segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Cesta básica de campo de concentração



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A estrela da Boa Nutrição
Durante o período em que a corrente nazista do imperialismo esteve no poder, os prisioneiros condenados a trabalhos forçados, quando não exterminados sumariamente, eram submetidos a uma dieta subumana de 200 calorias diárias. Esta realidade, no entanto, não faz parte de um passado distante e sombrio. Mesmo que atualmente a alimentação não aparente ser tão baixa em termos de calorias, é muito pobre em se tratando de nutrientes, conforme atestam os depoimentos da nutricionista Lilian Marçal dos Santos (da Universidade Regional de Blumenau) e da professora Beatriz Torres (formada em economia doméstica), assim como os métodos empregados pelas sucessivas gerências semicoloniais no Brasil.

Tendo como parâmetro a cesta básica da região 2 (norte e nordeste do Brasil), elaborou-se duas tabelas, comparando os preços fornecidos pela Fecomércio-RJ e os pesquisados numa rede de supermercados populares do Rio de Janeiro: concluiu -se que nem sequer a esta cesta básica incompleta o trabalhador tem acesso com o atual salário mínimo. A política de genocídio se apresenta da forma mais descarada, na qual a fome é o agente condutor do morticínio da população pobre, enquanto que a perda de nutrientes essenciais — gerada pela busca do lucro máximo na produção industrial de alimentos — acomete todas as classes, inclusive setores causadores desse mesmo processo de extermínio.

O decreto lei número 399, de 30 de abril de 1938, instituiu a cesta básica no Brasil. Criada para se tornar uma referência do cálculo do salário mínimo durante o governo Vargas, o decreto foi uma medida de inspiração fascista, assim como o salário mínimo, cujo objetivo era a consolidação do controle estatal sobre os salários.

Conforme demonstrado em matéria publicada na edição 21 de AND, desde sua elaboração o salário mínimo vem sofrendo uma defasagem crescente, o que o torna insuficiente para atender às próprias finalidades para as quais foi originalmente proposto. O problema também se acentua diante de novas necessidades acrescentadas pelo modo de produção, que não existiam em 1938. De acordo com o cálculo feito naquela edição, para se consumir a cesta básica proposta no governo Vargas para a região 2 (Norte e Nordeste, portanto a mais pobre) o salário mínimo deveria ser, por baixo, R$1.046. Sendo assim, com o salário de R$260 (o aumento fictício para R$300 que será dado em maio deste ano não trará nenhuma mudança significativa) o trabalhador estaria consumindo em termos de alimento quatro vezes menos do que consumia durante o período getuliano.

Assim como na matéria citada, tomamos como base mais uma vez a cesta básica elaborada para a região 2, a mais barata do país, para atualizar o cálculo da defasagem do salário mínimo, visto que, a cesta básica deveria compor uma parte substancial (variando entre 50% a 60% da composição do salário mínimo). No caso da região 2 equivale a exatos 50% do salário, sendo o restante destinado a itens como vestuário, habitação, transporte, saúde etc... É, portanto, indissociável o valor da cesta básica a estas outras necessidades vitais.

"Mas a vida implica, antes de mais, o comer e o beber, uma habitação, o vestuário e muitas outras coisas. Assim, o primeiro ato histórico é a produção dos meios de satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material. Este é de fato um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que, hoje como há milhares de anos, tem de cumprir-se em cada dia e em cada hora, apenas para sustentar a vida humana." Marx e Engels, A ideologia alemã.

Não se trata aqui de explicar a essência da exploração do trabalho humano, mas de constatar a insuficiência de um salário, que por ser tão irrisório não consegue recompor e reproduzir sequer um terço da força de trabalho de um homem e sua família, utilizando, para tanto, referências nos preços dos produtos de extrema necessidade, estabelecidos pelas classes dominantes nativas e seus associados estrangeiros.

CESTA BÁSICA X DIETA IDEAL

Atualmente, a defasagem chegou a tal nível que o salário mínimo é inferior à cesta básica. Para se calcular o mínimo da época de Vargas com os valores atuais, deve-se levar em conta não só o valor da cesta básica, mas o quanto ela representa na composição geral do salário. Portanto, se o valor da cesta básica é 50% do salário e atualmente vale o dobro do salário, o trabalhador não está se alimentando duas vezes menos e sim quatro vezes. Deve-se levar em conta que, além de se alimentar ele precisa morar, vestir, ter acesso à saúde, entre outros itens. Com o surgimento de novas necessidades que não existiam, ou não eram consideradas vitais em 1938, o Dieese, por exemplo, ao calcular o valor atualizado do salário mínimo considera para efeitos de cálculo que a cesta básica deve equivaler a apenas 37,5% do salário — o que aumenta ainda mais sua defasagem.

A composição da cesta básica foi feita a partir de uma pesquisa sobre os hábitos alimentares no Brasil, variando os alimentos de acordo com as possibilidades de cada região, melhor dizendo, as possibilidades de explorar o proletariado em cada região. Vale lembrar que, sob muitos aspectos, o que se chama de hábitos alimentares regionais na verdade podem advir muito mais de uma carência alimentar regional, do que de uma cultura popular genuína, sendo estes hábitos e costumes impostos pelas relações de produção locais.

Parte da cultura alimentar brasileira é originária do período da escravidão, onde o potencial energético com que abasteciam o escravo no campo (um bem semovente de custo muito baixo em determinadas circunstâncias do escravismo) era insuficiente para prolongar sua saúde. A comida significava um elenco de partes desprezadas como feijão, carne e farinha, conhecidos hoje como pratos "típicos" do povo trabalhador.

Para detectar as deficiências alimentares da cesta básica, tomamos como base os ingredientes da cesta básica da região 2, com suas respectivas quantidades mensais: 2): Carne (4,5 kg); leite (6 L); feijão (4,5 kg); arroz (3,6 kg); farinha (3 kg); legumes (12 kg); pão francês (6 kg); café em pó (300 g); frutas (90 unidades); açúcar (3 kg); banha/óleo (750 g); manteiga (750 g), comparando-os com os elementos da Tabela 1. Essa dieta básica foi elaborada pelo Departamento de Nutrição da Escola Superior de Ciências Domésticas da extinta Universidade Rural de Minas Gerais (atual Universidade Federal de Viçosa -UFV) e fornecida por uma ex-aluna, a economista doméstica e socióloga Beatriz Torres. Esta comparação originou a Tabela 2.

Pioneiro no estudo sobre a fome no Brasil, o médico e geógrafo Josué de Castro afirmou que "2.400 calorias são consideradas suficientes para o ritmo ronceiro (indolente) de vida animal que em condições precárias conduzem à morte, num clima frio ou tropical". A dieta ideal representada na Tabela 1 leva em consideração uma pessoa de vida sedentária, por isso chega a um total mínimo de 2.802 calorias.

