As habilidades da espreita e do sonhar são os dois pilares do caminho de evolução dos toltecas do Antigo México. A espreita se relaciona fortemente, além do sonhar, com muitas outras “unidades de significado” deste conhecimento a saber: o tonal, o ponto de aglutinação, o pequeno tirano, a impecabilidade, a importância pessoal, os hábitos e rotinas, a loucura controlada, a energia sexual, a consciência intensificada, a recapitulação, e por aí afora…
A arte da espreita, já que lida com pessoas e comportamento, por um lado é aparentemente exterior, mas por outro lado tem raízes profundas com o lado “oculto” do ser humano, incompreensível à razão habitual, que é o corpo energético. A arte da espreita está ligada ao coração, assim como a mestria da consciência de ser está ligada á mente, e a mestria do intento ao espírito. O seu propósito é deslocar gradual, firme e seguramente o ponto de aglutinação e fixá-lo além do chamado inventário humano. A espreita pode ser aplicada a tudo, mas espreitar a sí mesmo é a sua expressão mais fina e valiosa.
Se fôssemos resumir os pontos importantes das considerações sobre a espreita, diríamos:
– É a habilidade de fixar o ponto de aglutinação numa nova posição
– É uma batalha silenciosa para “conseguir os objetivos” da melhor forma em cada situação.
– É um controle sistemático do comportamento
– É uma forma de relacionar-se com as pessoas, mas sua atuação objetiva “afinar o próprio praticante”.
– É colocar-se em situações limite (perigo, medo, saturação sensorial, agressão)
– A espreita é ligada ao tonal, corpo direito, primeira atenção. O sonho é o oposto (nagual, corpo esquerdo, segunda atenção)
– Ela move devagar e mantém o ponto de aglutinação na nova posição (coesão). O sonho é o oposto
– As mulheres são naturalmente mais afeitas á espreita que os homens
– É regida por 7 princípios (vide abaixo)
– Tem 4 passos de aprendizado: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura
– Sua estratégia mais eficaz tem 6 pontos: controle, disciplina, paciência, oportunidade, vontade e o pequeno tirano
– Espreita-se tudo, até as próprias fraquezas, mas o “estado da arte” é espreitar a sí mesmo
– Seus resultados são: rir de si mesmo, não se levar a sério, capacidade infinita de improvisação
– A espreita é o enigma do coração; a consciência é o da mente; o intento é o do espírito
– É um comportamento secreto, furtivo e enganoso para produzir um choque (em si mesmo)
– Para espreitar é preciso ter um propósito, ser impecável, sair da auto-importância, banir hábitos e praticar a loucura controlada (fingir-se imerso na ação, mas sem se identificar, nem ser notado)
– A recapitulação é o ponto forte dos espreitadores. É uma forma especializada de espreitar as rotinas internas.
– A espreita é melhor aprendida em consciência intensificada, sem o inconveniente do inventário
– Liga-se á energia sexual de forma individual. O sonhador usa a energia sexual para sonhar. O espreitador é o oposto
· “A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a um guerreiro conseguir o melhor de qualquer situação concebível. “(A Roda do Tempo, pág. 198)
1. “O primeiro princípio da arte da espreita é que os guerreiros escolhem o campo de batalha. Um guerreiro nunca vai para a batalha sem saber o que o cerca.
2. Descartar tudo que não é necessário é o segundo princípio da arte da espreita. Um guerreiro não complica as coisas. Seu objetivo é ser simples.
3. Ele aplica toda a concentração que tem para decidir se entra ou não na batalha, pois qualquer batalha é uma batalha por sua vida. Este é o terceiro princípio da arte da espreita. Um guerreiro deve estar disposto e pronto para travar sua última batalha aqui e agora. Mas não de uma maneira descuidada.
4. Um guerreiro relaxa e se abandona; ele nada teme. Só então os poderes que guiam os seres humanos abrem o caminho para o guerreiro e o ajudam. Só então. Este é o quarto princípio da arte da espreita.
5. Quando diante de dificuldades com as quais não podem lidar, os guerreiros recuam por um momento. Eles deixam a mente vagar. Ocupam seu tempo com alguma outra coisa. Qualquer coisa serve. Este é o quinto princípio da arte da espreita.
6. Os guerreiros comprimem o tempo este é o sexto princípio da arte da espreita. Mesmo um instante conta. Numa batalha por sua vida, um segundo é uma eternidade, uma eternidade que pode decidir o resultado final. Os guerreiros visam ao sucesso, portanto comprimem o tempo. Os guerreiros não desperdiçam um só instante.
7. Para aplicara sétimo princípio da arte da espreita, é preciso aplicar os outros seis; um espreitador nunca se lança para a frente. Ele sempre olha para frente por detrás das cenas.”
(A Roda do Tempo, págs. 217 a 219, Carlos Castañeda)