Caros leitores, vocês acompanharam uma notícia tempos atrás sobre o aumento absurdo no preço de um medicamento? Bem, vou relembrá-los da história para fazermos um exercício juntos sobre o capitalismo e socialismo. Let’s?
O medicamento Daraprim foi adquirido em agosto pela empresa Turing Pharmaceuticals nos Estados Unidos. Esse remédio serve para o tratamento da toxoplasmose, que é uma doença infecciosa que afeta quem tem o sistema imunológico comprometido, como por exemplo os portadores do vírus HIV. Ao adquirir o medicamento, a empresa resolveu aumentar o preço em 5000%, ou seja, era de USD 13.50 e foi para USD 750.00. O custo da produção do medicamento é de USD 1.00, mas a empresa declarou que os custos para distribuição e marketing aumentaram muito nos últimos anos e não estava incluso neste preço e que o lucro sobre o produto seria reinvestido em pesquisas para tratamentos. Por motivos óbvios, houve uma comoção geral nos Estados Unidos e no mundo, principalmente pela utilização do produto. Chamado para algumas entrevistas, o CEO Martin Shkreli disse que aumentou o preço porque o medicamento era dele e, portanto, poderia fazer o que quisesse. Esse foi o estopim para que o capitalismo começasse a ser responsabilizado por esse tipo de atitude, que esse era o tipo de pessoas que comandavam as empresas e que pessoas doentes que precisavam do remédio não poderiam ter mais acesso a eles pelo preço extremamente elevado. Um erro de interpretação pode causar muita confusão.
É claro que Martin Shkreli é um idiota produzido pelo capitalismo e como ele há vários outros. Os reis do camarote, o pessoal que ama uma ostentação, gente que queima dinheiro para acender o charuto e publica no Instagram, entre tantos outros que deixaram o poder e o dinheiro subir à cabeça. Entretanto, devido ao capitalismo e principalmente ao livre mercado, podemos viver numa sociedade que evolui e traz benefícios para todos, as vezes tendo que passar por transições complicadas. A forma como este capitalismo for aplicada é que vai delimitar isso e pode sim ser destinado ao bem-estar social. E sabem o porquê de o socialismo não ser a solução? Porque com ele praticamente nada é produzido e não saímos do lugar, mantendo todos num nível de vida medíocre. Vamos dar sequência à reflexão.
Voltando a historinha da empresa que comprou o medicamento e subiu seu preço, há 5 dias foi anunciado que outra empresa, a Imprimis, lançou uma droga concorrente com a mesma substância do Daraprim, com o preço inferior a USD 1.00 por pílula. Mas é claro, meu caro Watson. No livre mercado, quando se dá chances para várias empresas concorrerem, essas coisas acontecem. O que Martin Shkreli não enxergou, é que além de se tornar uma das pessoas mais odiadas dos EUA, logo alguém veria a oportunidade e faria melhor. Isso me faz lembrar da polêmica com o Uber, por exemplo, que já falei neste artigo aqui. Ora, num mercado em que o monopólio de licenças fica com o Estado, além de ficar caro, o serviço fica cada vez pior, pois não há alternativas. Desde que o Uber chegou, muitos foram os taxistas que elevaram a barra da qualidade e prestam um serviço melhor. Não precisa ser o Sherlock Holmes para entender este conceito e que se aplica a tudo.
Indo agora mais diretamente para o socialismo, muita gente acha que este sistema irá fazer com que a distribuição de renda seja mais igualitária, através do Estado, fazendo com que todo mundo tenha acesso às mesmas coisas. Mas aí que está, que coisas? Vocês acham mesmo que num mundo socialista iria existir computador com alta tecnologia? Carros elétricos? Iphone? Se existisse celular, teríamos que ficar contente com aqueles tijolos com antenas. How cool.
O socialismo defende que não deve haver propriedade privada, ou seja, ninguém é dono de terras, máquinas, ou qualquer coisa que seja utilizado na produção de bens e serviços, sendo estes pertencentes ao Estado, que na teoria é quem administra os recursos da melhor forma possível para todos os cidadãos. Além disso, esse Estado socialista seria o responsável por manter as pessoas numa mesma classe social, ganhando a mesma coisa. Qual é o erro disso? Na aplicação teórica, é até bonitinho, porém na prática é bem diferente, afinal cada ser humano, apesar de igual em muitos aspectos, pensa diferente um do outro e atribui importâncias diferentes para as mesmas coisas, sem contar que inchar o Estado acaba por gerar privilégios aos políticos, que se tornam então a classe dominante e delimitam o que o povo precisa por interesses políticos e benefícios do Estado. É claro!