No entanto, Josué afirmou que necessitamos de reposição "correspondente às despesas do organismo". Cerca de 3 mil calorias diárias são necessárias para os grupos humanos ocupados em trabalhos de intensidade média. Havendo diminuição nítida de suas combustões orgânicas, a vida biológica sofre retardamento.

Se avaliarmos que o trabalhador normalmente tem que caminhar uma certa distância para chegar ao transporte ou mesmo à própria empresa, além de normalmente ter um desgaste físico bem maior no trabalho do que alguém que trabalha em um escritório, por exemplo. Sendo assim, a necessidade calórica deste trabalhador ultrapassa as 2.802 calorias da Tabela 1. A nutricionista Lilian calcula que um operário destes precisaria de até 3.200 calorias para repor o que perdeu, dia após dia, na labuta. No meio rural, onde o trabalhador é exposto ao sol e às atividades pesadas durante horas, estima-se que a quantidade necessária seja de 5.000 calorias. No entanto, não são apenas as calorias ingeridas que importam, e sim os nutrientes.

OS NUTRIENTES INGERIDOS

Tabela 1 demonstra a importância dos nutrientes (protídios, lipídios, glicídios, vitaminas e sais minerais) que compõem os alimentos, conforme determina o conceito de nutrição: "O conjunto de processos — da ingestão de alimentos à assimilação pelas células — que devem satisfazer as necessidades do organismo, possibilitando o funcionamento, através dos nutrientes necessários" ao conjunto das faculdades físicas e intelectuais do homem para que ele possa seguir produzindo coisas úteis, entre elas, a felicidade humana.

No entanto, o conhecimento sobre a importância dos alimentos e suas funções no organismo não é difundida entre a população. Lilian Marçal dos Santos, chefe do departamento de Nutrição da Fundação da Universidade Regional de Blumenau ressalta a importância da educação alimentar nas aulas do primeiro semestre da faculdade, com um estudo ao longo do período sobre a cesta básica:

— O estudo da Nutrição surgiu depois da Segunda Guerra Mundial, diante da fome pela qual passava boa parte da Europa após o conflito. O objetivo das aulas é conscientizar os alunos de que a fome continua. — conta. A economista doméstica Beatriz Torres, que participou nas décadas 60 e 70 do projeto de extensão da extinta ACAR (Associação de Crédito e Assistência Rural), onde orientava pequenos agricultores, também destaca a importância de uma educação alimentar:

— Com uma alimentação adequada as pessoas vão desenvolver não só a parte física como o raciocínio. Desta forma, vão pensar e, consequentemente, questionar mais. Mas primeiro é preciso que as pessoas saibam o que é uma alimentação adequada, as funções dos alimentos, seus nutrientes.

A partir dessa cesta básica, o trabalhador já está condenado a uma vida mais curta por não conter ela os ingredientes necessários para uma alimentação adequada, conforme denuncia a nutricionista Lilian :

— A cesta contém todos os grupos alimentares (carboidratos, lipídios e proteínas), mas é insuficiente não apenas do aspecto calórico, e também no que diz respeito às vitaminas. Estas condições de penúria alimentar não repõem por completo as faculdades físicas e intelectuais dispendidas pelo trabalhador. Apenas repõem energia para que ele volte a trabalhar, sem nenhuma preocupação com a saúde e a sua qualidade de vida.

Para se chegar a uma alimentação ideal, o cálculo de calorias não é o mais importante e sim a ingestão de nutrientes, porque o fato de estar comendo não significa que o indivíduo esteja se alimentando adequadamente. Lilian afirma que, para driblar o baixíssimo teor de nutrientes que a cesta básica oferece, ocorre do trabalhador compensar com alimentos mais calóricos, além de eliminar carnes - que somam aproximadamente um terço do valor da cesta . — O trabalhador acaba consumindo alimentos mais calóricos, ou como eles mesmo dizem, aqueles que têm sustança — , relata.

Trata-se do clássico da mesa do trabalhador: feijão, arroz, farinha. Um prato saudável, concorda Lilian. Mas muitas vezes o consumo de outros alimentos, muito calóricos, explica a crescente obesidade e desnutrição simultâneas entre a população pobre.

Através da Tabela 2 pode-se observar claramente a opção da cesta básica por alimentos mais calóricos como feijão, que é indicado um consumo de 4,6 kg enquanto que na dieta ideal é recomendado apenas 1,5 kg por mês. O mesmo acontece com o arroz que na dieta ideal deve ser 3,0 kg por mês e 3,6 kg mensais na cesta básica. A farinha nem sequer é mencionada na dieta ideal, mas é calculada na cesta básica em 3kg mensais.

Ou seja, a preferência dada aos alimentos com "sustança" reflete a opção da cesta básica pelos alimentos energéticos em detrimento dos alimentos construtores e reguladores. As funções destes três grandes grupos de alimentos são as seguintes:
  1. Construtores — Compostos de proteínas e sais minerais, tendo a função de formar e reparar os tecidos.
  2. Energéticos — São os mais constantes na cesta básica, pois têm a função de formar calor e energia. São os que contêm de hidratos de carbono (glicídios) e lipídios (gorduras).
  3. Reguladores — São os alimentos ricos em vitaminas e sais minerais, além da água, essenciais para regular as funções do organismo.
A ausência dos alimentos construtores e reguladores é relatada pela nutricionista Lilian através de casos que presenciou:

— Em um dos restaurantes em que eu trabalhava como supervisora havia um homem que, no refeitório, enchia a bandeja apenas com arroz e leite — lembra.

Neste caso, havia uma necessidade até inconsciente, segundo Lilian, de ingerir as calorias existentes nestes alimentos. Noutra situação, quando trabalhava no porto, havia trabalhadores sazonais, que só trabalhavam um dia por semana no descarregamento de barcos:

— Como eles deviam se alimentar mal a semana toda, acabavam comendo até 900 gramas de comida no almoço oferecido no dia de trabalho. Era a compensação por uma semana de fome.

A DIDÁTICA DA NUTRIÇÃO

Através da Tabela 2 pode-se observar a ausência de itens na cesta básica que constam na dieta ideal (vegetal A, B e massas), enquanto o café, que não possui valor nutritivo algum, figura na cesta. Já no fim da década de 60, a extinta ACAR criou para fins didáticos um método denominado "Estrela da Boa Nutrição", provando que desde aquela época já era possível determinar com precisão a massa de alimentos cotidianos que evitassem a subnutrição. Abaixo, segue a indicação dos alimentos que contém o mínimo necessário de nutrientes para o bom funcionamento do organismo, conforme ilustrado no folheto da Estrela da Boa Nutrição:
  1. Hortaliças: pelo menos um vegetal verde e um amarelo — Alimentos Reguladores.
  2. Frutas em geral, frutas cítricas: 2 ou mais variedades— Alimentos Reguladores.
  3. Leite e derivados: 3 a 4 copos (crianças), 2 copos (adultos) — Alimenos Construtores.
  4. Carnes, vísceras, ovos, feijões (leguminosas): 200 gramas — Alimentos Construtores.
  5. Cereais, farinhas e açúcares: Duas variedades de cereal — Alimentos Energéticos.
  6. Gorduras e óleos: 2 colheres de sopa, mais ou menos 200 calorias — Alimentos Energéticos.
Através do folheto e da Tabela 2 pode-se ver a pouca importância dada aos alimentos contrutores já que a quantidade mensal de carne indicada pela dieta ideal é de 6 quilos contra 4,5 kg de cesta básica e a de leite é a de 15 litros da dieta ideal contra 6 litros da cesta básica. Entre os alimentos reguladores, a carência da cesta é ainda maior, visto que a dieta ideal recomenda três tipos de vegetais, assim como a Estrela pede, pelo menos, um verde e um amarelo; mas a cesta inclui apenas tomate. Quanto às frutas (alimentos de função reguladora), são recomendadas 2 ou mais variedades, enquanto que na cesta está incluída apenas um tipo de fruta: a banana, por ser a mais barata na época.

