domingo, 26 de julho de 2015

Trajetória de navio exemplifica impunidade reinante nos mares

IAN URBINA


A precária jangada feita de barris de óleo vazios e um tampo de mesa de madeira balançava com o movimento das ondas, amarrado ao lado do Dona Liberta, navio cargueiro de 112 metros ancorado no oceano Atlântico ao largo da África Ocidental, longe da terra.

"Desça!" gritou um tripulante, brandindo um facão, forçando dois passageiros clandestinos tanzanianos, que não sabiam nadar, a descer do navio para a jangada.



Apostando na chance de conseguir uma vida melhor, os viajantes clandestinos tinham dado azar. Eles haviam passado nove dias ao mar sem serem descobertos, a maior parte do tempo escondidos na sala de máquinas do Dona Liberta. David George Mndolwa, um deles, recorda-se de ter pensado enquanto o Dona Liberta desaparecia lentamente no horizonte: "É o fim".

Poucos lugares no mundo são tão anárquicos quanto o alto mar. Embora a economia global dependa da frota de mais de 4 milhões de pequenas embarcações pesqueiras e cargueiras e dos 100 mil navios mercantes de grande porte que transportam cerca de 90% das mercadorias do mundo, as leis marítimas de hoje são quase tão difíceis de aplicar quanto eram séculos atrás, quando os grandes impérios da história passaram a explorar os confins dos mares.

Segundo autoridades marítimas, milhares de marujos, pescadores ou migrantes morrem todos os anos no mar em circunstâncias suspeitas, mas os culpados raramente são levados à Justiça. Ninguém é obrigado a denunciar crimes violentos cometidos em águas internacionais.
Christophe Simon/AFP
Voluntário limpa praia da Espanha em novembro de 2002 após vazamento de petróleo de um navio
Voluntário limpa praia da Espanha em novembro de 2002 após vazamento de petróleo de um navio
Dezenas de milhares de trabalhadores, muitos deles menores de idade, são escravizados em embarcações, por endividamento ou coerção. Em média, um navio grande afunda a cada quatro dias, e entre 2.000 e 6.000 marinheiros morrem a cada ano.

Segundo pesquisadores, navios jogam intencionalmente mais óleo de motor e dejetos nos mares em três anos que o óleo dos acidentes da plataforma Deepwater Horizon e do Exxon Valdez somados, além de emitir volumes monumentais de alguns poluentes do ar, muito mais que todos os carros do mundo. A pesca comercial, boa parte dela ilegal, reduziu fortemente os estoques marinhos.
O Dona Liberta faz parte dos navios que mais infringem as leis, servindo como estudo de caso de prevaricação marinha.

O navio não apenas abandonou passageiros clandestinos no mar como foi acusado de várias outras infrações.
Sigit Pamungkas/Reuters
Marinha da Indonésia afunda navio que fazia pesca ilegal em sua costa: fotografia de novembro de 2003
Marinha da Indonésia afunda navio que fazia pesca ilegal em sua costa: fotografia de novembro de 2003
O decrépito navio frigorífico percorreu dois oceanos e cinco mares, aportando em 20 cidades, maltratando, abandonando e enganando seus tripulantes, e causou uma mancha de óleo de quase 150 quilômetros de comprimento. Credores perseguiram seu proprietário, tentando cobrar milhões de dólares em dívidas não saldadas, e grupos de fiscalização marinha incluíram a empresa proprietária do navio em uma lista de suspeitos de praticar pesca ilegal. Mesmo assim, o navio operou livremente e nunca lhe faltaram trabalho ou mão de obra.

"No mundo marítimo, é muito mais fácil para os países ignorar os navios que criam problemas, como o Dona Liberta, que tomar medidas para sanar a situação", explicou Mark Young, comandante aposentado da Guarda Costeira dos EUA e ex-chefe de implementação da lei no oceano Pacífico.

Uma investigação do jornal "The New York Times" constatou que embarcações que desaparecem no horizonte tendem a também escapar de qualquer fiscalização. Há dezenas de pactos marítimos assinados por muitos países, o setor de transporte marítimo já publicou calhamaços de diretrizes e a agência marítima das Nações Unidas redigiu centenas de regras. No entanto, as agências nacionais e internacionais geralmente não têm a inclinação ou os recursos para implementar essas normas.

O sistema moderno de embandeiramento, que permite que navios comprem o direito de hastear a bandeira de um país, desde que prometam cumprir as leis nacionais, garante boa cobertura para empresas inescrupulosas.
Tuwaedaniya Meringing/AFP
Navios pesqueiros em porto da província de Pattani, na Tailândia
Navios pesqueiros em porto da província de Pattani, na Tailândia
Geralmente um navio só pode ser interceptado em alto mar por uma embarcação militar ou policial com a mesma bandeira que a dele. Mas as Marinhas do mundo vêm sendo reduzidas há décadas. A maioria dos países, incluindo Bahamas, sob cuja bandeira o Dona Liberta circulava, não tem embarcações que fazem patrulhas regulares fora de suas próprias águas nacionais.

Quando crimes são cometidos, não existe uma agência única que tenha interesse suficiente no assunto para procurar, prender ou processar os culpados. Os passageiros clandestinos no Dona Liberta, por exemplo, eram imigrantes sem documentos originários da Tanzânia, que viviam na África do Sul e desembarcaram na Libéria. O navio pertencia a uma companhia grega com sede na Libéria. Seus tripulantes eram principalmente filipinos, o capitão era italiano. O navio operava sob a bandeira das Bahamas e navegava em águas internacionais.
"Quem pode conduzir uma investigação dessas?", indagou Mark Young.

