domingo, 3 de março de 2024

O erro não é de quem confia, e sim de quem mente

Não faz sentido se vestir com uma armadura frente a todas as pessoas que o rodeiam. Basta proteger-se do traidor.



A confiança é como uma ponte de cristal frágil e transparente que eleva as nossas vidas. É provável que você tenha levado muito tempo e muito esforço para construí-la, e por isso é tão apreciada.

Contudo, apesar de merecer tanto trabalho e trazer tanta felicidade, costuma ser destruída em apenas poucos segundos pelo nosso descuido, nossos egoísmos e nossas atitudes interessadas.

Quando um sentimento tão importante como a confiança se quebra, algo em nosso interior desfalece. Isto ocorre porque a mentira coloca em dúvida mil verdades, fazendo com que nos questionemos inclusive sobre as experiências que achávamos totalmente sinceras.

A mentira tem pernas muito curtas e os braços muito compridos
Mesmo que a mentira possa alcançar limites inesperados, a verdade sempre acaba aparecendo. Como costumamos dizer, é mais rápido pegar um mentiroso que um coxo, pois as suas palavras e os seus atos não se sustentam.

De qualquer forma, o fato de que tudo caia pelo seu próprio peso não quer dizer que a pancada não vá ser impactante e dolorosa. De fato, o normal é que ocorra precisamente o contrário e que a mentira e a traição acabem sendo um antes e um depois nas nossas vidas.
“Um pássaro pousado em uma árvore nunca tem medo de que um galho se rompa, porque a sua confiança não está no galho… E sim nas suas próprias asas…”

A responsabilidade de quem mente
É comum ouvir isso de “se traírem você uma vez é culpa do outro, mas se traírem você duas vezes, é culpa sua”. O fato é que esta afirmação tem muito de verdade em si, mas também é preciso olhá-la com cautela.

Ou seja, a ideia é que aprendamos com os nossos erros e que não os repitamos, mas em última instância, nunca deveríamos nos sentir culpados por sermos enganados.Como você vai se responsabilizar pelo que os outros fizerem? Isso é uma loucura.

Não obstante, é provável que isto tenha atormentado você mais de uma vez, fazendo se sentir estúpido por ter caído nas redes de alguém que “já estava dando na cara”. Neste sentido, é muito fácil ligar os fatos quando a casa já caiu e está fragmentada.

Não somos nem adivinhos, nem infalíveis. Além disso, os outros também não são perfeitos e em alguns casos é preciso pensar que as pessoas boas também cometem erros, de modo que também é preciso estar aberto a perdoar.

“Depois de um tempo você aprenderá que o sol queima se você se expuser demais. Aceitará inclusive que as pessoas boas possam lhe ferir alguma vez e você precisará perdoá-las. Você aprenderá que falar pode aliviar as dores da alma… descobrirá que leva anos construir a confiança e apenas alguns segundos para destruí-la e que você também poderá fazer coisas das quais se arrependerá o resto da vida”.–William Shakespeare–

A ferida emocional da traição

A ingratidão e a traição doem especialmente quando envolvem as pessoas que amamos e temos ao nosso redor, como os nossos cônjuges, nossos amigos ou as nossas famílias. Quando isto ocorre, começam a entrar em cena a raiva, a impotência e a ira, fazendo-nos sair dos nossos papéis.
Também é muito doloroso (e infelizmente muito comum) que alguém faça algo por nós esperando somente receber algo mais da nossa parte. Este tipo de traição quebra a nossa estrutura e afunda o nosso mundo emocional em um autêntico caos.
Contudo, mesmo que a traição doa profundamente no coração, não faz muito sentido mudar o seu jeito de ser por ter sido ferido, e passar a descontar em outras pessoas por vingança ou despeito.

Por incrível que pareça, esta reação é bastante comum quando a “ferida emocional” está aberta e infeccionada. Do mesmo jeito, só porque alguém fez isso com você não faz sentido se vestir com uma armadura frente a todas as pessoas que o rodeiam. Basta proteger-se do traidor.

Como superar a mentira e a traição
A segurança, a franqueza, a sinceridade e a lealdade nas nossas relações são um pilar básico para manter o nosso crescimento. Contudo, as dúvidas, a desconfiança e a falsidade só nos prejudicam, nos queimam e nos envenenam.

Portanto, embora a desconfiança crave profundos espinhos em nosso interior, todos somos capazes de superá-la. É normal que frente a estas situações a dúvida cresça e, com ela, a desconfiança, mas isto não deve representar uma oportunidade para desconfiar dos outros.
Ou seja, dado que é provável que nos encontremos nesta situação tão indesejável mais de uma vez, é preciso entender que é uma oportunidade para crescer como pessoa e escolher melhor as pessoas que nos rodeiam.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

Macacos Voadores: Indicação de que o risco continua



Não é raro que portadores de uma personalidade narcisista façam uso do que a psicologia acabou chancelando pela designação de “macacos voadores”. O termo teve origem na trama de “O Mágico de Oz”, onde os macacos voadores faziam o trabalho sujo pela bruxa malvada da ficção.

Na vida real eles podem surgir como vizinhos, irmãos, contatos da rede social, colegas de escola ou qualquer outro que tenha um vínculo pessoal com o narcisista. Tais pessoas, como já dito, acabam fazendo – voluntária ou involuntariamente – o trabalho sujo que atenda os objetivos do narcisista, mas pelo qual ele não pretende se expor.

Dessa forma ele habilmente usa os macacos voadores que também manipula, mas naquele momento não estão no foco de seu objetivo principal. Apesar disso, acabam impondo um tratamento abusivo às vítimas do narcisista por ainda acreditarem nas boas intenções dele, graças ao seu poder de convencimento.

Por esse motivo os macacos voadores se convertem em problema extra para as vítimas do narcisista, transformados que são numa extensão de seu poder e colocados à frente do processo para que ele consiga seus objetivos por via indireta. São bastante úteis no que toca à ligação do narcisista com suas vítimas, já que mais bem recebidos por elas do que ele próprio, que se tornou uma figura carimbada graças ao seu histórico de abusos.