É bem verdade que não se encontra, por exemplo, o sal e que um outro produto poderia ser trocado, não importa por qual. Mas basta olhar os quantitativos, que de tão mínimos, revelam que a cesta básica não tinha essa intenção.

Existe, portanto, um deslocamento em termos de quantidade dos alimentos reguladores e construtores para os energéticos, que aparecem na cesta em maior quantidade e variedade, de forma apenas a repor a energia gasta pelo trabalhador. No entanto, os nutrientes oriundos dos alimentos energéticos não são suficientes para cobrir as funções dos outros dois (construtores e reguladores), não havendo uma preocupação com a saúde e a qualidade de vida do trabalhador, mas apenas a de explorar de maneira descartável sua força produtiva.

O QUE TEMOS PARA HOJE?

Atualmente, além de insuficiente para fornecer uma alimentação adequada, a cesta básica ainda é de qualidade inferior à da época em que foi elaborada. Não por uma mudança de cardápio, e sim devido ao processo de industrialização dos alimentos que gradativamente retira seu valor nutritivo, além de introduzir alguns produtos químicos, danosos à saúde.

Ao anúncio do empobrecimento da dieta do proletário faz-se acompanhar o lançamento dos alimentos funcionais, uma nova estratégia que diminui o valor alimentício dos produtos, distanciando o alimento comum de outros "naturalmente" mais caros, destinados à média e alta pequena-burguesia e à burguesia propriamente.

Os laboratórios das corporações transnacionais produzem componentes alimentares aleatoriamente, para serem,da mesma forma, colocados à venda e consumidos. Por décadas, empresas como a Nestlé substituíram o leite materno pelo produto em pó. Um genocídio pelo qual a Nestlé (corporação que já apoiou o nazismo) jamais foi obrigada a responder. Esta empresa é a maior corporação da indústria alimentícia no mundo. Aparentemente, é de capital suíço. Outro exemplo, a Coca-Cola: o refrigerante inibe o apetite, não revela o nome de seu composto vegetal, não resiste a determinados testes que comprovam imediata decomposição de organismos, nem explica sua função nutricional.

Os fabricantes de comida controlam cada vez mais a produção de alimentos — impondo desde a monocultura de exportação (de produtos de sobremesa: café, açúcar, etc., até a carne ou o soja envenenado). O mesmo capital financeiro, há muito, dita o que (e principalmente como) pode ser produzida a agricultura em cada parte do mundo. Faz vigorar a chantagem alimentar, mediante a escassez (déficit líquido de produtos alimentícios num conjunto territorial dado), com sensível perda dos conteúdos alimentares necessários para cada país que se deseja explorar e oprimir, chegando à estratégia final da guerra contra os povos do mundo inteiro.

Na década de 40 e 50, os carboidratos eram menos processados que hoje. O pão das padarias nos bairros conservava boa parte das fibras do trigo na farinha. A alimentação caseira recebia ingredientes crus, tanto que o arroz (já nem se trata do integral) necessitava ser cozido mais lentamente (continha mais fibras). Os produtos tinham a validade de dias, e não de meses e até anos. Não se usava grandes quantidades de açúcar, biscoitos, batatas preparadas de forma sofisticadamente pobre. Quando um "baixo teor de gordura" é anunciado nos produtos de supermercados significa que eles, agora, contém carboidratos de tal forma processados que substituem a gordura. "Enriquecido", quer dizer que as fibras naturais foram retiradas (as que continham vitaminas) e algo foi colocado em seu lugar, artificialmente.

A literatura destinada a defender dietas da pequena burguesia é ávida em denúncias quanto ao uso cavalar de ácidos graxos do tipo trans (óleos vegetais modificados por hidrogenação) nos alimentos industrializados para eliminar a gordura saturada, compensando-os, todavia, com gorduras trans. Tanto pior; da mesma forma produzem obesidade, doenças cardíacas, derrame, doenças pulmonares, pneumonia, diabetes, depressão profunda, doenças dos rins e do fígado, câncer etc.

Componentes: os ácidos aminados, ácidos graxos, vitaminas, são moléculas indispensáveis à vida. Basta faltar algumas miligramas na alimentação cotidiana para que sobrevenha uma doença grave ou a morte. E não somente a falta, porém a má compensação dos alimentos pode levar à morte.

Seguidamente as TVs surpreendem com reportagens que condenam alimentos num dia para exaltá-los em outro, naturalmente depois de manter o controle sobre os últimos, ou seja, de domesticá-los quimicamente segundo os interesses das corporações da área de alimentos. O problema é que tais produtos são empurrados para todas as classes, porém as mais exploradas estão mais expostas, embora não possam se dar ao luxo de frequentar fast-foods, consumir guloseimas, e outros "lançamentos" que aparecem às toneladas nos pontos comerciais. Não se está diante apenas da fome parcial ou oculta (falta permanente de determinados elementos nutritivos em seus regimes habituais), cujos ataques se limitam aos miseráveis, mas a grupos inteiros de populações do globo. O produto comum é o mais atingido, o que torna mais grave o quadro de enfermidades geradas pelas carências alimentares.

Demonstrada boa parte dos problemas trazidos pela tal cesta básica, em termos nutritivos e qualitativos, pode-se ilustrar através de uma tabela simples que nem sequer o acesso a esta cesta básica é possível aos que ganham salário mínimo, visto que o valor da cesta já ultrapassou o do salário e mesmo que o salário fosse suficiente para o consumo da cesta ainda faltaria dinheiro para outros itens vitais como saúde, educação, vestuário, habitação, transporte conforme introduzido no início do artigo.

O MÍNIMO NEM COMPRA CESTA

Semelhante ao método utilizado na edição número 21 de AND, a Tabela 3 utilizou como referência a mesma cesta básica das tabelas anteriores, a da região 2, e através de preços fornecidos pela Fecomércio -RJ foi realizado o cálculo com valores atualizados dos produtos (16 de fevereiro) para se chegar ao valor real do salário mínimo, com a metodologia da era Vargas, ou seja, utilizando a mesma quantidade e medidas de alimentos necessários em um mês destinados a uma família de cinco pessoas. Um casal e três crianças, considerando-se que cada criança vale 0,5 adulto, portanto, 3,5 pessoas.

