Um retrato atualizado continuamente sobre como governos respondem
à pandemia que já deixa mais de 272.000 infectados
Por Da Redação
Mapa de ações sobre coronavírus: governos vêm se movimentando para conter a pandemia (Arte/Infogram/EXAME)
Desde que os primeiros casos começaram a ser reportados na China em dezembro, o coronavírus já infectou mais de 272.000 pessoas. Nas últimas três semanas, o número de novos casos fora do território chinês vêm aumentando mais do que os casos no país onde o vírus começou — na China, o pior já parece ter passado e o número de casos segue estabilizado em pouco mais de 81.000 pessoas. O número de mortes na Itália já ultrapassou o registrado no país que foi o epicentro do surto. Em 24 horas, o país registrou o número recorde de 793 mortes.
Em meio ao caos, governos começam a dar uma série de respostas para conter a crise. Para além de pacotes de estímulo econômico, como cortes de juros e planos de investimento e socorro a alguns setores afetados, uma série de países estabeleceu ordens para cancelamento de aglomerações, toque de recolher e fechamento ou maior controle de fronteiras.
Os cenários mais críticos estão na Itália e na Espanha, que já têm mais de 53.000 e 24.000 casos confirmados, respectivamente. O número de mortes no mundo passa de 12 mil pessoas, com idosos e pacientes com doenças crônicas mais sujeitos a ter complicações por causa do coronavírus.
No mapa abaixo, a EXAME compilou o número de casos e medidas de prevenção tomadas por alguns dos países mais afetados pelo novo coronavírus.
Coronavírus no Brasil
Até esta sábado (21), o Brasil tem 1.128 casos confirmados da covid-19 e 18 mortes, nove no estado de São Paulo e duas no Rio de Janeiro. Dos casos confirmados, a maioria está no estado de São Paulo. Quase todos os estados já registram infectados pela covid-19 e o Ministério da Saúde já afirmou que há a transmissão comunitária em todo o país.
Os números são parte da contagem oficial e podem ser inferiores à quantidade real de casos. Hospitais privados e de referência vêm reportando diariamente novos pacientes infectados, que demoram pelo menos um dia para serem completamente confirmados e integrarem a contagem geral do Ministério da Saúde.
Com o aumento dos casos em outros estados do país, alguns governadores e prefeitos também vêm instaurando medidas de contenção, como cancelamento de eventos públicos e paralisação de aulas nas escolas. Veja no mapa abaixo os casos por estado brasileiro, segundo a contagem do Ministério da Saúde, e medidas contra o coronavírus tomadas por algumas regiões.
Jornal GGN – A projeção da taxa de contágio por coronavírus no Brasil aponta para um quadro ainda mais grave do que a situação assistida na China e Itália, que são os dois países mais prejudicados pelo pico da doença até agora.
A projeção do que poderá ocorrer em solo nacional foi feita pelos técnicos do Banco Central, segundo revelou o ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista à Folha desta segunda (16).
Guedes afirmou que teve acesso aos números após uma reunião no Congresso com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e outros ministros do governo Bolsonaro, incluindo o da Saúde, Luiz Mandetta.
Questionado, o economista não soube repassar os detalhes da projeção do BC à reportagem, mas fez uma comparação com a situação da Itália.
“Não me lembro exatamente [dos números do BC]. Mas era algo assim: na Itália era previsão de 60% de contágio e aqui, de 80%. Podemos atingir o pico em um mês. Mas tudo vai depender da prevenção.”
Guedes afirmou que “foi essa quantificação, feita pelo Banco Central, que me assustou.”
O BC, segundo explicou o ministro, “tem modelos estatísticos calculando a velocidade de contágio” humano. Embora o papel da instituição seja o de acompanhar dados relativos à economia, “assim que surgiu a preocupação com o coronavírus, o Mandetta pediu ajuda a quem pudesse dar.” E o BC “tem modelos estatísticos, altamente matemáticos, que permitem modelar qualquer coisa. Modelaram a velocidade de contágio.”
Ainda de acordo com Guedes, o governo “achava que a coisa ia bater aqui em maio, e não deveríamos ser tomados pela neurose antes da hora, para não parar a economia antes da hora.”
Na semana passada, porém, o presidente da Câmara Rodrigo Maia criticou e cobrou Guedes publicamente, pela falta de um plano de curto prazo para lidar com os impactos do coronavírus sobre a economia.
Guedes insistiu, na entrevista, que a melhor resposta a curto prazo seria aprovar medidas que estão paradas no Congresso, como a privatização da Eletrobras.
“O baque do coronavírus é temporário: o contágio sobe rapidamente, fica três meses e depois desaba. A China já está se recuperando. Eu preciso estar preocupado com o reforço das nossas defesas durante e depois da crise. Podemos transformar a crise em reformas. As reformas trarão as bases para gerar crescimento, emprego e renda após o surto, lá na frente”, disse.
Li Wenliang morreu após contrair o novo vírus enquanto atendia pacientes na cidade de Wuhan, epicentro do surto da doença.
Em dezembro do ano passado, ele enviou uma mensagem aos colegas médicos alertando sobre um vírus com sintomas semelhantes ao da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) — outro coronavírus mortal.
Mas foi orientado pela polícia a "parar de fazer comentários falsos" e foi investigado por "espalhar boatos".