É muito difícil convencer um macaco voador de que ele está sendo usado pelo narcisista e quais as consequências disso, já que sob influência dele por conta dos laços que se estabeleceram. Na realidade ele não entende porque se recusa a entender. Alguns mais teimosos e reincidentes escolhem permanecer cegos quanto à situação e pouco se pode fazer para que despertem, a menos que desconfiem diante de um fato gritante e busquem as informações por si mesmos.

Ainda assim não existe uma garantia de reversão, pois algumas pessoas consolidam uma imagem falsa – mas tão solidamente construída pelo narcisista –, que elas não conseguem apagá-la de sua cabeça simplesmente porque não aceitam admitir que sempre estiveram enganadas.

Uma dificuldade desse tipo leva à conclusão de que os macacos voadores também têm suas próprias razões para se comportar dessa forma. Alguns realmente o fazem por ignorância, enganados que foram durante anos pelo narcisista que os domina, mas os estudos também revelam que pessoas com tal perfil têm personalidade fraca para impor resistência a quem as coloque sob forte poder de influência, tornando-se moldáveis a quem se mostre inteligente o bastante para manipulá-las.

Muitas vezes elas até são capazes de entender sua realidade e a do narcisista que as manipula, mas falta-lhes coragem para defender o lado certo da história, visto que, como a parte mais frágil desse triângulo, acham melhor ficar do lado mais forte a virar alvo preferencial do narcisista patológico.

Tal fato pode ocorrer até pela lembrança que trazem de um passado recente em que já estiveram na situação de vítimas. Há casos, inclusive, de serem ensinadas a se aproximar dos alvos para atender os interesses do narcisista, já que ele não ignora a maior aceitação que seus macacos voadores obtêm junto às suas vítimas.

Não se pode descartar, no entanto, que se trate também de narcisistas escondendo um comportamento de que nem eles próprios ainda se deram conta. Há aquelas exceções, como a de pessoas bem-intencionadas, usadas como inocentes úteis por um narcisista esperto para transformá-las em macacos voadores involuntários. A vantagem destes é a possibilidade de serem despertados com mais facilidade por dados que lhes permitam tirar suas próprias conclusões.

Bianca Salgado de Pexels

Outro fato não tão raro é nos depararmos com vários narcisistas numa mesma família em diferentes graus de desvio. Basta que um de seus membros mais importantes traga uma personalidade narcisista e exerça influência sobre os demais para imprimir neles a mesma característica, como é o caso, por exemplo, de uma mãe narcisista que tenha ascensão sobre os próprios filhos.

Como decorrência, não é incomum que o membro da família que se perceba despertado para o fato acabe transformado em bode expiatório e alvo da ira de todos, que o verão sempre como ameaça pelo péssimo hábito de dizer a verdade e expor os múltiplos narcisistas dentre os demais. Se esse é o seu caso, o melhor a fazer é se afastar de todos, por mais que lhe doa, sem o que dificilmente terá paz, já que será sempre o culpado por tudo que dê errado nos planos deles.

Narcisistas que convivem num mesmo ambiente normalmente se unirão contra o bode expiatório enquanto permanecem competindo entre si, pois que seus objetivos são egocêntricos demais para que os compartilhem. A um observador atento essa dinâmica não irá escapar, em se tratando de uma família com vários narcisistas que atuaram ao longo de sua linha do tempo.

O bode expiatório a ser escolhido, portanto, será o membro que acordou para a triste realidade em que vivem. A partir desse momento será visto como ameaça ao segredo que os outros tentam manter longe de sua plateia. Eles não hesitarão em tratar como teoria conspiratória suas tentativas de despertá-los para o contexto que os rodeia.

Para esse membro, portanto, o sofrimento será intenso, independentemente da decisão que tome: se deixar tudo como está, se fará alvo preferencial dos outros, já que visto como ameaça permanente a que as manobras sejam descobertas, por se recusar a compactuar com elas; se decidir se afastar, vai enfrentar a perda dos narcisistas e macacos voadores ligados a ele, que precisarão ser afastados em sua busca por autopreservação.

Para qualquer lado que penda, então, sempre sairá machucado dessa história e precisará de muita determinação e resiliência para superar seu drama familiar. Entre as decisões, porém, essa última ainda será a melhor, pois com o distanciamento gradativo do foco de seus problemas ele acabará concluindo que fez a escolha mais saudável e agora poderá levar uma vida livre das sucessivas pressões e do ambiente tóxico de seu meio familiar.

O maior benefício, ao final de tudo, acontece pela constatação de que excluir pessoas que não agregam valor algum à sua vida a rigor não representa nenhuma perda, mas uma vitória. Uma vitória difícil, é verdade, pelas dores que promove, mas sempre uma vitória, pois calcada em coragem e superação.

Além do trauma da separação em si, a decisão não estará isenta de alguns efeitos colaterais, já que os narcisistas e/ou seus macacos voadores não irão se agradar dessa declaração de liberdade, principalmente quando entre eles houver um pai ou uma mãe que amamos.

Isso é usado como um trunfo pelos outros, pois que sofrerá ainda pela pressão de ser colocado como o filho ingrato, o irmão rancoroso e tudo o mais que encontrarem para despejar a culpa do rompimento sobre seus ombros, já que nunca se verão como causa da toxicidade daquele círculo vicioso com que ele precisou romper.
Natural então que entre as maiores perdas do bode expiatório apareçam alguns relacionamentos que ele não desejaria cortar, se tivesse tal opção, e isso vai doer bastante, sem dúvida; mas o tempo chega sempre como o maior remédio.

Quando colocar o antes e o depois lado a lado, assim que a poeira baixar, não terá dúvidas da real dimensão de seu ganho, principalmente no que diz respeito à sua saúde mental, ainda mais quando se tem consciência de que ela é apenas o primeiro passo antes do colapso da saúde física, que se segue após a primeira, caso nos acovardemos ante a decisão que precisa ser tomada.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Você sabe o que é Inversão? Saiba identificar uma das técnicas mais comuns dos abusadores emocionais



Unsplash/Odonata Wellnesscenter


Além dos conceitos que têm origem na psicanálise clássica, o termo “inversão” muitas vezes tem sido reconhecido como fator importante para a desestabilização emocional da maioria das pessoas que estão envolvidas em tramas nas quais o abuso emocional impera.

Como acontece e o que significaria, então, o termo “inversão”, nessas tramas?

