segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

STF confirma suspensão de atos que negavam proteção a terras indígenas


Ministros ratificaram cautelar proferida por Barroso no início do mês.

Da Redação Migalhas

quarta-feira, 2 de março de 2022

Em plenário virtual, os ministros do STF ratificaram cautelar proferida por Luís Roberto Barroso que suspendeu dois atos administrativos da Funai - Fundação Nacional do Índio que desautorizavam as atividades de proteção territorial pela autarquia em terras indígenas não homologadas.

Segundo o relator, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros passem a transitar nas terras indígenas, oferecendo risco à saúde dessas comunidades, pelo contágio pela covid-19 ou por outras enfermidades, sobretudo doenças infectocontagiosas - que tornam a saúde desses povos mais vulnerável.

    Plenário confirmou cautelar proferida por Luís Roberto Barroso.(Imagem: Nelson Jr./SCO/STF)

O caso
O pedido em questão foi formulado pela Apib - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, incidentalmente, nos autos na ADPF 709, em que o STF determinou a formulação de plano de enfrentamento à covid-19, com prestação de serviços de saúde e criação de barreiras sanitárias. De acordo com a Apib, os atos administrativos (um parecer e um ofício circular) contrariam normas constitucionais e infraconstitucionais de proteção aos direitos dos indígenas e a jurisprudência do STF.

Esvaziamento
Para Barroso, os atos da Funai representam uma tentativa reiterada de esvaziamento de medidas de proteção determinadas pelo Supremo.

"Ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a Funai sinaliza a invasores que a União se absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um convite à invasão de áreas que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática de ilícitos de toda ordem."

Omissão
O relator observou que, nos atos questionados pela Apib, é possível verificar nova tentativa da Funai de se omitir na prestação de serviços aos povos indígenas de terras não homologadas, utilizando a não conclusão da homologação para evitar o controle territorial que deve ser exercido sobre essas áreas. A presença de terceiros e de invasores e a desproteção territorial das terras pode, ainda, comprometer a implementação do Plano Geral de Enfrentamento à Covid-19 para Povos Indígenas, aprovado pelo STF, e outros instrumentos que envolvem a contenção e retirada de pessoas como medida de proteção sanitária.

Impactos
Outro ponto considerado pelo ministro é que, além do impacto sobre povos situados em terras não homologadas, os atos podem afetar indígenas isolados e de recente contato, ainda mais vulneráveis epidemiologicamente. S. Exa. lembrou que, em relação aos povos em isolamento e de contato recente, a cautelar homologada pelo plenário na ADPF 709 determinou, inclusive, a criação de barreiras sanitárias que impeçam a entrada e a saída de terceiros do território.

O relator foi seguido por todos os ministros. Apenas André Mendonça acompanhou Barroso com ressalvas.








domingo, 22 de janeiro de 2023

Psicopata? Pode estar do seu lado e você não sabe!


A psicopatia é uma das personalidades de risco que todas as pessoas, ditas normais, querem ver bem longe de si. Mas a realidade é que eles podem estar muito mais próximos do que imaginamos.

Embora o imaginário associado à imagem do psicopata seja algo que nos faz lembrar de um sujeito com cara de mau, grosseiro, de aparência descuidada, como as que são representadas nos cinemas, como Hannibal Lecter, a aparência óbvia de assassino da ficção, não condiz com a realidade.

Desde a novela Caminho das Índias, que o psicopata vem sendo abordado como um personagem que está livre de qualquer suspeita, pode ser um marido, esposa, filho, colega de trabalho.

A psiquiatra Dra. Ana Beatriz Barbosa prestou consultoria a Glória Perez durante as gravações da novela, e deu vida a personagem Yvone, interpretada pela atríz, Letícia Sabatella.

Atualmente, a filha de Maria da Paz, Jô, apresentou sua faceta original, a de psicopata, após uma série de acontecimentos apresentados na trama das nove.

Ted Bundy foi um dos psicopatas mais surpreendentes da atualidade, um cara bonito e charmoso, livre de qualquer suspeita, além da boa aparência, foi assessor político, formou-se em direito, possuía grande influência e oratória. Foi condenado a pena de morte em cadeira elétrica e executado em 1989 pelo homicídio de 36 mulheres (mortes confirmadas) em um período de quatro anos.

Ted não levantava suspeitas. Em seu julgamento, onde o próprio fez sua defesa, as mulheres iam assistir desacreditadas que aquele homem que se apresentava com grande eloquência, era um dos mais perigosos assassinos da atualidade.

