sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Artigos sobre as perspectivas para 2013 na economia e politica brasileira.

Turbulências à vista
   
As perspectivas para 2013, qualquer seja o ângulo de que se olhe, não são as mais desejáveis. Em âmbito internacional, nada indica que amainará a crise que assola os Estados Unidos e os países da Europa, tanto os centrais, como Alemanha, França e Inglaterra, quanto os periféricos, como Grécia, Espanha, Portugal, Itália e demais. Talvez ainda custe muito antes que os países capitalistas desenvolvidos parem de tentar descarregar os custos da crise sobre os salários e o bem estar de suas populações, e sobre os países do resto do mundo. Mesmo porque a globalização capitalista, ao invés de resolver os problemas decorrentes da enorme concentração e centralização do capital, da imensa elevação da produtividade e da decorrente tendência de queda da taxa de lucratividade do capital, só fez agravá-los, ao desindustrializar países centrais, industrializar países periféricos e acirrar a concorrência entre eles.

Nessas condições, apesar ou por causa de seu declínio relativo, os Estados Unidos devem continuar procurando reaver sua posição de hegemonia através de aliados que representam o que há de mais conservador e reacionário no mundo atual, como as monarquias árabes e o governo de Israel. O que pode lhe render alguns sucessos, como parece ter sido o caso da Líbia, ou pode ser o caso da Síria, mas pode agravar suas contradições com muitos outros países do mundo, e inclusive com algumas outras potências capitalistas. A proclamada decisão de tomar a Ásia como principal foco estratégico, o que na geopolítica norte-americana pode incluir o Irã, intensifica os perigos de uma guerra de grandes proporções. É difícil supor se, nessas condições, os Estados Unidos poderão dar à América Latina a atenção que gostariam de dar, embora seus aliados locais estejam cada vez mais agindo no sentido de reverter as derrotas sofridas diante da ascensão de forças de esquerda.

A derrubada supostamente legal de governos dirigidos pela esquerda pode ganhar conotações diversas, variando de país de país, e se tornar o padrão da contraofensiva tentada por oligarquias latifundiárias e burguesias de diversos países latino-americanos. Essa situação pode se agravar se as forças de esquerda não conseguirem encontrar formas concretas e viáveis de desenvolvimento econômico e social, conquistando os trabalhadores das cidades e dos campos, assim como a maior parte das classes médias urbanas, dividindo as oligarquias e as burguesias e isolando os setores aliados do capital corporativo norte-americano. Como sempre, a questão prática consiste em dar base econômica e social a essas ações de estratégia política.

O Brasil talvez se transforme, em 2013, no epicentro dessa disputa. Muitos indicadores apontam para uma situação em que a grande burguesia já não suporta um governo dirigido pelo PT. Apesar de suavemente, e após um prolongado período defensivo, o governo Dilma começou a baixar juros e a ferir a lucratividade do sistema financeiro. O governo também está pressionando a maior parte da burguesia a investir no sistema produtivo, o que, para uma parcela considerável dela, é o mesmo que colocar em risco o capital que está acostumada a ganhar no mercado financeiro e nos aluguéis indexados. E o governo também dá indícios de que, diante das resistências à elevação da taxa de investimentos, estaria disposto a intervir de forma mais ativa na economia, de modo a obter um crescimento do PIB que proporcione um desenvolvimento sustentado.

Tão grave quanto isso, aos olhos da grande burguesia, é a teimosia do governo em realizar uma distribuição de renda menos extremamente desigual, e em aumentar a participação e o controle democrático das camadas populares nos três poderes, nas comunicações e na economia. Está sonhando quem pensa que a burocracia estatal desses poderes, desde muito atrelada ao domínio e aos métodos da burguesia, aceitou democraticamente o acesso às informações, a luta contra a corrupção, mesmo que cortando na própria carne, e as tentativas de realização de uma reforma política que pelo menos rompa com a privatização da política. Desde antes da vitória da presidenta Dilma, estava em curso um processo que tinha como alvo associar o PT e Lula à corrupção. Aquela vitória demonstrou que, pela luta política normal, não era possível atingir tal alvo.

A partir de então, a estratégia da direita sofreu uma inflexão paulatina, com duas vertentes principais. Por um lado, através do adesismo de forças de direita ao governo, de modo a impedir uma maior unificação dos setores de esquerda, e minar a direção do PT nos assuntos governamentais. Por outro, aproveitando a defensiva do PT em travar uma luta sem trégua contra o uso de recursos privados nas campanhas eleitorais, o chamado caixa dois, transformou tal prática em crimes de compra de votos parlamentares, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outros delitos penais, e colocou o STF no comando da operação.