Antes de mais nada e como sempre, não devemos esquecer de que o abusador narcisista perverso vive em função só e unicamente de si mesmo. Então é bom estar desperto para saber que absolutamente todas as suas ações estão de acordo com os seus desejos de auto prazer, e, ainda nessa mesma vertente, na busca da sensação de magnanimidade. E para que esse intento ocorra, eles literalmente farão uso de todas as artimanhas possíveis para deixar quem estiver ao seu lado, sentindo-se diminuído, invalidado e depreciado. O porquê disso? Para fazer o contraponto e eles sentirem-se sendo os melhores. Observe: todos os abusadores dessa ordem são tão reféns dessa trama quanto as vitimas, ambos em cárceres. Por um lado, existe um abusador comandado por uma rede emocional inconsciente que o obriga a agir do modo que age, e do outro lado, um outro refém que é a vitima e que se encontra presa nessa trama também por questões emocionais, mas que na maioria das vezes não são tão obscuras quanto o estado patológico do abusador.

A inversão na trama abusiva, portanto, funciona como uma manipulação altamente sofisticada na qual todas as verdades explícitas que denunciam que o abusador é de fato um abusador, habilmente são invertidas em meio a argumentos fantasticamente exaustivos, que, por fim, conseguem a proeza de que as vítimas literalmente se acabem num terrível mal-estar emocional. Além de vencidas, chegam a sentir-se culpadas por terem pedido algum tipo de esclarecimento sobre atitudes injustas ou duvidosas. Em outras ocasiões, as vítimas ou se calam ou pedem desculpas, não sabendo o que fazer para atenuar os seus supostos erros, para que o abusador volte a melhorar o seu humor e para que o clima fique mais ameno…

Na inversão, o abusador literalmente inverte verdades no intuito de ficar com as rédeas de uma relação que vai se revelando em termos de controle e punição.

Podemos dizer que as manipulações, em geral, são atuações comandadas por processos inconscientes. Por exemplo, mesmo que o abusador tenha ciência de que não pagou uma conta e que a responsabilidade deveria ser dele pelo fato de ter esquecido, ainda assim poderá ficar furioso acusando esposa, filha, funcionário, ou quem que quer seja, de não tê-lo avisado, de não ter deixado a conta perto de seu campo de visão, criando um clima insuportável até que outros assumam o seu erro e até que as verdades sejam totalmente suprimidas. Se ele faz isso de modo consciente? Não!! Ele se percebe como uma vitima de pessoas “incompetentes” e “burras”, enfim, de pessoas que “não são boas o suficiente”. O abusador é drasticamente irascível exatamente por conta do seu mecanismo frenético e inconsciente de inversão.

123RF/Aleksandr Davydov

Por conta de um histórico de muito sofrimento, em determinado momento de sua existência, como mecanismo de sobrevivência para não surtar ou morrer de tristeza, desamparo, solidão etc.. Seu cérebro fez uso de um mecanismo que damos o nome de dissociação. Os aspectos dele, que percebe como negativos e ameaçadores, em algum momento se tornaram tão insuportáveis que, num processo inconsciente, a sua maquina biológica opta por cindir, jamais entrando em contato novamente com tais sentimentos e crenças. A grande questão é que o que fica escondido e ilhado dentro de si ainda está de algum modo incomodando. Como alivio das tensões, acaba sendo projetado para fora a ponto do abusador querer destruir aquilo que lhe pertence como significado de dor, no outro. A luta é pela sobrevivência de sua autoimagem, do belo e do magnânimo que ele exaustivamente e a todo custo quer e alucina ser.

Existe um ódio e um desdém que, em vez de ser direcionado a si mesmo, é invertido de todas as formas e maneiras no outro, sendo esse mecanismo totalmente inconsciente. O abusador não sente culpa e nem remorso, porque o mal está invertido para fora de si, e direcionado no outro.

Quanto mais despertos, melhor!

Violência contra a Mulher na Era Digital




Hoje, mais do que nunca, a violência digital avança em suas mais diversas formas de assédio e, dependendo da amplitude da persuasão, ela tem poder suficiente para persuadir mulheres de todas as idades, podendo levá-las a um triste final quando são ludibriadas por conversas que nada mais são do que meras articulações.

Outros tipos de violência na internet também surgem quando as vítimas passam pelos mais audaciosos tipos de humilhações e exposições. Abusadores ameaçam e chegam a postar fotos íntimas, muitas vezes tiradas sem que a própria vítima saiba, e por vezes ainda manipulam para que tais fotos apareçam em situações que nunca existiram.

A princípio, isso é exposto como manobra de chantagem juntamente com ameaças que literalmente podem ser cumpridas.

No universo virtual, assim como na vida externa a ele, existe muita má-fé e busca de dinheiro a qualquer custo, as linhas de ação pertencem exclusivamente a esse tipo de frequência, inclusive contando com aqueles que funcionam como verdadeiros psicopatas da internet, ocasionando incomensuráveis estragos em suas vítimas.

Muitas chantagens, extorsões, humilhações e agressões acontecem nesses bastidores ainda antes das ações se estenderem tela afora.

Devido aos tempos de confinamento em virtude do isolamento, da carência de afeto e do contato humano de muitos, infelizmente esse tipo de violência tem tido mais expressão e chances de acontecer. Vítimas seduzidas acabam indo a encontros físicos, colocando seriamente a vida em risco.

Todo o cuidado, portanto, é pouco e quanto mais se conhece sobre as possíveis manipulações, os tipos de encantamentos e seduções, mais fácil fica de se proteger.
Alex Green / Pexels

A dica geral é a de não entregar a história da própria vida nos primeiros, nem nos seguidos contatos. Por isso ouça antes, faça reflexões e perceba os sinais que a sua máquina biológica lhe envia, sempre levando a sério os avisos, pois eles podem evitar que danos maiores ocorram.

A era da internet pode ser excelente, mas jamais devemos nos esquecer de que ela também é morada de pessoas de má-fé. O perigo está muito mais próximo do que se pode imaginar e isso é uma situação alarmante que há poucos anos seria impensada.

As ameaças e as ações ainda incluem a propagação de imagens, ataques e exposições de privacidade quando internautas atuam como hackers ao invadir diálogos e demais situações pessoais.

As invasões vêm de pessoas mal-intencionadas, que agem como se pudessem entrar na casa das pessoas, abrindo à força portas íntimas e pessoais e fazendo todo tipo de trapaça.