E isso é apenas resultado de alguns mitos e pré-conceitos, já enraizados da própria sociedade, como o citado acima.

Até hoje, temos o hábito de julgar as pessoas pela aparência, sempre mencionamos trechos motivacionais e bíblicos, mas nem sempre praticamos. Um lobo em pele de cordeiro pode estar sentado ao seu lado e você ainda não se deu conta disso.
O que é um psicopata

Segundo a psiquiatria, o conceito de psicopatia é algo bem menos preciso do que pensamos. A definição de psicopata foi feita pela 1ª vez pelo poeta, filósofo e físico austríaco Barão Ernst von Feuchtersleben na década de 40 como sinônimo de uma doença psíquica. E posteriormente, Sigmund Freud publicou-a da mesma maneira em seu único artigo publicado postumamente em 1942. Seguindo esse raciocínio, o termo aparece no Decreto 24.559 da legislação brasileira, de 1934, “dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos e dá outras providências”.

Uma pessoa com distúrbio de psicopatia pode até parecer uma pessoa normal e encantadora, como mencionado no caso de Ted Bundy, mas são categorizados por alguns psiquiatras, psicólogos forenses e especialistas em análise de comportamento, como “predadores sociais” com aparência humana. Esses seres podem ser homens, mulheres ou qualquer outro gênero. Não possui nacionalidade exata, nem endereço, muito menos etnia. Casam, constituem família e muitos possuem carreiras profissionais de sucesso.

Psicopatas tem emoção?

Apesar de haver vários conceitos sobre psicopatas, é mais comum utilizar o termo “psicopata” num sentido restrito, do “hipotímico”, pessoas frias de sentimentos, incapazes de ter empatia com o sofrimento alheio e formar vínculos emocionais, embora em alguns casos, como o de Ted Bundy, podem ser charmosos e sedutores.

Mas respondendo a grande questão: Psicopatas possuem emoções voltadas para si próprios. O que eles não tem é empatia e compaixão, culpa ou remorso pelo sofrimento alheio.
Alterações no cérebro

O médico Jesús Pujol, diretor de pesquisas da Unidade de Ressonância Magnética do serviço de Radiologia do Hospital del Mar, em Barcelona, em uma análise publicada pela revista científica Psychologial Medicine sobre sua liderança na investigação sobre o cérebro do psicopata, concluiu que a mente psicopata apresenta uma maturação acelerada de várias regiões cerebrais relacionadas ao processamento emocional e cognitivo.

“O cérebro dos psicopatas é diferente do ponto de vista anatômico e funcional. Há diferenças nas áreas que processam a cognição e o raciocínio e nas que processam a atividade emocional. A conexão entre estas duas áreas, falha”.

A equipe liderada pelo Dr. Pujol constatou que, do ponto de vista anatômico, havia “uma aparente atrofia da substância cinza” nas regiões dos lobos temporal (onde está a amígdala, relacionada às emoções) e frontal (encarregado das funções cognitivas).


Quais as causas da psicopatia

Há diversas hipóteses para que uma pessoa seja ou se torne um psicopata, mas nada ainda é totalmente conclusivo ou absoluto no que tange esse universo: Alguns pesquisadores chegaram a conclusão que ela decorre de alteração genética, outros afirmam que possam se tratar de má formação. No estudo realizado pelo Dr. Pujol, foi constatado que um dos fatores é a sobrecarga de estresse na infância. Como forma de se proteger de eventos tóxicos carregados de grande dor emocional, a criança desencadeia uma maturação excessiva que implica, por um lado, um bloqueio para fugir do sofrimento e, por outro, transforma a pessoa em alguém não escrupuloso e carente de remorsos.

“Psicopatas não possuem freio emocional” Jesús Pujol

Outro fator que foi descoberto pela pesquisa, é que pessoas que fizeram o uso por mais de 10 anos de esteroides androgênicos anabólicos, também conhecidos como anabolizantes, uma classe de hormônios esteroides naturais e sintéticos que promovem o crescimento celular e a sua divisão, resultando no desenvolvimento de diversos tipos de tecidos, especialmente o muscular e ósseo, também demonstram essas alterações no cérebro.

Entretanto, Dr. Pujol observa que essas semelhanças no cérebro, não necessariamente significa que os consumidores de esteroides acabem desenvolvendo algum transtorno psicopático a médio e longo prazo.