Antes de dar sequência na nossa história sobre o socialismo, vou falar do conceito de utilidade marginal que é de microeconomia e serve para absolutamente tudo nesse mundo. Basicamente, este conceito diz que cada coisa, cada produto, cada serviço, tem uma utilidade diferente para cada pessoa diferente, fazendo com que essas pessoas atribuam um “preço” diferente para elas. Eu gosto muito de chocolate, portanto pagaria mais caro para obter um. Já meu irmão prefere torta de morango, então o preço que ele pagaria num chocolate seria menor do que eu pagaria. Somos diferentes e colocamos preços nas coisas de forma diferente também. Podemos colocar o trabalho sob esta análise. Sempre vai existir uma pessoa mais preguiçosa, para a qual o trabalho tem menos importância do que passar o dia inteiro dormindo. E sempre vai ter a pessoa que, ao contrário do primeiro, gosta de produzir e se sentir útil, tendo como motivação a recompensa, que geralmente é o dinheiro (o preço do trabalho) e também o de construir alguma coisa. A utilidade marginal do trabalho é totalmente diferente para o sujeito A e o sujeito B e, portanto, colocar ambos sob o mesmo regime e querer que tenham as mesmas recompensas, fatalmente dará errado.
Então, num sistema socialista, milhares de pessoas como o sujeito A e milhares de pessoas como o sujeito B (uma simplificação de um sistema mais complexo, é claro), terão a mesma renda. O que vai acontecer? Ninguém é altruísta o suficiente para trabalhar mais do que o outro e ganhar a mesma coisa. A produtividade vai cair e as boas ideias não vão sair do papel. Para que começar a investir tempo e trabalho para uma nova tecnologia? Para que começar a pensar diferente? Se a recompensa vai ser a mesma do que não faz nada ou faz muito pouco, o preço do trabalho não se altera e, portanto, este passa a ter menos importância. O socialismo simplesmente destrói a ideia de que o trabalho é válido e que as recompensas existem colocando todo mundo sob a mesma condição que, em vez do que muitos pensam, será de pobreza. As pessoas passam a fazer apenas o mínimo pela sobrevivência. Basicamente, tudo que for produzido terá qualidade mediana, para não dizer péssima, além de reduzir a oferta de bens.
No capitalismo, justamente pela propriedade privada ser garantida, ou seja, o capital é de alguém e há liberdade de trocas, existe uma real formação de preços através da oferta e demanda, refletindo as preferências dos consumidores. Dessa forma, esse capital empreendido será direcionado de acordo com essas preferências. Como no socialismo os preços não são definidos pelo mercado para bens e serviços, não dá para conhecer a fundo a situação real e ter uma estratégia razoável. Possivelmente haverá problemas e dispêndios desnecessários que não serão corrigidos. Além de tudo isso, o fato de as empresas serem de monopólio estatal e não terem lucro como objetivo, diminui muito a eficiência da produção. Num sistema capitalista, é de interesse particular que a empresa obtenha lucro, senão não há motivos para a existência da mesma e, com isso, sempre haverá melhorias em todos os âmbitos, procurando suprimir os gargalos e ineficiências, desenvolvendo novas tecnologias, entre outras coisas. A diferença crucial entre os dois sistemas está na produção do que a sociedade quer, através do capitalismo, e não do que o Estado julga que a sociedade quer, sem de fato levar em consideração o desejo dela. Qual é a explicação para termos um país como Cuba, com milhares de médicos e comida escassa? Alguma coisa aí deu errado. Vocês sabiam que em Cuba existe uma cota de alimentos para cada pessoa? Até 2010, inclusive, estavam inclusos nesta lista artigos de higiene. Que maravilha, hein?