Os trunfos em jogo são grandes: o derretimento do Ártico está ampliando as rotas comerciais. Avanços tecnológicos abrem o leito marinho profundo a novas perfurações e à extração mineral. Rivalidades marítimas e pirataria vêm gerando choques mais violentos. E, com a economia cada vez mais sem fronteiras, o comércio marítimo é vital. "Sem navios, metade do mundo congelaria e a outra metade morreria de fome", disse a escritora náutica britânica Rose George.
Young vê a necessidade de ações urgentes. Convidado a descrever os oceanos mundiais de hoje, ele respondeu: "São como o velho oeste. Leis fracas, poucos xerifes, muitos bandidos."
Associated Press
Marinha holandesa intercepta supostos piratas na costa da Somália; fotografia de abril de 2011
Marinha holandesa intercepta supostos piratas na costa da Somália; fotografia de abril de 2011
ARMADOR INVISÍVEL
A Grécia é um país pequeno, mas é uma superpotência no mundo marítimo, com muitas empresas de transporte marítimo e um número desproporcional dos armadores mais ricos do mundo. Quase metade das famílias mais conhecidas de armadores vem de Chios, ilha grega minúscula a oito quilômetros ao largo da Turquia.

É em Chios que vive George Kallimasias, cuja família trabalha com transportes marítimos há três gerações. Ao que consta, Kallimasias é dono da Commercial S.A., que operava o Dona Liberta e uma frota de cerca de duas dúzias de navios semelhantes.

As principais famílias de armadores gregos têm fama de possuir espírito de "noblesse oblige" -muitos campos de futebol, escolas e hospitais ostentam placas com seus nomes. Mas Kallimasias é decididamente invisível.

"Ele não é nem um pouco como os outros", comentou um estivador na marina de Chios. Ele apontou para o iate de 33 metros de Kallimasias, "Something Wild", que, segundo ele, raramente é usado e permanece sob guarda constante. A casa à beira-mar de Kallimasias em Chios se esconde atrás de um muro de cinco metros. Quando ele se desloca de carro, geralmente é acompanhado por guarda-costas.
"O cara é esquivo como fumaça", comentou Lefteris Kormalis, vendedor de peças para motores de navio. No ano passado, Kormalis ganhou uma causa na Justiça na qual cobrava US$ 30 mil que Kallimasias lhe devia. O armador é citado em pelo menos 15 processos legais semelhantes em tribunais da Grécia e dos EUA.
Construído no Japão em 1991, o Dona Liberta foi adquirido pela Commercial S.A. em 2004. Vagarosa e potente, a embarcação com quilha de aço tem mais de 560 metros cúbicos de espaço refrigerado, o suficiente para transportar o equivalente a mais de 25 milhões de latas de atum, sua carga principal.

Esse tipo de barco é uma espécie em extinção que vem sendo eliminada do setor de transporte de frutas e legumes por navios-contêineres que têm mais de três vezes seu tamanho e são dotados de tecnologia superior de controle da temperatura. De acordo com seguradoras marítimas, nos últimos anos, para sobreviver, muitas dessas embarcações passaram a transportar pescado, boa parte do qual ilegal, e outras mercadorias de contrabando, como cigarros falsificados e drogas.
Kallimasias não respondeu a pedidos de entrevista. Nos anos 1980, quando uma de suas empresas deixou de pagar um empréstimo de mais de US$ 11 milhões contraído com o Banco Nacional da Grécia, parlamentares gregos investigaram. Eles encontraram um navio de Kallimasias que valeria a pena ser apreendido, mas a embarcação pegou fogo no mar e afundou, em um ato visto como tentativa proposital de lucrar com o dinheiro do seguro.

MENDIGANDO COMIDA

Tripulantes do Dona Liberta frequentemente contatavam o sindicato internacional de marinheiros por meio de bilhetes escondidos ou telefonemas cochichados, implorando por ajuda. Documentos sindicais mostram que eles descreviam violações de segurança, condições de trabalho difíceis, roubo de salários e abandono.

Em 2012 as infrações levaram o sindicato a lançar um aviso a marinheiros, recomendando que não trabalhassem no Dona Liberta.

"Quando seu contrato termina, eles mandam você para casa, dizendo que transferiram o dinheiro", escreveu o ucraniano Yuriy Cheng em post sem data escrito em russo em um fórum on-line de marinheiros, aludindo à empresa proprietária do Dona Liberta. "Quando você chega em casa, descobre que não há dinheiro na conta."
Cheng descreveu um impasse no navio entre a direção e os tripulantes, em sua maioria filipinos, que pararam de trabalhar depois de passar um ano sem pagamento, apesar de serem ameaçados de prisão se não entregassem a carga. "Esses sujeitos tinham 40 ou 50 anos, mas estavam chorando de frustração, como bebês."

Em junho de 2011, o marinheiro veterano George Cristof percebeu que alguma coisa estava errada a partir do momento em que pisou no Dona Liberta no porto de Truro, na Inglaterra. Contratado por uma agência de emprego marítimo em Galati, Romênia, ele tinha sido instruído pela empresa de transporte marítimo de Kallimasias, em breve telefonema, a voar imediatamente à Inglaterra, onde uma tripulação completa estaria à sua espera, pronta para zarpar.

Ao chegar, porém, Cristof encontrou uma situação muito diferente. Os suprimentos tinham acabado, o porão de carga estava vazio e a tripulação tinha partido. O Dona Liberta mal tinha combustível suficiente para manter acesa a lâmpada da sala do leme, muito menos o motor do navio, de 5.600 cavalos-vapor.
Outro romeno, Florin Raducan, chegou pouco depois. Nos meses seguintes, os dois homens sobreviveram do que pescavam e dos alimentos enlatados e garrafas de água que mendigavam de embarcações que passavam por eles. Às vezes passavam dias sem comer. Eles não tinham o dinheiro e os documentos necessários para desembarcar e voltar para casa. Não havia aquecimento, água corrente, eletricidade ou banheiros que funcionassem. Eles colhiam água da chuva para se lavar.

Todos os dias, eles ficavam à espera de ordens que nunca chegavam. "A prisão com um salário", disse Cristof, repetindo uma expressão usada com frequência para caracterizar o trabalho no mar. "Só que o salário não é garantido."
Dados da ONU mostram que mais de 2.300 marinheiros foram abandonados em situação semelhante por seus empregadores nos últimos dez anos. Apenas recentemente é que o setor adotou normas, que entrarão em vigor em 2017, obrigando armadores a contratar seguros ou a apresentar outras provas de terem condições de cobrir os custos de marinheiros impedidos de sair de um porto, sem falar nos custos decorrentes de mortes de marinheiros e benefícios por invalidez de longo prazo.

