05/09/2014
Passeios guiados mostram lado pouco conhecido de quatro cidades.
Em Praga, turistas pagam para dormir na rua e conseguir comida.
Flávia Mantovani
Do G1, em São Paulo
Mike, um dos guias do Unseen Tours, em Londres
(Foto: Unseen Tours/Divulgação)
Abandonar o hotel e as roupas limpas para dormir na rua por uma noite não parece um programa ideal de férias, mas há turistas pagando para isso em Praga, na República Tcheca. A Pragulic, uma empresa que organiza tours guiados por moradores de rua, oferece um pacote para quem quer passar 24 horas vivendo como um deles.
Sem os objetos pessoais e vestindo “roupas de mendigo”, o visitante precisa encontrar lugar para dormir, comida e algum dinheiro. Ele é acompanhado por um dos guias da empresa (todos moram ou moraram na rua por algum período).
A ideia, segundo os organizadores, é que o turista viva uma experiência pessoal intensa e possa entender na prática o que significa viver nas ruas, deixando de lado preconceitos e levando o aprendizado para sua vida.
O pacote, batizado de “Homeless Experience” (experiência de morador de rua), é a opção mais extrema de uma modalidade que está ganhando adeptos entre os turistas na Europa: passeios guiados por pessoas que moram ou já moraram nas ruas. A Pragulic, fundada em 2012, já recebeu mais de 5 mil visitantes em seus tours. Alem de Praga, Londres, Amsterdã e Barcelona são outros destinos que já oferecem essa possibilidade.
Em geral, os passeios vão a pontos fora do circuito turístico tradicional: vielas, pontes, becos de prostituição, bairros degradados e refeitórios populares são alguns exemplos. Alguns deles até passam por marcos conhecidos e tradicionais, mas o foco é sempre no mundo dos moradores de rua daquela cidade. Os guias também contam sua história de vida e respondem a perguntas e curiosidades dos turistas.
“Você é guiado por alguém que realmente conhece a cidade, que pode te mostrar esquinas e lugares escondidos que normalmente não são conhecidos pelos turistas. É uma chance de conversar com pessoas que normalmente são ignoradas pela sociedade e entrar no mundo delas,”, afirma Ondřej Klügl, cofundador da Pragulic.
Tanto na empresa de Praga quanto nos outros projetos citados nesta reportagem os guias são indicados por associações e entidades que trabalham com moradores de rua. Eles recebem treinamento para criar o tour e orientações ao longo do trabalho.
Para Dominic Stevenson, voluntário no projeto Unseen Tours, de Londres, o trabalho de guia faz bem aos moradores de rua. “Acreditamos que eles são encorajados a reconstruir suas vidas e a conquistar um senso de independência que não tinham antes”, diz.
A Unseen Tours oferece passeios em quatro áreas da cidade: Camden Town, Shoreditch, Covent Garden e London Bridge. Todos passam por alguns marcos famosos, mas junto com os cartões-postais também é mostrado o “lado B” da cidade. “Queremos que as pessoas vejam que o mundo do dinheiro e do turismo não fica longe do mundo dos moradores de rua”, diz Dominic Stevenson, voluntário no projeto.
Segundo Stevenson, os guias levam os visitantes “para uma jornada muito pessoal, revelando suas histórias e mostrando os lugares que moldaram sua vida”.
Ele conta que costumam ter muitos clientes do Brasil. “É sempre divertido quando os brasileiros participam. São pessoas que gostam de uma aventura, de aprender sobre gente e sobre história”, diz.
O voluntário diz que o passeio faz os turistas refletirem. “Os tours podem ter um efeito profundo sobre como as pessoas tocam sua vida. Esperamos que eles inspirem a bondade e a empatia e que sejam muito divertidos também”, completa.
O Hidden City começou em setembro de 2013 em fase de testes, com um guia que falava apenas espanhol. Como a procura foi muito maior do que o esperado, foram recrutados mais guias fluentes em inglês, francês e alemão, e o trabalho multilíngue recomeçou em março deste ano.