Como medida de precaução, a mulher atual, antes de qualquer tipo de conversa mais íntima, deve ser cautelosa e buscar conhecer os perigosos caminhos que podem levar uma conversa que, incialmente, parecia ingênua. Além disso, a mulher deveria sempre evitar a exposição de qualquer tipo de intimidade.

Numa conversa online, aprender a ouvir mais, observar o que se ouve de modo mais crítico do que o usual e falar o menos possível sobre si mesma são atitudes valiosas.

Ao perceber que está sendo vítima de violência psicológica, de violência cibernética e por mais difícil que seja organizar provas, busque imediatamente por ajuda, denuncie o que está acontecendo e enfrente os desafios que, inicial e certamente, serão menos prejudiciais do que tentar resolver a situação sozinha.

Quanto mais despertos, melhor!


Quem são e como agem os psicopatas





Psicopatas são portadores de um transtorno emocional grave, com possíveis ações desmedidas chegando facilmente à violência física e, nos casos de maior adoecimento do psiquismo, em morte. O facilitador dessas condutas violentas é a ausência total de empatia, culpa ou remorso em tudo o que podem fazer que possa prejudicar os seus supostos semelhantes.

Psicopatas agem para a obtenção de prazer, mas são também reféns de seus mais obscuros mandatos, sem saberem que são. São forças do inconsciente malresolvidas e não elaboradas. Para eles as leis não têm importância alguma e não existe um sentido moral em suas.

Pessoas com esse tipo de adoecimento mental literalmente não desenvolvem a capacidade de amar, lidar com leis e com regras. Não aprendem com as experiências da vida e são totalmente autocentradas com seus desejos e pensamentos voltados apenas e tão somente para si mesmas.

Possuem tendência a terem comportamentos desmedidos que facilmente podem chegar tanto à violência física, como a atos delinquentes. Podemos definir alguns tipos de psicopatas, embora muitos dos psicopatas sociais, também perigosos, sejam de difícil detecção.

O psicopata social, ou comunitário, por exemplo, cumpre com poucos critérios de diagnóstico, mas mesmo assim não deixa de ser caracterizado como portador de psicopatia. Estes em sua maioria possuem inteligência acima da média e fazem uso dela para desenvolver suas estratégias de conduta.

Apesar de não terem empatia, conhecem suficientemente bem as leis sociais e as camuflam manipulando sabiamente as situações e ambientes para obterem benefícios em relação ao que desejarem. Podem ser agiotas, trapaceiros e literalmente acabarem com a vida de qualquer um em nome de conquistarem o que desejam.

São capazes de arruinar a vida de parceiros de trabalho, afetivos ou familiares. Podem ser ilícitos, com condutas desonestas e imorais, mas dificilmente são flagrados em suas ações. Se acaso forem parar na cadeia, serão os tais presos exemplares, os mais bem quistos e, em alguns casos, os mais temidos, e mesmo assim, fazendo com que todos duvidem de que possam ter feito algo para estar ali. São frios e insensíveis. Existem casos de alguns ex-cônjuges que decidem não pagar as pensões promulgadas pela lei, e quando têm ordem de prisão, facilmente passam um mês em cela, descansando.

A categoria de psicopata antissocial frequentemente é vista como um psicopata moderado e, como todos, sem empatia, frios e manipuladores. Estes, porém, devido à baixíssima resistência a frustração, abrem espaço para desenvolver seu lado sádico e violento.
Mitchel Lensink / Unsplash

Os serial killers estão neste espectro de psicopatas e as ações chocantemente violentas com animais e com as pessoas podem ficar sem controle, embora na maioria das vezes eles consigam desenvolver estratégias exemplares de enganação sobre as suas perigosas atitudes. Muitos se drogam e também usam sexo para causar sofrimento em suas vítimas. Geralmente são exemplares em sociedade, mostrando nos bastidores os seus aspectos mais obscuros.

Psicopatas narcisistas perversos ou carentes são altamente desleais e costumam usar as pessoas com que se relacionam, a princípio mostrando um ar de normalidade. Sabem como dissimular afeto e outros tipos de ações que envolvem a sedução, usando tudo como ponte para que, após o período da armadilha da sedução, possam explorar suas vítimas escolhidas em nome de terem os benefícios que desejarem.

Têm habilidade em serem manipuladores, inserindo culpas indevidas, diminuindo as suas autoestimas sem culpa ou arrependimento nenhum e sempre no intuito de fazerem com que fiquem como escravas deles. Traem de todas as formas e, se acaso são pegos em suas maldades, usam o fato para aprimorarem-se nas próximas.

Os mais raros de se encontrar são os psicopatas mais graves que matam com requinte de crueldade, são pessoas que agem de modo violento e assassinam com facilidade, os serial killers.

Os mais leves costumam ser os famosos golpistas, os tais sedutores, socialmente desenvoltos e que costumam enlouquecer suas vítimas com suas manipulações coercitivas e torturas psicológicas.

Quanto mais despertos, melhor!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Íntegra do relatório da CPMI, que pediu indiciamento de Bolsonaro e mais 60 pessoas pelo 8 de Janeiro

 O relatório final da CPMI do 8 de Janeiro, produzido pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e lido no no Congresso nesta terça-feira 17, recomendou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 60 pessoas, entre elas políticos e militares fossem indiciados. O relatório pode ser lido na íntegra abaixo.

    Beba na Fonte


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Fosfoetanolamina sintética


No dia 19 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o direito de uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como "pílula do câncer". Os ministros deferiram pedido liminar proposto por Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5501 para suspender a eficácia da Lei 13.269/2016, que autorizou o uso da substância por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna antes de seu registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A Associação Médica Brasileira (AMB), autora da ação, sustentou que diante da ausência de testes da substância em seres humanos e de desconhecimento acerca da eficácia do medicamento e dos efeitos colaterais, sua liberação é incompatível com direitos constitucionais fundamentais como o direito à saúde (artigos 6° e 196), o direito à segurança e à vida (artigo 5°, caput), e o princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1°, inciso III).


Lei

A Lei 13.269/2016 foi sancionada sem vetos pela presidente da República, Dilma Rousseff, no dia 14 de abril. A norma originou-se do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 3/2016, que foi aprovado no Senado no final de março.

