Tudo que se produz no mundo acaba descartado no saquinho que colocamos na calçada ou na lixeira do prédio. O lixo domiciliar é o último elo de uma longa cadeia de geração de lixos. Segundo Annie Leonard¹, atrás de cada saquinho colocado na calçada existem 60 outros sacos de lixo descartados no processo da produção. A reciclagem não contesta a espiral de consumo e apenas a apresenta sob nova roupagem, agora adornada com afetações ambientais e beatificada pelo evangelho do desenvolvimento sustentável. Em síntese, a reciclagem é somente o último dos quatro Rs. É antecedida em ordem de importância por repensar, reduzir e reutilizar. A ciranda do sistema produtivo tem objetivamente nivelado a zero os ganhos advindos com a recuperação dos materiais. Exemplificando, embora no caso do papel a atividade recicladora tenha imposto certa desaceleração no crescimento da demanda por polpa de madeira, ela serviu bem mais como complemento do que substituto para a fibra virgem. Sabidamente, nunca se produziu tanta celulose na história humana quanto nos dias atuais. O consumo de materiais celulósicos cresce num nível tão rápido que suplanta a possível poupança de recursos promovida pela recuperação dos papeis. Outros itens de resíduos repetem o mesmo tipo de desempenho no contexto maior da engenharia econômica. O resgate de metal das lixeiras também não consegue acompanhar o ritmo alucinante de consumo de cargas sequestradas do reino mineral. A produção de aço secundário (metal refundido proveniente da reciclagem) atinge 35% da produção mundial total. Mas os números globais não param de crescer. Assim, se em 1950 as siderúrgicas produziam 189 milhões de toneladas de aço, em 2008 a produção alcançou 1,3 bilhões de toneladas, quase sete vezes mais. Em tempo, precisamos acima de tudo repensar o conjunto da sociedade contemporânea.
¹ Annie Leonard ativista de sustentabilidade norte-americana,professora da Universidade Cornell.
Texto extraído e adaptado por +Jorge Inacio da entrevista do consultor ambiental Maurício Waldman ao IHU On-Line.
Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4794&secao=410
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