Os passeios são pelo Bairro Gótico da cidade catalã. Segundo a fundadora, Lisa Grace, eles são adequados tanto para visitantes de primeira viagem quanto para os que já conhecem Barcelona. “Passamos pelos lugares clássicos, muitos deles com histórias escondidas, e por lugares menos conhecidos, alternativos”, diz. Um exemplo: há paradas em alguns refeitórios populares para discutir o sistema de ajuda a moradores de rua na Espanha.
Site: www.hiddencitytours.com
Preço: 14 euros (cerca de R$ 40)
A Pragulic oferece duas possibilidades, ambas orientadas por moradores de rua: passeios guiados ou uma imersão em que o turista passa 24 horas vivendo como um morador de rua.
A primeira modalidade tem roteiros variados, de acordo com a experiência de vida e com os gostos do guia. “Abordamos o mundo das drogas, criminalidade, prostituição, vida noturna, literatura, transporte público... Os passeios não são focados em monumentos tradicionais e prédios históricos, são mais alternativos”, diz Ondřej Klügl, cofundador da Pragulic.
Já a segunda modalidade, a “Homeless Experience” (experiência de morador de rua), é para quem quer se aprofundar no assunto. O turista precisa deixar todos os seus objetos pessoais em um ponto de encontro e mantém apenas a identidade, o equivalente a R$ 2 e um celular para fazer contato com a empresa caso necessário.
Vestindo “roupas de mendigo”, ele precisa encontrar lugar para dormir, conseguir algum dinheiro e comida. Para isso, conta com a ajuda de um dos guias moradores de rua. No final, recebe seus objetos de volta e um certificado.
Site: http://pragulic.cz/?lang=en
Preço: 250 coroas tchecas (cerca de R$ 26)
Passeios guiados mostram lado pouco conhecido de quatro cidades.
Em Praga, turistas pagam para dormir na rua e conseguir comida.
Flávia Mantovani
Do G1, em São Paulo
Mike, um dos guias do Unseen Tours, em Londres
(Foto: Unseen Tours/Divulgação)
Abandonar o hotel e as roupas limpas para dormir na rua por uma noite não parece um programa ideal de férias, mas há turistas pagando para isso em Praga, na República Tcheca. A Pragulic, uma empresa que organiza tours guiados por moradores de rua, oferece um pacote para quem quer passar 24 horas vivendo como um deles.
Sem os objetos pessoais e vestindo “roupas de mendigo”, o visitante precisa encontrar lugar para dormir, comida e algum dinheiro. Ele é acompanhado por um dos guias da empresa (todos moram ou moraram na rua por algum período).
A ideia, segundo os organizadores, é que o turista viva uma experiência pessoal intensa e possa entender na prática o que significa viver nas ruas, deixando de lado preconceitos e levando o aprendizado para sua vida.
O pacote, batizado de “Homeless Experience” (experiência de morador de rua), é a opção mais extrema de uma modalidade que está ganhando adeptos entre os turistas na Europa: passeios guiados por pessoas que moram ou já moraram nas ruas. A Pragulic, fundada em 2012, já recebeu mais de 5 mil visitantes em seus tours. Alem de Praga, Londres, Amsterdã e Barcelona são outros destinos que já oferecem essa possibilidade.
“Você é guiado por alguém que realmente conhece a cidade, que pode te mostrar esquinas e lugares escondidos que normalmente não são conhecidos pelos turistas. É uma chance de conversar com pessoas que normalmente são ignoradas pela sociedade e entrar no mundo delas,”, afirma Ondřej Klügl, cofundador da Pragulic.
Tanto na empresa de Praga quanto nos outros projetos citados nesta reportagem os guias são indicados por associações e entidades que trabalham com moradores de rua. Eles recebem treinamento para criar o tour e orientações ao longo do trabalho.
Para Dominic Stevenson, voluntário no projeto Unseen Tours, de Londres, o trabalho de guia faz bem aos moradores de rua. “Acreditamos que eles são encorajados a reconstruir suas vidas e a conquistar um senso de independência que não tinham antes”, diz.
Londres, Inglaterra
A Unseen Tours oferece passeios em quatro áreas da cidade: Camden Town, Shoreditch, Covent Garden e London Bridge. Todos passam por alguns marcos famosos, mas junto com os cartões-postais também é mostrado o “lado B” da cidade. “Queremos que as pessoas vejam que o mundo do dinheiro e do turismo não fica longe do mundo dos moradores de rua”, diz Dominic Stevenson, voluntário no projeto.