Pelo texto, o paciente deve apresentar laudo médico que comprove o diagnóstico de câncer e assinar termo de consentimento e responsabilidade. O uso da substância é definido como de relevância pública.

A lei autoriza a produção, importação, prescrição, posse ou uso da substância independentemente de registro sanitário, em caráter excepcional, enquanto estiverem em curso estudos clínicos acerca do produto. Para produzir, importar, prescrever e distribuir a substância, os agentes precisam ser regularmente autorizados e licenciados pela autoridade sanitária competente.

O que é

A fosfoetanolamina sintética é uma substância química que tem sido utilizada no Brasil no combate ao câncer, mas que não possui autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela liberação da utilização e da comercialização de medicamentos no país.

A fosfoetanolamina sintética imita uma substância presente no organismo e, supostamente, faz com que o sistema imunológico identifique células cancerosas para combatê-las. Mas até o momento (14/3/2015) não existem pedidos de registro do medicamento na Anvisa, para que a Agência possa atestar ou não a eficácia e a segurança médicas desse produto.

História

Começou a ser pesquisada para essa função terapêutica no início dos anos 1990 pelo cientista e professor aposentado de Química da Universidade de São Paulo (USP), Gilberto Chierice. Produzida em um laboratório da instituição, em pouco tempo passou a ser distribuída gratuitamente a pacientes com câncer, que procuravam a substância na esperança de cura.

A fosfoetanolamina foi ficando cada vez mais conhecida pela divulgação boca a boca e a procura aumentou. No entanto, a USP proibiu a produção da substância em seus laboratórios em 2014, depois que uma portaria determinou o registro de todas as substâncias experimentais antes da liberação à população.

Os protestos das pessoas que queriam utilizá-la fez com que o assunto ganhasse destaque nas redes sociais e na imprensa, transformando a autorização da fosfoetanolamina em uma questão de alcance nacional.

Em outubro de 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou o uso da droga a um paciente em fase terminal, no Rio de Janeiro. Desde então, os interessados têm entrado na Justiça para garantir o acesso à substância para tratamento de câncer.

Senado

Em setembro de 2015, o Senado entrou no debate, com pronunciamentos de senadores em Plenário e a realização de audiências públicas nas comissões, que contaram com a participação de especialistas.

Nos debates, as posições divergiram. Alguns pesquisadores relataram casos de regressão e cura do câncer pela substância. Outros, no entanto, argumentam que ainda não foram feitos estudos controlados e testes em seres humanos que comprovem os alegados benefícios e a segurança da droga.

Projeto

Para tentar solucionar o problema, 26 deputados apresentaram o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 3/2016, aprovado no dia 9 de março e que será discutido agora no Senado.

De acordo com o projeto, para ter acesso ao medicamento, os pacientes diagnosticados com câncer precisarão assinar termo de consentimento e responsabilidade. A opção pelo uso voluntário da fosfoetanolamina sintética não exclui o direito de acesso a outras modalidades terapêuticas. Se o texto virar lei, a Anvisa terá de autorizar os laboratórios que farão a produção e distribuição da fosfoetanolamina sintética.

Atualizado em 20/5/2015

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Caso Marielle: Saiba quem é Domingos Brazão, dono de trajetória política recheada de polêmicas e processos

Político já foi alvo de suspeitas de corrupção, pela qual foi afastado e depois reconduzido ao cargo de conselheiro do TCE-RJ, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio
Por O GLOBO — Rio de Janeiro

01/10/2023 07h33 Atualizado há um dia

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Domingos Brazão — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Vereador, deputado estadual por cinco mandatos consecutivos (1999-2015) e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do (TCR-RJ), Domingos Brazão, de 58 anos, coleciona polêmicas e processos ao longo de seus mais de 25 anos de vida pública. Contra ele já foram levantadas suspeitas de corrupção, pela qual foi afastado e depois reconduzido ao cargo de conselheiro do TCE-RJ, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio. Seu nome volta agora aos holofotes a partir da delação do ex-PM Élcio Queiroz, preso suspeito de envolvimento no assassinato, em 2018, da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, conforme revelou, neste domingo, o colunista Bernardo Mello Franco, do GLOBO.

Quem é Domingos Brazão?
Em março, a 13ª Câmara de Direito Privado determinou o retorno de Brazão ao TCE-RJ por 2 votos a 1. A decisão colocou fim ao processo que pedia a anulação da nomeação dele ao cargo, para o qual foi eleito, em 2015, com o voto da maioria dos seus pares na Assembleia Legislativa (Alerj). O ex-deputado estava afastado desde 2017, quando ele e outros quatro conselheiros chegaram a ser presos temporariamente como parte da Operação Quinto do Ouro, um dos desdobramentos da Operação Lava-Jato no Rio.

Por que Domingos Brazão foi afastado do cargo de conselheiro do TCE-RJ?
A investigação apurava suspeitas de fraude e corrupção no tribunal. Os conselheiros presos foram acusados de receber vantagens indevidas em diversas oportunidades. Houve até menção a uma mesada de R$ 70 mil, para cada, que seria paga pela Federação das empresas de transporte de passageiros do Estado do Rio (Fetranspor). Na denúncia do MPF, Brazão é classificado como a “pessoa que sempre evitou deixar rastros, em relação aos seus contatos e recebimentos ilícitos, buscando justificá-los com eventuais verbas em dinheiro vivo 'supostamente' advindas de suas empresas, bem como realizando diversas medidas de contrainteligência, com vistas a dificultar qualquer investigação sobre seus atos”.

Na investigação, dados obtidos junto ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostram movimentações atípicas em várias de suas contas e uma evolução patrimonial de 27% entre 2014 e 2016, período que abrange sua saída da Alerj e entrada no TCE-RJ.

Qual é a relação entre Domingos Brazão e o caso Marielle?
A primeira vez em que Domingos Brazão se viu envolvido nas investigações do assassinato de Marielle foi após o depoimento do policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, que acusou o então vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando Curicica como sendo os mandantes do crime. A Polícia Federal desconfiou e concluiu, após investigação, que Ferreirinha e sua advogada, Camila Nogueira, faziam parte de organização criminosa cujo objetivo era atrapalhar as investigações sobre a morte da vereadora.