O supremo tribunal do país já vinha assumindo progressivamente o papel de legislador, frente a um congresso pouco transparente e sob tiroteio desmoralizante do partido da mídia. Estava, pois, em condições de assumir um duplo papel: forjar um novo procedimento legal, sob aparente adesão aos códigos jurídicos, criar uma comoção nacional no julgamento dos chamados mensaleiros, encurralar o PT e criar condições para um posterior golpe fatal em Lula.

Como na Idade Média, em que a Inquisição precisou de um Torquemada para enviar inúmeros pensadores e pessoas do povo à fogueira, aqui não faltam imitadores capazes de cumprir missão idêntica. Em tais condições, os cinco meses de julgamento do suposto mensalão representaram apenas a primeira batalha da nova guerra para destruir Lula e o PT através da criminalização judicial da política. Os novos casos envolvendo a chefe do gabinete da presidência em São Paulo, e a pronta entrega da íntegra do novo depoimento de Marcos Valério ao Estadão, talvez pelos mesmos procuradores que mantiveram na gaveta o caso Cachoeira por ausência de indícios concretos, apenas apontam para a escalada do processo.

Além disso, o partido da mídia e a oposição conservadora se esmeram numa campanha continuada para demonstrar que Lula e o PT nada têm a ver com a melhoria das condições de vida do povo brasileiro nos últimos anos, a fim de transformar fatos positivos em negativos e sabotar os programas de crescimento e desenvolvimento. Com um pouco de atenção é possível vislumbrar as inúmeras outras ação articuladas que apontam a operação estratégica para desmoralizar o PT e Lula como questões estratégicas para encerrar a experiência democrática de governos, mesmo de coalizão, dirigidos pela esquerda.

Nessas condições, há dois cenários políticos possíveis em 2013, ambos dependentes da posição que o PT e Lula assumirem. O primeiro pode ser o de continuidade da defensiva passiva, que em parte decorre de resistências a assumir publicamente o erro de aceitar acriticamente as regras ambíguas de uso de recursos privados em campanhas eleitorais - regras aceitas e praticadas por todos os partidos, há dezenas de anos, sem que nunca os tribunais tenham se preocupado em coibir tal prática. Essa defensiva passiva, a continuar, pode levar o PT a uma situação muito mais grave do que a enfrentada em 2005.

O segundo cenário pode se conformar se o PT e Lula conseguirem transformar a defensiva passiva em uma defensiva ativa, como base para passar à contraofensiva. Essa transformação depende do reconhecimento público daquele erro e da criação de uma campanha de mobilização popular pelas reformas políticas que deem fim aos financiamentos privados eleitorais, estabeleçam o financiamento e o controle público das campanhas eleitorais, imponham a fidelidade partidária e restabeleçam uma divisão clara dos poderes da República. Lula e o PT possuem uma vasta experiência de mobilização popular, incluindo as caravanas da cidadania, e outras ações de diálogo e debate com as grandes camadas do povo brasileiro. É lógico que, para concretizar essa mobilização e virar o jogo político, o PT terá que retomar o tipo de ação militante que marcou suas participações nas Diretas Já!, nas Campanhas Presidenciais de 1989, 2002 e 2006 e em outras mobilizações sociais.

É evidente que essas mudanças políticas no comportamento petista estão atreladas, em grande medida, ao desempenho do governo, em especial na área econômica. Se o governo Dilma não conseguir resolver as questões chaves da elevação rápida da taxa de investimento, da redução mais intensa da taxa de juros, do uso eficaz da taxa de câmbio como instrumento de competição industrial, do aumento substancial da produção de alimentos pela agricultura familiar, da qualificação das forças humanas sem condições atuais de acesso ao mercado de trabalho e da elevação da concorrência nos setores monopolizados ou oligopolizados, será mais difícil para o PT e para Lula enfrentarem o atual movimento da direita política.

Vistas as coisas desse modo, 2013 promete ser um ano carregado de turbulências, desafios e emoções.

by Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Fonte comocalaravoz.