No Reino Unido, uma organização humanitária resgatou os dois marinheiros romenos. "Eles não queriam ficar, mas se negavam a partir", explicou Ben Bailey, da organização em questão, Mission to Seafarers. Cristof e Raducan tinham pago mais de mil dólares cada um à agência de empregos para conseguir o trabalho no Dona Liberta. O abandono do navio implicava na perda do direito de recuperar esse dinheiro ou de receber os salários prometidos. Depois de cinco meses, entretanto, os dois desistiram e voltaram à Romênia.

DESPEJO DE ÓLEO

Numa manhã de abril de 2012, três funcionários do grupo de fiscalização ambiental SkyTruth, com sede na Virgínia Ocidental, debruçaram-se sobre imagens de satélite transmitidas pela Agência Espacial Europeia. Seis riscos negros chamaram sua atenção em águas ao largo costa africana. Pareciam ser consequência do despejo intencional de óleo e dejetos de navios.

O rastro mais longo no oceano se estendia por 150 quilômetros a partir de Cabinda, Angola. O Dona Liberta, na cabeça do rastro, avançava para o noroeste.
Não era um episódio isolado. Em fevereiro de 2012, autoridades ambientais britânicas tiveram que limpar uma mancha de óleo deixada pelo Dona Liberta no rio Fal. Oito meses antes, o navio foi citado por inspetores russos por ter fraudado livros de registro de óleo, num indício de despejo ilegal de óleo no mar. O Dona Liberta foi intimado pelo mesmo delito por inspetores espanhóis em julho de 2009, inspetores holandeses em 2005 e inspetores britânicos em 2004.

A maioria dessas intimações não resultou em multas. Tirando os EUA e o Reino Unido, são poucos os países que regularmente levam essas violações à Justiça.
Dessa vez, nem chegou a ser aberto um inquérito.

ABANDONADOS NO ATLÂNTICO

Em maio de 2011, Mndolwa e Jocktan Francis Kobelo acharam que teriam a chance de construir uma nova vida quando ouviram um tripulante em um porto mencionar que o navio de fundo vermelho que aguardava no cais, sem guarda noturno, ia zarpar para a Inglaterra em poucas horas.

Levando seus passaportes, um pão e um saquinho plástico com suco de laranja, os dois subiram pelo cordame do navio naquela noite, desceram escondidos até a sala de máquinas e ali ficaram nos cinco dias seguintes.

Em pouco tempo, o esconderijo tornou-se insuportável. As turbinas e os vapores os deixavam atordoados. "O calor roubava nossa respiração", contou Mndolwa. A comida deles acabou em dois dias.

Arrastando-se pelo labirinto dos níveis inferiores do navio até chegarem ao convés, eles encontraram bolachas e garrafas de água em um bote salva-vidas a bordo do navio. Foram encontrados ali quatro dias depois.

Os comandantes mais compassivos costumam obrigar passageiros clandestinos a trabalhar e então os fazem desembarcar no porto seguinte. Nos últimos anos, porém, as leis de imigração europeias foram endurecidas, o medo do terrorismo cresceu e autoridades portuárias em todo o mundo reagiram intensificando as penalidades para navios que chegam com passageiros ilegais.

No entanto, as regras em terra muitas vezes chocam-se com a realidade no mar. Os comandantes são proibidos de lançar clandestinos ao mar, mas são multados ou obstruídos se os levam até a terra.

Em 2014, dois passageiros clandestinos guineenses foram empurrados para fora ou saltaram de um navio ao largo da costa francesa, depois que vários países africanos se recusaram a permitir que desembarcassem. Um deles morreu afogado. Dois anos antes disso, uma tripulação lançou quatro clandestinos africanos no Mediterrâneo (todos sobreviveram), depois de o capitão ser informado do custo de sua repatriação. Esse custo pode chegar a US$ 50 mil por passageiro clandestino.

Na manhã seguinte após sua expulsão, Mndolwa e Kobelo tentaram se manter animados na jangada à deriva, falando de futebol e de suas famílias. Porém, a desnutrição, a desidratação e a espuma marinha gelada os tinham enfraquecido. Quando o Sol se pôs e a temperatura começou a cair, eles entraram em pânico. Kobelo começou a tossir e a vomitar sangue.

A esperança apareceu na forma de um pontinho no horizonte. Um barco de madeira de três metros com motor de popa se aproximou. "Por que vocês estão aqui?" perguntou um pescador, jogando uma corda para a jangada. "Não sei", respondeu Mndolwa.

Horas mais tarde, eles chegaram a um píer na cidade portuária de Buchanan, na Libéria, onde foram detidos por estarem sem documentos. Seis dias depois, Kobelo, cuja tosse tinha se agravado, morreu. Ele tinha 26 anos.

O Dona Liberta chegou ao porto de Truro, perto da extremidade sudoeste da Inglaterra, em junho de 2011, um mês depois de os passageiros clandestinos serem deixados à deriva. Aparentemente alertada pelas autoridades liberianas, a polícia britânica subiu no navio e interrogou o capitão. Mais tarde, arquivou a investigação por falta de provas.

Detido, Mndolwa passou cinco meses na prisão antes de ser enviado de avião para a Tanzânia e, mais tarde, retornar à Cidade do Cabo. Hoje ele tem 27 anos e vive perto da mesma ponte onde vivia antes de embarcar no Dona Liberta. Ele diz voltará a tentar entrar em um navio como clandestino. "Vou mudar minha vida."

DE VOLTA, COM NOVO NOME

O Dona Liberta desapareceu durante boa parte do ano passado, depois de desligar seu transponder localizador. Embora seja ilegal para grandes navios sob a maioria das condições, desligar o aparelho é fácil e é comum no caso de embarcações que transportam contrabando.