A Procuradoria Geral da República pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que Brazão fosse investigado por suspeita de ter utilizado um policial federal aposentado, que era funcionário de seu gabinete no TCE-RJ, para levar Ferreirinha ao falso testemunho. A investigação apontou ainda indícios de ligação do conselheiro com o grupo conhecido como Escritório do Crime, que estaria envolvido na morte da vereadora. O interesse de Brazão e seu clã seria prejudicar Siciliano, que estaria decido a disputar influência na Zona Oeste, região que tradicionalmente seria domínio de sua família. Em 2018, O GLOBO mostrou que tanto o grupo de Brazão quanto o de Siciliano apresentaram projetos de lei que poderiam favorecer a expansão de construções irregulares na Zona Oeste. Marielle vinha atuando em projetos de regularização fundiária na área, o que poderia estar incomodando o grupo.

Por que Domingos Brazão foi denunciado por obstrução de Justiça?
Em março deste ano, a Justiça do Rio rejeitou a denúncia contra Domingos Brazão pelo crime de obstrução de Justiça. A decisão foi do juiz Andre Ricardo de Franciscis Ramos, da 28ª Vara Criminal, que seguiu o pedido do MPRJ. A denúncia havia sido apresentada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 17 de setembro de 2019 por Raquel Dodge, em seu último dia como procuradora-geral da República. A procuradora denunciou cinco pessoas por embaraço a investigação de organização criminosa (obstrução de justiça); favorecimento pessoal; imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente; e falsidade ideológica. Em 2020, o caso foi para Tribunal de Justiça do Rio porque o ministro Raul Araújo, relator do caso no STJ, declinou da competência.

Brazão sempre teve na Zona Oeste seu reduto eleitoral, especialmente em Jacarepaguá, bairro onde nasceu. Em 2011, chegou a ter o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) por suposta compra de votos por meio do Centro de Ação Social Gente Solidária, ONG vinculada ao deputado e onde ocorreria prática de assistencialismo, de acordo com a acusação. Com liminar conseguida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele conseguiu manter o mandato.

Antes, em 2004, uma gravação indicara envolvimento de Brazão e do ex-deputado Alessandro Calazans com a máfia dos combustíveis. O caso envolvia licenças ambientais da Feema para funcionamento de postos de gasolina. Em 2014, a radialista e então deputada estadual Cidinha Campos processou Domingos Brazão por ameaça. Durante uma discussão pública, Brazão teria dito que "já matou vagabundo, mas vagabunda ainda não", fazendo referência à deputada.

O homicídio ao qual Brazão fez referência teria ocorrido quando ele era jovem. Segundo o ex-deputado, ele foi absolvido porque o caso foi entendido como legítima defesa. "Matei, sim, uma pessoa. Mas isso tem mais de 30 anos, quando eu tinha 22 anos. Foi um marginal que tinha ido a minha rua, em minha casa, no dia do meu aniversário, afrontar a mim e a minha família. A Justiça me deu razão", contou Brazão à época da briga com Cidinha Campos.

Caso Marielle: Saiba o que há sobre Brazão na investigação


Documentos apreendidos pela Polícia Federal apontam indícios de ligação da família de Domingos Brazão com o responsável por vazamento de operação, em 2019, contra os executores da vereadora
Por Vera Araújo — Rio de Janeiro

01/10/2023 15h35 Atualizado há 3 meses

Conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ) desde 2017, Domingos Brazão — Foto: Arquivo
Uma das principais linhas de investigação seguida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) para se chegar ao mandante da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) vem se fortalecendo a cada passo que a polícia dá. Documentos apreendidos no apartamento de Jomar Duarte Bittencourt Junior, o Jomarzinho, em 24 de julho, revelam vínculos dele com a família do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão. Jomarzinho é apontado como um dos responsáveis pelo vazamento de informações sobre uma operação em 2019 contra envolvidos no caso. Em julho deste ano, a Polícia Federal cumpriu mandando de busca e apreensão em seu apartamento.

Jomarzinho com Lúcia Brazão, irmã do conselheiro Domingos Brazão, na Câmara dos Vereadores — Foto: Reprodução

Jomarzinho aparece, por exemplo, numa foto com Lúcia Brazão, irmã do conselheiro, na Câmara dos Vereadores. No rodapé da fotografia, há ainda os retratos de outros dois irmãos, Chiquinho e Pedro Brazão, com a data de 2 de agosto do ano passado, quando ambos foram agraciados com a medalha Pedro Ernesto, a maior comenda da Casa. À época, eles eram deputados federal e estadual, respectivamente. No dia da solenidade, Domingos e Jomarzinho estavam presentes.

A busca e apreensão no apartamento de Jomarzinho, na Barra da Tijuca, foi autorizada pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Gustavo Kalil, onde tramita o Caso Marielle e Anderson, por ele ser citado na delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz. O delator confessou ser o motorista da emboscada à parlamentar e ao motorista dela, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Segundo o colaborador, Jomarzinho foi um dos responsáveis por vazar informações sobre a Operação Lume, cujo objetivo era justamente o de prender os executores do duplo homicídio. Desconfiados do vazamento na época, o MP e a Polícia Civil anteciparam a ação que culminou com as prisões de Lessa e Élcio.
Segundo as investigações da PF e do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, em 11 de março de 2019, portanto, véspera do dia marcado para a prisão do também ex-policial militar Ronnie Lessa, Jomarzinho mandou uma mensagem sobre a operação para o sargento da PM Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o Mauricinho. O destinatário final do alerta era Lessa. O ex-policial sempre considerou Mauricinho seu sobrinho.

De acordo com as análises de dados telemáticos nos celulares e computadores dos envolvidos, os agentes e promotores descobriram a troca de mensagens entre eles pelo WhatsApp. Jomarzinho diz: “Recebi um informe agora, que vai ter operação Marielle amanhã”. O PM responde: “Putz, vou tentar chamar ele aqui”. Poucos minutos depois, Mauricinho questiona uma terceira pessoa, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, preso no fim do mês passado, também acusado de participação na morte da parlamentar: “Já falou?”, e recebe a confirmação, seguida da mensagem “doido para isso acabar logo”. Jomarzinho demonstra preocupação e comenta: “Pelo que me falaram, vão até prender Brazão...”.