Cresce influência da Consulta, um partido sem registro

A Consulta Popular – organização política que se define como socialista e revolucionária – está ampliando sua influência na cena política. Para 2013, o objetivo da direção nacional é intensificar esforços para unir, em torno de um programa comum, setores situados à esquerda da frente de apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff. Quer pressionar o governo na direção de mudanças estruturais na sociedade.
Em 2012, um dos principais feitos da militância da Consulta foi a organização do Levante Popular da Juventude – que se notabilizou pela série de esculachos contra agentes de Estado que teriam praticado tortura e outros atos de violação dos direitos humanos no período da ditadura militar (1964-1985).
A Consulta está estruturada em 17 Estados, segundo seus dirigentes, e reúne cerca de mil pessoas engajadas de maneira mais direta nas suas articulações. Na eleição municipal de 2012, apoiou os candidatos petistas, com três exceções, no Rio de Janeiro, Belém e Recife, cidades nas quais pediu votos para o PSOL.
Embora funcione com estrutura de partido, a Consulta não tem registro na Justiça Eleitoral. Na verdade, o processo eleitoral não está no horizonte imediato da organização, como explica em seu site, no capítulo inicial, o chamado Quem Somos: “Não somos um agrupamento eleitoral. Isso não significa negar a importância das eleições na política, mas romper com a lógica da centralidade na luta eleitoral.”
Foi essa “lógica da centralidade na luta eleitoral” dentro do PT que deu origem à Consulta, em 1997. Descontentes com o fato de que o partido estaria deixando de lado o chamado trabalho de base, com os movimentos populares, para apostar pesado na lógica eleitoral, grupos de militantes começaram a se reunir à parte.
Luiz Inácio Lula da Silva chegou a participar da reunião inicial, mas não passou dali. Ao lado de José Dirceu, ele já pavimentava na época o caminho que o levaria à Presidência da República, em 2003, sob a consigna de que a política é a arte do possível.
João Pedro Stedile, dirigente do MST, foi um dos principais articuladores dos descontentes, para os quais a esquerda não deveria abandonar projetos revolucionários para se tornar “gerente da máquina administrativa”.
De acordo com suas origens, a Consulta procura se aproximar sobretudo de movimentos sociais. Também tenta se articular na área sindical. No trabalho de organização dá atenção especial à formação dos militantes, com extensos cursos sobre realidade brasileira e pensamento socialista.
Na avaliação da organização, a crise econômica em curso no mundo está apenas no início. Será profunda e prolongada e as políticas macroeconômicas desenvolvimentistas aplicadas atualmente no Brasil e em outros países da América Latina se mostrarão insuficientes para enfrentá-la.
by Roldão Arruda

Mas ele não devolveu os valores extras recebidos. Espero um dia, ver estes pilantras suprirem suas necessidades básicas, (as nossas, reles mortais) dentro dos cálculos que fazem para os demais. Cambada de demagogos. by Deise


Para Suplicy, governo Dilma tem que implantar Renda Básica

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) vai visitar Guaribas, município do interior do Piauí, escolhido há dez anos pelo governo Lula para iniciar a implantação do Programa Fome Zero, depois transformado no Bolsa Família. Suplicy, que acompanhou o desenvolvimento dos programas sociais do governo, quer saber dos moradores o que mudou na vida deles.
O senador também vai buscar elementos para convencer a presidente Dilma Rousseff a iniciar ali, no interior piauiense, a implantação do programa Renda Básica de Cidadania – que foi aprovado no Congresso em 2003, mas ainda não saiu do papel. Ele lembra que essa questão está no programa de governo dela.
Na avaliação de Suplicy, a Renda Básica, que garante a transferência periódica de uma determinada quantia em dinheiro a todos os cidadãos, pode dar mais efetividade às políticas de erradicação da pobreza e redução das desigualdades.
“Mais e mais economistas, filósofos, cientistas sociais em todos os países do mundo chegaram já à conclusão de que os problemas de dependência, de estigma, de falhas em declarações, e falta de dignidade e liberdade real serão superados quando plenamente instituído o direito inalienável de todos os residentes terem o direito participar pelo menos um pouco da riqueza comum de nossa nação através de uma renda básica incondicional e igual para todos”, afirma..
Exemplos de como esse política vem se propagando pelo mundo não faltam, segundo Suplicy. Ele cita: a experiência pioneira de 30 anos do Fundo Permanente do Alasca, que todos os anos paga um dividendo igual para todos seus habitantes; a experiência recente do Irã, que, ao extinguir em 2010 os subsídios aos combustíveis, passou a pagar cerca de US$ 40 mensais a todos os seus 75 milhões de habitantes; a apreciação pelo governo do Iraque de projeto de lei que define o petróleo como riqueza pertencente a todo o povo; a experiência da vila de Otjivero, na Namíbia, que iniciou em 2008 o pagamento de R$ 23 mensais a todos os seus moradores; e outras.
Sem que tem oportunidade, Suplicy recorda que o programa de governo da presidente Dilma Rousseff, aprovado no IV Congresso Nacional do PT, em fevereiro de 2010, pelo voto consensual de 1350 delegados, definiu que será “realizada a transição do Programa Bolsa Família para a Renda Básica de Cidadania, incondicional, como um direito de toda pessoa de participar da riqueza da nação, como previsto pela Lei 10.853, sancionada em 2004.”
Suplicy deve ir a Guaribas acompanhado pelo senador Wellington Dias (PT-PI) .