Não podemos ser inocentes de achar que qualquer ser humano aja apenas e tão somente por caridade. Muito embora possamos ser benevolentes, o interesse individual acaba prevalecendo, é a lei da vida, além é claro, da diferença natural e inexorável da capacidade de cada um. Sinto informá-los, mas tem gente melhor que você por aí. Eu não sou hipócrita de dizer que eu sou igual ao Bill Gates, que é bilionário. Eu sou apenas feliz por ele ter me proporcionado acesso à tecnologia e não me importo de ele ter muito mais dinheiro do que eu. Inclusive, vamos lembrar que Bill sozinho já gastou mais de USD 28 bilhões com filantropia, através da sua fundação de caridade sem fins lucrativos. Existem muitos outros bilionários ou milionários que não fazem o mesmo, infelizmente isso é uma característica pessoal destes que não mudará.
Outro erro na apresentação do socialismo, principalmente pela visão de Marx, é da afirmação que o trabalhador não recebe efetivamente pelo que produz, tendo a “mais-valia” apropriada pelo capitalista, o qual explora esse trabalhador. A primeira coisa é entender que para a produção de determinado bem, o operário precisa de diversos componentes, chamados de fatores de produção, como no caso de máquinas, aparelhos ou qualquer coisa que precise para produzir o bem final. Quem tem dinheiro para investir nos fatores de produção e contrata os operários é o capitalista, que obviamente necessita ser remunerado por isso de forma que valha a pena todo esse investimento, que não é só o dinheiro gasto, como o tempo e o risco de não dar certo. O preço do trabalho é o salário e este será maior ou menor de acordo com o quão difícil é realiza-lo e de quanto valor é agregado ao bem final com o trabalho específico. Quanto mais técnica e sofisticada for a mão-de-obra, mais cara ela se torna. Com o socialismo, simplesmente não existe essa relação, não havendo estímulo a novas técnicas ou otimização da produção. Então, para que estudar?
Um exemplo aplicado à nossa realidade pode ser o programa do Bolsa-Família. Não, eu não sou contra haver algum tipo de assistencialismo às pessoas pobres, desde que esta seja apenas uma medida temporária. Qual é o grande erro do governo brasileiro nessa questão? Não é tirá-los da miséria, mas sim, mantê-los sob esta condição. O que deveria ser feito, na verdade, é um estímulo as empresas nas regiões mais pobres, de forma que estas subsidiem cursos técnicos e melhorem a mão-de-obra local. Ao poder agregar mais valor aos bens ou serviços prestados, esse trabalhador poderá ter um salário adequado, produzindo valor e gerando riqueza. Entretanto, o que existe hoje é justamente o contrário. Temos 14 milhões de famílias que recebem o auxílio e apenas 1,7 milhão saiu voluntariamente por informar uma renda superior ao limite que se enquadra o programa. O erro não está em fornecer ajuda, mas não dar condições necessárias para que estas pessoas produzam. O verdadeiro responsável pela melhora das condições de vida é o trabalho e, portanto, o que temos hoje é uma solução imediatista e não estrutural. O fato é que em muitas regiões do Brasil, as pessoas não querem trabalhar registradas, simplesmente para não deixar de receber o benefício. É maravilhoso reduzir a pobreza e dar vida mais digna a todos, mas não podemos esquecer que deve haver uma contrapartida, sempre.
É claro que existem os empresários exploradores, os desonestos, os corruptos. Isso é diminuído com melhor educação e justiça que funcione para todos, independentemente de suas condições sociais, entretanto, responsabilizar a todos os empresários e empreendedores pela exploração inadequada dos trabalhadores, é apenas preguiça de pensar além. Com quase 40% do PIB consumido em impostos no Brasil, por exemplo, é de admirar que não tenhamos condições de ensino, transporte e segurança de qualidade. A ineficiência do Estado se comprova a cada dia e, com um regime cada vez mais tendendo ao controle deste, fatalmente produziremos menos, sendo levados ao retrocesso.
Se o seu patrão tem mais dinheiro que você, inspire-se em sua história e vá atrás dos seus sonhos. Ambição com responsabilidade é muito benéfico para todos, tanto enquanto indivíduo como perante a sociedade. Vamos produzir e parar de olhar para a grama mais verde do vizinho. Ganhar dinheiro e ser bem-sucedido não é crime! Let’s get to work.
Renata Barreto é economista, empresária, atua no mercado de capitais há 12 anos, com experiência em trading, estruturações e advisory, nos mercados doméstico e internacional.