As buscas e apreensões nas casas de Jomarzinho e Mauricinho ocorreram em 24 de julho, mesma data em que Suel foi preso, acusado de ter “picotado” o Cobalt usado na emboscada às vítimas, ou seja, destruído o veículo, peça por peça. O ex-bombeiro já havia sido condenado anteriormente por obstrução à Justiça, por ajudar a esconder armas do amigo Lessa.

Edimilson da Silva Oliveira, o Macalé, sargento reformado da PM, apontado na delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz, como a pessoa que contratou o também ex-policial militar Ronnie Lessa para executar a parlamentar, é um dos listados no relatório da CPI das Milícias. Élcio, assim como o compadre Lessa, são réus no homicídio de Marielle e Anderson. No documento produzido em 2008, Macalé é apontado como integrante da milícia que atua em Oswaldo Cruz, na Zona Norte, reduto do então deputado Domingos Brazão e o vereador Chiquinho Brazão, que são irmãos. Macalé foi assassinado em 2021, em Campo Grande.

Mais ligações com a família Brazão

As ligações com a família Brazão não param por aí. Os agentes da PF e os promotores do Gaeco encontraram ainda no apartamento de Jomarzinho, um crachá dele, lotado na vice-presidência da Companhia Estadual de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (Cehab-RJ). O órgão, segundo fontes de estado, é feudo de três políticos, entre eles, Domingos Brazão. O suposto afilhado do conselheiro trabalhou de novembro 2020 até julho 2021, gestão de Roberto Peçanha Fernandes como diretor-presidente da Cehab-RJ, outro apadrinhado por Domingos.

Aliás, Peçanha concedeu uma gratificação de encargos especiais a Jomarzinho de R$ 1.170,58, conforme portaria assinada em 11 de junho de 2021, além dos pagamentos pelo cargo de confiança e o próprio salário como assessor da diretoria. O documento também foi apreendido na casa dele, assim como três celulares de última geração e cinco fotos de evento da Medalha Pedro Ernesto.

O vínculo de Peçanha com os Brazão chegou a ser noticiado pelo RJTV em dezembro do ano passado, num suposto esquema que ficou conhecido como “farra do asfalto”. Na época, ele estava como diretor de obras e conservação regional do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). O MPRJ instaurou um procedimento investigatório para apurar irregularidades na compra de concreto pelo DER. Os contratos entre o estado e uma empresa, no valor de R$ 50 milhões, indicava que concreto era para tapar buracos, mas a denúncia informava que não houve estudo e o material era jogado em várias ruas. O gestor do contrato era Peçanha e já havia sido pago R$ 8 milhões.

O poder dos Domingos

Domingos Brazão, de 57 anos, começou na política em 1996 como vereador pelo antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Dois anos depois, ele passou a ser deputado estadual, saindo da Alerj para ser conselheiro do TCE, em 2015, depois de seu quinto mandato na Casa. Na época, quatro deputados do PSOL, encabeçados pelo deputado Marcelo Freixo, que levou Marielle para a política, foram contra a nomeação. A maioria, porém, aprovou que Domingos ocupasse uma cadeira no tribunal.

Dois anos após nomeado, houve a operação Quinto do Ouro, um desdobramento da Lava Jato. Domingos Brazão e outros quatro conselheiros, alvos da ação, foram presos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF), suspeitos de comandarem um esquema de desvio de verbas públicas. Os cinco ficaram presos por cerca de duas semanas.

Antes de voltar ao conselho do TCE, no fim de 2018, Domingos passou a ser investigado pela Polícia Federal como suspeito de ser o mandante do assassinato de Marielle e Anderson. Na época, o delegado federal Leandro Almada, responsável por apurar o trabalho da Polícia Civil do Rio sobre o caso, chegou a cogitar essa possibilidade na chamada “investigação da investigação”. A polícia estadual apontava o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, como executor, e o então vereador Marcello Siciliano (PHS), o mandante. Num relatório de cerca de 600 páginas, Almada conclui que foi montada uma farsa para incriminar principalmente o miliciano, que estava preso no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Para isso, uma falsa testemunha — um policial militar rival de Curicica— foi plantada por três delegados da Polícia Federal, que sequer estavam investigando o caso. Atualmente, Almada é o superintendente da PF do Rio e comanda as investigações do duplo homicídio.

Numa análise do mapa de votação, Almada comparou os redutos eleitorais de Marielle, Chiquinho Brazão e Siciliano. Ele percebeu que havia mais rivalidade entre os dois primeiros no cenário territorial político na época. Apesar de ser mais novo que os irmãos, Domingos sempre foi uma espécie de protetor deles. Além de conselheiro, Domingos é empresário, dono de postos de gasolina, principalmente em Jacarepaguá, reduto eleitoral da família. João Francisco e Manoel Inácio Brazão são conhecidos como Chiquinho e Pedro, ambos filiados ao União Brasil.

A PF chegou a cumprir oito mandados de busca e apreensão, incluindo as casas do conselheiro, num condomínio de luxo da Barra da Tijuca, e de seu assessor no TCE, Gilberto Ribeiro da Costa, um ex-agente da Polícia Federal. O suposto motivo do crime, por enquanto, ainda não está claro, embora não se descarte a rivalidade política entre os Brazão e Marielle.

Em setembro de 2019, a então procuradora-geral da República Raquel Dodge pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para "apurar indícios de autoria intelectual de Domingos Brazão" no homicídio de Marielle. Houve uma tentativa de federalizar as investigações do caso Marielle, passando o inquérito para o MPF e a Polícia Federal. No entanto, a promotora de justiça Simone Sibílio, encarregada do inquérito, defendeu, diante dos ministros do STJ, que a investigação estava em andamento e que dependia de quebras telemáticas para a elucidação do duplo homicídio. A Corte decidiu manter o caso na esfera estadual. Atualmente, após um acordo no início do ano, coube ao MPRJ e a PF descobrirem quem mandou matar a vereadora e seu motorista.