Em novembro, o navio reapareceu no golfo da Tailândia. Procurado por um repórter a 12 quilômetros da costa, o capitão chinês explicou que o navio tinha novo proprietário -uma companhia chinesa- e nova bandeira: a do Kiribati, arquipélago minúsculo no Pacífico central.

O novo nome do navio, Sea Pearl, estava pintado na quilha, ao lado da sombra do nome antigo. Desde então, o navio mudou sua bandeira mais uma vez e agora usa a de Vanuatu.

Indagado sobre as infrações passadas da embarcação, o capitão respondeu: "Empresa diferente, empresa diferente."

quinta-feira, 23 de julho de 2015

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar



    Nunca se espera. Nem mesmo o paciente terminal acha que vai morrer hoje ou amanhã. Na semana que vem talvez, mas apenas se a semana que vem continuar sendo na semana que vem. Morrer é uma surpresa. Sempre.
Nunca se está pronto. Nunca é a hora. Nunca vamos ter feito tudo o que queríamos ter feito. O fim da vida sempre vem de surpresa, fazendo as viúvas chorarem e entediando as crianças que ainda não entendem o que é um velório (Graças a Deus).
Com meu pai não foi diferente. Na verdade, foi mais inesperado. Meu pai se foi com 27 anos, a idade que leva muitos músicos famosos. Jovem. Moço demais. Meu pai não era músico nem famoso, o câncer parece não ter preferência. Ele se foi quando eu ainda era novo, descobri o que era um velório justamente com ele. Eu tinha 8 anos e meio, o suficiente pra sentir saudade pelo resto da vida. Se ele tivesse morrido antes, não haveriam lembranças. Nem dor. Mas também não haveria um pai na minha história. E eu tive um pai.
Tive um pai que era duro e divertido. Que me colocava de castigo com uma piadinha pra não me magoar. Que me dava um beijo na testa antes de dormir. Hábito esse que eu levei para os meus filhos. Que me obrigou a amar o mesmo time que ele e que explicava as coisas de um jeito melhor que a minha mãe. Sabe? Um pai desses que faz falta.
Ele nunca me disse que ia morrer, nem quando já estava deitado cheio de tubos. Meu pai fazia planos para o ano que vem mesmo sabendo que não veria o próximo mês. No ano que vem iríamos pescar, viajar, visitar lugares que nenhum de nós conhecia. O ano que vem seria incrível. Eu vivi esse sonho com ele.
Acho, tenho certeza na verdade, que ele pensava que isso daria sorte. Supersticioso. Pensar no futuro era o jeito dele se manter otimista. O desgraçado me fez rir até o final. Ele sabia. Ele não me contou. Ele não me viu chorar a sua perda.
E de repente o ano que vem acabou antes de começar.
Minha mãe me pegou na escola e fomos ao hospital. O médico deu a notícia com toda a sensibilidade que um médico deixa de ter com os anos. Minha mãe chorou. Ela também tinha um pingo de esperança. Como disse antes, todo mundo tem. Eu senti o golpe. Como assim? Não era só uma doença normal dessas que a gente toma injeção? Pai, como eu te odiei. Você mentiu pra mim. Não fiquei triste, pai, fiquei com raiva. Me senti traído. Gritei de raiva no hospital até perceber que meu pai não estava lá pra me colocar de castigo. Chorei.
Mas aí meu pai foi meu pai de novo. Trazendo uma caixa de sapato debaixo dos braços, uma enfermeira veio me consolar. Dentro, dezenas de envelopes lacrados com frases escritas onde deveriam ficar os nomes dos destinatários. Entre as lágrimas e os soluços não consegui entender direito o que estava acontecendo. E então a mesma enfermeira me entregou uma carta. A única fora da caixa.
“Seu pai me pediu pra entregar essa pessoalmente e te dizer pra abrir. Ele passou a semana inteira escrevendo tudo isso e disse que era pra você. Seja forte.” Disse a enfermeira com um abraço.
PARA QUANDO EU ME FOR dizia o envelope que ela me entregou. Abri.
Filho,
Se você está lendo eu morri. Desculpa, eu sabia.
Não queria te dizer que ia acontecer, não queria te ver chorar. Parece que consegui. Acho que um homem prestes a morrer tem o direito de ser um pouco egoísta.
Bom, como eu ainda tenho muito pra te ensinar, afinal você não sabe de nada, deixei essas cartas. Você só pode abrir quando o momento certo chegar, o momento que eu escrevi no envelope. Esse é o nosso combinado, ok?
Eu te amo. Cuida da sua mãe, você é o homem da casa agora.
Beijo, pai.
PS: Não deixei cartas para sua mãe, ela já ficou com o carro.
E com aqueles garranchos, afinal naquela época não era tão fácil imprimir como é hoje em dia, ele me fez parar de chorar. Aquela letra porca que uma criança de 8 anos mal entendia (eu, no caso) me acalmou. Me arrancou um riso do rosto. Esse era o jeito do meu pai de fazer as coisas. Que nem o castigo com uma piadinha para aliviar.
Aquela caixa se tornou a coisa mais importante do mundo. Proibi minha mãe de abrir, de ler. Mas elas eram minhas, só pra mim. Sabia decorado todos os momentos da vida em que eu poderia abrir uma carta e ler o que meu pai tinha deixado. Só que esses momentos demoraram muito pra chegar. E eu esqueci.
Sete anos e uma mudança depois eu não tinha ideia de onde a caixa tinha ido parar. Eu não lembrava dela. Algo que você não lembra não faz falta. Se você perdeu algo da sua memória, você não perdeu. Simplesmente não existe. Como dinheiro que depois você acha no bolso da bermuda.
E então aconteceu. Uma mistura de adolescência com o novo namorado da minha mãe desencadeou o que meu pai sabia que um dia aconteceria. Minha mãe teve vários namorados, sempre entendi. Ela nunca casou de novo. Não sei ao certo o motivo, mas gosto de acreditar que o amor da vida dela tinha sido meu pai. Mas esse namorado era ridículo. Eu sentia que ela se rebaixava pra ele. Que ele fazia pouco da mulher que ela era. Que uma mulher como ela merecia algo melhor do que um cara que ela tinha conhecido no forró.
Me lembro até hoje do tapa que veio acompanhado da palavra “forró”. Eu mereci, admito. Os anos me mostraram isso. Na hora, enquanto a pele da minha bochecha ardia, lembrei da minha caixa e das minhas cartas. De uma carta em específico que dizia PARA QUANDO VOCÊ TIVER A PIOR BRIGA DO MUNDO COM A SUA MÃE.