Quais características possuem um psicopata?

Já sabemos que as aparências enganam, e que eles não são exatamente como retratados nos cinemas, mas o comportamento dos psicopatas não difere muito do que nos é mostrado.

Há um seriado documental na Netflix chamado: Conversando com um Serial Killer dividido em 4 episódios que narram a história de Theodore Robert Cowell, mais conhecido por Ted Bundy. Os jornalistas Stephen Michaud e Hugh Aynesworth, captaram mais de 100 horas de áudio de conversas com Ted antes de sua morte a 30 anos atrás, e revelaram os pontos mais preciosos nessa série.


É possível traçar o perfil de Ted Bundy ouvindo cada palavra e assistindo cada encenação que ele faz com as imagens capturadas:Sedução – grande poder de influência, domínio sobre as pessoas com quem se comunica
Ego Inflado – característica narcisista, necessidade de destacar, chamar atenção da presa
Mentiroso Patológico – negar sempre, mesmo que as evidências apontem para ele
Ausência de Culpa – não tem compaixão, acredita que fez o que tinha de fazer sem sentir remorsos
Impulsividade – age de maneira inconsequente, mas com planejamento, evita deixar rastros
Viciado em adrenalina – gosta de correr riscos e de se sair bem
Como detectar um possível psicopata?

Antes de tentarmos desvendar esses seres, precisamos lembrar que não há um método que consiga provar com 100% de assertividade, que uma pessoa é psicopata fazendo a leitura da linguagem corporal e micro expressões faciais. Mas é possível com esses conhecimentos, analisar emoções dissonantes, que não compõem o que seria o mais próximo do natural.

O que torna difícil ao meu ver, fazer a identificação de um psicopata, é seu controle sobre as emoções. Se nosso corpo responde aos estados emocionais, um psicopata tende a ter controle e demonstrar neutralidade em boa parte do tempo. Sinais ambíguos podem ser enviados tentando confundir quem o analisa.

Um psicopata é mentiroso patológico, isso quer dizer que ele acredita no que diz e não sente remorso quando diz. As emoções que ele vivencia, nesse momento, não necessariamente serão as mesmas, porém, é esse o ponto chave que podemos utilizar para observar as incongruências entre o que é dito e o que não está sendo dito.

Lembre-se de um detalhe que faz toda diferença: O que você estiver procurando, você estará vendo, e não necessariamente é o que você precisa ver. O que quero dizer é: se você procurar mentiras, você perderá as verdades, se focar em verdades, perderá as mentiras. Se procurar indícios de psicopatia, verá um psicopata em alguém que talvez não seja. É o famoso e perigoso viés de confirmação, que nos leva a errar porque queremos ver o que procuramos e não o que precisamos.

E ao meu ver, esse é o vício mais difícil de nos livrar, principalmente quando estamos começando nossos estudos na linguagem corporal e micro expressões faciais.

Mas se você quer saber se há um sinal que aponte: esse é um psicopata, eu vou lhe afirmar que não, não há. Assim como não há um único sinal sequer, que sinalize que uma pessoa está mentindo. Por esse motivo, de não haver um sinal claro, é importante entender regras de comportamento para saber quem está à sua frente.

A linguagem corporal do psicopata

Qual o personagem dos cinemas que possui um sorriso macabro, que nos amedronta? Se você pensou no Coringa, está completamente certo.

O Coringa possui um sorriso diferente dos sorrisos habituais. Enquanto a maioria dos sorrisos sociais faz ativação da AU12, que se refere ao músculo Zigomático Maior, o sorriso do Coringa faz uso da AU13, Levator Angulis Oris, um músculo que fica entre o Zigomático Maior e Menor.


A máscara social mais perigosa que existe, é o sorriso. Ele é utilizado para mascarar várias emoções, inclusive para demonstrar sinal de abertura e simpatia por outra pessoa. Um psicopata não entende muito bem o que é a emoção de alegria, portanto se ele não consegue entender, ele busca “copiar” aquilo que está vendo sem fazer uma interpretação emocional, já que ele é incapaz de sentir emoção por outra pessoa.

O sorriso AU13, é mais presente em pessoas que possuem comportamentos antissociais, pessoas que possuem dificuldade de interação com outras pessoas. Isso não é um pré-requisito para matar outras pessoas.


Não há um gesto que revele comportamento de pessoas que são psicopatas, mas há comportamentos que merecem ser observados sobre a óptica da linguagem corporal.