by by Roldão Arruda

Realmente. E da boa. by Deise


“Combate à pobreza ofuscou agenda do desenvolvimento e da redução da desigualdade”, diz pesquisador

Após dez anos no poder, o PT ainda não venceu o desafio de reduzir substancialmente as desigualdades no País. É isso o que sinaliza o estudo O Brasil Real: A Desigualdade para Além dos Indicadores, lançado pela editora Outras Expressões.
Encomendado pela organização européia Christian Aid e realizado por um conjunto de seis pesquisadores, ligados ao Centro Brasileiro de Análise de Planejamento (Cebrap), o estudo não nega os avanços ocorridos nos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Procura, no entanto, ir além do festejado surgimento de uma nova classe média no País.
O coordenador da equipe de pesquisadores, o professor de história econômica Alexandre de Freitas Barbosa, refuta esse conceito e afirma que as mudanças ocorridas no Brasil recentemente estão ligadas sobretudo à valorização real do salário mínimo, que deu maior poder a uma enorme massa de trabalhadores que ganham de um a três salários e realizam sobretudo atividades manuais.
“É isso que estamos chamando de nova classe média?” – pergunta ele em entrevista ao Estado, com a apresentação dos principais tópicos do estudo. Uma parte reduzida da entrevista foi publicada na edição impressa do jornal no domingo.
A seguir, uma versão mais longa do que disse o estudioso:
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido festejado como um ponto histórico de inflexão na redução da pobreza. O senhor concorda?
Não há como negar que houve uma redução substancial da pobreza no Brasil. Diferentes tipos de indicadores apontam isso. Ela começou um pouco antes do governo Lula, mas a inflexão mais forte ocorreu entre 2004 e 2009. Pela primeira vez na história, o Brasil viveu um processo de crescimento econômico com democracia e redução da desigualdade de renda.
A que atribui isso?
Os motivos são vários: melhoria do quadro externo, redução dos juros, retomada dos investimentos do governo federal, gastos populares – em razão do emprego, do crédito e do salário mínimo em elevação – , programas de transferência de renda e outros. Houve uma retomada do papel do Estado como indutor da demanda, inclusive por meio do investimento – o que atiçou as expectativas de retorno por parte dos empresários, permitindo a aceleração do crescimento econômico, especialmente entre 2006 e 2008.
Mas o estudo que o senhor coordenou relativiza esse avanço, destacando a permanência da desigualdade.
O grupo que eu coordenei tentou agregar, de maneira mais substantiva, algumas questões a esse debate. Para começar: o que é pobreza e o que é desigualdade? Os indicadores comemorados são os que apontam a redução da pobreza absoluta. E como eles funcionam? Você define um patamar, abaixo do qual todos os indivíduos são pobres. Quando um desses indivíduos ou família consegue avançar meio centavo acima desse patamar, deixa de ser pobre. No caso da desigualdade, o indicador é relativo, construído a partir da comparação entre os ganhos dos 10% mais ricos e os dos 10% mais pobres, utilizando dados da Pnad, que mede a renda do trabalho.
Não teria havido redução da desigualdade?
O Índice de Gini, uma das medidas mais comuns para a abordagem das desigualdades sociais, revela uma redução expressiva dessas desigualdades. Não há dúvida. O que estou querendo entender é como isso ocorreu e qual é a sustentabilidade do processo. Ao contrário do que é divulgado, não foram os programas sociais os principais responsáveis pelas mudanças. Os estudos do Ipea apontam que elas estão relacionadas em grande medida ao mercado de trabalho. O Brasil, num período de crescimento econômico, conseguiu fazer com que a renda do trabalho crescesse.
Do ponto de vista da desigualdade, portanto, a questão salarial pesou mais que os programas sociais?