Segundo Stevenson, os guias levam os visitantes “para uma jornada muito pessoal, revelando suas histórias e mostrando os lugares que moldaram sua vida”.
Ele conta que costumam ter muitos clientes do Brasil. “É sempre divertido quando os brasileiros participam. São pessoas que gostam de uma aventura, de aprender sobre gente e sobre história”, diz.
O voluntário diz que o passeio faz os turistas refletirem. “Os tours podem ter um efeito profundo sobre como as pessoas tocam sua vida. Esperamos que eles inspirem a bondade e a empatia e que sejam muito divertidos também”, completa.
Barcelona, Espanha
O Hidden City começou em setembro de 2013 em fase de testes, com um guia que falava apenas espanhol. Como a procura foi muito maior do que o esperado, foram recrutados mais guias fluentes em inglês, francês e alemão, e o trabalho multilíngue recomeçou em março deste ano.
Os passeios são pelo Bairro Gótico da cidade catalã. Segundo a fundadora, Lisa Grace, eles são adequados tanto para visitantes de primeira viagem quanto para os que já conhecem Barcelona. “Passamos pelos lugares clássicos, muitos deles com histórias escondidas, e por lugares menos conhecidos, alternativos”, diz. Um exemplo: há paradas em alguns refeitórios populares para discutir o sistema de ajuda a moradores de rua na Espanha.
Site: www.hiddencitytours.com
Preço: 14 euros (cerca de R$ 40)
Praga, República Tcheca
A Pragulic oferece duas possibilidades, ambas orientadas por moradores de rua: passeios guiados ou uma imersão em que o turista passa 24 horas vivendo como um morador de rua.
A primeira modalidade tem roteiros variados, de acordo com a experiência de vida e com os gostos do guia. “Abordamos o mundo das drogas, criminalidade, prostituição, vida noturna, literatura, transporte público... Os passeios não são focados em monumentos tradicionais e prédios históricos, são mais alternativos”, diz Ondřej Klügl, cofundador da Pragulic.
Já a segunda modalidade, a “Homeless Experience” (experiência de morador de rua), é para quem quer se aprofundar no assunto. O turista precisa deixar todos os seus objetos pessoais em um ponto de encontro e mantém apenas a identidade, o equivalente a R$ 2 e um celular para fazer contato com a empresa caso necessário.
Vestindo “roupas de mendigo”, ele precisa encontrar lugar para dormir, conseguir algum dinheiro e comida. Para isso, conta com a ajuda de um dos guias moradores de rua. No final, recebe seus objetos de volta e um certificado.
Site: http://pragulic.cz/?lang=en
Preço: 250 coroas tchecas (cerca de R$ 26)
Amsterdã, Holanda
O Amsterdam Underground tem passeios focados na vida pessoal dos guias. “Eles contam como sobrevivem na rua e levam as pessoas aos pontos onde dormem, a bairros que no passado concentravam usuários de drogas, esse tipo de lugar. Mostram a cidade de uma perspectiva totalmente diferente”, diz Freek Jalhay, porta-voz do grupo.
Os guias recebem um treinamento para criar seu tour e têm orientação durante o trabalho. Para participar, precisam ser “confiáveis, estar dispostos a contar sobre sua vida, a guiar um tour de forma segura e prazerosa e a cuidar dos clientes”, afirma Jalhay.
O Amsterdam Underground tem passeios focados na vida pessoal dos guias. “Eles contam como sobrevivem na rua e levam as pessoas aos pontos onde dormem, a bairros que no passado concentravam usuários de drogas, esse tipo de lugar. Mostram a cidade de uma perspectiva totalmente diferente”, diz Freek Jalhay, porta-voz do grupo.
Os guias recebem um treinamento para criar seu tour e têm orientação durante o trabalho. Para participar, precisam ser “confiáveis, estar dispostos a contar sobre sua vida, a guiar um tour de forma segura e prazerosa e a cuidar dos clientes”, afirma Jalhay.