Ted Bundy gostava de chamar atenção para si, utilizava gestos no tribunal que o colocassem como o centro das atenções. Se você assistir ao seriado que está disponível na Netflix, você poderá ver por conta própria. É praticamente uma encenação, quando narra os fatos, e se coloca como vítima de uma injustiça.

Em contrapartida, nem todos psicopatas possuem o mesmo motivador para cometer suas atrocidades. Portanto, a maneira como cada um externa suas emoções, pode ser completamente diferente uma das outras. Enquanto Ted Bundy dissimulava rindo, Edmund Emil Kemper, outro psicopata brilhante, era completamente neutro enquanto falava. Enquanto Ted mentiu até o último momento, dizendo que não tinha matado ninguém, tudo era apenas uma forma de conseguirem um culpado, e só assumiu quando viu que não haveria mais escapatória. Kemper se entregou a polícia e desde 1985 até 2017 em sua última audiência, renunciou ao direito de sair da prisão.

Certamente agora eu dei um nó em sua cabeça, mas fique tranquilo, a ideia aqui é mostrar para você que não existem fórmulas mágicas e mirabolantes que revelam por A+B que uma pessoa é um psicopata.

Mas que, com o conhecimento acerca da linguagem corporal e micro expressões faciais, você se torna capaz de observar nuances que passam despercebidas.
Psicopatia tem cura?

Anatomicamente, o cérebro não irá regenerar. Mas é possível ajudar psicopatas sim, para isso, é importante procurar um psiquiatra para fazer uma avaliação e daí ele mostrará os caminhos que devem ser precorridos.

O neurocientista, da Universidade da Califórnia, James Fallon, passou anos estudando cérebros de potenciais assassinos. Fallon é professor de psiquiatria e comportamento humano. Durante seus primeiros 58 anos de vida, viveu pensando ser um homem normal, com uma carreira bem sucedida e uma família amorosa. James Fallon casou com sua namorada do colegial, que conheceu aos 12 anos e teve três filhos.


Durante uma de suas pesquisas, Fallon fez uma grande descoberta: “Eu estava olhando para muitos scans, scans de assassinos misturados com esquizofrênicos, depressivos e outros cérebros normais”, e que por coincidência, Fallon estava envolvido em um estudo sobre Alzheimer, no qual havia coletado imagens do seu próprio cérebro, que curiosamente, quando comparado aos outros exames, percebeu que nesse exame, a identidade do paciente que tinha uma disfunção no cérebro, era a dele próprio.

Fallon percebeu que seu cérebro possuía genes ligados à violência e uma região nativa ligada ao comportamento ético e à tomada de decisão.

O que o distingue de Ted Bundy, Edmund Emil Kemper entre outros psicopatas, é que ele não age sobre suas tendências agressivas. Fallon diz que nunca sofreu abuso severo na infância, necessário para expressar o gene, conforme o estudo do Dr. Jesús Pujol menciona, o forte estresse na infância.

Referências:


American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.


Von Feuchtersleben E Frhr Lehrbuch der ärztlichen Seelenkunde Skizze zu Vorträgen Viena, 1845 430 https://archive.org/details/b29309700/page/n4

sábado, 21 de janeiro de 2023

COMO FOI O BÁRBARO CRIME DE SANDRÃO NAMORADO DE SUZANE E ELIZE MATSUNAGA|

 


História do Bar Escaler vira livro

Reduto boêmio e cultural do Bairro Bom Fim simbolizou por anos a efervescência de Porto Alegre

Passagem de cometa Halley fez Toninho instalar um telescópio no bar | Foto: Acervo Pessoal / Toninho do Escaler / Divulgação / CP

“Escaler: quando o Bom Fim era nosso, Senhor!”, novo livro de Paulo César Teixeira, feito a partir de depoimento de Antônio Calheiros, o “Toninho do Escaler”, ganha live de lançamento nesta terça-feira, dia 31, às 20h, na página do evento do Facebook, com a participação de convidados especiais. Em Porto Alegre, a geração que viveu intensamente as últimas décadas do século XX, com toda sua efervescência cultural, tinha no bairro Bom Fim um ponto de convergência. Quando o Bar do João, o Bar do Beto, o Zé do Passaporte e o Ocidente, entre outros eram símbolos da cena independente, os que eram jovens ou adultos nos anos 1980 e 1990 se encontravam na Redenção, em frente à roda-gigante para celebrar a vida, entre amigos, risos e shows.