Sim. Além do crescimento econômico e de seu reflexo no mercado de trabalho, o governo reforçou a política de elevação do poder de compra do salário mínimo, impactando os níveis de renda da mão de obra menos qualificada e dos beneficiários da previdência social. Resta perguntar agora qual o padrão de emprego que essas pessoas têm, se contribuem para previdência social, se têm acesso à saúde, à educação de qualidade – que são indicadores de desenvolvimento no sentido mais amplo. Você pode reduzir a pobreza mantendo altos índices de desigualdade e dificuldades de acesso a políticas públicas. Não basta mostrar ganhos monetários. Outra pergunta a ser feita é: com a configuração atual do mercado de trabalho, tenho margem para continuar reduzindo a desigualdade?
Ao apontar o peso salarial nas mudanças, o senhor deduz que as áreas mais beneficiadas foram as mais ricas. Como?
O Brasil é um País muito complexo. A queda mais significativa das desigualdades ocorreu nas regiões mais ricas, onde existem mais assalariados, onde a massa salarial é maior. Isso contraria aqueles que afirmam que os Estados mais ricos estariam sustentando a queda na desigualdade com transferência de renda para os pobres do Nordeste. Foram os segmentos mais pobres regidos pelo salário mínimo que conseguiram mais avanços.
Como definiria esses segmentos? É a tal nova classe média?
Trata-se da típica classe trabalhadora que teve um aumento do poder de consumo. O que se deve pensar agora é como ela pode continuar acompanhando os ganhos de produtividade. O crescimento do nível de emprego no País ocorreu principalmente nos segmentos de baixos salários. Em cada dez postos criados no setor formal, nove têm remuneração inferior a três salários mínimos. No Brasil, 50% da estrutura ocupacional é constituída por pessoas que não têm direitos trabalhistas, nem previdenciários, e que realizam atividades manuais. É isso que está sendo chamado de nova classe média?
Os indicadores apontam que nesse meio a renda aumentou, as condições de vida melhoraram , o nível de emprego subiu.
Isso é o que se diz. O que não se diz é que o nível de renda usado na comparação é o de 2003, o mais baixo da história brasileira desde 1990. O que não se discute é qual tipo de inserção ocupacional está ocorrendo, em que tipo de habitação as pessoas vivem, que tipo de formação profissional possuem, que tipo de escola matriculam suas crianças, que tipo de serviço de saúde podem acessar.
Essas questões estão relacionadas à medição da desigualdade?
Sim. Para afirmar que houve redução substantiva da desigualdade, teria que se comprovar que houve uma ampliação substantiva das políticas universais. Não houve. Essas políticas são muito caras do que as transferências de renda.
Pode-se concluir que os programas sociais não são tão importantes?
Eles são fundamentais, mas não suficientes para promover alterações mais profundas na questão da desigualdade. O que me preocupa é que o problema até tende a se agravar se o governo continuar achando que, ao atacar a pobreza extrema, está automaticamente atacando a desigualdade. Concentrar recursos naqueles que mais precisam, de forma isolada, no intuito de melhorar suas condições é a linha de atuação mais confortável: evita atritos com a ampla coalizão política que apoia o governo, propicia estatísticas positivas e garante dividendos eleitorais. Atacar a desigualdade não é uma coisa estática, de tirar do rico para entregar ao pobre. O padrão de desenvolvimento é que permite acumular mais capital, gerar mais produtividade, permitir que os ganhos do trabalho avancem à frente dos ganhos do capital. O padrão de desenvolvimento tem que assegurar continuamente o aumento da renda dos de baixo a partir da dinâmica do trabalho, das negociações coletivas, e de mudanças estruturais.