De acordo com a tabela 3, para o trabalhador do Rio de Janeiro ter acesso à cesta básica mais barata do país, precisaria de R$ 446,30, o que demonstra ser o salário insuficiente até mesmo para adquiri-la, independente das críticas feitas pelas profissionais entrevistadas da área ao elenco de produtos constantes no decreto nº 399. A partir deste valor e utilizando o critério de Vargas para o cálculo do salário mínimo na região 2 (cesta básica equivale a 50% do salário mínimo), o valor atualizado do salário seria de R$892,60,calculado em fevereiro. De acordo com estes cálculos, com o salário mínimo de R$ 260,00, o trabalhador de hoje estaria comendo 3,5 vezes menos do que há 67 anos.

No entant o, o valor encontrado para o salário mínimo está nivelado por baixo pois utilizamos preços dados por uma entidade patronal no Rio de Janeiro, tendo como base a cesta da região mais pobre do país. Além de considerar uma criança ou um adolescente como meio adulto, é ignorado que ela necessita de menos alimentos energéticos, porém de mais alimentos construtores para a sua formação e crescimento do que um adulto..

Para comprovar que estes valores não condizem com a realidade, visto que na matéria da edição 21 este mesmo cálculo, a partir de preços de setembro de 2004, dava a cesta básica um valor de R$ 523,00 (estariam os preços baixando ?), criou-se a Tabela 4, utilizando-se da mesma metodologia da Tabela 3. A única diferença é que os preços são oriundos de uma pesquisa feita no Supermercado Mundial, um dos mais populares do Rio de Janeiro e conseqüentemente com os preços mais baixos, na data de primeiro de março, De acordo com a Tabela 4, o valor da cesta básica é de R$543,62, logo pelo método de cálculo do salário mínimo da região 2 chega-se ao valor atualizado de R$ 1.087,24. Com um salário atual de R$260 conclui-se que o trabalhador atualmente se alimenta por volta de cinco vezes menos do que na época da criação da cesta básica.

Além disso, a própria Constituição de 1988 reconhece que surgiram novas necessidades e que o salário mínimo deveria abranger mais itens do que os estabelecidos no governo Vargas (higiene, vestuário, transporte, saúde e habitação) tais quais os novos educação, cultura, lazer entre outros. Portanto, o valor atual do salário mínimo é totalmente criminoso, até mesmo pela própria farsa da "constitucionalidade".

Essas recentes necessidades surgiram não apenas por se descobrir cientificamente novas carências dos seres humanos, mas o próprio avanço do capitalismo (já em sua fase mais degenerada, o imperialismo) obriga ao mais renitente, humilde e econômico trabalhador um consumo sempre maior. Portanto, a defasagem do salário mínimo cresce tanto mais comparamos as necessidades atuais com as de 1938, ou seja, supera em muito os R$1.087, 24.

Se utilizarmos a metodologia do Dieese, por exemplo, que considera que a cesta básica corresponde apenas a 37,5% do salário, este estaria por volta de R$1.500,00. Como o Dieese calcula apenas quatro pessoas na família (ao que parece a quinta morreu de fome), e continua a utilizar o critério de que uma criança vale meia pessoa, o salário ficaria por volta de R$1.285. A partir de todos estes cálculos pode-se concluir que o trabalhador na época do fascismo de Vargas consumia mais de cinco vezes o número de nutrientes que o trabalhador dos tempos do operário padrão do FMI.

TABELA 1

Dieta mensal básica - 1 pessoa

AlimentosQuant. Kg/mêsCaloriasProtídiosLipídiosGlicídiosCálcioFerroVit. ATiaminaRib/LavNiacinaÁcido ascórbico
Leite1525016,515255600,56000,150,80,65
Carne63963326-224,6600,140,3480
Vegetal A2,4131,10,22,6271,123130,040,080,213
Vegetal B3,6532,50,310,2481,897080,310,30,625
Vegetal C31001,80,223,1210,81670,10,040,814
Frutas91652,88,844,1891,412930,710,141,412,8
Feijão1,517211,1130,8683,4150,270,0912
Arroz33606,70,778,9100,900,080,0312
Pão6546170,4115,2442,400,140,141,60
Massas1,51886,40,733,2110,800,040,0310
Açúcar2,4294--76-------
Óleo0,45139,5-15--------
Manteiga0,45124,519,512,670,19-0,0343597,5--
Total-2802103,975,3444,090017,7141561,981,9916,771,8
Departamento de Nutrição da Escola Superior de Ciências Domésticas da extinta Universidade Rural de Minas Gerais (atual Universidade Federal de Viçosa - UFV)

TABELA 2

Comparação entre a Dieta Ideal e a Cesta Básica da Região 2

AlimentosQuantidade Kg/mês
(Dieta ideal)
Calorias
(Dieta ideal)
Quantidade Kg/mês
Cesta Básica
Região 2
Calorias Cesta Básica
Região 2
Carne62504,5187,5
Leite153966158,4
Vegetal A2,413--
Vegetal B3,653--
Vegetal C31009 (Tomate)300
Frutas91650,06 (Banana)1,22
Feijão1,51724,6527,46
Arroz33603,6432
Pão65466546
Massas1,5188--
Açúcar2,42943367,5
Óleo0,45139,50,9279
Manteiga0,45124,50,9249
Café--0,3-
Farinha--310,8

TABELA 3

O valor atual da cesta básica - Fecomércio RJ

ProdutoCaracterísticasMedidaQuant.Preço Médio
R$ - 16/02
1 Pessoa
R$
3,5 pessoas
R$
CarneDe segundaKg4,55,3023,8583,47
LeitePasteurizadoL61,559,3032,55
ArrozVariadoKg3,61,696,0021,00
FeijãoMulatinhoKg4,62,089,5733,49
FarinhaMandiocaKg32,266,7823,73
TomateGrandeKg121,5218,2463,84
BananaPrataUnid.900,1412,6044,10
AçúcarRefinadoKg31,173,5112,28
ÓleoVariado900 ml0,92,302,077,24
ManteigaVariadoKg0,754,593,4412,04
CaféVariadoKg0,37,202,167,56
PãoFrancês50g60,2530,00105,00
Total




446,30

TABELA 4

O valor atual da cesta básica - Supermercado Mundial

ProdutoCaracterísticasMed.Quant.Preço Médio
R$ - 01/03
1 Pessoa
R$
3,5 Pessoas
R$
CarneDe segundaKg4,54,9522,2777,96
LeitePasteurizadoL61,629,7234,02
ArrozVariadoKg3,61,605,7620,16
FeijãoMulatinhoKg4,6


FarinhaMandiocaKg31,474,4115,43
TomateGrandeKg121,1914,2849,98
BananaPrataUnid.900,3329,70103,95
AçúcarRefinadoKg35,2715,8155,33
ÓleoVariado900 ml0,93,272,9410,30
ManteigaVariadoKg0,754,363,2711,44
CaféVariadoKg0,37,232,167,59
PãoFrancês50g60,2530,00105,0
Total




543,62

O salário mínimo, de acordo com a Constituição em vigor no Brasil, capítulo II, dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV, é: Direito dos trabalhadores, urbanos e rurais, salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família (4 pessoas), como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim.