O point era o Escaler, bar fundado em 1982 por um marujo em meio a jacarandás, que passou a reunir a cena artística local, entre músicos, atores, escritores e intelectuais, além de estudantes. Inscrito na memória afetiva de duas ou três gerações como espaço privilegiado de diversão e arte, acumulou milhares de histórias na lembrança e imaginação dos que por lá aportaram. O livro, que sai pela Ballejo Cultura & Comunicação com 196 páginas, revive sua trajetória, sob a ótica do dono do bar, Antônio Carlos Ramos Calheiros ou o “Toninho do Escaler” – antes de tudo, um agitador cultural, que soube direcionar energias plurais sem retirar-lhes a fluidez e a espontaneidade. A iniciativa partiu do depoimento ao jornalista Paulo César Teixeira, autor de “Esquina Maldita”, “Nega Lu – uma Dama de Barba Malfeita” e “Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre”.

O Escaler reunia uma plêiade de tribos tão díspares quanto punks, góticos e metaleiros, que se juntavam aos remanescentes da onda hippie e aos primeiros rappers. “Tinha tudo a ver com a concentração de pessoas ligadas à arte e à cultura”, afirma King Jim, da banda Garotos da Rua. Para o jornalista Emílio Chagas, “o Escaler foi o local mais libertário e revolucionário do Bom Fim. Em parte, pela sensação de liberdade de se estar ao ar livre, junto à Redenção, mas também – e principalmente – pela proposta do bar, que se somava à onda da contracultura”.

TEMAS
Entre os temas, estão o Território Livre do Bom Fim consagrado no fumódromo durante o “verão da lata”; o show do Bebeto Alves assistido por uma multidão, que lotou a avenida José Bonifácio, cancelando a missa dominical nas imediações; as campanhas “Vote para Presidente”, em que Brizola saiu vencedor; “Cometa Amor no Escaler”, em que Toninho instalou um telescópio para ver o cometa Halley na porta do bar; e “Escaler e os Discos Voadores”, lançando bandas independentes. O circo Escaler Voador, que trouxe à cidade Rita Lee, Tetê Espíndola, Titãs, Lobão, Ultraje a Rigor para apresentações sob a lona junto ao Gigantinho foi outro tema, bem como reuniões dançantes aos domingos, origem do Baile da Cidade; o candidato Toninho do Escaler, o “Verde Maduro”; A Lei Seca no Bom Fim, a repressão policial nas madrugadas da Osvaldo Aranha; e o fim do sonho, com exílio nas Bandas Orientais. “O marujo Toninho conta essas histórias no aguardado livro, convidando os leitores para desfrutá-las como se navegássemos num bote salva-vidas (significado original do nome do bar) em meio a tempos caretas e sombrios”, diz a nota de divulgação do livro.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Mensagens obtidas por VEJA mostram negligência do GSI nos atos


Gabinete de Segurança Institucional avaliou que a manifestação não representava risco, dispensou reforço e não agiu para proteger o Palácio do Planalto

Por Marcela Mattos, Laryssa Borges Atualizado em 20 jan 2023, 13h19 - Publicado em 20 jan 2023, 06h00


Depois do maior ataque contra a democracia desde o fim da ditadura, as instituições reagiram com vigor e celeridade para identificar e punir os responsáveis pela invasão e depredação do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. O STF confirmou o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por três meses e ainda incluiu nas investigações o ex-presidente Jair Bolsonaro. A Polícia Federal prendeu o delegado Anderson Torres e o coronel Fábio Vieira — respectivamente, ex-secretário de segurança e ex-comandante da Polícia Militar do DF, por suposta conivência com os atos. Até o fechamento desta edição, mais de 1 200 pessoas que participaram das manifestações continuavam detidas, e cerca de 300 outras seguirão monitoradas por tornozeleiras eletrônicas. O Congresso deve criar uma comissão especial para acompanhar o caso e estuda mudar a lei de modo a permitir que determinadas ações possam ser enquadradas como crime de terrorismo, cujas penas são mais duras. Há, porém, um ponto muito importante em relação aos eventos ocorridos no fatídico dia 8 de janeiro que continua envolto em mistério e precisa ser devidamente esclarecido.