Quais mudanças?
Uma delas é a reforma tributária. No Brasil a concentração em impostos indiretos, mais regressivos, contribui para baixar a renda disponível dos pobres e elevar a dos ricos. Também é preciso desonerar a folha de pagamento, para aumentar a competitividade. É preciso, como já disse, discutir habitação, saneamento, educação, saúde, todas as políticas de infraestrutura, porque todas elas podem contribuir para reduzir a desigualdade de oportunidades.
Para alguns analistas, o investimento na educação é o melhor caminho para a redução das desigualdades.
Se analisar os índices que medem o prêmio salarial de acordo com o nível de educação, verá que eles caíram em todos os lugares. Como a desigualdade em grande medida se reduziu pelo aumento do salário mínimo, quem mais ganhou foi quem tinha menor escolaridade. Nesse caso, a redução da desigualdade não esteve relacionada à melhoria da educação.
Mas ela pode trazer vantagens.
Pode trazer se a economia gerar postos de trabalho que exijam uma melhor qualificação. Para absorver mais engenheiros é preciso construir mais usinas hidrelétricas, mais aviões. Os países que tiveram mudança expressiva na sua estrutura ocupacional relacionada à educação tiveram uma política industrial de desenvolvimento acoplada. A Coreia do Sul é o exemplo mais típico. No Brasil, o pouco que está acontecendo na área industrial são movimentos espasmódicos, comandados pelo curto prazo.
O estudo sugere que, se não forem acoplados a políticas mais amplas, programas sociais podem agravar desigualdades.
Exatamente. Imagine uma região pobre do Nordeste, com um grande número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Se não houver uma alteração no mercado de trabalho, nas possibilidades de acesso a empregos melhores e de mobilidade social, o programa pode acentuar as desigualdades. Quem já controla o comércio, tende a ficar mais rico, porque há mais gente consumindo.
Mas o aumento do consumo também não eleva a produção local?
Não necessariamente. Com os padrões de consumo nacionalizados, eles podem estar consumindo bens produzidos nas regiões Sul e Sudeste.
O governo garante que está atento a isso.
Essa não é a lógica do governo federal, embora existam programas isoladas, como o Pronaf, que vem dinamizando a produção de alimentos em pequenas propriedades. Estamos chegando aqui à raiz do problema. Vejamos: só a valorização do salário mínimo não é capaz de alterar a profunda desigualdade do País; diante disso, programas como o Bolsa Família se tornam necessários; mas é preciso associar a ele outras ações, como a formação de cooperativas, assistência técnica aos pequenos produtores, garantia de compra da produção.
Pode-se dizer que o PT ainda está longe de transformar o Brasil num País menos desigual?
Os governos de Lula e Dilma deram um passo importante ao colocar a questão da pobreza no centro da agenda, mas isso ofuscou a agenda maior, do desenvolvimento e da redução da desigualdade. São agendas que deveriam se completar. O combate duradouro e eficiente à pobreza exige uma agenda do desenvolvimento e do combate à desigualdade.
Em termos mais específicos, o que recomendaria?
É preciso fazer avançar os setores industriais de maior produtividade, maior processamento, maior agregação de valor, maior tecnologia. Isso poderia fazer com que a massa de trabalhadores que vive do salário mínimo passasse para níveis salariais melhores, o aumento da renda ficaria casado com o aumento da produtividade. Todo esse oba oba sobre os avanços não leva em conta que pouco mudou na estrutura ocupacional do Brasil nesse período. O trabalhador que teve aumento de renda, que passou a ser formalizado, ganha entre um e dois salários mínimos. O que eu quero saber é o seguinte: mudou o tipo de atividade que exerce? É requisitada dele maior formação profissional?