Corri para o quarto e revirei minhas coisas o suficiente para levar outro tapa na cara da minha mãe. Encontrei a caixa dentro de uma mala de viagem na parte de cima do armário. O limbo. Procurei entre os envelopes. Passei por PARA QUANDO VOCÊ DER O PRIMEIRO BEIJO e percebi que havia pulado essa, me odiei um pouco e decidi que a leria logo depois, e por PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE, uma que eu esperava abrir logo, logo. Achei o que procurava e abri.
Pede desculpa.
Eu não sei o motivo da briga e nem quem tem razão. Mas eu conheço a sua mãe. Então a melhor maneira de resolver isso é com um humilde pedido de desculpas. Do tipo rabinho entre as pernas.
Ela é sua mãe, cara. Te ama mais do que tudo nessa vida. Sabe, ela escolheu parto normal porque alguém disse que era melhor pra você. Você já viu um parto normal? Pois é, quer demonstração de amor maior que essa?
Pede desculpa. Ela vai te perdoar. Eu não seria tão bonzinho.
Beijo, pai.
Meu pai passava longe de um escritor, era bancário, mas as palavras dele mexeram comigo. Havia mais maturidade nelas do que nos meus quatorze anos de vida. O que não era muito difícil por sinal.
Corri para o quarto da minha mãe e abri a porta. Já estava chorando quando ela, chorando também, virou a cabeça pra me olhar nos olhos. Não lembro o que ela gritou pra mim, algo como “O que você quer?”, mas lembro que andei até ela e a abracei, ainda segurando a carta do meu pai. Amassando o papel já velho entre os meus dedos. Ela me abraçou de volta e ficamos em silêncio por não sei quantos minutos.
A carta do meu pai fez ela rir alguns momentos depois. Fizemos as pazes e conversamos um pouco sobre ele. Ela me contou umas manias estranhas que ele tinha, como comer salame com geleia de morango. De algum modo, senti que ele estava ali. Eu, minha mãe e um pedaço do meu pai, um pedacinho que ele deixou naquele papel. Que bom.
Não demorou muito e li PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE.
Parabéns, filho.
Não se preocupa, com o tempo a coisa fica melhor. Toda primeira vez é um lixo. A minha foi com a puta mais feia do mundo, por exemplo.
Meu maior medo é você ler o envelope e perguntar da sua mãe antes da hora o que é virgindade. Ou pior, ler o que eu acabei de escrever sem nem saber o que é punheta (você sabe, não sabe?). Mas isso também não será problema meu, não é mesmo?
Beijo, pai.
Meu pai acompanhou minha vida toda. De longe, sim, mas acompanhou. Em incontáveis momentos suas palavras me deram aquela força que ninguém mais conseguia dar. Ele sempre dava um jeito de me arrancar um sorriso em um momento de tristeza ou de clarear meus pensamentos num momento de raiva.
PARA QUANDO VOCÊ CASAR me emocionou, mas não tanto quanto PARA QUANDO EU FOR AVÔ.
Filho, agora você vai descobrir o que é amor de verdade. Vai descobrir que você gosta bastante da sua mulher, mas que amor mesmo é o que você vai sentir por essa coisinha aí que eu não sei se é ele ou ela. Sou um cadáver, não um vidente.
Aproveita. É a melhor coisa do mundo. O tempo vai passar rápido, então esteja presente todos os dias. Não perca nenhum momento, eles não voltam mais. Troque as fraldas, dê banho, sirva de exemplo. Acho que você tem condições de ser um pai tão incrível quanto eu.
A carta mais dolorida da minha vida foi também a mais curta do meu pai. Acredito que ele sofreu para escrever aquelas quatro palavras o mesmo que eu sofri por ter vivido aquele momento. Demorou, mas um dia eu tive que ler PARA QUANDO SUA MÃE SE FOR.
Ela é minha agora.
Uma piada. Um palhaço triste que esconde o choro por trás do sorriso de maquiagem. Foi a única carta que não me arrancou um sorriso, mas entendi a razão.
Eu sempre respeitei o combinado com meu pai. Nunca li nenhuma carta antes do momento certo. Tirando PARA QUANDO VOCÊ SE DESCOBRIR GAY, claro. Nunca acreditei que o momento de ler essa carta chegaria, então abri muitos anos atrás. Ela foi uma das mais engraçadas, por sinal.
O que eu posso dizer? Ainda bem que morri.
Deixando as brincadeiras de lado e falando sério (é raro, aproveita). Agora semimorto eu vejo que a gente se importa muito com coisas que não importam tanto. Você acha que isso muda alguma coisa, filho?
Não seja bobo, seja feliz.
Sempre esperei muito pelo próximo momento. Pela próxima carta. Pela próxima lição que meu pai tinha pra me dar. Incrível como um homem que viveu 27 anos teve tanto pra ensinar pra um senhor de 85 como eu.
Agora, deitado na cama do hospital, com tubos no nariz e na traqueia (maldito câncer), eu passo os dedos por cima do papel desbotado da última carta. PARA QUANDO SUA HORA CHEGAR o garrancho quase invisível diz.
Não quero abrir. Tenho medo. Não quero acreditar que a minha hora chegou. Esperança, lembra? Ninguém acredita que vai morrer hoje.
Respiro fundo e abro.
Oi, filho, espero que você seja um velho agora.
Sabe, essa foi a carta mais fácil de escrever. A primeira que eu escrevi. A carta que me livrou da dor de te perder. Acho que estar perto do fim clareia a cabeça pra falar sobre o assunto.
Nos meus últimos dias eu pensei na vida que eu levei. Na minha curta vida, sim, mas que me fez muito feliz. Eu fui seu pai e marido da sua mãe. O que mais eu poderia querer? Isso me deu paz. Faça o mesmo.
Um conselho: não precisa ter medo.
PS: Tô com saudade.

domingo, 12 de julho de 2015

CONSEQÜÊNCIA LÓGICA DA AÇÃO PENAL






by Miscelânia do Conhecimento


A ação penal geralmente sucede do procedimento policial (inquérito policial). Na maioria das vezes ela é proposta tendo como fundamento o inquérito. Ação penal só existe perante a justiça, não existe em repartição policial ou administrativa, isso ocorre a partir da Constituição Federal de 1988. O Estado assumiu o compromisso de proteger os interesses coletivos, criando os mecanismos, surgindo assim, a ação penal e extra-penal.