Como mostram as imagens que rodaram o mundo, os vândalos entraram no Palácio do Planalto e destruíram tudo que encontraram pela frente. Foram quase duas horas de pura barbárie. O Batalhão da Guarda Presidencial do Exército, responsável pela segurança e proteção do prédio, só agiu quando os criminosos já estavam na porta do gabinete do presidente Lula. Os militares tinham treinamento, equipamentos e homens suficientes para impedir a invasão e o vandalismo. Pouco fizeram porque não foram demandados pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão subordinado diretamente ao presidente da República. No dia seguinte aos ataques, Lula disse que houve falhas “internas” e acusou as Forças Armadas de conivência com os criminosos. Confrontado pelo presidente, o Comando Militar do Planalto (CMP) abriu um inquérito policial militar para apurar o que aconteceu — e pode-se dizer que algo grave, de fato, ocorreu.

VEJA teve acesso a um conjunto de mensagens que revelam que houve no mínimo negligência, imprudência e omissão de autoridades lotadas no próprio Palácio do Planalto, particularmente no GSI, comandado pelo general Marco Edson Gonçalves Dias, conhecido como G. Dias, que chefiou o esquema de segurança pessoal de Lula por vários anos. As mensagens foram postadas em um grupo de Whats­App usado pelo GSI e pelo CMP para combinar procedimentos operacionais. Para compreendê-las, é necessário retornar à antevéspera dos ataques, no dia 6 de janeiro. Naquela sexta-feira, houve uma reunião de representantes dos setores de segurança do governo federal, do governo de Brasília, do Congresso e do STF para discutir um plano de segurança para o ato de protesto que estava sendo convocado por militantes bolsonaristas para o fim de semana.

Ficou decidido, entre outras medidas, que não seria autorizada a presença de manifestantes na Esplanada dos Ministérios. Pelas redes sociais, os apoiadores do ex-presidente já pregavam a necessidade de ações radicais contra as instituições. Já discutiam abertamente a possibilidade de invasões de prédios públicos. Para o GSI, porém, a situação era de absoluta “normalidade”. Em mensagem ao Comando Militar, o órgão informou que não havia necessidade de reforço da segurança do palácio naquele que seria o primeiro fim de semana do novo governo. “Os órgãos de inteligência estarão monitorando a capital. Qualquer mudança de cenário, informaremos de pronto.”SUSPEITAS - José Múcio e Lula: o ministro tenta pacificar as relações, enquanto o presidente acusa militares de golpismo – Sergio Lima/AFP

Essa primeira mensagem foi enviada às 14h59. Duas horas e meia depois, o coordenador de segurança do GSI, coronel André Garcia, envia uma nova e curta comunicação ao CMP. “Boa tarde, senhores. O SCP (referindo-se ao secretário de Segurança e Coor­dena­ção Presidencial, general Carlos Feitosa Rodrigues) agradece o apoio dos dragões no dia de hoje. Pelotão de Choque pode ser liberado da prontidão.” Para proteger o Planalto, há sempre um pelotão pronto para ser acionado em caso de necessidade. Os soldados normalmente ficam na garagem do palácio ou no interior de um ônibus estacionado nas imediações. Dessa vez, como se viu na mensagem, o pelotão foi liberado. Naquele fim de semana, portanto, a proteção das instalações ficaria sob a responsabilidade de um contingente mínimo, cerca de dez homens, que atuam como espécie de vigilantes que se revezariam na rampa de acesso e nas guaritas em torno do prédio. Os órgãos de inteligência, como informou a primeira mensagem, de fato continuaram monitorando a capital.
MISTÉRIO - G. Dias: até aqui, silêncio sobre negligência e omissão do GSI – José Cruz/Agência Brasil

Na véspera dos ataques, sábado, dia 7, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), também subordinada ao GSI, produziu um relatório alertando sobre o risco iminente de ataques dos manifestantes. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o documento informou que estavam mantidas as convocações para “ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios”. Já a Polícia Federal, em um ofício enviado ao ministro da Justiça, Flávio Dino, era ainda mais contundente, advertindo, segundo publicado pelo jornal O Globo, que o grupo que se deslocava a Brasília pretendia “promover ações hostis e danos”, entre outros, “contra os prédios dos ministérios, do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal”. Ou seja: os dados coletados permitiam traçar vários cenários, exceto o de que estava tudo dentro da “normalidade”.