A princípio, a notícia da morte dele foi recebida com pesar na rede social chinesa Weibo, mas o sentimento de luto logo se transformou em revolta.
Já havia acusações contra o governo de subestimar a gravidade do vírus — e de, inicialmente, tentar mantê-lo em segredo.
A morte de Wenliang alimentou ainda mais essa sensação, desencadeando um debate sobre a falta de liberdade de expressão na China.
O departamento anticorrupção do país afirmou agora que vai abrir uma investigação sobre "questões envolvendo o médico Li Wenliang".
O governo chinês já havia admitido "falhas e deficiências" em sua resposta ao vírus, que já matou 636 pessoas e infectou 31.161 na China continental.
De acordo com o site chinês Pear Video, a esposa de Wenliang está grávida e deve dar à luz em junho.
Qual foi a reação pública?
A rede social chinesa foi inundada por mensagens de revolta — é difícil lembrar um acontecimento nos últimos anos que tenha despertado tanta dor, raiva e desconfiança em relação ao governo.
As duas principais hashtags usadas diziam: "o governo de Wuhan deve desculpas ao Dr. Li Wenliang" e "queremos liberdade de expressão".
Ambas as hashtags foram rapidamente censuradas. Quando a BBC fez uma busca na Weibo nesta sexta-feira, milhares de comentários tinham sido apagados. Restavam poucos apenas.
"Esta não é a morte de um denunciante. É a morte de um herói", escreveu um usuário na Weibo.
Há comentários que não citam o médico diretamente, mas abordam a crescente revolta e desconfiança em relação ao governo.
"Não se esqueça de como você se sente agora. Não se esqueça dessa raiva. Não podemos deixar que isso aconteça novamente", afirmou um usuário.
"A verdade vai ser sempre tratada como um boato. Quanto tempo você vai mentir? O que mais você tem a esconder?", acrescentou uma pessoa.
"Se você está com raiva do que está vendo, se manifeste", disse outro. "Jovens desta geração, o poder da mudança está com vocês."
'Um desastre político épico'
Análise de Stephen McDonell, BBC News, Pequim
A morte do médico Li Wenliang foi um momento de desolação para este país. Para a liderança chinesa, é um desastre político épico.
O caso revela os piores aspectos do sistema de comando e controle do governo da China, sob liderança de Xi Jinping, — e o Partido Comunista teria que ser cego para não ver.
Se a resposta para uma emergência de saúde perigosa, é a polícia perseguir o médico que tenta denunciar o caso, então sua estrutura está obviamente destroçada.
O prefeito da cidade disse, como desculpa, que precisava de autorização para divulgar informações críticas que todo o povo chinês tinha direito a receber.
Agora, os marqueteiros e censores vão tentar encontrar uma maneira de convencer 1,4 bilhão de pessoas de que a morte do médico Li Wenliang não é um exemplo claro da limitação da capacidade do partido de gerenciar uma emergência — enquanto a abertura pode salvar vidas, e a restrição pode matar.
O povo chinês vai precisar ser convencido.
Como a morte foi anunciada?
Houve uma confusão sobre quando exatamente Wenliang morreu.
Ele foi declarado morto inicialmente às 21h30 (horário local) de quinta-feira por meios de comunicação estatais, como Global Times, People's Daily e outros.
Horas depois, o Global Times desmentiu essa informação, dizendo que Wenliang recebeu um tratamento conhecido como oxigenação por membrana extracorporal (ECMO, na sigla em inglês), que manteve o coração do paciente pulsando.
Jornalistas e médicos locais acreditam que as autoridades do governo intervieram — e os meios de comunicação oficiais teriam sido instruídos a mudar a versão para dizer que o médico ainda estava sendo tratado.
Mas, no início de sexta-feira, eles informaram que os médicos não conseguiram salvar Wenliang, e que ele morreu às 02h58 de sexta-feira.
O que Li Wenliang fez?
Li Wenliang, um oftalmologista, postou sua história na Weibo de uma cama de hospital, um mês depois de ter feito o alerta inicial.
Ele havia identificado sete casos de um vírus com sintomas semelhantes aos da Sars, que levou a uma epidemia global em 2003.
Em 30 de dezembro, ele enviou uma mensagem a colegas médicos em um grupo de bate-papo, alertando para usarem roupas de proteção para evitar infecções.
Quatro dias depois, ele foi intimado pelo Departamento de Segurança Pública, quando foi orientado a assinar uma carta em que era acusado de "fazer comentários falsos" que "perturbaram severamente a ordem social".
As autoridades locais pediram mais tarde desculpas ao médico.
Em seu post na Weibo, ele descreve como começou a tossir em 10 de janeiro, teve febre no dia seguinte e foi parar no hospital dois dias depois. Ele foi diagnosticado com o coronavírus em 30 de janeiro.
Qual é a situação na China e no mundo?
Na sexta-feira, o presidente chinês Xi Jinping disse ao seu colega dos EUA, Donald Trump, que a China estava "totalmente confiante e capaz de derrotar a epidemia".
A China introduziu mais medidas restritivas para tentar controlar o surto.
Pequim proibiu, por exemplo, refeições em grupo para eventos como aniversários. Cidades como Hangzhou e Nanchang estão limitando quantos membros de cada família podem sair de casa por dia.
Há casos confirmados da infecção em cerca de 25 países. Até agora, houve apenas duas mortes fora da China continental — uma em Hong Kong e outra nas Filipinas.