by by Roldão Arruda

Como podemos ver, não cansamos de proclamar aos 4 ventos o horror à Lula, PT e tudo que oriunda deles. by Deise


O grande Cole Porter tem uma letra de música que diz: "Conflicting questions rise around my brain/ Should I order cyanide or order champagne?" ("Questões conflitantes rondam minha cabeça/ devo pedir cianureto ou champanha?")
Sinto-me assim, como articulista. Para que escrever? Nada adianta, nada. E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate. A náusea - não a do Sartre, mas a minha. Não aguento mais ver a cara do Lula, o homem que não sabe de nada, talvez nem conheça a Rosemary, não aguento mais ver o Sarney mandando no País, transformando-nos num grande "Maranhão", com o PT no bolso do jaquetão de teflon, enquanto comunistas e fascistas discutem para ver quem é mais de "esquerda" ou de "direita", com o Estado loteado por pelegos sem emprego, não suporto a dúvida impotente dos tucanos sem projeto; não dá mais para ouvir quantos campos de futebol foram destruídos por mês nas queimadas da Amazônia, enquanto ecochatos correm nus na Europa, fazendo ridículos protestos contra o efeito estufa; não aguento mais contar quantos foram assassinados por dia, com secretários de segurança falando em "forças-tarefas" diante de presídios que nem conseguem bloquear celulares, não suporto a polêmica nacionalismo-pelego x liberalismo tucano, tenho enjoo de vagabundos inúteis falando em "utopias", bispos dizendo bobagens sobre economia, acadêmicos decepcionados com os 'cumpanheiros' sindicalistas, mas secretamente fiéis à velha esquerda, que só pensa em acabar com a mídia livre, tremo ao ver a República tratada no passado, nostalgias masoquistas de tortura, indenizações para moleques, heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhuma reforma no Estado paralítico e patrimonialista, não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva à retórica de impossibilidades como nosso destino fatal e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, apesar dos bilhões em propaganda para acharmos que algo acontece. Odeio a dúvida de Dilma, querendo fazer uma política modernizante, mas batendo cabeça para o PT, esse partido peronista de direita.
Não aturo a dúvida ridícula que assola a reflexão política: paralisia x voluntarismo, processo x solução, continuidade x ruptura; deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, balas perdidas sempre acertando em crianças, imagens do Rio São Francisco com obras paradas e secas sem fim, o trem-bala de bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, filas de doentes no SUS, caixas de banco abertas à dinamite, declarações de pobres conformados com sua desgraça na TV; tenho engulhos ao ver a mísera liberdade como produto de mercado, êxtases volúveis de 'descolados' dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a bunda perfeita, bundas ambiciosas querendo subir na vida, bundas com vida própria, mais importantes que suas donas, odeio recordes sexuais, próteses de silicone, pênis voadores, sucesso sem trabalho, a troca do mérito pela fama, não suporto mais anúncio de cerveja com louras burras, abomino mulheres divididas entre a 'piranhagem' e a 'peruice', repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos de ganso de manequim, notícias sobre quem come quem, horroriza-me sermos um bando de patetas de consumo, rebolando em shoppings assaltados, enquanto os homens-bomba explodem no Oriente e Ocidente, desovando cadáveres na Palestina e em Ramos, ônibus em fogo no Jacarezinho e Heliópolis, a cara dos boçais do Hamas querendo jogar Israel no mar e o repulsivo Bibi invadindo a Cisjordânia, o assassino pescoçudo Assad eliminando o próprio povo, enquanto formigueiros de fiéis bárbaros no Islã recitam o Alcorão com os rabos para cima, xiitas sangrando, sunitas chorando, tudo no tão mal começado século 21, século 8.º para eles ainda, não aguento ver que a pior violência é nosso convívio cético com a violência, o mal banalizado e o bem como um charme burguês, não quero mais ouvir falar de "globalização", enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, cariocas de porre falam de política e paulistas de porre falam de mercado, museus pós-modernos em forma de retorcidos bombardeios em vez da leveza perdida de Niemeyer, espaços culturais sem arte nenhuma para botar dentro, a não ser sinistras instalações com sangue de porco ou latinhas de cocô de picaretas vestidos de "contemporâneos", não aguento chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, enquanto a Igreja Universal constrói templos de mármore com dinheiro arrancado dos ignorantes sem pagar Imposto de Renda, festas de celebridades com cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas de prata, políticos se defendendo de roubalheira falando em "honra ilibada", conselhos de ética formado por ladrões, suplentes cabeludos e suplentes carecas ocultando os crimes, anúncios de celulares que fazem de tudo, até "boquete"; dá-me repulsa ver mulheres-bomba tirando foto com os filhinhos antes de explodir e subir aos céus dos imbecis, odeio o prazer suicida com que falamos sem agir sobre o derretimento das calotas polares, polêmicas sobre casamento gay, racismo pedindo leis contra o racismo, odeio a pedofilia perdoada na Igreja, vomito ao ver aquele rato do Irã falando que não houve Holocausto, cercados pelas caras barbudas da boçal sabedoria de aiatolás, repugnam-me as bochechas da Cristina Kirchner destruindo a Argentina, a barriga fascista do Chávez, Maluf negando nossa existência, eternamente impune, confrange-me o papa rezando contra a violência com seus olhinhos violentos, não suporto Cúpulas do G20 lamentando a miséria para nada, tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão, estou de saco cheio de mim mesmo, desta minha esperançazinha démodé e iluminista de articulista do "bem", impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos.
Daí, faço minha a dúvida de Cole Porter: devo pedir ao garçom uma pílula de cianureto ou uma "flute" de champagne rosé?
by Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

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