Apesar disso, não houve qualquer pedido de reforço — aliás, não houve mais nenhuma manifestação no grupo sobre o assunto até o dia seguinte. No domingo, o GSI “percebeu” que havia uma movimentação de manifestantes perto do Congresso. Nesse horário, uma multidão já se aglomerava em frente ao QG do Exército para iniciar uma caminhada de aproximadamente 9 quilômetros até a Esplanada dos Ministérios. Ainda não se sabe por que, mas, ao contrário do que havia sido combinado entre as autoridades de segurança na reunião de sexta-feira, o governador Ibaneis Rocha tinha autorizado o ingresso dos manifestantes na Esplanada. Havia apenas uma barreira de contenção para impedir o acesso deles à Praça dos Três Poderes. Às 11h54, o GSI enviou mensagem ao CMP solicitando o apoio de um pelotão de choque: “Boa tarde, senhores. Haja vista aumento de manifestantes em frente ao CN, o SCP solicita apoio de um Pel Choque ECD desde já… Estou com uma força de reação de 15 agentes”

O CERCO SE FECHA - Jair Bolsonaro: o ex-presidente foi incluído nas investigações sobre os ataques e depredações – Thiago Amâncio/Folhapress/.
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Trinta e cinco homens equipados com escudos, bombas de gás, pistolas com balas de borracha e cassetete chegaram ao Planalto por volta das 13 horas, o mesmo horário em que os manifestantes, escoltados pela Polícia Militar, começaram a caminhada em direção à baderna. O pelotão de choque ficou inerte na entrada do Planalto. Às 15h30, houve a invasão e a depredação, que se estendeu por longos 110 minutos. A tropa de choque, que poderia ter evitado tanto a invasão quanto a depredação, entrou em ação, mas, minúscula diante do número de vândalos, não conseguiu evitar a ação dos criminosos, que destruíram móveis, obras de arte, quebraram vidros e equipamentos. Para o governo, o episódio foi parte de uma tentativa de golpe para depor o presidente. Lula acusou os militares, incluindo os lotados no Gabinete de Segurança Institucional, de conivência com os bolsonaristas radicais. Até hoje, o general G. Dias não se posicionou sobre as graves suspeitas levantadas pelo presidente da República. O GSI, por sua vez, também não se defendeu e, indagado a respeito, informou que só se manifestará após a conclusão das investigações. São suspeitas muito graves.

PROTESTO - Almirante Garnier Santos: ausência na posse do sucessor – Valter Campanato/Agência Brasil

Um dia após a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes, Lula se reuniu com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, com os comandantes das Forças Armadas e o próprio G. Dias. O presidente estava indignado e extremamente nervoso, cobrava respostas e dizia ter sido alvo de uma ação destinada a derrubá-lo. Na conversa, questionou a ausência das tropas militares e o motivo de o seu gabinete de segurança não ter acionado mais homens para conter os extremistas. “Onde está o GSI?”, disse. A partir daí, deu-se início a uma caça às bruxas, com uma sequência de trocas dos militares que compõem o GSI e também que assessoram o presidente no Palácio da Alvorada. Há ainda uma tentativa de esvaziamento das atribuições do gabinete institucional, retirando do órgão a prerrogativa de cuidar da segurança de Lula, função que deve ser assumida pela Polícia Federal. Até o fechamento desta edição, os dois representantes do GSI envolvidos nas trocas de mensagens com o CMP continuavam no cargo. Já Lula mantinha suas queixas e as dúvidas que continuam sem respostas. “Liguei para o G. Dias e perguntei: ‘Onde estão os soldados?’ ”, contou ele em entrevista à Globonews, na qual reclamou dos serviços de inteligência oficiais. Em outro momento, ainda observou: “Quem quiser fazer política que tire a farda”. Até aqui, a relação entre o presidente e os militares não é boa.
SABOTAGEM - Torre de energia: polícia investiga se sistema foi alvo de atentado – Acervo/Eletronorte/.