O salário quase zero da fome



Povo e antipovo no Brasil sabem que salário mínimo é sinônimo de "salário de fome", cujo aumento é sempre irrisório e há poucas chances de prosseguir um trabalho, principalmente produtivo, tendo o mínimo como única fonte de sobrevivência. Também é sabido que, desde o tenebroso abril de 1964, os salários em geral vêm sofrendo uma involução e defasagem monstruosas.

O salário mínimo no Brasil surgiu durante o governo Vargas, juntamente com a oficialização de inúmeras garantias trabalhistas e previdenciárias, cujo objetivo era o de criar uma força de trabalho urbana organizada destinada à parturição da economia de bases industriais no Brasil. O nível de industrialização, até aquele momento, se constituía num entrave para a expansão do grande capital, em particular o proveniente do USA e que fatalmente consolidaria sua nova e decisiva expansão na América Latina.

O projeto de industrialização, elaborado sob orientação da política imperialista, vale dizer fascista — demonstrava que, naquele momento, cabia atender às necessidades da industrialização nas bases possíveis de um país de relações semifeudais e de acentuadas tendências semicoloniais. Não dependeu da vontade de Vargas, de seus caprichos e de seu poder pessoal a arrancada para a industrialização, mas a sua atuação foi decisiva ao compreender o momento e a necessidade histórica. Vargas teve a competência de conduzir o contingente que acelerou sensivelmente o curso do desenvolvimento das forças produtivas e das relações capitalistas no Brasil, mantendo intocável a ordem semifeudal e burocrática para — sendo um de seus representantes — não provocar efeitos colaterais no organismo das classes dominantes nativas, como também para assegurar-lhes as rédeas do poder.

Era, portanto, indispensável e iminente estabelecer métodos e formas de exploração do trabalho definitivamente modernas. A oligarquia latifundiária, por exemplo, já havia oferecido a si mesma e à toda nação dos ricos nativos grande parte de condição tão oportuna: milhões de homens morriam de fome por todo o país, despojados até mesmo de um chão para ser enterrado. Era, desde então, a coisa mais fácil, obter homens destituídos de qualquer propriedade cujo desespero os faziam dobrar-se a um insignificante pagamento.

O poder criador de riquezas, as massas, viria a impulsionar o nível histórico das forças produtivas — o homem, a técnica, os hábitos de trabalho, as tradições de ofício, os instrumentos de produção etc., imediatamente, na década de 50. A classe operária receberia enorme impulso naquela época. Mas as modernas relações sociais de produção no Brasil já não correspondiam às necessidades de desenvolvimento dessas mesmas forças produtivas que são o elemento mais revolucionário da produção.

Se a força de trabalho era tecnicamente "desqualificada", mais ainda era o grande patronato. Mas, desse último, dotado apenas da cultura de apropriar-se do trabalho alheio, lhe faltava a oportunidade de concentrar a massa dos não proprietários num contingente único. Bastava que o patronato reunisse em suas mãos o que havia surrupiado do pequeno produtor rural e urbano, os dispersos e mesquinhos meios de produção: terra, maquinário, prédios, dinheiro, matéria prima, os despossuídos (suas vítimas) e dar-lhes uma ordenação apropriada, como reclamava o capital monopolista.

ORIGEM DO MÍNIMO

O processo é idêntico em todas as partes, havendo particularidades em cada país capitalista; converter até mesmo os frágeis meios de produção em poderosas forças produtivas, transformá-los de meios individuais em imensos meios sociais, possíveis de manejar somente a partir de numerosa quantidade de assalariados. E, apesar do seu caráter social, os meios de produção chegam à condição de propriedade privada de um bando de magnatas que tudo concentra.

Daí pra a frente, consolidados os interesses do grande capital forâneo e nativo, seriam produzidas mercadorias, novas necessidades e novas legislações. Também o espírito "empreendedor" se realizaria, capacitado a obrigar, por horas a fio, diariamente, que as faculdades físicas e intelectuais de homens, mulheres e crianças fossem colocadas em movimento e, "gratuitamente", arrancada uma parte cada vez maior dessas energias e transformadas em lucro; vale dizer, em miséria para as massas. Cabia, naquele momento, ordenar de forma superior o sistema, estabelecer seus elos e dar um colorido atualizado ao roubo, já dissimulado pelo salário vil: criar uma legislação moderna que no Brasil ganhou o nome de trabalhista, Consolidação das Leis do Trabalho ou, como se diz, cópia ipsis literis da Carta del Lavoro, de Mussolini.

O menor salário legal surgiu no Brasil através da Lei n° 185 de Janeiro de 1936 e do Decreto-Lei n° 399, de abril de 1938 que regulamentaram a instituição do salário mínimo. No entanto, somente dois anos depois, durante o governo Getúlio Vargas, é que o Decreto-Lei n° 2.162, de 1° de Maio, instituiu e fixou, definitivamente, os valores de um mínimo que variava em três regiões. O fato é que o grau de satisfação das necessidades de um operário no Brasil foi ditado pelos grandes patrões, desde a doutrina Vargas, através do sistema de Estado e monitorado pelo sistema de governo cujo método evoluiu em condições determinadas.

É amplamente divulgado o conceito de que afora as atividades intelectuais de maior remuneração, todas as profissões, particularmente as dos operários e dos camponeses, se realizam apenas por meio de energia muscular, quase sem o uso das faculdades intelectuais. Esse conceito reacionário é aplicado em todas as esferas da sociedade porque é um dos artifícios essenciais para seguir enriquecendo às custas das massas trabalhadoras e enganando-as — chegando até ao racismo, quando se diz que às massas falta principalmente capacidade de entendimento.

Acontece que a força de trabalho (não é o trabalho realizado, propriamente) é o conjunto das faculdades físicas e intelectuais que um trabalhador necessita colocar em movimento para produzir coisas úteis. Por mais rudimentar que seja a atividade do homem, ela se realiza mediante o emprego das faculdades físicas e intelectuais, onde não podem faltar uma nem outra. E o relativo aumento da utilização das faculdades intelectuais só pode ser determinada pela melhoria das condições de trabalho e de vida.

O trabalho produzido não é propriedade do trabalhador, já que os produtos por ele feitos pertencem ao capitalista, cujos preços no mercado alcançam uma soma em dinheiro bem maior que o salário pago. Pelo trabalho exatamente, o trabalhador nada recebe.