Domingos Brazão retornou ao cargo em março deste ano. Ele sempre negou envolvimento no crime. O advogado dele, Ubiratan Guedes, disse que apenas Jomarzinho pode esclarecer o diálogo dele com o PM Mauricinho, para entender o motivo de ele ter citado o nome de Brazão na conversa. Segundo Guedes, seu cliente está à disposição da Justiça para prestar os esclarecimentos. Os demais citados ou seus advogados foram procurados pelo GLOBO, mas ainda não responderam sobre os rumos das investigações

Caso deveria ter sido federalizado o quanto antes', diz Raquel Dodge sobre assassinato de Marielle e indícios sobre Brazão

 Ex-procuradora-geral da República, à frente do cargo na época do assassinato da vereadora, diz que novas suspeitas sobre Domingos Brazão não a surpreenderam
Por Mariana Muniz O GLOBO — Rio de Janeiro

02/10/2023 04h01 Atualizado há 3 meses

A ex-procuradora Geral da República Raquel Dodge, durante evento em agosto de 2019 — Foto: José Cruz/Agência Brasil

As novas suspeitas contra o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão não surpreenderam a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge, que ocupava o posto na época do assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018. Neste domingo, a coluna de Bernardo Mello Franco mostrou que o inquérito que apura o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes saiu do Rio de Janeiro e foi enviado ao STJ diante do surgimento de novas suspeitas sobre Brazão.

Ao GLOBO, a subprocuradora-geral da República, que denunciou Brazão ao STJ em 2019 por tentativa de embaraçar as investigações no caso Marielle, afirma que já naquela época havia indícios da participação do conselheiro do TCE-RJ no crime contra a vereadora.

— Naquela época já havia indícios de que ele (Brazão) participara do crime em si. E eu suspeito que agora é o que está voltando ao STJ — afirma.

De acordo com Dodge, com esse fato novo, o STJ irá, ao lado da Procuradoria-Geral da República (PGR), analisar os elementos apresentados para saber se, de fato, o caso deverá permanecer sob a competência da Corte.

Segundo o colunista Bernardo Mello Franco, Brazão voltou à mira da Justiça após a delação premiada do ex-PM Élcio Queiroz. Num trecho que já veio a público, ele confessou ter dirigido o carro usado no ataque e confirmou que Ronnie Lessa foi o autor dos disparos.

A Constituição Federal estipula que membros dos tribunais de contas dos estados sejam processados pelo STJ. Mas o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) determina que essa prerrogativa deve valer apenas quando os eventuais crimes tiverem sido cometidos no exercício do cargo. Por isso é que o tribunal irá decidir, ainda, se o caso deverá seguir sob a sua tutela — ou se deverá seguir para a primeira instância, como ocorreu com a denúncia apresentada por Dodge.

Em 21 de março deste ano, após o caso sair do STJ, a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a denúncia contra o conselheiro do Tribunal de Contas pelo crime de obstrução de Justiça na investigação das mortes da vereadora e do motorista. A decisão foi do juiz Andre Ricardo de Franciscis Ramos, da 28ª Vara Criminal.

— Quando estive à frente da PGR, tomei duas providências em relação ao caso Marielle: uma em decorrência de competência por prerrogativa de função, no caso do conselheiro do TCE, e outra em razão da federalização, por meio do incidente de deslocamento de competência. Na ocasião, a minha compreensão era a de que o sistema de Justiça do Rio de Janeiro não estava conseguindo processar e julgar o caso e, por isso, a federalização, ou seja, a ida para a Justiça Federal, era o melhor caminho — aponta.

A solicitação de Dodge, para a federalização, no entanto, foi negada pela Terceira Seção do STJ em maio de 2020. Na época, a relatora do caso, ministra Laurita Vaz, defendeu a manutenção do caso sob a competência da Justiça estadual, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Para ela, não era possível verificar “desídia” ou “desinteresse” por parte das autoridades estaduais nas investigações para solucionar o crime.

Quando o crime completou cinco anos, em março deste ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou a entrada da Polícia Federal nas investigações sobre o assassinato de Marielle e Anderson. A medida, no entanto, não configura formalmente a federalização, mas sim, segundo esclarece a ex-PGR, uma competência natural da PF para atuar em casos de repercussão nacional, mesmo que em se tratando de um crime “estadual”. A disposição está no artigo 144 da Constituição.

Passados cinco anos do crime ainda sem respostas, a subprocuradora-geral segue entendendo que a federalização da investigação sobre o assassinato de Marielle e Anderson teria sido a melhor solução.

— Minha avaliação segue a argumentação que defendi no incidente de deslocamento de competência perante o STJ. Esse caso deveria ter sido federalizado quanto antes. A federalização era a melhor saída para esse caso e a evidência era muito simples. Toda às vezes que comissionamos à Polícia Federal para atuar, o caso avançou — disse.

Dodge relata que enquanto esteve à frente da PGR enfrentou diversos obstáculos para obter acesso à investigação do caso Marielle e Anderson, mesmo tendo sido ela a requisitar os inquéritos. Após cinco anos dos assassinatos, e ainda sem uma conclusão sobre quem mandou matar a vereadora, a ex-PGR se diz “pessoalmente muito frustrada”.

— Eu pessoalmente fico muito frustrada. O crime contra Marielle foi e é um crime contra a democracia. Não assassinaram uma vereadora qualquer, ela era uma mulher que tinha uma pauta muto clara e eu mandei imediatamente preparar a portaria da federalização por isso. Minha ida ao Rio (no dia seguinte ao crime), como PGR, sinalizou muito claramente a importância do caso — relata.

O pedido de federalização do caso Marielle feito por Dodge ocorreu às vésperas do final de seu mandato à frente da PGR, em 2019. Segundo a subprocuradora, em razão das inúmeras dificuldades de acesso que ela teve aos documentos, o que incluiu uma fraude via Correios.

— Não se pode assassinar deputados, parlamentares e ao assassinar Marielle estavam assassinando e calando uma parte da população. Naquele dia percebi ser disso que se tratava. Não ver esse crime esclarecido, para mim, é uma evidência de que as forças que operam tudo isso estão prevalecendo — afirma.

Citado no relatório da CPI das Milícias, Brazão é chefe de um clã que inclui o deputado federal Chiquinho Brazão, o deputado estadual Manoel Brazão e o vereador Waldir Brazão, um agregado que adotou o sobrenome para fins eleitorais.

Eleita vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL em 2016, com 46 mil votos (a quinta candidata mais bem votada do município), Marielle Franco teve o mandato interrompido por 13 tiros na noite de 14 de março de 2018, num atentado que vitimou também seu motorista Anderson Gomes

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