Entre a eleição e os lamentáveis ataques de 8 de janeiro, bolsonaristas radicais bloquearam rodovias, atacaram instalações do sistema elétrico, planejaram explodir um caminhão com combustível no Aeroporto de Brasília e atearam fogo em alguns ônibus na capital do país. Assim, deixaram claro que não reconhecem a derrota de Bolsonaro, exatamente como faz o próprio ex-capitão, que continua de férias na Flórida (EUA). Além de demonstrar preocupação com esses golpistas, Lula está certo de que parcela dos militares aderiu ao bolsonarismo e, por isso, age como braço político do antigo adversário. O presidente também tem consciência do fosso que separa o seu governo dos fardados. O ponto de ruptura entre as partes foi a instalação em 2012 da Comissão Nacional da Verdade, que se propôs a investigar violações de direitos humanos no período da ditadura e reavivou pressões para que a Lei da Anistia fosse revista, o que já havia sido negado pelo Supremo dois anos antes (veja o quadro).RESULTADO - Quebra-quebra no Palácio: ação terrorista é uma das páginas mais vergonhosas da história da política nacional – Carl de Souza/AFP

Desde então, a caserna reclama de um suposto revanchismo por parte do PT e da esquerda. Os escândalos de corrupção e a recessão econômica no governo Dilma também ajudaram a alimentar o antipetismo entre os militares. Ex-comandante do Exército e um dos quadros da reserva com mais ascendência sobre o pessoal da ativa, o general Villas Bôas entrou de vez para a crônica política nacional ao pressionar o Supremo a não soltar Lula em abril de 2018. A Corte manteve preso o petista, que não pôde enfrentar Jair Bolsonaro naquela eleição. Vitorioso na ocasião, o capitão sempre agradeceu publicamente a ajuda do general. Esses precedentes, somados à postura dos militares na resposta aos atentados do dia 8, preocupam Lula, que exige de seus subordinados que despolitizem as Forças Armadas — uma tarefa nada fácil.
REBELIÃO - Instalação da Marinha em Brasília: rumores da organização de um golpe militar dez dias antes da posse de Lula – Sérgio Dutti/.

Além de as desconfianças de parte a parte persistirem, integrantes do governo divergem sobre a melhor estratégia a ser adotada: tentar enquadrar os militares ou apostar na conversa e na distensão negociada. Dois episódios deixam claro o tamanho do desafio. Poucas horas após a quebradeira na Praça das Três Poderes, o jornalista Ricardo Cappelli, designado interventor na segurança pública do DF, quis desmontar naquela mesma noite o acampamento próximo ao quartel-general do Exército. Chegando ao local acompanhado de um pelotão da PM, ele deparou com veículos blindados cercando a área e não foi autorizado a entrar. Foi improvisada, então, uma reunião no estacionamento de uma igreja próxima. Lá, o comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, disse com todas as letras que não permitiria a entrada da polícia e alertou sobre o risco de “derramamento de sangue”, caso sua posição não prevalecesse. Ficou combinado que a retirada dos militantes ocorreria na manhã seguinte, solução que contava com o apoio do ministro José Múcio, que tem perfil conciliador e tem sido alvo do fogo amigo dos petistas e esquerdistas, que o acusam de fraqueza ao lidar com os militares.ALERTA IGNORADO - Acampamento no QG: ameaça de “derramamento de sangue” – Felipe Torres/METROPOLES/.

Em Brasília, aliados do presidente espalham o boato de que Múcio foi alertado sobre a possibilidade de um levante por parte do corpo de fuzileiros navais, tropa de elite da Marinha, composta de 18 000 homens, na época comandada pelo almirante Garnier Santos. Reconhecidamente bolsonarista, Garnier se recusou a participar de qualquer reunião com o ministro da Defesa durante o processo de transição de governo e sequer compareceu à posse do seu sucessor na Marinha, o almirante Marcos Sampaio Olsen. Segundo o rumor, a tentativa de golpe ocorreria dez dias antes da posse de Lula, mas não foi levada adiante porque o Alto-Comando do Exército rechaçou a aventura. Por conhecer os detalhes desse enredo, Múcio não poderia manter o perfil conciliador, dizem seus desafetos. Lula pelo jeito discorda e tem fortalecido a autoridade de seu ministro. “Tudo que o Bolsonaro pode desejar agora é que Lula, como comandante-em-chefe das Forças Armadas, continue agredindo os militares, porque, com esse discurso, ele está atirando para dentro do quartel”, disse a VEJA um ex-ministro da Defesa, sob condição de anonimato. Apesar de suas queixas, o presidente tem tentado estreitar laços com a cúpula das Forças Armadas. Ele pediu aos comandantes que apresentem os projetos prioritários de suas respectivas corporações e prometeu defendê-los. Lula aposta que assim reduzirá o foco de tensão, o que é fundamental para trazer paz — inclusive institucional — ao país. Esclarecer o que se passou no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro de 2023 também será essencial para o sucesso desse esforço.

Publicado em VEJA de 25 de janeiro de 2023, edição nº 2825 (???)


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