Por mais nada possuir de seu, o proletário é obrigado a vender sua força de trabalho ao capitalista que a dispensa quando bem entender. Então, como repor as energias despendidas, ou seja, como permitir a sobrevivência da força de trabalho de um homem, ou como um trabalhador seguirá produzindo?

A princípio, a única forma de compensar o trabalhador seria a de repor suas energias despendidas durante a jornada de trabalho, dispondo dessa energia na jornada seguinte. Pois o objetivo do salário é o de aparecer como instrumento capaz de remunerar o trabalhador pela venda da sua força de trabalho.

O salário— soma em dinheiro que evoluiu no processo de desenvolvimento capitalista como forma de pagamento — é o artifício que dissimula ser o trabalho inteiramente pago e que pode (o salário) ser trocado por uma quantidade de gêneros indispensáveis destinados à reposição das energias de um trabalhador.

É preciso entender que não há como aprofundar o conhecimento da "discrepância" entre salário oficial e o atendimento das necessidades mais elementares da vida humana, evitando ao mesmo tempo abordar a teoria do valor, a formulação científica do "salário, preço e lucro" etc. — o que não é objeto desse artigo. O método utilizado vai significar, quando muito, uma acanhada introdução à questão do modo como esse último sistema de relações de exploração do trabalho (o imperialismo, fase superior do capitalismo) diz ser necessário para "pagar a reprodução da força de trabalho" — por menos do seu valor, é claro, ainda que, como se disse, não revele a essência da exploração. Salário e nível de vida

Da mesma maneira, é inadmissível avaliar o nível de vida dos trabalhadores produtivos pelo total do salário que recebem e que diz respeito apenas aos que recebem, mas não os que momentaneamente encontram-se desempregados. Afinal, como vivem os trabalhadores em geral se aumenta o desemprego? E mesmo os salários dos que ainda conseguem vender sua força de trabalho não caem violentamente, sempre que acionado o desemprego estrutural? Quer dizer, nem de longe, a questão dos salários revela o grau de satisfação do conjunto das classes que compõem os trabalhadores produtivos. O nível de vida dos trabalhadores produtivos só pode ser avaliado com o montante dos salários acrescido de outros elementos como: a duração e a intensidade da jornada de trabalho, as enfermidades e acidentes a que estão expostos, as condições de habitação, de alimentação, de vestuário, de instrução, de transporte, de desenvolvimento cultural etc. — isto é, a partir do conjunto de situação de toda uma classe social. Para definir o nível de vida deve-se determinar também quanto o operário entrega aos grandes patrões e em que proporção ele gasta a sua força de trabalho.

Assim, reduzir o nível de vida dos trabalhadores à questão do salário é flagrantemente falsear a situação dos trabalhadores produtivos. O próprio aumento de salário agrava a condição de vida dos trabalhadores quando esse mesmo salário não acompanha o aumento do gasto da força de trabalho em função do prolongamento da jornada ou da intensidade de trabalho no processo de produção — entre outros artifícios criminosos, tão comumente utilizados pelo imperialismo.

Da mesma forma, se as estatísticas das sucessivas gerências do imperialismo no Brasil, tudo fizeram (e fazem) para falsear as condições de vida dos trabalhadores, é flagrante que não conseguem dissimular a vertiginosa queda dos salários e perdas trabalhistas. Durante o novo processo instaurado pela contra-revolução de 1964, a economia foi perdendo cada vez mais a suas características nacionais e até as miseráveis garantias trabalhistas puderam ser facilmente desprezadas. O gerenciamento militar conseguia eliminar, simultaneamente, as lideranças da luta econômica, até mesmo na burocracia sindical, e as do estado maior do proletariado.

Nesse quadro, emergiu uma abundante força de trabalho desvalorizada, foi ressuscitado o trotskysmo, floresceu o revisionismo contemporâneo e se fortaleceu o clericalismo nos movimentos populares. Essas correntes contra-revolucionárias irmanadas arrastaram as federações sindicais para o ambiente da Ciols e inaugurou-se uma era ainda mais nebulosa para o movimento operário.

DIFERENÇA DE PREÇOS

Interessa aqui, tão somente, afirmar algo um pouco além do óbvio de que "é preciso viver", ou seja, revelar, num primeiro momento, a distância estabelecida entre preços estipulados, incluindo o menor salário, ambos oficiais.

Além disso, o advento do mínimo não estabilizou salário nenhum, nem fez diminuir a exploração. Em tese, por exemplo, a jornada de trabalho, tal como o esforço físico e intelectual não podem exceder o que representa o desgaste normal do trabalhador. Mas essa formulação é tão elástica quanto a capacidade de mentir das classes dominantes, aquelas que só consideram no "companheiro" operário a capacidade de produzir.

A dinâmica que faz decrescer o salário real ficou, como sempre, por conta da iniciativa privada dos grandes exploradores, a começar pela produção fabril. Devemos lembrar, eles dispõem de recursos para prolongar jornadas que têm limites fisiológicos muito claros. O aumento da exploração é preferido pelo uso da intensidade do trabalho com a utilização de máquinas, equipamentos e técnicas diversas. Há também o resultado obtido através das manobras de aumentos ilusórios, mediante acordos diversos nas campanhas dirigidas pelos seus pelegos.

OS MEIOS NECESSÁRIOS

Se a força de trabalho é gasta em cada jornada de trabalho, essa mesma energia deve ser reposta consumindo uma certa quantidade de meios de existência social — como acima explicado. Para o imperialismo, é necessário que essa força de trabalho ocorra e se multiplique em grande abundância e nas condições desejadas. Se o mínimo que o operário recebe não garante a sustentação de sua família, o imperialismo perde essa abundância — que inclui os despossuídos momentaneamente "empregados" e o grande exército de reserva, os desempregados.

Como ao imperialismo não interessa o ser humano senão quando disponha de força de trabalho apta para sua sede de lucros, reconhece a contragosto que o operário não pode reconstituir a energia gasta se não dispõe de esposa, filhos, meios de existência para que se reproduza sua capacidade de trabalho e o torne mais miserável no dia seguinte, até o ponto de ser consumido de vez.
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EXPLORAÇÃO CONSOLIDADA

Portanto, os propósitos da ordenação do sistema durante o tempo em que vigorou o projeto de Vargas, no que diz respeito à "reposição da força de trabalho", jamais atendeu economicamente o que poderia desejar o trabalhador mais ingênuo. Tampouco Vargas foi benfeitor dos "trabalhadores do Brasil". Ao contrário, o valor dessa reposição de energias em preços foi estipulado nos limites em que o trabalhador é mantido — ou seja, integrado nos grandes grupamentos humanos dos despossuídos a fim de que todo seu trabalho fique disponível — para servir ao sistema de produção social historicamente determinado que é o imperialismo. Por outro lado, as classes dominantes, por viverem da exploração do trabalho, tornam-se atrasadas e de tal maneira nocivas à humanidade que apenas algumas de suas frações mais "avançadas" conseguem ordenar a própria exploração como sistema. Esse foi o papel de Vargas como dirigente da fração mais avançada — também mais nociva— das classes dominantes, quer queiram ou não.

