível trabalhar dentro das turmas regulares com pessoas com deficiências. A partir do referido ano, o ministério da educação lançou um novo modelo educacional voltado para a capacitação dos professores com a reforma de escolas para receber pessoas com deficiências e liberação de verbas e financiamentos para por em prática tal iniciativa.
Segundo os dados do ministério da educação, depois da proposta inclusiva lançada pelo governo federal, passaram de 83. 467 crianças com deficiências matriculadas em turmas regulares para mais 400.000 crianças. Foram equipadas escolas em 83% dos estados brasileiros e 42% dos municípios brasileiros. Existem programas do governo federal como, o plano de ação articulada (PAR) que, por meio de projetos, a escola pode conseguir financiamentos junto ao ministério da educação. Ainda é pouco, reconheçamos, mas faz toda a diferença num Brasil onde não havia nenhum trabalho voltado para tal finalidade.
É muito bonito, atualmente, ver que, alguns políticos brasileiros tem deixado a politicagem de lado e dado atenção especial para setores como a educação inclusiva. Como na Câmara dos Deputados que aprovou dia 04 de setembro de 2012 o projeto de lei que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa Autista. O projeto equipara os direitos dos autistas aos das pessoas com deficiência. Atualmente as pessoas com Autismo não são reconhecidas como deficientes, o que limita o acesso a serviços públicos de saúde.
O problema da exclusão existe e não deve ser tido como inexistente, tratam-se de pessoas, que tem capacidade de aprender como todas as outras, a seu ritmo, e esse ritmo deve ser respeitado. Cabe não só ao educador, que solitário, muitas vezes não tem total acesso à informação e ao material necessário para proceder nessa situação, mas também ao poder publico. A inclusão deve, não mais como uma questão de fórum íntimo, deixar de ser uma luta solitária, por que engloba saúde publica e direitos humanos.
Falando de modo especial para a questão do Autismo, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, cerca de 70 milhões de pessoas no mundo são acometidas por este transtorno, sendo que, em crianças, é mais comum que o câncer, a AIDS e o diabetes, juntos. Durante várias décadas, desde os anos 1940, quando o autismo foi inicialmente descrito pelo psiquiatra infantil austríaco Leo Kanner, muitos pais se sentiram culpados por “criar” o autismo nos filhos. O que hoje, sabemos que isso é um pensamento provinciano, mas é visível o preconceito de alguns pais que ainda escondem e prendem seus filhos com tal deficiência com vergonha ou por não querer assumir uma responsabilidade grande e delicada que é ser um pai e uma mãe de um autista, e o pior de tudo, o preconceito e o tratamento, muitas vezes cruel, por parte do professor, que deve ser o agente acolhedor e preparado para trabalhar a capacidade do aluno.
Uns diriam que para o educador é muita responsabilidade, por isso recorre-se ao poder publico, mas não retiremos a educação dessa responsabilidade, pois se trata de contato com a atividade intelectual de um ser humano como todos os outros. Infelizmente cerca de 70 a 80% dos autistas apresentam uma defasagem intelectual importante. Quando existentes estes transtornos se manifestam ainda nos primeiros anos de vida. A maioria mostra uma variação muito grande com relação ao que obviamente podem fazer e oscilam muito de época para época. Não se sabe explicar exatamente o porquê da associação entre autismo e a deficiência mental. Por outro lado, por não conseguirem estabelecer uma interação adequada com o meio ambiente, aumentam ainda mais a sua defasagem intelectual. E aqui entra a grande missão e responsabilidade do educador.
O que nos deixa esperançosos são casos como o da cidade de Parnaíba, onde existe a escola Arco – Íris, que trabalha com o método Montessoriano, método pensado por Maria Montessori, grande médica Italiana que revolucionou o mundo da Educação com uma proposta inovadora de ensino ao se destacar como pioneira no campo pedagógico, dando mais ênfase à autoeducação do aluno que ao papel do professor como fonte de conhecimento. A escola Arco- Íris desempenha um trabalho belíssimo e reconhecido por toda a cidade.
Sabemos que ainda são manifestações tímidas para uma realidade que exige tanto, devido à necessidade. Somos uma sociedade múltipla, diversa e por isso exige-nos cada dia mais a inclusão da pessoa com deficiência, o olhar voltado para as minorias, leis que ensinem a população brasileira a pensar de baixo para cima, onde tudo começa. E numa nova forma de se pensar, de maneira mais humana, a educação desse país.
by Erika Ruth Melo da Silva