A ação penal ou extra-penal é um substitutivo civilizado da fase de vingança privada. Você não pode fazer, mas pode exigir que o Estado faça e isso ocorre por meio da ação. O Estado vai apreciar o fato através da ação para o Juiz julgar procedente ou improcedente essa ação. Art. 100, CP - a ação penal é pública, salvo quando a lei a declara privativa do ofendido. Na maioria dos casos a ação penal é pública porque o crime quando ocorre ofende principalmente o interesse da coletividade.

Teoricamente a relação que ocorre é entre o criminoso e a sociedade. Na prática, sabe-se que a relação é entre o criminoso e a vítima. Na maioria dos casos a ação penal é pública incondicionada, a autoridade para proceder não está sujeita a nenhuma condição, não depende da vontade da vítima, já que antes de atingir o interesse da vítima, atingiu o interesse da coletividade. Ex.: tentativa de homicídio. O delegado está obrigado a instaurar o inquérito policial. O Ministério Público se recebeu provas (indícios) pode instaurar a ação, salvo nos casos dos juizados especiais, pois a lei criou um mecanismo especial para esses casos.

A ação penal pública pode também ser condicionada. Ela só pode existir sob condição, apesar de ser pública. As condições são: a representação do ofendido ou do seu representante legal, se tiver menos de 18 anos pelo pai, tutor ou curador; a requisição do Ministro da Justiça. São raríssimos casos, principalmente nesta última hipótese. Ou é uma coisa ou outra, não pode ser as duas condições nunca. Ex.: crime de ameaça e de lesão corporal leve são crimes da 1 ª condição, além de lesão corporal culposa. A autoridade só pode proceder se haver alguma manifestação do ofendido ou do seu representante legal. Ex.: crime contra a honra de chefe estrangeiro é crime da 2 ª condição. A lei diz expressamente quando for do ofendido ou mediante requisição do Ministro da Justiça. Qualquer pessoa pode levar ao conhecimento da autoridade a ação pública incondicionada. Ao observar o CP, se abaixo do art. não mostrar a forma como proceder é porque é um crime de ação pública incondicionada. O art. 147, CP é exemplo de ação pública condicionada a representação legal. Quando tiver abaixo do artigo que só se procede mediante queixa é porque é um caso de ação penal privada. Esta só se processa mediante autorização expressa da vítima. O estupro é um crime que pode ser de ação privada se ocorrer apenas a violência do ato.