O fato é que os meios de existência, sob o imperialismo, são mercadorias, tal como a "energia humana". Sua manutenção e consumo significam recuperar e gastar energia no processo de trabalho. Esses meios têm preço, cujo valor se calcula pelo tempo socialmente necessário à sua produção. O valor de todos esses meios de existência constitui o valor da força de trabalho. E como esses meios de existência do trabalhador são sociais, não acontecem se não inclui sua família (forma histórica de organização da vida comum), necessários à sua reprodução e manutenção. Pouco importa que momentaneamente muitos vivam isolados, mas em média todos necessitam constituir uma organização familiar.

A ordenação do sistema pela fração conduzida por Vargas, portanto, estabeleceu para o menor salário oficial que atendesse às condições mínimas de vida ao trabalhador e sua família um cálculo que considerava cinco elementos básicos: alimentação, habitação, vestuário, transporte e higiene. Assim, foram distribuídas porcentagens entre estes itens, tomando a alimentação como centro, elemento que variava de 50% a 65% do valor das demais despesas, cuja soma constituía o menor salário oficial, em três regiões determinadas.

Valores da alimentação foram pautados em relação ao grupo de alimentos instituído na época, correspondente a três regiões. Foram estabelecidos produtos comuns com quantidades que variavam para cada região, embora o cálculo fosse o mesmo.

O estudo censitário que levou à fixação da cesta básica, assim como valores mínimos a serem pagos aos trabalhadores, foram realizados pelas chamadas Comissões de Salário Mínimo, criadas ainda em 30 de abril de 1938, pelo citado Decreto-Lei 399.

O grupo de alimentos do que tradicionalmente era chamada de Cesta Básica, portanto, apresentava lista de alimentos, com suas respectivas quantidades, capazes de gerar o sustento de um trabalhador (ou trabalhadora) em idade adulta, e de sua família, nas intenções da fração dirigente da época, contendo quantidades balanceadas de proteínas, calorias, ferro, cálcio e fósforo.

Tendo como parâmetro a cesta básica da época, com os respectivos produtos (carne, leite, feijão, arroz, farinha/mandioca, tomate, banana, açúcar, óleo, manteiga, café, pão) e utilizando as quantidades estabelecidas para a Região 2 (tabela 1), coletamos preços oficiais de forma a atualizar o valor da "cesta básica" da época e, conseqüentemente, o do preço do que mais ou menos poderia ser do salário mínimo, hoje (tabela 2).

QUANTO ESTÃO DEVENDO?

O preço dos alimentos para uma pessoa (cálculo do preço médio multiplicado pela quantidade dos produtos) considera uma família com cinco membros: o pai, a mãe (dois adultos) e três filhos. O padrão família, no período Vargas, era de cinco pessoas, mas reforçando o critério já que nasceu duvidoso. Para isso, o método se baseia rigidamente no item alimentação: os três filhos do casal proletário, para efeito de cálculo, não são considerados pessoas, mas cada um deles equivale à meia pessoa porque consome metade do que consome um adulto. Por isso, o preço médio dos alimentos necessários a um adulto é multiplicado por 3.5 — e não por 5.

Com base nesta tabela — e usando os itens da Região 2, que apresentava quantitativos menores e, entre os três salários mínimos, o mais baixo — pode-se atualizar o valor da tal "cesta básica" em R$ 523,20, por baixo. Sendo assim, o valor do salário mínimo atual seria de R$ 1.046,40, já que a cesta básica da região 2 equivalia a 50 por cento das demais despesas que, juntas, compunham o salário. Há mais. As cestas básicas, desde 80, recebem interpretações variadas e, com elas, pesos, quantitativos diversos que diminuem o seu conceito original. Não fosse pouco, inventa-se o "salário personalizado", "unipessoal" à maneira das terminologias criadas pelos ideólogos do imperialismo, sem fundamento lógico que permite, até mesmo eliminar do salário o cálculo correspondente à família. Desde que a gerência FMI-PT aprovou R$260 para o mínimo, os grandes patrões e seus pelegos devem, por cada mês, aos trabalhadores o equivalente a R$848,18 que, acumulados a partir de maio de 2004 chegam em outubro a R$5.089,08 — fora juros e correções monetárias, como eles não se esquecem de cobrar. Melhor, fora o que os grandes patrões conseguem de fato com o prolongamento da jornada e principalmente com o aumento da intensidade do trabalho.

No entanto, o proletariado tem muito mais a cobrar, dessa e das administrações que se sucederam desde o fatídico abril de 1964, que são as incontáveis vidas humanas. Porque o nome disso é genocídio.

QUEM RECEBE MÍNIMO ?

—Bem, dizem os ladrões nobres, poucos recebem o mínimo. Então, por que fazer tempestade em copo d´agua?

Se é assim, porque não elevam o mínimo, ao menos para o nível do decreto que o instituiu? Ou por que não o abolem inteiramente? Ao menos fingiriam um pouco mais de decência.

Mas não existe diálogo. Neste país falam apenas o gringo e seus empregados de luxo, que para isso existe o monopólio dos meios de comunicação e sua terrível censura.

O patrão conversa e desconversa sem interrupções:

—Aumentar o mínimo traz problemas para Previdência dos magnatas estrangeiros e nativos. Deve-se, ao invés disso, elevar a Receita Tributária, respeitando o princípio da justiça fiscal e a necessidade de desconcentração da renda, com vistas a viabilizar a recuperação do salário mínimo etc., etc. prosseguem na sua desmoralizada alegação os prepostos dos magnatas estrangeiros e nativos. — Precisamos é de um Estado e de um governo nosso!, responde o verdadeiro povo que habita este território brasileiro.

TABELA 1

Provisões mínimas estabelecidas pelo decreto-lei nº 399
AlimentosRegião 1Região 2Região 3Nacional
Carne6,0 kg4,5 kg6,6 kg6,0 kg
Leite7,5 L6,0 L7,5 L15 L
Feijão4,5 kg4,5 kg4,5 kg4,5 kg
Arroz3,0 kg3,6 kg3,0 kg3,0 kg
Farinha1,5 kg3,0 kg1,5 kg1,5 kg
Batata6,0 kg-6,0 kg6,0 kg
Legumes (tomate)9,0 kg12 kg9,0 kg9,0 kg
Pão Francês6,0 kg6,0 kg6,0 kg6,0 kg
Café em pó600 gr300 gr600 gr600 gr
Frutas (banana)90 unid.90 unid.90 unid.90 unid.
Açúcar3,0 kg3,0 kg3,0 kg3,0 kg
Banha/óleo750 gr750 gr900 gr1,5 kg
Manteiga750 gr750 gr750 gr900 gr

TABELA 2

Provisões mínimas com preços coletados oficialmente em 16 de setembro de 2004
ProdutoCaracterísticaMedQuantPreço médio1 pessoa3,5** pessoas
CarneDe segundaKg4,5R$ 4,97R$ 22,36R$ 78,26
LeitePasteurizadoLitro6R$ 1,55R$ 9,30R$ 78,29
ArrozVariadoKg3,6R$ 1,90R$ 6,84R$ 32,55
FeijãoMulatinhoKg4,6R$ 2,08R$ 9,57R$ 23,94
Farinha MandiocaPrimeira QualidadeKg3R$ 2,33R$ 6,99R$ 33,94
TomateTam. GrandeKg12R$ 2,64R$ 32,04R$ 112,14
BananaPrataUnid.90R$ 0,16R$ 14,40R$ 50,60
AçúcarRefinadoKg3R$ 1,20R$ 3,60R$ 12,60
ÓleoVariado900 ml0,9R$ 2,52R$ 2,26R$ 7,93
ManteigaVariadoKg0,75R$ 4,59R$ 10,94R$ 38,29
CaféVariadoKg0,3R$ 3,94R$ 1,18R$ 4,14
PãoFrancêskg6R$ 0,25R$ 30,00R$ 105,00
Total




R$ 523,20 ***
*Preços muito baixos, mas oficialmente fornecidos pela Fecomercio – Federação do Comércio do Rio de Janeiro, órgão patronal, com exceção da manteiga, cujo preço foi registrado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos). O Fecomercio-RJ traz um relatório diário de preços a partir de pesquisas em supermercados e outros estabelecimentos que comercializam gêneros alimentícios. O preço utilizado foi o vigente no dia 16 de Setembro. (Ver Tabela 2).
**3.5 pessoas, equivalem a dois adultos e três crianças, segundo o conceito de que cada criança consome apenas a metade dos alimentos necessários para a manutenção de um adulto.
*** Valor a ser despendido na compra de alimentos para o trabalhador e sua família, na Região 2 que, inexplicavelmente, deveria consumir menos quantidade de alimentos.
R$523,20 correspondem apenas a 50% das demais despesas. Significa que, mantendo os cálculos para a região a que se destina pior sorte, Região 2, o salário mínimo
deveria estar em torno de R$1.046,40

by Alexandre Paim

Disse Rui Barbosa, ao ter seus dedos esmagados por soldados no período da ditadura militar: “Coitados, eles acham que os jornalistas escrevem com as mãos”. >)


domingo, 27 de janeiro de 2013

Infelizmente o comprometimento politico da Presidente, não permite que ela se solidarize ou sequer entenda. O exterminio de pessoas é a meta do governo brasileiro. Estamos vivendo um holocausto: os campos de concentrações são as ruas das cidades e os de exterminio os hospitais, postos de saude, delegacias de policia, presidios, escolas... Nao existe mais nada a que nos apegar. Ou as Forças Armadas estabelecem a Ordem no Pais, ou eu estou propiondo a formação de uma real Frente de Oposição ao atual governo. E se é para morrer, que seja lutado. E nao sendo exterminada pela omissão, negligencia e conivencia de um governo, cujos integrantes são 100% desclassificados para os cargos. Não aceito mais ser governanda por uma representante ESCOLHIDA pelo povo, MAS QUE MANTEM CONDENADOS DA JUSTIÇA COMO AMIGOS E COM LIVRE ACESSO AS DECISÕES SOBRE O RUMO DO BRASIL. Chegou a hora de exigirmos o impeachment da atual presidente. Ainda que tenhamos sofrido o golpe, ele nao foi anunciado. Logo, ainda podemos apelar para o desrepeito à Constituição Federal. Não é mais possivel assistirmos boquiabertos a quantidade de escandalos e descaso que envolve a presidente. Saiam de nossso Pais. O povo nao lhe ama Presidente, e as redes sociais são clarissimas quanto a isso., Pare de impor sua presença, acreditando que A ESCOLHA POPULAR LHE ASSEGURA ESTE DIREITO. V.Exa é desprezad apelo povo (até por aqueles que V.Exa acredita comprar mensalmente com sues bolsa palhaçoes). O PT acabou presidente. GRaças a Deus está sendo dizimado. Uma vez no RS, Estado tão querido seu, a ponto de lhe deslocar do Chile, deve lhe tocar o coração a história de nosso povo. Porque V.Exa., nao se inspira em Getulio Vargas? Acredite: será a unica forma de V.Exa sair do cenário politico com dignadade: num caixao. Viva, Exa. a senhora temmenos respeito que a mosca do cocô, do cavalo do bandido. Seu 5 minutos de fama se extinguiram. Saia enquanto é tempo e de cabeça erguida. Para nao passar perante o mundo, a vergonha que passou em Santa Maria. O desprezo dos gaúchos foi tãointenso, que V.Exa nao se atreveu a abrir a boca. Como deveria ter sido. Sua presença em Santa maria, além de demagoga, foi de uma inconveniência sem precedentes. E extremamente constrangedor. by Deise.



Presidente Dilma, desculpe-me mas gosto de chamá-la assim, de presidente Dilma, me parece mais forte, com mais respeitabilidade, mais chic...
Também me sinto assim, é uma tristeza, uma revolta, uma não sei o que...
Quero orar e não consigo, meu pensamento não chega a Deus. Rogar pelos guias espirituais encarregados de amenizar o sofrimento dos espíritos pelo despertar ou não dessa tragédia, muitos sem entender o que lhes acontece... Amenizar o sofrimento dos familiares.
Meu pensamento só se encontra na Presidenta do Brasil,sua pessoa. Como se uma força-vontade me impelisse de me ajoelhar aos seus pés e implorar em prantos, que vossa excelência, pelo amor a Deus, empunha sua metralhadora de outrora e se junte ao povo brasileiro nas ruas, a Nação, para exterminar essa maldita impunidade que nos assola há anos seguidos...
Sei presidenta da dificuldade que isto lhe acarreta em tempos tão tenebrosos e obscuros e que o poder de governar a Nação Brasileira, Coração do Mundo Pátria do Evangelho, não se encontra em suas mãos, mas nas MÃOS DO PAI CRIADOR DO UNIVERSO, mas a senhora lhe foi dado através da Permissão DELE, que governasse o Brasil. Então, não permita que a força do mal, dos partidos políticos, dos políticos que apenas desejam se beneficiar, enfraqueça sua determinação e junte-se a nós, povo brasileiro, únicos que desejamos te-la como aliada, como amiga e estaremos ao seu lado lhe fornecendo vibrações de AMOR A PÁTRIA, DE ENERGIA PARA SEU ESPÍRITO E LUTE CONTRA O MAL.

ENTRE PARA A HISTÓRIA COM SEU NOME LIMPO, REVERENCIADO POR TEMPOS INDETERMINADOS. QUE DEUS TE ORIENTA E JESUS TE ILUMINA O CAMINHO. Um grande e fraterno abraço.

 Leila de Souza Bastos.

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