Se houver mais alguma violência como lesão corporal, esse pode ser ação penal pública incondicionada se a vítima não tiver condição de pagar as custas do processo ou se não for por este caso, será de ação pública condicionada. A representação é apenas uma manifestação da parte ofendida para que a autoridade possa instaurar o respectivo procedimento ou policial ou judicial. A representação pode ser dirigida a autoridade policial (delegado de polícia), devendo esta instaurar o inquérito; pode também ser endereçada(dirigida) ao Ministério Público. Se tiver instruída, se houver os elementos necessários, o Ministério Público vai denunciar, não pedindo para instaurar o inquérito. Se o Ministério Público achar que não está instruída, vai remeter a polícia requisitando a instauração do inquérito; pode encaminhar ao Juiz de Direito. O Juiz não instaura procedimento, ele apenas julga. Se ele recebe uma representação, o Juiz deve encaminhar para a Polícia requisitando a instauração do inquérito. Alguns autores (maioria) acham que ele deve mandar para o Ministério Público que é o titular da ação penal pública. A representação está sujeita a prazo, se o particular não fizer dentro do prazo, decai o direito. O prazo fixado pelo art. 38, CP é de 6 meses, não sendo contado da data fato, mas do conhecimento da autoria do fato. Tem que provar que somente em data tal tomou conhecimento.
Crimes de ação pública incondicionada
Art. 121 HomicídioArt. 122 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 123 InfanticídioArt. 124 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 125 Aborto provocado por terceiroArt. 126 Aborto consentido pela gestante
Art. 129 Lesão corporal, grave e gravíssimaArt. 131 Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 132 Perigo para a vida ou saúde de outremArt 133 Abandono de incapaz
Art. 134 Exposição ou abandono do recém-nascidoArt. 135 Omissão de socorro
Art. 136 Maus tratosArt 137 Rixa
Art. 146 Constrangimento ilegalArt. 148 Seqüestro e cárcere privado
Art. 149 Redução a condição análoga à de escravoArt. 150 Violação de domicílio
Art. 155 FurtoArt. 157 Roubo
Art. 158 ExtorsãoArt. 159 Extorsão mediante seqüestro
Art. 160 Extorsão indiretaArt. 161 Alteração de limites
Art. 162 Supressão ou alteração de marca em animaisArt. 165 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
Art. 166 Alteração de local especialmente protegidoArt. Apropriação indébita
Art. 169 Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da naturezaArt. 171 Estelionato
Art. 172 Duplicata simuladaArt. 173 Abuso de incapazes
Art. 174 Induzimento à especulaçãoArt. 175 Fraude no comércio
Art. 177 Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por açõesArt. 178 Emissão irregular de conecimentos de depósito ou warrant
Art. 180 ReceptaçãoArt. 188 Falsa atribuição de privilégio
Art. 190 Falsa declaração de depósito em modelo ou desenhoArt. 193 Uso indevido de armas, brasões e distintivos públicos
Art. 194 Marca com falsa indicação de procedênciaArt. 197 Atentado contra a liberdade de trabalho
Art. 198 Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violentaArt. 199 atentado contra a liberdade de associação
Art. 200 Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordemArt. 201 Paralisação de trabalho de interesse coletivo
Art. 202 SabotagemArt. 203 Frustração de direito assegurado por lei trabalhista
Art. 204 Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalhoArt. 205 Exercício de atividade com infração de decisão administrativa
Art. 206 Aliciamento para o fim de emigraçãoArt. 207 Aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional
Art. 208 Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativoArt. 209 Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária
Art. 210 Violação de sepulturaArt. 211 Destruição, subtração ou ocultação de cadáver
Art. 212 Vilipêndio a cadáverArt. 227 Mediação para servir a lascívia de outrem
Art. 228 Favorecimento da prostitiçãoArt. 229 Casa de prostituição
Art. 230 RufianismoArt. 231 Tráfico de mulheres
Art. 233 Ato obscenoArt. 234 Escrito ou objeto obsceno
Art. 235 BigamiaArt. 237 Conhecimento prévio de impedimento
Art. 238 Simulação de autoridade para celebração de casamentoArt. 239 Simulação de casamento
Art. 241 Registro de nascimento inexistenteArt. 242 Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nacido
Art. 243 Sonegação de estado de filiaçãoArt. 244 Abandono material
Art. 245 Entrega de filho menor a pessoa inidôneaArt. 246 Abandono intelectual
Art. 247 Abandono moralArt. 248 Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes
Art. 249 Subtração de incapazArt. 250 Incêndio
Art. 251ExplosãoArt. 252 Uso de gás tóxico ou asfixiante
Art. 253 Fabricação, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixianteArt. 254 inundação
Art. 255 Perigo de inundaçãoArt. 256 Desabamento ou desmoronamento
Art. 257 Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamentoArt. 259 Difusão de doença ou praga
Art. 260 Perigo de desastre ferroviárioArt. 261 Atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo
Art. 262 Atentado contra a segurança de outro meio de transporteArt. 264 Arremesso de projétil
Art. 265 Atentado contra a segurança de serviço de utilidade públicaArt. 266 Atentado contra a segurança de serviço telegráfico ou elef6onico
Art. 267 EpidemiaArt. 268 Infração de medida sanitária preventiva
Art. 269 Omissão de notificação de doençaArt. 270 Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal
Art. 271 Corrupção ou poluição de água potávelArt. 272 Corrupção, adulteração ou falsificação de substância alimentícia ou medicinal
Art. 273 Alteração de substância alimentícia ou medicinalArt. 274 Emprego de processo proibido ou de substância não permitida
Art. 275 Invólucro ou recipiente com falsa indicaçãoArt. 276 Produto ou substância nas condições dos dois antigos anteriores
Art. 277 Substância destinada à falsificaçãoArt. 278 Outras substâncias nocivas à saúde pública
Art. 279 substância avariadaArt. 280 Medicamento em desacordo com receita médica
Art. 282 exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêuticaAr. 283 Charlatanismo
Art. 284 CurandeirismoArt. 286 Incitação ao crime
Art. 286 Incitação ao crimeArt. 287 Apologia de crime ou criminoso
Art. 288 Quadrilha ou bandoArt. 289 Moeda falsa
Art. 290 Crimes assimilados ao de moeda falsaArt. 291 Petrechos para falsificação de moeda
Art. 292 Emissão de título ao portador sem permissão legalArt. 293 Falsificação de papeis públicos
Art. 294 Petrechos de falsificaçãoArt. 296 Falsificação de selo ou sinal público
Art. 297 Falsificação de documento públicoArt. 298 Falsificação de documento particular
Art. 300 Falso reconhecimento de firma ou letraArt. 301 Certidão ou atestado ideologicamente falso
Art. 302 Falsidade de atestado médicoArt. 303 Reprodução ou adulteração de selo u peça filatélica
Art. 304 Uso de documento falsoArt. 305 Supressão de documento
Art. 306 Falsificação do sinal empregado no contraste de metal preciso ou na falsificação alfandegária, ou para outros finsArt. 307 Falsa identidade
Art. 308 Crime assimilado à falsa identidadeArt. 309 Fraude de lei sobre estrangeiros
Art. 310 Crime assimilado à fraude de lei sobre estrangeirosArt. 311 Falsidade em prejuízo da nacionalização da sociedade
Art. 312 PeculatoArt. 313 Peculato mediante erro de outrem
Art. 314 Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documentoArt. 315 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
Art. 316 ConcussãoArt. 317 Corrupção passiva
Art. 318 Facilitação de contrabando ou descaminhoArt. 319 Prevaricação
Art. 320 Condescendência criminosaArt. 312 Advocacia administrativa
Art. 322 Violência arbitráriaArt. 323 Abandono de função
Art. 324 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongadoArt. 325 Violação de sigilo funcional
Art. 326 Violação de sigilo de proposta de concorrênciaArt. 328 Usurpação de função pública
Art. 329 ResistênciaArt. 330 Desobediência
Art. 331 DesacatoArt. 332 Exploração de prestígio
Art. 333 Corrupção ativaArt. 334 Contrabando ou descaminho
Art. 335 Impedimento, perturbação ou fraude de concorrênciaArt. 336 Inutilização de edital ou de sinal
Art. Subtração ou inutilização de livro ou documentoArt. 338 Reingresso de estrangeiro expulso
Art. 339 Denunciação caluniosaArt. 340 Comunicação falsa de crime ou de contravenção
Art. 341 Auto-acusação falsaArt. 342 Falso testemunho ou falsa perícia
Art. 343 crime assimilado ao falso testemunho ou falsa períciaArt. 344 Coação no curso do processo
Art. 345 Exercício arbitrário das próprias razõesArt. 346 Crime assimilado ao exercício arbitrário das próprias razões
Art. 347 Fraude processualArt. 348 Favorecimento pessoal
Art. 349 Favorecimento realArt. 350 Exercício arbitrário ou abuso de poder
Art 351 Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurançaArt. 352 Evasão mediante violência contra a pessoa
Art. 353 Arrebatamento de presoArt. 354 Motim de preso
Art. 355 Patrocínio infielArt. 356 Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
Art. 357 Exploração de prestígioArt. 358 Violência ou fraude em arrematação judicial
Art. 359 Desobediência à decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito
Crimes de ação penal pública condicionada
Art. 129 Lesão corporal leve e culposaArt. 130 Perigo de contágio venéreo
Art. 147 AmeaçaArt. 151 Violação de corrspondência
Art. 152 Correspondência comercialArt. 153 Divulgação de segredo
Art. 154 Violação de segredo profissionalArt. 156 Furto de coisa comum
Art. 176 Outras fraudes
Crimes de ação penal privada
Art. 138 CalúniaArt. 139 Difamação
Art. 140 InjúriaArt. 163 Dano
Art. 164 Introdução ou abandono de animais em propriedade alheiaArt. 179 Fraude à execução
Art. 184 Violação de direito autoralArt. 185 Usurpação de nome ou pseudônimo alheio
Art. 187 Violação de privilégio de invençãoArt. 189 Usurpação ou indevida exploração de moeda ou desenho privilegiado
Art. 192 Violação do direito de marcaArt. 196 Concorrência desleal
Art. 213 EstuproArt. 214 Atentado violento ao pudor
Art. 215 Posse sexual mediante fraudeArt. 216 Atentado ao pudor mediante fraude
Art. 217 SeduçãoArt. 218 Corrupção de menores
Art. 219 Rapto violento ou mediante fraudeArt 220 Rapto consensual
Art. 236 Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimentoArt. 240 Adultério
Crimes de ação pública incondicionada transformados em crimes de ação pública condicionada
Quando o crime é cometido em prejuízo:
Do cônjuge "desquitado" ou judicialmente separado
De irmão, legítimo ou "ilegítimo"
De tio ou sobrinho, com quem o agente coabita, desde que não seja crime de roubo ou de estorsão, ou não haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa (arts. 182, I, II, III, e 183, I)
Art. 155 FurtoArt. 161 Alteração de limites, usurpação de água e esbulho possessório
Art. 162 Supressão ou alteração de marca em animaisArt. 165 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
Art. 166 Alteração de local especialmente protegidoArt. 168 Apropriação indébita
Art. 169 Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da naturezaArt. 171 Estelionato
Art. 172 Duplicata simuladaArt. 173 Abuso de incapaz
Art. 174 Induzimento à especulaçãoArt. 175 Fraude no comércio
Art. 177 Fraude e abusos na fundação ou administração de sociedades por açõesArt. 178 Emissão irregular de conhecimento de depósito ou warrant
Art. 179 Fraude à execuçãoArt. 180 Receptação
Crimes de ação pública incondicionada transformados em crimes de ação privada
Art. 161 Alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório, se a propriedade é particular e não há emprego de violência (art. 161, § 3º)Art. 345 Exercício arbitrário das próprias razões, se não há violência (art. 345, § único)
Crimes de ação pública condicionada transformados em crimes de ação pública incondicionada
Art. 151, § 1º, IV Instalação de estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal(Art. 151, § 4º)Art. 151, § 3º Violação de correspondência ou comunicação, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radio-elétrico ou telefônico (Art. 151, § 4º)
Crimes de ação privada transformados em crimes de ação pública incondicionada
Art. 140, § 2º Injúria, mediante violência, e se da violência resulta lesão corporal (art. 145, caput)Art. 163, § único, I,II e III Dano com violência a pessoa ou grave ameaça; com emprego de substância inflamável ou explosivo, se o fato não constitui crime mais grave; contra o patrimônio da União, Estado ou Município (art. 167)
Art. 184 Violação de direito autoral, quando praticado em prejuízo de entidade de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo poder público; se a violação consistir na preprodução, por qualquer meio , de obra intelectual, no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, ou consistir na reprodução de fonograma e videofonograma, sem autorização do produtor ou de quem o represente; venda, exposição à venda, introdução no país, aquisição, ocultação ou conservação em depósito, para o fim de venta, original ou cópia de obra intelectual, fonograma ou videofonograma, produzidos com violação de direito autoral (art. 186)Art. 185 Usurpação de nome ou pseudônimo alheio, quando praticada em prejuízo de entidade de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo poder público (art. 186)
E também os seguintes crimes se da violência resulta lesão corporal de natureza grave (art. 223 c/c art. 225 § 1º, II):
Art. 213 (estupro), art. 214 (atentado violento ao pudor)
E ainda os seguintes crimes se é cometido com abuso do pátrio poder, ou na qualidade de padrasto tutor ou curador (art. 225, § 1º, II):
Art. 213 (estupro), art. 214 (atentado violento ao pudor), art. 215 (posse sexual mediante fraude), art. 216 (atentado ao pudor mediante fraude, art. 217 (sedução), art. 218 (corrupção de menor), art. 219 (rapto violento ou mediante fraude), art. 220 (rapto consensual)
Crimes de ação privada transformados em crimes de ação pública condicionada
Os seguintes crimes quando praticados contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro (art. 145, § único, e art. 141, I):
Art. 138 (Calúnia), art. 139 (difamação), art. 140 (injúria)
Os seguintes crimes quando praticados contra o funcionário público, em razão de suas funções (art. 145, § único, e art. 141, II):
Art. 138 (calúnia), art. 139 (difamação), art. 140 (injúria)
Ainda segundo dita art. 196, § 2º:
Art. 196, X e XI (corrupção de preposto) e art. 196, XII (violação de segredo de fabrica ou negócio)
E por último os seguintes crimes se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família (art. 225, § 1º, I, § 2º):
Art. 213 (estupro), art. 214 (atentado violento ao pudor), art. 215 (posse sexual mediante fraude), art. 216 (atentado ao pudor mediante fraude), art. 217 (sedução), art. 218 (corrupção de menor), art. 219 (rapto violento ou mediante fraude) e art. 220 ( rapto consensual)

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